segunda-feira, 30 de abril de 2018


O TRISTE FIM DAS FERROVIAS

Viajar de trem é uma experiência inigualável. Os países europeus mantiveram suas rotas ferroviárias e pode-se ir a praticamente todos os lugares de trem. Nos Estados Unidos, terra dos automóveis, os trajetos são mais escassos, mas os trens continuam rodando, rápida e eficazmente, em viagens mais longas.
No dia 30 de abril de 1854, o Brasil entrou na era ferroviária, quando foi inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro Mauá ente o Porto de Estrela (baía de Guanabara) e Raiz da Serra, em direção a Petrópolis. Nesse dia festivo, cheio de expectativas sobre o futuro (como sempre), o trem percorreu 14,5 quilômetros em 23 minutos indo de Guia de Pacobaíba (Mauá), Inhomirim até a estação provisória de Fragoso. Foi também nesse dia que Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889) ganhou o título de barão do Imperador D. Pedro II e que retribuiu com uma grande gafe, ao entregar a sua Majestade uma ferramenta, mas o príncipe (como um bom príncipe filósofo) “não se desdenhou de fazer uso, como para mostrar aos seus súditos que o trabalho, essa fonte perene da prosperidade pública, era não só digno da sua alta proteção, porém mesmo de tão extraordinária honra!” – como disse o próprio Mauá.
Como tudo no Brasil, a festa acabou e a obra para a conclusão da ferrovia se arrastou por trinta anos! A era ferroviária brasileira não durou muito mais que um século. Em meados do século XX a rede de estradas de ferro estava sucateada e a indústria automobilística se expandia à medida que vendia o sonho da independência, que quase sempre vinha atado a uma promissória.
Estrada de Ferro Central do Brasil. Verão de 1960: minha primeira viagem de trem rumo a Uberaba, Minas Gerais. Inesquecível.
Locomotiva em exposição no Palácio das Indústrias em São Paulo, 2016.


domingo, 29 de abril de 2018


UM DIA DO BRASIL NA HISTÓRIA 

Há 73 anos 14 mil homens da 148ª Divisão de Infantaria Alemã e integrantes da 90ª Divisão de Infantaria Mecanizada e de italianos da Divisão Itália renderam-se ao 6º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em Fornovo, na Itália, durante a II Guerra Mundial. Um feito extraordinário: a 148ª Divisão de Infantaria foi a única que se rendeu integralmente, na Itália, antes do armistício.
Os contatos para rendição foram realizados pelo vigário Alessandro Cavalli, de Neviano di Rossi, que redigiu o ultimato aos alemães e serviu de correio entre as tropas brasileiras e alemãs. O representante do general Otto Fretter-Pico foi o major Kuhn, comandante das tropas alemãs, que se apresentou ao posto de comando do 6º Regimento em Colecchio, iniciando-se o processo de rendição. A única exigência do oficial alemão foi que se começasse com entrega dos oitocentos homens feridos, o que foi aceito sem problema. O general Otto Fretter-Pico e o general italiano Mario Carloni supervisionaram a rendição e se apresentaram aos oficiais da FEB no fim do dia 30 de abril.
Vários brasileiros receberam medalha por ação nas batalhas de que participaram: Geraldo Baeta da Cruz, Geraldo Rodrigues de Souza, Arlindo Tavares Pontes, Arlindo Lúcio da Silva, Tertuliano Pinto Ribeiro, Olavo Soares do Amaral; sargentos Ivo Limoeiro, José Fonseca e Silva; tenente Gervasio Deschamps Pinto. Em homenagem à bravura do sargento Max Wolf Filho, morto em 12 de abril de 1945, foi criada uma medalha com o seu nome.
O efetivo da Força Expedicionária Brasileira foi de 25.334 pessoas (20 eram enfermeiras das unidades de saúde). No período de ação, que durou oito meses e 19 dias, a FEB perdeu 443 homens entre soldados e oficiais cujos corpos, depois de um período no cemitério de Pistoia, foram transladados para um lugar especial: o Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial. Nesse mesmo período houve cerca de três mil feridos.
Homenagem aos veteranos da FEB em São Paulo, 2017. 



Monumento aos soldados brasileiros em Porreta Termi, Itália, 2011.

