quarta-feira, 28 de março de 2018

UMA RUA MUSICAL

       Se você pensa que nessa rua da Vila Mariana as pessoas acordam e abrem as janelas cantando ou saem de casa sapateando ou fazendo piruetas, engana-se. O dia começa com o canto de bem-te-vis e, dependendo da época, sabiás; depois seguem-se os ruídos urbanos comuns – ônibus e carros, mães apelando para seus pimpolhos que partem para a escola e toda aquele povo que se dirige ao trabalho, enquanto a turma das caminhadas e corridas vai para o parque e cães são levados para um passeio. Depois aparecem o afiador de facas e alicates com a sua indefectível gaita, o homem do biju com a matraca e a buzina do vendedor de pão encerra o dia, que agora inclui os vendedores de ovos, frutas e pamonhas com seu horríveis bordões.
        A música? Bem, a música não fica só a cargo dos passarinhos. Não. Trata-se de música erudita, mas perceptível apenas aos olhos dos amantes de ópera. Uma caminhada despreocupada pela rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós, observando o nome dos condomínios, proporciona um programa muito especial com óperas de grandes compositores.
O compositor Giuseppe  Verdi (1813-1901) parece ter sido o preferido de quem teve essa feliz ideia: são dele as óperas NABUCO (1841); ERNANI (1844), OTELLO (1887) e AÍDA (1870). Richard Wagner (1813-1883) está presente com TANNHAUSER (1845) e Giacomo Puccini (1858-1924) participa com EDGAR (1889). Nosso Carlos Gomes (1836-1896) foi lembrado com a FOSCA (1873).
Imagem: Google.
Há ainda os condomínios NORMA (1831), ópera de Vincenzo Bellini (1801-1835) e MEFISTOFELES (1867) de Arrigo Boito (1842-1918). Charles Gounod está lá com FAUSTO (1859). O compositor Alfredo Catalani (1854-1893), cujas obras não têm sido apresentadas há muito tempo, foi homenageado com duas óperas: EDMEA (1886) e LORELEY (1879).
Eu morei por muitos anos no Edifício NABUCCO – que é uma das minhas óperas preferidas. Até alguns anos atrás havia ao lado do nome dos condomínios uma clave de sol, que foi retirada com as sucessivas reformas das fachadas. Infelizmente, a maioria das pessoas não tem ideia desse fato, que poderia ser motivo para incluir a rua em um roteiro especial de passeios pela cidade, ciceroneado por um professor de música.
         Vale a pena assistir ao vídeo de 2006 que mostra o teatro lotado para a apresentação da ópera. 

2 comentários:

artdasilva disse...

Maravilhoso, Hilda, muito obrigada pelo texto e música. Gosto muito dessa Abertura.

Hilda Araújo disse...

Fico feliz por ter proporcionado bons momentos.