sábado, 31 de março de 2018


CURIOSIDADES DA ACLIMAÇÃO

O Parque da Aclimação é a sala de visitas do bairro, afinal, lá é possível encontrar praticamente todo mundo da vizinhança – correndo, fazendo tai chi chuam ou ginástica dançante, jogando futebol ou vôlei, lendo, passeando com o cachorro ou simplesmente observando a paisagem. Há quem o utilize apenas para cortar caminho (como eu). Com uma área de 112 mil metros quadrados, o parque tem concha acústica, playground e espaço para piquenique, além de obras de arte do escultor e pintor Arcângelo Ianelli (1922-2009).
Vivem na área 85 espécies de fauna. A maioria, aves como quero-quero, joão-de-barro, sabiás e chupins. É possível observar garças, socós, martins-pescadores e biguás se alimentando no lago. Foi tombado pelo CONDEPHAAT em 1986. Rua Muniz de Souza, 1119 – Funciona das 6h às 20h.
Lago do Parque da Aclimação, 28/3/2018.
 Ao lado do parque encontra-se também a Biblioteca Pública Municipal Raul Bopp, especializada em meio ambiente. Foi criada em 1961 e em 1973 passou a se chamar Biblioteca Infanto-juvenil Ophelia França, em homenagem a uma antiga funcionária; entretanto, em 1973, por uma dessas coisas inexplicáveis, a homenageada perdeu a vez em favor do poeta modernista Raul Bopp (1898-1984). Nada contra Bopp, mas tudo a favor de Ophelia. A biblioteca tem dois mil títulos no acervo. Rua Muniz de Souza, 1155.
O entorno do parque é bem interessante. Nas ruas Brás Cubas e Pedra Azul, há vários barzinhos especializados em espetinhos que ficam lotados à noite; há também bons locais para almoçar ou fazer um lanche rápido.
Na Rua Pedra Azul fica a Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Helen Keller, a primeira escola pública de São Paulo a atender crianças surdas. Começou em 1952 em Santana, depois mudou para o Ipiranga e em 1956 instalou-se na Aclimação. Quem quiser saber mais detalhes dessa escola tão importante pode visitar o blog: https://surdohk.blogspot.com.br/
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Faria Lima (onde voto) fica na Rua Ametista, 50. Começou a funcionar em 1957 com a denominação de Escola Mista da Aclimação e só mais tarde ganhou o nome do ex-prefeito paulistano José Vicente Faria Lima (1909-1969), gestão 1965-1969.
Vale a pena fazer um passeio pelas cercanias do parque para descobrir muitas coisas bonitas. Como a Praça Jorge Cury. É um jardim com escadarias de acesso da Rua Muniz de Souza à Rua Alabastro, onde se encontra um mirante, que dá um belo arremate à rua. Embora tombada pelo CONDEPHAAT em 1986, a construção se encontra toda coberta de grafites de mau gosto. Uma pena. Jorge Cury (1892-1973) foi um popular e bem sucedido comerciante da famosa Rua Vinte e Cinco de Março, no Bom Retiro.
Praça Jorge Cury: o mirante, na Rua Alabastro.

E as escadarias que levam à Muniz de Sousa.

sexta-feira, 30 de março de 2018

DESCOBRINDO A ACLIMAÇÃO

A PRAÇA

Depois da tempestade, a bonança. E o lago voltou a ter água. (29/3/18)
Se o bairro da Aclimação tem uma rua onde vários condomínios homenageiam óperas, não faltam, entretanto, ruas preciosas: Ágata, Alabastro, Ametista, Diamante, Jaspe, Pedra Azul, Rubi, Safira, Ônix, Topázio e Turmalina. Elas convergem ou encontram-se nas imediações da Praça General Polidoro, pequena e simpática. No centro da praça, fica a escultura do “Discóbolo”, que nada tem com o nosso general Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão (1802-1879), que integrou o Imperial Corpo de Engenheiros na Guerra dos Farrapos sob as ordens do então Barão de Caxias (futuro duque), participou da Guerra da Tríplice Aliança e mais tarde dirigiu a Escola Militar do Rio de Janeiro.
O “Discóbolo” é obra do escultor, pintor e ceramista ítalo-brasileiro Ottone Zorlone (1891-1967), que veio para o Brasil em 1927. A Câmara de Comércio Brasil-China é parceira da Prefeitura de São Paulo no cuidado, preservação e conservação da praça. O espelho d’água está seco há algum tempo, o que evita lixo e mosquitos que assombram a população. Quinta-feira, 28, entretanto, o discóbolo estava em meio à água graças à tempestade do dia anterior.
Mães com seus pimpolhos, leitores em busca de paz e cães com donos distraídos em seus celulares são frequentadores da praça, que na hora do almoço é o lugar ideal para descansar antes de voltar ao trabalho.  
A IGREJA