Placa do monumento. Foto: 2011.

sábado, 28 de abril de 2018

SÁBADO COM ARTE - PINTURA E MÚSICA

SÁBADO COM ARTE - PINTURA E MÚSICA


“L’Accordéoniste”, 1926. Óleo sobre tela de GUSTAVE DE SMET (1877-1943). Coleção Heinrich e Françoise Simon, pode ser admirado na exposição 100 ANOS DE ARTE BELGA, na FIESP (Avenida Paulista, 1313). Até 10 de junho de 2018. Fotos do catálogo: Hugo Maertens, Bruges.

Uma tela que me remeteu à Argentina, ao tango e ao imortal Carlos Gardel (1890-1935).

“...Bandoneon, porque ves que estoy triste y cantar ya no puedo,
Vos sabes que yo llevo en el alma marcado un dolor.”
Bandoneon Arrabalero”, Carlos Gardel.



terça-feira, 24 de abril de 2018


 A MAGIA DO CINEMA
No dia mundial do livro, fui procurar uma obra rara, que não achei, mas aproveitando o desconto de dez por cento, oferecido pelo sebo, levei outro. Uma pequena joia de Blaise Cendrars (1887-1961), o suíço maluco que aportou no Brasil (mais precisamente em Santos) em plena semana de 1922 e se apaixonou pelo lugar. Cendrars fez de tudo um pouco na vida – poesia, literatura, jornalismo, mas foi principalmente um grande viajante. Lutou na I Guerra Mundial e perdeu um braço.
O livrinho que comprei é “Hollywood 1936”, que já devorei. Muito divertido ler os comentários sobre Hollywood de 82 anos atrás e lembrar o que vi ano passado ao passar por lá. Em 1936 o cinema falado tinha apenas sete anos, Marlene Dietrich ainda tinha seus ataques de diva, Wald Disney trabalhava em “Branca de Neve e os sete anões” e Wally Westmore (1906-1973), o homem que “mais contribui em todo o mundo para modernizar, renovar o encanto feminino”, segundo Cendrars, choramingava, desesperançado – “Ah, as estrelas! Não me fale das estrelas, isso não existe mais!... é a crise, a crise das estrelas”. Um dos melhores trabalhos de Westmore foi “Dr. Jekyll e M. Hyde” (1931), Frederic March (1897-1975).
Estrela de Paul Henreid (1908-1992). Casablanca.
Cendrars narra as dificuldades para visitar os estúdios, das multidões de fãs ávidas por ver seus ídolos e dos espertalhões de todos os tempos, que tentam vender de tudo aos incautos. Os souvenirs variavam (e variam) de bonecos Mickey Mouse, saquinhos com uma luva dentro, uma meia de seda ou uma flor, usadas por alguma atriz em algum filme. Mais estranho para o suíço foi o final da noite em que, ao sair de uma festa, descobriu que em Hollywood todo homem que anda a pé é suspeito. Cendrars decidira caminhar até o hotel que ficava perto, quando uma viatura da polícia parou e os policiais o abordaram. Depois de dizer o nome do hotel, quiseram saber o que ele fazia ali e ao saberem que ia a pé, não hesitaram em empurrá-lo para a viatura e deixá-lo hotel.
Museum of Broken Relationship.
Nessa terra de sonhos, o escritor viajante descobriu que todos se mostravam insatisfeitos. Ele transcreveu um documento da Prefeitura de Los Angeles de 1930 com estatísticas bem preocupantes: proporcionalmente, ela encabeçava a lista da cidade com maior número de suicídios – 443 naquele ano.
Enfim, como naqueles tempos, Hollywood é um ponto turístico importante, mas o visitante pode ficar tranquilo: chega-se lá sem carro, graças ao metrô e aos ônibus.

segunda-feira, 23 de abril de 2018


LIVRO, LIVRO E MAIS LIVROS
Biblioteca do Monastério Strahov, Praga, 2010. (Foto: Bohumir Proküpek.)

