Ele tinha nome
de passarinho, mas era uma fera. Bem, uma fera na arte de escrever e de falar,
mas no fundo um sentimental de acordo com amigos. Foi mesmo um “enfant
terrible”, como diriam seus contemporâneos. O gaúcho João Carlos de
Medeiros Pardal Mallet (1864-1894) ou simplesmente Pardal Mallet foi um jovem irreverente. Filho de uma família de militares, ele escapou
da carreira, mudando para o Rio de Janeiro na adolescência e mais tarde
ingressou na Faculdade de Medicina. Republicano convicto, abandonou a faculdade
porque foi ameaçado de reprovação caso não mudasse suas ideias. Pardal Mallet
mudou de cidade e de curso: veio para São Paulo e ingressou na Faculdade de
Direito, mas concluiu o curso em Recife, onde arranjou nova encrenca –
recusou-se a fazer o juramento de colação de grau. Situação contornada por
Joaquim Nabuco, que era diretor da faculdade. Arrumou a mala e retornou ao Rio.
Estava com 23 anos.
Nunca tinha ouvido falar de PARDAL MALLET, cuja história é deliciosamente
contada pelo crítico André Seffrin, no livro da SÉRIE ESSENCIAL da Academia Brasileira de Letras, dedicado ao
ocupante da Cadeira 30, patrono, da ABL. No Rio de
Janeiro, frequentou a boemia e tornou-se amigo de Olavo Bilac, Coelho Neto e
Álvares de Azevedo entre outros. Uma amizade que não o impediu de desafiar
Álvares de Azevedo para um duelo por causa de uma discordância literária.
Álvares de Azevedo ignorou o desafio. Mais tarde foi a vez de desafiar Olavo
Bilac, mas a polícia impediu o confronto. O resultado foi uma ata muito
divertida publicada no Diário de Notícias em 25 de setembro de 1889.
O jornalismo engajado na campanha republicana foi o caminho de Pardal
Mallet. O advento da República levou-o a combater ferozmente o Marechal
Floriano Peixoto e, naturalmente, ele levou a pior: foi deportado para a
Amazônia (inacreditável), onde durante meses esperou pela anistia que foi
assinada em 1892. No retorno, a vida se tornou difícil para Mallet, que foi
violentamente agredido por florianistas e em consequência teve a saúde
debilitada e morreu algum tempo depois. Não completou 30 anos. Pardal Mallet
escreveu três romances: “Meu Álbum” (1887), “Hóspede” (1887), “Lar” (1888); “A pandilha,
costumes gaúchos” (1889) e “Pelo divórcio!” (1894) - bastante elogiado.
Sob o pseudônimo de Vitor Leal, escreveu um folhetim com Olavo Bilac: “O
Esqueleto: Mistérios da Casa de Bragança” (1890). Com Aluísio Azevedo, Coelho
Neto e Olavo Bilac escreveu em 1891 o romance “Paula Matos ou O monte de
socorro”.
Ao terminar a leitura da biografia
escrita por André Seffrin, fica um gosto de quero mais.
PARDAL MALLET
por André Seffrin. Cadeira 30, patrono; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de
Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012.
3 comentários:
Pardal Mallet: Um personagem de ópera romântica, no estilo de “La Bohème”, de Puccini. Temos, neste Brasil, personagens tão interessantes! Falta o nosso interesse e conhecimento. A vida desse escritor dava um belo romance...
Realmente, Mallet poderia ser personagem de uma ópera de Puccini. E o crítico André Seffrin poderia continuar a biografia tão saborosamente iniciada.
Concordo. Onde acho a biografia? É um livro? Como conseguir, se for um livro?
Postar um comentário