O bonito campanário da igreja de Nossa Senhora do Carmo pode servir de guia para quem se perder nas imediações. A igreja está encarapitada no ponto mais alto da Aclimação, bem próximo do parque municipal. A paróquia Nossa Senhora do Carmo da Aclimação foi criada em 13 de novembro de 1939 por Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, para abrigar a imagem de Nossa Senhora do Carmo - um presente que a cidade de São Paulo recebeu de Recife (PE), durante a realização do III Congresso Eucarístico Nacional em 1939. O Sr. Gustavo Olynto de Aquino e Dona Elyria Matos do Amaral doaram o terreno para a construção da igreja cuja pedra fundamental foi lançada em 14 de julho de 1940. Em 31 de maio de 1942 foi instalada uma capela provisória no porão da construção, onde foi colocada a imagem. Enfim, a igreja ficou pronta e a inauguração aconteceu em 29 de outubro de 1960. O primeiro vigário da paróquia foi o Padre Cícero Revoredo. A igreja tem atualmente uma segunda imagem da Nossa Senhora do Carmo, que veio de Roma. Há uma procissão anual; as festas juninas e um bazar que mobilizam a comunidade católica. Endereço: Rua Brás Cubas, 163.


  

quinta-feira, 29 de março de 2018

UM BAIRRO MUITO ESPECIAL


Lago do Parque da Aclimação. Foto. Hilda Araújo, 2018. 
Morar na Aclimação é um privilégio. É um bairro residencial, mas com serviços e comércio básicos, que facilitam a vida dos moradores – mercadinhos, farmácia, lavanderias, lanchonetes e restaurantes (para todos os bolsos); salões de barbeiro e cabeleireiro – para pets também. Não faltam as feiras. O transporte público é bom (salvo fim de semana); a região é bem servida de escolas públicas e privadas. As ruas são arborizadas e floridas, muitas terminam em pracinhas acolhedoras (algumas nem tanto). Como está situado em um morro, as ruas cheias de aclives e declives e curvas enganadoras são armadilhas para os estranhos ao bairro. Muitas vezes escadarias ajudam a transpor a diferença de nível entre ruas. Uma das escadarias entre Rua Nicolau Souza Queirós e a Rua Armando Ferrentini, por exemplo, tem 104 degraus.
Como a organização dos serviços públicos em geral em São Paulo não é sistematizada, para alguns serviços os moradores se reportam à administração da Sé, para outros da Vila Mariana embora pertença realmente ao distrito da Liberdade. Nos últimos anos tem mudado bastante porque o parque da Aclimação e a qualidade de vida da região têm atraído os empreendimentos imobiliários de alto padrão e as belas casas estão desaparecendo. As torres brotam em velocidade espantosa.
As casas foram demolidas, substituídas por duas torres.
Os moradores que fazem parte do meu cotidiano transbordam simpatia. Da maioria nem sei o nome, mas de outros até conheço os dramas e comédias porque adoram falar de si. José e Jaime vejo assim que saio de casa – são taxistas do ponto que fica bem ao lado do prédio. Depois pode ser seu Damião – indo para a padaria ou para a banca de jornal. Francisco é o proprietário da banca, conhece o bairro como ninguém. Todos nordestinos. Carminha é a senhora mais elegante do bairro: está sempre impecável. Adora conversar e já quase morri de insolação ouvindo seus percalços e as pechinchas descobertas. Isaías, síndico e zelador de prédio, cuida da praça como se fosse seu quintal. Ganho abraço carinhoso de Gabriel, gerente de uma imobiliária, velho conhecido dos cafés matinais na Padaria Dengosa que deu lugar a uma farmácia.
Há duas lavanderias na esquina de casa, mas prefiro subir a ladeira e deixar a roupa na lavanderia de seu Carlos, dono de conversa inteligente e saborosa, desfrutando agora a alegria de ser avô. Lá vem o Paulinho, sempre elegante na sua magreza histórica. Quer me convencer a frequentar o Bom Prato. Agradeço. “A comida é muito boa” – diz ele. Acredito. Um dia, quem sabe... 
“Bom dia, menina! Paz e alegria!” Esse é o bordão de Paulo, dono da banca de outra esquina. Rodeado de notícias não poderia deixar de ser bem informado (como Francisco do outro lado). Já abandonou por um tempo a vida de jornaleiro – que ele considera profissão de interesse público porque dá todo tipo de informações aos clientes e passantes – pela de caminhoneiro, quando percorreu o Brasil todo. Agora, pensa em voltar para o Ceará. Será? Há muitos outros, mas o espaço é pequeno. Fico devendo. Continua.