A UNESCO instituiu o Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor para homenagear autores e promover o prazer da leitura. Embora a data seja simbólica, foi em um dia 23 de abril que William Shakespeare nasceu (1564) e Miguel de Cervantes (1616) morreu. Dois autores essenciais para quem aprecia bons livros. Contudo, dizem também que a data foi escolhida com base em uma tradição catalã relacionada ao dia de São Jorge, que morreu em 23 de abril de 303, e nessa ocasião os homens costumam oferecer às suas damas uma rosa vermelha e recebem em troca um livro. De qualquer forma é um bom motivo para ler ou comprar um livro.

“Ler um livro pela primeira vez é conhecer um novo amigo; lê-lo pela segunda vez é encontrar um velho amigo.” Provérbio chinês.

“Os livros são como pessoas; eles podem decepcionar ou envolver. Na vida de qualquer homem alfabetizado há sempre um livro que desempenhou um importante papel em seu destino.” Varlam Chalamov (1907-1982), escritor russo.

“Ao lermos, um concerto solitário e silencioso se produz para nossa mente. Todas as nossas faculdades mentais estão presentes nessa exaltação sinfônica.” Stéphane Mallarmé (1842-1898), poeta francês.

“Os livros tomaram conta do apartamento. Embaixo da mesa de jantar, em cima da TV, ao lado do som, no corredor, etc. Sem a estante velha na sala, perdi de vez o controle da situação. Ela podia ser pequena, mas, quando saiu, foi o caos. A vaga ordem com que os livros estavam amontoados desapareceu. Todos os assuntos se misturaram, e a memória visual de cada lombada se embaralhou. Ficamos quinze dias errando por entre pilhas esquizofrênicas.” (Estante nova, de Sérgio Lacerda (1969).

“Aquele que roubar ou tomar de empréstimo e não restituir este livro a seu dono ... que seja acometido pela paralisia e todos os seus membros definhem ...Que as traças se refestelem com as suas entranhas em nome do Verme que nunca morre, e quando, enfim, encaminhar-se para receber a sua punição final, que as chamas do Inferno o consumam eternamente.” Anátema em um manuscrito medieval pertencente ao Mosteiro de São Pedro, em Barcelona. 

The Mentalist. Uma rara série de TV em que um personagem está quase sempre lendo um livro: agente Kimball Cho (Tim Kang). Em uma das cenas, ele tem no porta-luvas do carro o "Idiota" e o parceiro dele pergunta se o livro é bom. Ele responde: "É Dostoievski". Não precisava dizer mais nada, não é? Mais adiante, o parceiro aparece lendo o livro. 

domingo, 22 de abril de 2018

DIA DA TERRA

“A Terra é azul. Como é maravilhosa. Ela é incrível!”*
Yuri Gagarin (1934-1968).
E lá estamos nós, girando na imensidão do espaço. Um ótimo dia para refletirmos
 sobre a destruição que estamos infligindo à nossa casa. 



O Big Bang, quando tudo começou, aconteceu há 13,5 bilhões de anos e a Terra tem 4,54 bilhões de anos (datação radiométrica). Organismos começaram a ser formar em nosso planeta há cerca de 3,8 bilhões de anos e a espécie Homo sapiens só apareceu há 2,5 milhões de anos e o chamado Homo sapiens há 70 mil anos.
       O mais surpreendente é que o Homo sapiens precisou de menos de 150 anos para acelerar o processo de destruição de nossa casa. Somos 7.617.056.354 de pessoas orgulhosas dos avanços tecnológicos – as mesmas que estão produzindo mais lixo do que a natureza pode suportar, desperdiçando a água que não se renova, abatendo as florestas que nos sustentam, poluindo o ar que respiramos. Não sobreviveremos sem água, florestas e ar. Nada contra a tecnologia que nos proporciona essa imagem bela e impactante do que realmente somos no universo. Precisamos usá-la para continuar a jornada por esse cenário fantástico.
        Foto da sonda espacial OSIRIS-REx a caminho do asteroide Bennu na instigante missão de entender a origem do universo. O asteroide testemunhou o surgimento do sistema solar e pode esclarecer questões fundamentais sobre a Terra. A sonda deve chegar a Bennu em agosto deste ano. A foto foi tirada em outubro de 2017 e divulgada pela NASA em janeiro.
*Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço abordo da Vostok I, ao ver a Terra. Data: 12 de abril de 1961.

sábado, 21 de abril de 2018

SÁBADO PARISIENSE

FERIADO

Com a arte de Jean Béraud (1848-1935), que pintou uma série de quadros tendo como tema as ruas parisienses.

