Por mais de 400 anos Cubatão foi parte da rota de comércio entre
Santos e São Paulo, mas poucas pessoas se fixaram ali. O meio ambiente da
região foi o primeiro a sofrer um ataque direto dos ocupantes, com a realização
dos aterros para melhorar a ligação entre a ilha de São Vicente e o Planalto.
Em 12 de agosto de 1833, o vilarejo foi elevado à categoria de Porto Geral de
Cubatão pela Lei nº 24, sancionada pela Regência. Mas esse privilégio durou
menos de uma década: em 1º de março de 1841 voltou a integrar o território de
Santos (Lei Provincial nº 167).
Com
a construção da São Paulo Railway em meados do século XIX, criaram-se empregos
que acabaram aumentando o número de moradores do povoado; bem mais tarde
algumas indústrias se estabeleceram no pé da serra, entre elas o Curtume Costa
Muniz, Ind. e Comércio, Cia. Curtidora Mex; Cia. Anilinas e Produtos Químicos
do Brasil.
No
começo do século passado, algumas empresas, como a Cia. Santista de Papel e a Light Improvement, preocuparam-se em
construir casas para seus funcionários, como a Vila Fabril e a Vila da Light. A
Vila da Light destinava-se a funcionários de médio e alto escalão e
destacava-se pela elegância da arquitetura.
Os
dados demográficos, registrados em 1940, mostram que 4.683 pessoas viviam na
zona rural enquanto apenas 1.887 pessoas residiam na área urbana. A economia
era basicamente o cultivo de banana, cana-de-açúcar além da extração de tanino
(Acidum tannicum), usado em curtumes; produziam-se tijolos e praticava-se a pesca.
Entre 1938 e 1947, as empreiteiras que construíam a primeira pista da via
Anchieta instalaram os operários em casas nas encostas da serra do Mar,
formando os bairros Cota 95/100; Cota 200 e Cota 500.
Com
o apoio do deputado estadual Lincoln Feliciano (1893-1971), a campanha pela
emancipação ganhou força. Em 17 de outubro de 1948 realizou-se o plebiscito que
decidiu pela emancipação política de Cubatão. Foram 1.017 votos
pró-desmembramento de Santos, 82 votos contra e um voto em branco. Com este
resultado, o governador Ademar de Barros (1901-1969) sancionou a Lei nº 283 de
24 de dezembro do mesmo ano, fixando o quadro territorial e administrativo do
Estado.
Assim,
no dia 1º de janeiro de 1949, Cubatão foi elevado à categoria de município, mas
permanecendo sob a administração da Prefeitura de Santos até 9 de abril, quando
assumiu o primeiro prefeito Armando Cunha. No mesmo dia, foi instalada
oficialmente no Grupo Escolar Júlio Conceição, a Câmara Municipal de Cubatão.
Quando
o setor produtivo se interessou pelo município, a ocupação ocorreu sem
planejamento pelo vale entre os rios Mogi e Cubatão junto da Serra do Mar e os
resultados não poderiam ter sido piores tanto do ponto de vista social como
ambiental. Cubatão e toda a Baixada ao redor sofreram nas décadas seguintes as
consequências dessa escolha.
Morros
foram destruídos, mangues aterrados, rios usados para despejo de esgotos
químicos enquanto a atmosfera era degradada com a emissão de gases pelas
chaminés que cresciam como cogumelos pelo vale. Milhares de pessoas de todo o
país acorreram em busca de emprego que a industrialização oferecia e essas
pessoas não tinham onde morar e começou a ocupação irregular de terrenos e o
crescimento de favelas na região.
A
PETROBRAS iniciou em 1953, no vale, as obras de instalação da Refinaria
Presidente Bernardes, que começou a funcionar dois anos depois. A COSIPA entrou
em operação em 1962 e depois chegaram as grandes indústrias. Na década de 1970,
o parque fabril do município tinha 23 indústrias de ponta – além da siderúrgica
e da refinaria de petróleo, havia nove fábricas de produtos químicos e sete de
fertilizantes! Cubatão ocupava o quarto lugar no Estado de São Paulo em
arrecadação, embora a cidade continuasse sem infraestrutura.
Em
resumo, na década de 1980, Cubatão ficou conhecida no mundo como o “Vale da
Morte”. Em 1980, a Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) relatou
que o complexo industrial de Cubatão emitia cerca de 30 mil toneladas por mês
de material poluente, apenas no ar, isto é, gases e particulados. Partículas
sólidas (maiores), também eram emitidas à taxa de um milhão e meio de toneladas
ao ano. Eram 75 tipos de poluentes que se depositavam no solo, nos rios e no
mangue. Além das doenças respiratórias que afetavam a população da região,
houve a denúncia de um crescente número de crianças recém-nascidas com
anencefalia (sem cérebro). Em fevereiro de 1984 um incêndio matou 93 pessoas na
Vila Socó, favela construída sobre a tubulação de combustível da Refinaria
Presidente Bernardes. As chuvas ameaçavam as encostas da Serra do Mar, onde os
escorregamentos aumentaram consideravelmente.
Com
a primeira eleição direta após 20 anos, o governo de São Paulo (Franco
Montoro*) iniciou em julho de 1983 o “Programa de Controle e Recuperação
da Qualidade Ambiental de Cubatão”, um trabalho que envolveu os
pesquisadores da CETESB e de diferentes instituições. A meta: controlar as
fontes de poluição ambiental; desenvolver estudos, pesquisas e atividades para
obtenção de um quadro mais preciso da situação; conscientizar as entidades e
instituições da comunidade sobre o problema, suas dimensões e consequências.
Após uma década de trabalho, o controle de poluição realizado pela CETESB foi
bem-sucedido.
Outra
ação importante, realizada simultaneamente, foi a recuperação da vegetação
nativa da Serra do Mar em Cubatão. Após análise da situação e na estruturação
de um laboratório na CETESB para estudos de vegetação e de um viveiro, em
fevereiro e abril de 1989 e em janeiro de 1990 foi feita a semeadura aérea com
sementes paletizadas de espécies arbóreas e arbustivas pioneiras e secundárias
resistentes à poluição. Helicópteros lançaram sobre a serra cerca de 750
milhões de sementes! O trabalho foi um sucesso. A cobertura vegetal
recuperou-se.
Cubatão,
enfim, podia respirar melhor.
Fontes:
Novo Milênio Santos
CETESB 50 ANOS - livro disponível em pdf no
site
*Franco Montoro (1916-1999).
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