quarta-feira, 28 de março de 2018

UMA RUA MUSICAL

       Se você pensa que nessa rua da Vila Mariana as pessoas acordam e abrem as janelas cantando ou saem de casa sapateando ou fazendo piruetas, engana-se. O dia começa com o canto de bem-te-vis e, dependendo da época, sabiás; depois seguem-se os ruídos urbanos comuns – ônibus e carros, mães apelando para seus pimpolhos que partem para a escola e toda aquele povo que se dirige ao trabalho, enquanto a turma das caminhadas e corridas vai para o parque e cães são levados para um passeio. Depois aparecem o afiador de facas e alicates com a sua indefectível gaita, o homem do biju com a matraca e a buzina do vendedor de pão encerra o dia, que agora inclui os vendedores de ovos, frutas e pamonhas com seu horríveis bordões.
        A música? Bem, a música não fica só a cargo dos passarinhos. Não. Trata-se de música erudita, mas perceptível apenas aos olhos dos amantes de ópera. Uma caminhada despreocupada pela rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós, observando o nome dos condomínios, proporciona um programa muito especial com óperas de grandes compositores.
O compositor Giuseppe  Verdi (1813-1901) parece ter sido o preferido de quem teve essa feliz ideia: são dele as óperas NABUCO (1841); ERNANI (1844), OTELLO (1887) e AÍDA (1870). Richard Wagner (1813-1883) está presente com TANNHAUSER (1845) e Giacomo Puccini (1858-1924) participa com EDGAR (1889). Nosso Carlos Gomes (1836-1896) foi lembrado com a FOSCA (1873).
Imagem: Google.
Há ainda os condomínios NORMA (1831), ópera de Vincenzo Bellini (1801-1835) e MEFISTOFELES (1867) de Arrigo Boito (1842-1918). Charles Gounod está lá com FAUSTO (1859). O compositor Alfredo Catalani (1854-1893), cujas obras não têm sido apresentadas há muito tempo, foi homenageado com duas óperas: EDMEA (1886) e LORELEY (1879).
Eu morei por muitos anos no Edifício NABUCCO – que é uma das minhas óperas preferidas. Até alguns anos atrás havia ao lado do nome dos condomínios uma clave de sol, que foi retirada com as sucessivas reformas das fachadas. Infelizmente, a maioria das pessoas não tem ideia desse fato, que poderia ser motivo para incluir a rua em um roteiro especial de passeios pela cidade, ciceroneado por um professor de música.
         Vale a pena assistir ao vídeo de 2006 que mostra o teatro lotado para a apresentação da ópera. 

domingo, 25 de março de 2018

O MUNDO LÁ FORA
Alexei Leonov (1934) foi o primeiro homem a deixar a capsula espacial para um passeio histórico que lhe proporcionou uma visão diferente do mundo. Ele narrou a experiência do dia 18 de março de 1965 em um artigo especial para a revista Correio da UNESCO – “Meus primeiros passos no espaço”, publicado em junho daquele ano.
Embora ele narre detalhadamente esse momento tão importante para todos os homens, selecionei apenas o trecho em que ele descreve o mundo visto de fora:
“As escotilhas pareciam enormes olhos seguindo cada um de meus movimentos. Também me olhavam as objetivas das câmeras de televisão e de fotografia. Diante de mim tudo era negro: um céu negro crivado de estrelas luminosas que, no entanto não cintilavam, e pareciam imobilizadas.
O sol também não tinha o aspecto que tem visto da Terra: à volta não havia nenhuma auréola, não havia corona; parecia enorme disco incandescente cravado no veludo negro do céu cósmico. E o próprio cosmo parecia um poço sem fundo.
Abaixo de mim movia-se o nosso planeta de cor azul-celeste. Visto do espaço, não parecia esférico, mas completamente chato, como gigantesco mapa em relevo. Só a curva do horizonte atentava a redondez da Terra.
[...]
Soltei o cinto que me prendia ao assento e entrei flutuando na câmara de ar. Fiz um sinal com a mão ao comandante, que fechou hermeticamente a escotilha. De repente abriu-se a porta externa da câmara. Um jorro cegante de luz solar invadiu a pequena câmara – luz tão forte e brilhante que parecia que alguém estivesse trabalhando lá fora com aparelhagem de solda de acetileno.”
Alexei Leonov viajou na Voskhod 2 e mais tarde voltou ao espaço em 1975 como comandante da Soyuz 19, na missão Apollo-Soyuz que registrou o primeiro encontro de norte-americanos e soviéticos no espaço.
"A noite estrelada", óleo sobre tela de Van Gogh (1853-1890). 