Boulevard des Capucines. Óleo sobre tela de Jean Béraud 

E dois grandes artistas do século passado: Dalida (1922-1987) e Serge Gainsbourg (1928-1991), ator, diretor, cantor, músico. Neste delicioso vídeo, eles cantam o encanto das ruas de Paris "même sous un ciel un peu gris". 

quinta-feira, 19 de abril de 2018

"TODO DIA ERA DIA DE ÍNDIO"
Jorge Benjor

"Se o homem branco quiser viver em paz com o índio, ele poderá viver em paz. Não é preciso ter problema. rate todos os homens como semelhantes. ofereça-lhes a mesma lei. Dê todas as oportunidades iguais para viver e crescer." Chefe Joseph.

“Não se mede a grandeza de um país unicamente pelo nível de renda per capita, nem pelo PNB. Mas, sobretudo, pela capacidade de preservar suas raízes, de conter a variedade dentro da unidade e de atender com justiça aos diferentes grupos que o constituem.”  Orlando Villas Boas (1914-2002). 

Dia 19 de abril: data em que se realizou o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu em 19 de abril de 1940, no México. A data foi oficializada em junho de 1943. 

Keinahu Kukuro tocando a flauta taquara, 2007, foto de Sue Cunningham.
Divulgação da mostra "Coração do Brasil".
A fotógrafa britânica Sue Cunningham documentou a vida das populações indígenas ao longo do rio Xingu em 2006, com os recursos do Prêmio Neville Shulman, da Royal Geographical Society de Londres que o projeto ganhou.

Chefe do deserto - Navaho, 1907, foto de Edward Curtis.
Edward Sheriff Curtis (1868-1952), fotógrafo e etnólogo norte-americano, fotografou cerca de oitenta nações indígenas entre 1901-1930. Fez mais de quatro mil fotos e grande parte delas encontra-se na coleção “The North American Indian", uma das mais importantes da cultura indígena. 



terça-feira, 17 de abril de 2018


 AS RUAS DE JOÃO E MÁRIO

O Rio de Janeiro teve o privilégio de ser berço de João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-1921). Ele foi um apaixonado pela rua e escreveu deliciosamente sobre esse espaço. Para João do Rio “a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!”. Morreu em um táxi a caminho de Ipanema, onde morava. São Paulo teve Mário de Andrade, escancaradamente enfeitiçado por essa Pauliceia Desvairada, como carinhosamente a denominou em uma das suas obras mais festejadas.
Mário de Andrade poetou sobre as ruas de São Paulo. Em “Lira Paulistana” lá está a velha Rua Aurora, que hoje certamente ele não reconheceria. Suja, decadente, perigosa em alguns trechos, daqueles tempos bem pouco resta. Há algumas casas de shows para adultos (nada recomendáveis). Em um dos trechos, em ruas transversais, encontram-se núcleos da “cracolândia” (olho vivo na bolsa, no celular). Chama atenção o prédio abandonado do velho Cine Áurea. A situação melhora à medida que vão surgindo as casas de eletrônicos, que ficam próximas da Rua Santa Ifigênia – esta sim, paraíso dos eletrônicos.
Felizmente, lá está a centenária Casa Del Vecchio. A bem da verdade 116 anos fazendo instrumentos musicais e suavizando a vida nesta metrópole agitada. A Rua Aurora também é o endereço do velho e bom Bar do Leo, um dos melhores chopes da cidade, no mesmo ponto desde 1940. Sempre cheio.
A manhã vai terminando e na esquina da Avenida Rio Branco, a volta pelo Largo do Paissandu. Agitado na hora do almoço. Tudo muito diferente da Rua Lopes Chaves, na Barra Funda, para onde o poeta mudou em 1921 e morou até morrer (exceto por três anos que passou no Rio de Janeiro). A casa nº 546 é um polo cultural da cidade.
Será que Mário de Andrade gostaria de saber que Lopes Chaves (1833-?) foi advogado e político, nascido em Jacareí? Acho que não. Entretanto, em 1865 a Rua Santo Elesbão tornou-se Rua Aurora e, segundo a Prefeitura, o nome está relacionado à esperança de tempos novos.  
       Como diz Mário de Andrade:

Na rua Aurora eu nasci
Na aurora de minha vida
E numa aurora cresci.

