Lago do Parque da Aclimação. Foto. Hilda Araújo, 2018. |
Como a organização dos serviços públicos em geral em São Paulo não é sistematizada,
para alguns serviços os moradores se reportam à administração da Sé, para
outros da Vila Mariana embora pertença realmente ao distrito da Liberdade. Nos últimos anos tem mudado bastante porque o parque da Aclimação e a qualidade de vida da região têm atraído os empreendimentos imobiliários de alto padrão e as belas casas estão desaparecendo. As torres brotam em velocidade espantosa.
Os moradores que fazem parte do meu cotidiano transbordam simpatia. Da
maioria nem sei o nome, mas de outros até conheço os dramas e comédias porque
adoram falar de si. José e Jaime vejo assim que saio de casa – são taxistas do
ponto que fica bem ao lado do prédio. Depois pode ser seu Damião – indo para a
padaria ou para a banca de jornal. Francisco é o proprietário da banca, conhece
o bairro como ninguém. Todos nordestinos. Carminha é a senhora mais elegante do
bairro: está sempre impecável. Adora conversar e já quase morri de insolação
ouvindo seus percalços e as pechinchas descobertas. Isaías, síndico e zelador
de prédio, cuida da praça como se fosse seu quintal. Ganho abraço carinhoso de
Gabriel, gerente de uma imobiliária, velho conhecido dos cafés matinais na Padaria Dengosa que deu lugar a uma farmácia.
As casas foram demolidas, substituídas por duas torres. |
Há duas lavanderias na esquina de casa, mas prefiro subir a ladeira e
deixar a roupa na lavanderia de seu Carlos, dono de conversa inteligente e
saborosa, desfrutando agora a alegria de ser avô. Lá vem o Paulinho, sempre
elegante na sua magreza histórica. Quer me convencer a frequentar o Bom Prato. Agradeço. “A comida é muito
boa” – diz ele. Acredito. Um dia, quem sabe...
“Bom dia, menina! Paz e alegria!” Esse é o bordão de Paulo, dono da banca
de outra esquina. Rodeado de notícias não poderia deixar de ser bem informado
(como Francisco do outro lado). Já abandonou por um tempo a vida de jornaleiro
– que ele considera profissão de interesse público porque dá todo tipo de
informações aos clientes e passantes – pela de caminhoneiro, quando percorreu o
Brasil todo. Agora, pensa em voltar para o Ceará. Será? Há muitos outros, mas o
espaço é pequeno. Fico devendo. Continua.
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