sábado, 24 de março de 2018


CINEMA
UM REBELDE DAS TELAS
 
"Certamente não sou quem as pessoas pensam que sou.  Eu sempre faço o que quero fazer,
e meus filmes são algo pessoal para mim."
Fãs de cinema têm listas de atores e diretores preferidos. Um dos meus atores preferidos é Steve McQueen (1930-1980). Fez filmes ótimos e muitos nem tanto, mas para mim sempre é um prazer revê-lo. O ator norte-americano foi indicado para o Oscar de melhor ator por sua interpretação em Papillon, dirigido por Franklin J. Schaffner em 1973. No cinema começou em “Marcados pela sarjeta” (1956), mas não foi creditado. Em 1958 estrelou uma série de TV que durou três temporadas e 94 episódios: “Wanted: Dead or Alive”.
O sucesso aconteceu 1960 com “Sete homens e um destino”, de John Sturges, com elenco encabeçado por Yul Brynner. O filme foi uma adaptação de “Os sete samurais” (1954), de Akira Kurosawa. Em seguida fez “A grande escapada” (1963), de John Sturges; “O canhoneiro de Yang-Tsé” (1966) de Robert Wise; “Bullit”, (1968), de Peter Yates, entre muitos outros. Levou para a tela seu lado cínico e rebelde – na adolescência passou dois anos em um reformatório. Ficou conhecido como “the king of cool” por seu jeito duro, mas charmoso. Gostava da aventura e do perigo. Especialmente velocidade. Amante de motos, ele participou de corridas e tinha uma coleção com uma centena de modelos. Para participar do filme “A grande escapada”, baseado em um fato real da II Guerra, McQueen exigiu a inclusão da cena da moto, que não aconteceu na fuga verídica. Na verdade, o ator fez da moto um estilo de vida.
Envolveu-se na produção de “As 24 horas de Le Mans”, de 1971.  Esta experiência de McQueen gerou um documentário em 2015, apresentado no Festival de Cannes: “Steve McQueen: The Man & Le Mans”, dirigido e produzido por Gabriel Clarke e John McKenna. O documentário registra o esforço do ator para realizar o seu sonho de fazer um filme sobre corridas de carro, os problemas enfrentados e conta com depoimentos de pessoas que participaram da produção, da mulher e do filho do ator.
Morreu aos 50 anos, vítima de câncer no pulmão. Nasceu em 24 de março. 

sexta-feira, 23 de março de 2018

O POETA E O RIO
Rio São Francisco, obra do holandês Franz Post (1612-1680). Museu do Louvre.

Rios sem discurso
João Cabral de Melo Neto (1920-1999)


Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.

O curso de um rio, seu discurso-rio,
chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloquência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate.

quinta-feira, 22 de março de 2018


DIA MUNDIAL DA ÁGUA
22 DE MARÇO
Cabo da Roca, Portugal, 2010. Foto: Hilda Araújo.
"Eis aqui, quase cume da cabeça
De
Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E
onde Febo repousa no Oceano
."

Luís de Camões, Lusíadas, canto III

O que você sabe realmente sobre a água? Já observou um rio? Notou a beleza das águas em movimento? À beira da praia viu as ondas se quebrarem em espuma aos seus pés e pensou de onde teriam vindo elas? Que ventos as trouxeram e que outros pés banharam? E a variação de cores do cinza ao verde? Ou azul da cor do céu? Aquelas nuvens – brancas, cinzas, negras ou intensamente coloridas pelo sol –, que passeiam desafiando sua imaginação, também são partículas de água, promessas de chuva.

“Do oceano vêm as nuvens. Das nuvens vem a chuva. Da chuva nascem os rios e dos rios nasce o oceano. Esse é o ciclo das águas. Esse é o ciclo do mundo.” Texto indiano de 3.000 anos.

Água é a fonte da vida. Não vivemos sem ela. Há 3,5 bilhões de anos surgiram dos oceanos as primeiras formas de vida – células quase invisíveis, formadas por moléculas orgânicas acumuladas na água. Paulatinamente foram se tornando organismos mais complexos. O homem só surgiu há 4 milhões de anos e um adulto é constituído de 60% de água.

Se pensa que é um bem inesgotável, engana-se. Após ser usada, retorna à natureza, porém, não é mais pura. Quando a água está ameaçada pela poluição urbana, industrial e agrícola, nós – todos os seres vivos – estamos ameaçados também. Como cinquenta por cento da água consumida não é limpa, os oceanos transformam-se em depósito de lixo. A quantidade de plástico que flutua no oceano global varia de sete a 35 mil toneladas, de acordo com técnicos da Expedição Malaspina, realizada em 2010/2011, como parte de um programa de pesquisa do governo espanhol.  

Cerca de dois terços dos homens moram a menos de 80 quilômetros do mar. Entre as dez cidades mais populosas do mundo a exceção é a capital do México. As demais encontram-se no litoral ou próximas. Tóquio (36 milhões), Deli (22 mi), São Paulo (21.391 mi), Mumbai (pouco menos de 20mi), Cidade do México (19.400 mi), Nova Iorque (19 mi), Xangai (16 mi), Calcutá (15.552 mi), Daca (14.648 mi) e Los Angeles (13 mi).
        A Organização das Nações Unidas informa que
·         “Mais de 80% das águas residuais que geramos retornam aos ecossistemas sem serem tratadas nem recicladas.
·         1.800 milhões de pessoas usam uma fonte de água contaminada por matéria fecal, o que as coloca em risco de contrair cólera, disenteria, tifo e pólio. A água não potável e infraestruturas sanitárias deficientes, assim como a falta de higiene causam cerca de 842 mil mortes por ano.
·         As oportunidades de explorar águas residuais como um recurso são enormes. A água tratada de uma forma segura é uma fonte sustentável e acessível de água e energia, assim como para obter nutrientes e outros materiais recuperáveis.” (Tradução livre.)