No largo do Paissandu
Sonhei, foi luta renhida,
Fiquei pobre e me vi nu.

Nesta rua Lopes Chaves
Envelheço, e envergonhado
Nem sei quem foi Lopes Chaves.

Mamãe! me dá essa lua,
Ser esquecido e ignorado
Como esses nomes da rua.



Largo do Paissandu, abril de 2017.
Casa de Mário de Andrade, na Barra Funda.
   

segunda-feira, 16 de abril de 2018

SÓ UM PASSO PARA DESCOBRIR O MUNDO.

Andar, caminhar, deambular, encaminhar, flanar, jornadear, larear, marchar, perambular, palmejar, palmilhar, percorrer, trilhar. Não há nada melhor do que essa atividade, com tantos nomes, que faz parte da natureza do Homem. Andar é conhecer. Conhecer o espaço em que você vive, as pessoas que partilham o lugar, a vida que se desenrola ao seu redor. Descobrir caminhos, cheiros, cores e sons. Ampliar a sensibilidade. Surpreender-se com o banal e com o óbvio desapercebido. Vencer obstáculos é um prazer.
Rua Líbero Badaró, Centro de São Paulo, 2014.
        Caminhar com ou sem objetivo, não importa. De repente, lá está o caminhador refletindo sobre coisas novas e velhas, questionando-se – encontrando respostas ou aumentado dúvidas. O andejo, caminhante, caminhador, caminheiro, andarilho, andador, viandante, viageiro, viajor, viajante, transeunte, quando se cansa, busca um banco, uma pedra, um degrau ou simplesmente uma sombra, mas nunca se cansa das descobertas.
Uma pesquisa nacional, feita pelo IBOPE a pedido da Confederação Nacional da Indústria e divulgada em 2015*, revelou que a caminhada é o segundo meio de locomoção mais usado diariamente por 22% dos entrevistados. Desses 22%, 37% escolheram esse meio de locomoção por ser o mais rápido para alcançar seu destino e 29% porque o consideram mais saudável, enquanto 19% não dispunham de outro meio de deslocamento; e 16,2 informaram que a distância era curta demais para usar condução.  
Praça Mauá, Rio de Janeiro, 2015.
 Estou sempre disposta para uma caminhada pela cidade ou por trilhas verdejantes. As minhas jornadas podem me levar para lugares já conhecidos, mas que nunca estão iguais à vez anterior. Nessas andadas já me perdi, mas não vejo isso como um problema, porque se perder significa um desafio – encontrar o caminho certo. Não sou medrosa (o que talvez seja um problema) e nos lugares escusos onde me encontrei algumas vezes, na hora de recuar, achei melhor prosseguir, descobrindo o gosto de superação. No final, a experiência foi gratificante, mas o risco gratuito não faz parte dos meus passeios.

Uma rua de Glasgow, 2015.
        Caminhantes egrégios.    
O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) conta que
“Na quinta-feira 24 de outubro de 1776, depois do jantar, segui os buevares até a Rue du Chemin-Vert, pela qual cheguei às alturas de Ménilmontant, e dali, tomando atalhos pelas vinhas e campinas, atravessei até Charonne a alegre paisagem que separa essas duas aldeias, depois fiz um desvio para voltar pelas mesmas campinas usando outro caminho. Eu me divertia percorrendo-as com o prazer e o interesse que sempre me proporcionaram os cenários agradáveis, parando algumas vezes para fixar os olhos em plantas e vegetação.”
.
"A rua se torna moradia para o flâneur, que, entre as fachadas dos prédios, sente-se em casa tanto quanto o burguês entre suas quatro paredes", escreveu o filósofo alemão Walter Benjamim (1892-1940).

“Pelas ruas vai e vem, encontra-se, esbarra-se, um enxame de gente de todas as classes e de todas as cores, conduzindo notas de consignação, contas comerciais, cheques bancários, maços de cédulas do tesouro, latinhas chatas com amostras de mercadorias.”
A Carne, Júlio Ribeiro (1845-1890).

“A rua é um ponto singular de atração da cidade, um verdadeiro microcosmo dentro do organismo maior do aglomerado urbano. Para ela tudo converge, desde o fato corriqueiro do dia até o simples entra e sai das casas até as grandes comemorações.”
Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, professora da FFLCH/USP.

 *A pesquisa foi realizada entre 5 e 8 de setembro, com 2.002 pessoas de 142 municípios brasileiros.

domingo, 15 de abril de 2018

UM MUNDO ENCANTADO

O Sonho, 1910. Óleo sobre tela de Henri Rousseau (1844-1910).
Museu de Arte Moderna de Nova York, doação de Nelson RockEfellerH
          O francês Henri Rousseau, fiscal de alfândega já aposentado quando começou a pintar, descreveu a obra em um pequeno poema, que preferi deixar no original. 

"Yadwigha dans un beau rêve
s'étant endormie doucement
entendait les sons d'une musette
dont jouait un charmeur bien pensant.
Pendant que la lune reflète
sur les fleurs, les arbres verdoyants,
les fauves serpents prêtent l'oreille
aux airs gais de l'instrument."









sábado, 14 de abril de 2018


SÁBADO ENSOLARADO
Com um californiano e um mineiro.


Sapatos Novos para H, do norte-americano Don Eddy (1944), me remete ao caos cotidiano da vida urbana em que o consumismo é um forte componente. Acrílico sobre tela (1973/1974), Museu de Arte de Cleveland.


Fernando Sabino (1923-2004)

"De tudo ficaram três coisas: 
a certeza de que ele estava
sempre começando, a certeza
de que era preciso continuar 
e a certeza de que seria 
interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho
novo. Fazer da queda um passo
de dança, do medo uma escada,
do sono uma ponte,
da procura um encontro."





sexta-feira, 13 de abril de 2018



LEMBRANÇAS DE VIAGEM
Glasgow, Escócia: gaivota perdida...

Gaivota curiosa.Santa Monica, Califórnia. 











Gaivotas quebrando
os vitrais do vento
Résteas de luz
de leve ferindo
a epiderme azul/do mar

Verdes ao longe
azuis na distância
montanhas e ilhas
(...)

Paisagem Marítima, de Narciso de Andrade (1925-2007).


quinta-feira, 12 de abril de 2018


O IMPÉRIO DA FOTOGRAFIA

Florença, 2012. Essa escultura me emociona de várias formas.
Gregos e romanos eram adeptos de esculturas que exaltavam a beleza do corpo humano. As estátuas povoavam as ruas das suas cidades. Muitas chegaram até nós. Os museus guardam muitas obras de escultores tão anônimos quanto seus modelos. Sem contar obras-primas de mestres da arte clássica. Os modelos? Quem sabe?
Em outros tempos a nobreza europeia descobriu os pintores que contratavam para retratá-los. Guardar a imagem para a posteridade era privilégio de poucos, embora muitos artistas tenham registrado o cotidiano das cidades e aldeias do velho continente – bem pouco sabemos sobre eles; enquanto isso os pintores viajantes registravam paisagens e povos de localidades por onde passavam, o que nos permite conhecer rostos populares e imaginar suas histórias.
Sir Brooke Boothby (1781), obra de Joseph Wright (1734-1797).
A situação muda em meados do século XIX, quando surgiu o daguerreótipo, o precursor da fotografia. Em 1839 já havia um viajante embarcando em Nantes (França) munido de um daguerreótipo para colher paisagens dos lugares que pretendia visitar. O desenvolvimento da fotografia foi, praticamente, simultâneo. A novidade permitiu que as pessoas tivessem a oportunidade de ter seus retratos – que deixam de ser privilegio dos ricos que podiam pagar o talento de um pintor.

Foto de família em estúdio, final século XIX. 

Por muito tempo ainda a máquina fotográfica esteve fora do alcance da maioria das pessoas, porém sempre era possível juntar um dinheiro para contratar um fotógrafo para retratar a família, o casamento e até mesmo um morto querido (algo mais comum do que se imagina). Logo surgem estúdios fotográficos mundo afora. Geralmente, dispunham de um cenário para os clientes posarem*.