        O tema deste Dia Internacional da Água este ano é sobre como a natureza pode nos ajudar a superar os desafios que enfrentaremos no século XXI. O consumo insustentável dos recursos hídricos é uma ameaça real à vida na Terra. “Em 1986, o estado do Rajastão (Índia) passou por uma das piores secas de sua história. Durante os anos seguintes, uma ONG trabalhou junto com as comunidades locais para estabelecer estruturas de coleta de água e regenerar solos e florestas na região. A iniciativa levou a um aumento de 30% na cobertura florestal, os níveis das águas subterrâneas subiram em alguns metros e a produtividade das terras de cultivo aumentou.” (Fonte: UNESCO.)

Rio Nilo, entre Assuam e Luxor, 2011. Foto: Hilda Araújo.

terça-feira, 20 de março de 2018

"FIM DE ESTAÇÃO"

       Saudade do verão, que está se despedindo. O outono começa hoje (20) às 14h13 no Hemisfério Sul, hora em que a Terra recebe a mesma quantidade de energia solar tanto no Hemisfério Sul quanto no Hemisfério Norte. 
End of the season, 1885. Pastel sobre papel do norte-americano William Merrit Chase (1849-1916).

domingo, 18 de março de 2018


FINAL DE VERÃO 

La Plage, 1894. Obra do pintor francês Eugène Boudin (1824-1898). 


Fernando Pessoa (10-8-29)


AQUI NA ORLA da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,
Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,
E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.

A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio
Ou como um passo na alfombra de um quarto que jaz vazio;
O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é;
A glória concede e nega; não tem verdades a fé.

Por isso na orla morena da praia calada e só,
Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.

Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso, senão a brisa na face;
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei,
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.

Só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu,
Tocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu.

(Fernando Pessoa, OBRA POÉTICA.)

Trouville, sur la plage à l'abri d'un parasol (1885).





sábado, 17 de março de 2018


DIAS SOMBRIOS

"Que desejais ver? Se procurais algum quadro de transe e de horror, não procureis mais." Horácio em "Hamlet", ato V, cena II, Shakespeare.  

Guernica, 1937. Óleo sobre tela de Pablo Picasso, Museu do Prado, Madrid. 

quarta-feira, 14 de março de 2018

UM DIA DOS FÍSICOS TEÓRICOS


No dia 14 de março de 1879 nascia Albert Einstein (1879-1955) e neste 14 de março aos 76 anos Stephen Hawking nos deixa. Ambos físicos teóricos que, de formas diferentes, ajudaram a entender melhor o universo. Hawking foi também um exemplo de vida, pois apesar de ser portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA) que o imobilizou, continuou a trabalhar intensamente. A genialidade não o impediu de colocar o seu trabalho ao alcance do público leigo (“Uma breve história do tempo”); participou de filmes e documentários. Para quem gosta de curiosidades: Hawking nasceu no dia em que se completavam 300 anos da morte do físico e astrônomo Galileu Galilei: 8 de janeiro de 1642. 

Albert Eisntein. Foto: F. Schmutzer, Wikipedia  

terça-feira, 13 de março de 2018


MAPA DE UM BRASIL SILVESTRE

Já dizia Caminha que por aqui em se plantando tudo dá e a variedade de árvores e frutas nativas e exóticas que vicejam por todo país pode ser seguida pelo nome de alguns municípios. Pode-se começar por Frutal (MG), prosseguir com Babaçulandia (TO), Bananal (SP), Bananeiras (PB), Cacaulândia (RO), Cajazeiro, Cajueiro (AL), Cajati (SP), Coqueiral, Coqueiro Baixo (RS) e Coqueiro Seco (AL), Cambuci (RJ), Castanhal (PA), Castanheira (MS), Castanheiras (RO); Cana Verde (MG), Cerejeiras (RO), Cidreira (RS), Figueira (PR), Goiabeira (MG), Ingá (PB), Jabuticaba (RS); Jenipapo de Minas e Jenipapo dos Vieiras (MG); Jambeiro (SP), Macieira (SC), Marmeleiro (PR), Manga (MG), Murici (AL), Pequi (MG), Pereiras (SP), Pinhão (PR/SE), Rubiácea (SP) e Videiras (SC). Laranjas e limões são festejados em várias regiões.
A fauna também está bem representada na toponímia nacional. Arara (PB) abre a lista que continua com Araras (SP), Araponga (MG) e Arapongas (PR), Andorinha (BA); Antas (BA) e Anta Gorda (RS); Ariranha (SP), Gaivota, Bezerros (PE), Caracol (MS); Carneiros (AL), Cordeiro (RJ), Cordeiros (BA) e Cordeirópolis (SP); Cascavel (PR), Cotia (SP), Emas (PB), Formiga (MG), Formigueiro (RS), Galinhos (RN), Gado Bravo (PB), Garça (SP), Gavião (BA), Jaboti (PR), Jacaré-dos-Homens (AL) e Jacarezinho (PR), Jacutinga (MG), Jandaia (GO), Lagarto (SE), Lambari (MG), Lontra (MG) e Lontras (SC), Macuco (RJ), Maribondo (AL), Onça-de-Pitangui (MG), Patos (PB), Peixe (TO) e Peixe-Boi (PA), Pombal (PB), Pombos (PE), Perdizes (MG), Periquito (MG); Piranhas (AL e GO), Raposa (MA), Surubim (PE), Touros (RN), Tubarão (SC) e Tucano (BA). Ah! E não faltou Caçador (SC).
A REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL (ANO 5, nº 54, março de 2010) publicou uma matéria contando a história do município de Guaçuí (ES) que achei melhor colocar na íntegra:


Não poderia terminar sem passar por Araújos, município de Minas Gerais, com nove mil habitantes e cuja economia se baseia na agricultura. O nome homenageia a família Alves de Araújo que se estabeleceu na região no início do século XIX. O lugar, conhecido como Mata dos Araújos tornou-se distrito de Bom Sucesso em 1938 e tornou-se município em 1953. Não tenho nada a ver com isso. Pedro Araújo de quem trago o nome chegou ao Brasil entre o final do século XIX e o início do século XX, estabelecendo-se em Santos. 

(O tenente Siqueira Campos (1898-1930), um dos sobreviventes dos 18 do Forte de Copacabana, não foi esquecido, pois em 5 de novembro de 1930 o município de Colônia Mineira, no Paraná, ganhou o nome dele por obra do interventor General Mário Tourinho.)

segunda-feira, 12 de março de 2018

SEGUNDA COM MILLÔR


O VERÃO É UMA FOGUEIRA
NO CÉU AZUL. É DOMINGO
ESTA SEGUNDA-FEIRA.
HAI-KAIS, Millôr Fernandes.
Santos (SP), 2015.

domingo, 11 de março de 2018


PASSEIO PELO BRASIL

O Brasil tem 5.570 municípios. São Paulo e Rio de Janeiro são os mais populosos, enquanto Borá (SP) e Serra da Saudade (MG) são os menores, com 839 e 812 habitantes, respectivamente. Ao procurar numa agenda o CEP de um município me perdi entre nomes exóticos, criativos e que escondem muitas histórias, que espero sejam contadas um dia.
Venha-Ver ou Passe-e-Fique são duas cidades do Rio Grande do Norte. Venha-Ver, um pequeno município rural, atrai milhares de pessoas anualmente porque é sede do santuário de Frei Damião (1898-1997). Seus habitantes são os venha-verenses com muito orgulho. Passa-e-Fica (RN) tem apenas 55 anos de idade e o site municipal não registra a origem do nome, mas quem nasce lá é passa-fiquense.



Você não precisa ir à Espanha, Portugal, França, Estados Unidos, Itália ou Arábia Saudita para conhecer bem aqui Barcelona (RN), Coimbra (MG), Nantes (SP), Bayeux (PB), Lourdes (SP), Filadélfia (TO), Loreto (MA) e Medina (MG). Que tal perambular por cidades bíblicas como Cafarnaum (BA), Canaã (MG), Jericó (PB) sem ir ao Oriente? Ou sem ir à Grécia, conhecer Corinto (MG). Por acaso você sabe onde fica Mar de Espanha? Acredite, em Minas Gerais. Seus moradores são mardespanhenses.
Mas se você está em busca de Xangri-lá pode comprar passagem para o Rio Grande do Sul. A Xangri-lá brasileira tem belas paisagens, mas o tempo corre normalmente ao contrário daquela criada por James Hilton (1900-1954) em “Horizonte Perdido”. O município tem cerca de 14 mil xangri-laenses.
É possível que não haja felicidade garantida para quem vive em Feliz (RS), mas certamente haverá belos dias em Céu Azul (PR). Que maravilha ser recebido por uma cidade repleta de sorridentes, embora os naturais de Sorriso (MT) sejam chamados sorrisienses. Há Maravilha e Maravilhas. Alagoas e Santa Catarina têm cada um a sua Maravilha; Minas Gerais tem Maravilhas – nem poderia deixar de ter.
Que tal morar em Barracão (PR)? Barraconenses têm muito orgulho de sua cidade cujo nome remonta à hospedaria que servia de pouso para os tropeiros de passagem pelo povoado. O município de Palhoça (SC) também tem seu nome relacionado às antigas casas de pau a pique cobertas de palha, construídas em uma das regiões da cidade.
Capitólio (MG) ganhou esse nome para “relembrar as grandezas de Roma e eternizar os Cabeças (líderes), e, ao que se conta, as cabeças dos antigos Franciscos”. E segundo o site da prefeitura “os Franciscos eram os principais lideres (cabeças) do lugar, como também, ao que diziam, eram homens de cabeças muito grandes”.
        Ah! O nome de Tio Hugo (RS) tem origem numa serraria, que continua em funcionamento. Os naturais da terra são tio-huguenses.
Que mistérios haverá em Segredo (RS)? Os segredenses contam que o nome do município tem origem no rio Segredo, onde apareceu o corpo de um homem assassinado, identificado como um fazendeiro local, o que resultou na punição e morte dos supostos assassinos. Aqui dá para lembrar Carrasco Bonito (TO), mais uma cidade sem informação no site oficial sobre a escolha do nome.
Cansou? Sempre há Travesseiro (RS), mesmo nome do arroio que atravessa a cidade. (Creio que o nome não tem nada a ver com a almofada.)
Sempre há Saudade (RS), um município formado por descendentes de alemães (maioria), russos e italianos. Os moradores contam que o nome foi consequência da saudade que os primeiros colonos sentiam de seus países. É também o nome de um rio local.