Após a II Guerra Mundial a fotografia tornou-se ainda mais popular graças aos avanços tecnológicos das câmeras, que se tornaram mais leves e baratas, embora as boas máquinas continuassem (como até hoje) fora do alcance da maioria das bolsas e bolsos. Nesse panorama a câmera instantânea (Polaroid) comercializada a partir de 1948 também teve grande participação.
Mas foi com a era digital que a fotografia praticamente se tornou acessível a todas as faixas econômicas. Máquinas compactas, nada de filmes e revelações (apenas se o fotografo quiser). Errou? Descarte sem prejuízo. Quando as câmeras foram anexadas aos telefones celulares, o mundo então mudou mesmo. Sem ônus as pessoas passaram a fotografar tudo e principalmente a si mesmas.
Publicação de abril de 1961.
Descobrimos que vivemos na era do narcisismo. Redescobriram a fotografia de si mesmo (“selfie”), que já era possível fazer com algumas máquinas tradicionais. Criaram algo chamado de “pau de selfie” (duplo mau gosto) para quem estivesse só e quisesse muuuuito uma foto. (Viajei nos Estados Unidos ao lado de uma jovem que se fotografou durante o trajeto de algumas horas se fotografando com essa ferramenta detestável.) Parece, felizmente, que a moda passou.
Recentemente, numa cidade do litoral paulista, o teto de um shopping começou a desabar e em vez de se protegerem muitas pessoas ficaram filmando e fotografando o acontecimento, que logo estava na internet. Repórteres fotográficos amadores abundam. A frase famosa de que uma imagem vale mil palavras desgastou-se. Vivemos a banalização da imagem. As palavras, por sua vez, têm encontrado dificuldades para se organizarem harmoniosamente.  
Sem dúvida é um tempo para reflexões.

*O Museu Paulista da Universidade de São Paulo dispõe de um belo acervo de fotos antigas.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

EMANCIPAÇÃO DE CUBATÃO
Por mais de 400 anos Cubatão foi parte da rota de tráfego e de comércio entre Santos e São Paulo, mas poucas pessoas se fixaram ali. O meio ambiente da região foi o primeiro sofrer um ataque direto dos colonos, com a realização dos primeiros aterros para melhorar o acesso à Ilha de São Vicente. Em 12 de agosto de 1833, o vilarejo foi elevado à categoria de Porto Geral de Cubatão pela Lei nº 24, sancionada pela Regência. Mas esse privilégio durou menos de uma década: em 1º de março de 1841 a área voltou a integrar o território de Santos.
Paisagem de Cubatão em 1822, idealizada por Benedito Calixto (1853-1927). 