sábado, 10 de março de 2018

 LEQUES E LEQUES

"me ni ureshi koigimi no ôgi masshiro naru

"Que coisa linda,
Agitando o leque branco,
É o meu amor."
Yosa Buson (1716-1784).
“The fan”, óleo sobre tela de James Tissot (1836-1902). 
Acervo: Wadsworth Atheneum Museum of Art, Hartford, Connecticut.

"Ah, dama da noite
Tempo distante não volta —
Saudade, saudade"
Silvio Gargano Junior

"The reception" ou "L'ambitieuse", óleo sobre tela de James Tissot.

quinta-feira, 8 de março de 2018


AGRURAS DO JORNALISMO

O jornalista acorda de manhã, vai para a redação e recebe a tarefa de entrevistar um cientista ou pesquisador sobre um assunto que despertou o interesse do pauteiro, do chefe de reportagem ou do editor. Às vezes, embalado pela necessidade ou vaidade, o próprio cientista ou pesquisador pode ter sugerido a pauta. Invariavelmente, o jornalista faz a reportagem sem grandes problemas.
Nem sempre, entretanto, a vida é um mar de rosas. Um belo dia o JORNAL DA USP (anos 1990) recebeu um artigo científico para publicação. A função do jornal era (creio que ainda é) divulgar o trabalho científico da comunidade acadêmica, mas não publicá-los na íntegra. Havia um segundo problema: o conteúdo do artigo era inacessível para leigos. Fui a premiada para procurar o professor e entrevistá-lo e deslindar os mistérios do trabalho dele em uma reportagem.
Confesso que não me lembro da área de conhecimento em que ele atuava e muito menos do nome dele. Era magrinho e alto, muito sério. Expliquei a situação e preparei a caneta e o papel para anotar, quando ele me disse secamente que não tinha nada a acrescentar. Tudo o que eu precisava saber estava no trabalho enviado. Argumentei, polidamente, que precisávamos tornar o texto mais compreensível para as pessoas que desconheciam o assunto. Ele torceu mais o nariz e deu por encerrada a entrevista. Assim, ele ficou sem a divulgação do trabalho e eu sem a reportagem.
Mas ele não ficou sem resposta, porque a editora mudou a pauta: “agora vamos tratar da relação jornalista-cientista”. Uma maravilha! A lista, naquela época, incluía o geneticista Crodowaldo Pavan (1919-2009); professora Carolina Bori (1924-2004), do Instituto Psicologia; o físico Ernst Hamburger, o bioquímico Walter Colli e o astrônomo Masayoshi Tsuchida (atualmente na UNESP) entre outros.
Era um prazer entrevistá-los. Transmitiam seus conhecimentos de forma leve, clara e brilhante. Assim como Esdras Vasconcelos (Instituto de Psicologia), Roberto Macedo (FEA), Antonio Junqueira de Azevedo (1939-2009) entre tantos outros. Dr. Vicente Amato e o geógrafo Aziz Ab’Sáber eram acessíveis; lidavam bem com a imprensa e se expressavam de forma compreensível; mas ambos tinham um poder de concentração tão fantástico, que acabava sendo um problema. Eles ouviam a pergunta, fechavam os olhos e começavam a falar e o mundo ao redor desaparecia. Não ouviam nada. Se tivesse dúvida, anotasse e perguntasse após o verdadeiro “transe” em que eles mergulhavam.
Um problema porque jornalista tem que perguntar, deixar a pergunta para depois não é uma boa técnica. Não sei qual deles entrevistei primeiro – Ab’Sáber ou Amato, mas a experiência com um ajudou a enfrentar o problema com o outro. E foram várias entrevistas ao longo dos seis ou sete anos em que trabalhei no JUSP.
O jornalista que não é especializado também sofre para fazer entrevistas com cientistas que, em geral, acham que o profissional deve se preparar antes de se apresentar em sua sala ou laboratório; o problema é que não há tempo para se aprofundar no assunto e o repórter tem que enfrentar a situação com bom senso e sinceridade para que o entrevistado o conduza pelo seu mundo com segurança. Tipo um mágico revelando o conteúdo da sua caixa.
Os tempos mudaram e, atualmente, a divulgação científica é muito mais comum.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Alô... Alô...

ALÔ, ALÔ...
 Quatro dias após completar 29 anos, o escocês Alexander Graham Bell (1847-1922) registrou a patente do telefone; entretanto, a glória de inventor do aparelho não é mais dele, pois o Congresso dos Estados Unidos em 2002 reconheceu que o italiano Antonio Meucci (1808-1889) é o criador do telefone cujo protótipo vendeu a Bell. Enfim, Bell registrou o invento do italiano no dia 7 de março de 1876 e, embora não tenha nada a ver com isso, Carmen Miranda gravou em 1934 com Mário Reis a composição dele e de André Filho. 
"...E o telefone cada vez chamando mais". 

terça-feira, 6 de março de 2018


PASSEIO RÁPIDO
  
Fui ao Orquidário de Santos para encontrar o autor da estátua da Náiade que adorna a fonte logo na entrada do “próprio municipal”, como diriam jornalistas da velha guarda (não é o meu caso). Nada feito*. Já que estava por lá, fui procurar o pavão (muito pouco conhecido como Pavo cristatus, nome do RG científico que lhe cabe). Não está à vista. Um funcionário perdido entre vassouras e pás diz que ele está na muda e se recolhe nessa época. O que esperar de uma ave que simboliza vaidade? 






Que tal encontrar os jacarés, anunciados nas placas? Encontro dois senhores flanando entre as alamedas e pergunto se viram algum jacaré por lá. Um deles garante que tem um no riacho. Fica submerso e só com os olhos de fora. “É pequenininho, não é como aqueles da Florida (Miami).” Suspiro aliviada, se bem que ainda duvido que haja jacarés por lá, grandes ou pequenos, já que o aramado é irrisório. 










Cágados aproveitam o sol e carpas vermelhas dão um colorido às águas esverdeadas do lago (ou riacho?). Duas araras-azuis namoradeiras me observam ressabiadas do alto do seu poleiro; passo por uma cutia que almoça tranquilamente e me olha de esguelha, temerosa de dividir a ração comigo. Visito a estufa onde encontro apenas duas orquídeas e alguns sabiás.




















*Fui informada depois que João Batista Ferri assina a escultura.

segunda-feira, 5 de março de 2018


LE PONT DE SAINT BÉNÉZET*
Mais um rio: o Ródano e a ponte de St. Bénézet, mais conhecida como a ponte de Avignon, 2011.
Quem diria que eu ainda iria conhecer a Pont St. Bénézet, nome da célebre Pont d’Avignon cuja existência descobri nas aulas de francês do Liceu Feminino Santista. Nossa professora Anne Marie Louise nos ensinou o refrão da música que remonta ao século XV: 

“Sur le pont d’Avignon
 L'on y danse, l'on y danse
Sur le pont d’Avignon
L'on y danse tous en rond”.

O que ela nunca contou é que ninguém dançava sobre a ponte, que foi construída no século XII e tinha cerca de 900m de extensão e 22 arcos. Uma enchente do rio Rhône (Ródano) em 1660 destruiu praticamente toda a ponte, deixando apenas quatro arcos.   
        Avignon, a cidade dos Papas, fica perto de Marselha, no sul da França. No século XIV era propriedade do rei de Nápoles. Quando o Papa Clemente V se instalou lá em 1309, a igreja católica passava por uma grande crise de poder que se estendeu até 1377, ano em que Roma voltou a ser residência papal. Em 1348, o Papa Clemente VI comprou a cidade, que permaneceu propriedade da igreja até 1791, quando foi incorporada à França.
        O palácio em estilo gótico, construído entre 1335 e 1364, é um belo museu. O ingresso pode incluir a visita à ponte. O centro histórico da cidade faz parte do patrimônio mundial da UNESCO desde 1995.


Les beaux messieurs font comme ça
Et puis encore comme ça.
Sur le pont d’Avignon…  
Les belles dames font comme ça
Et puis encore comme ça.
Sur le pont d’Avignon…
 Les militaires font comme ça  
Et puis encore comme ça.  
Sur le pont d’Avignon…
Les musiciens font comme ça
Et puis encore comme ça.


Publicado originalmente em 2012.

domingo, 4 de março de 2018

DOMINGO COM ARTE

          O compositor Antonio Vivaldi nasceu em 4 de março de 1678 em Veneza. “La stravaganza” é uma coletânea de concertos para 12 violinos, publicada em 1714. Para um domingo de verão, o quadro de Gustave Caillebotte (1848-1894), pertencente à coleção de Mr. e Mrs. Paul Mellon. 




"Perissoires sur l'Yerres", óleo sobre tela de 1877. (Canoeiros no Yerres.)


sábado, 3 de março de 2018

LEQUES

"Jeune fille au bal", (1875). Óleo sobre tela de Berthe Morisot (1841-1895). 
Acervo Museé Marmottan, Paris.


"O leque fechado
ausência.
(...)
Leque aberto. O
real
      –  o insolúvel real
         presença apenas."

Orides Fontela (1940-1998).