Com as obras da São Paulo Railway em meados do século XIX, criaram-se empregos que acabaram aumentando o número de moradores do povoado; bem mais tarde algumas indústrias se estabeleceram no pé da serra: Curtume Costa Muniz, Ind. e Comércio, Cia. Curtidora Mex; Cia. Anilinas e Produtos Químicos do Brasil.
No começo do século passado, algumas empresas, como a Cia. Santista de Papel e a Light Improvement, preocuparam-se em construir casas para seus funcionários, como a Vila Fabril e a Vila da Light. A Vila da Light destinava-se a funcionários de médio e alto escalão e destacava-se pela elegância das linhas em um cenário muito bem escolhido.
Os primeiros dados demográficos, registrados em 1940, mostram que 4.683 pessoas viviam na zona rural enquanto apenas 1.887 residiam na área urbana. A economia era basicamente o cultivo de banana, cana-de-açúcar além da extração de tanino (Acidum tannicum), usado em curtumes; produziam-se tijolos e praticava-se pesca. Entre 1938 e 1947, as empreiteiras que construíam a primeira pista da via Anchieta instalaram os operários nas encostas da serra do Mar, formando os bairros Cota 95/100; Cota 200 e Cota 500. 
Em 17 de outubro de 1948 realizou-se o plebiscito que decidiu pela emancipação política de Cubatão. Foram 1.017 votos pró-desmembramento, 82 votos contra e um voto em branco. Com este resultado, o governador Ademar de Barros sancionou a Lei nº 283 de 24 de dezembro do mesmo ano, fixando o quadro territorial e administrativo do Estado.  
Assim, no dia 1º de janeiro de 1949, Cubatão foi elevado à categoria de município ficando sob a administração da Prefeitura de Santos até 9 de abril, quando assumiu o primeiro prefeito Armando Cunha. No mesmo dia, foi instalada oficialmente no Grupo Escolar Júlio Conceição, a Câmara Municipal de Cubatão, composta por 13 vereadores.
        Quando o setor produtivo se interessou pelo município por causa da proximidade da Capital e do Porto de Santos, a ocupação ocorreu no pé da Serra do Mar. A decisão não poderia ter sido pior. Cubatão e toda a Baixada sofreriam nas próximas décadas as consequências dessa escolha.
A década de 1950 marca o início da industrialização de Cubatão. A COSIPA foi constituída em 23 de novembro de 1953. Martinho Prado Uchoa, um dos fundadores da empresa, conta que a ideia surgiu em 21 de abril de 1951, durante uma visita às instalações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a primeira usina de coque do Brasil. O interessante da história de Plínio é que a sugestão da usina já foi apresentada com nome e endereço: ela seria em Cubatão e batizada como Companhia Siderúrgica Paulista. A ideia foi bem recebida, conseguiu apoio da Assembleia Legislativa e da imprensa. O grupo constituído para implantar o projeto conseguiu comprar um terreno de aproximadamente 70 alqueires (cerca de 4,1 milhões de m²), em Piaçaguera, de propriedade de Adelino da Rocha Brites.
        Em seguida instalou-se no município a refinaria. Em 3 de outubro de 1953, o presidente Getúlio Vargas sancionou a Lei nº 2004, criando a Petrobrás e instituindo o monopólio estatal do petróleo. Na época, o País consumia cerca de 70 mil barris por dia – o principal produtor brasileiro era o Recôncavo Baiano e a complementação era feita com importações da Venezuela e da Arábia Saudita. A Refinaria de Cubatão foi a primeira grande refinaria da empresa e começou a operar com uma vazão de treze mil barris por dia. A meta na primeira etapa era processar diariamente 45 mil. A inauguração da Refinaria ocorreu em 16 de abril de 1955.
        Sem infraestrutura e política social, o município atraiu dezenas de indústrias multinacionais do setor petroquímico e milhares de trabalhadores que, sem moradias, instalaram as famílias em favelas no entorno industrial. A maior delas: Vila Parisi. Em 1981 foram divulgados os casos de crianças nascidas com malformações e sem cérebro (portadoras de anencefalia). Análise de amostras de sangue de moradores da Vila revelaram que um terço da população estava contaminado por óxido de nitrogênio e óxido de enxofre, dois dos gases poluentes mais fortes emitidos pela indústria local.
        A cidade tornou-se foco de atenção no mundo todo e a imprensa passou a chamar a região de “Vale da Morte”. Analises do ar mostraram que entre 1970 e 1980 o polo industrial de Cubatão emitia mais de mil toneladas de gases tóxicos diariamente, sem filtragem. A Serra do Mar exibia cicatrizes preocupantes, provocadas pela morte da vegetação e escorregamentos de encostas. A CETESB, começou a identificação das fontes de poluição do ar, da água e do solo da região, e o governo do Estado de São Paulo, por meio da CETESB e em conjunto com as indústrias, estabeleceu em 1983 um programa para redução da emissão de gases poluentes.
Em 25 de fevereiro de 1984, Cubatão viveu outra tragédia: o incêndio na Vila São José (Socó), causado por vazamento de gasolina na tubulação da Petrobrás sobre a qual os barracos da favela estavam construídos. O fogo destruiu 500 barracos, matou 93 pessoas (número oficial) e mais de três mil ficaram desabrigadas.
Na Conferência da ONU para o Meio Ambiente – ECO-92, Cubatão foi apontada como um exemplo de recuperação ambiental, pois graças às medidas rígidas impostas ao setor produtivo entre as quais a instalação de filtros, a emissão de poluentes caiu em 90%. A situação melhorou – desde 1995 Cubatão não registra nenhum episódio de poluição do ar, mas o controle continua.
A cidade tem população estimada de 218 mil habitantes, PIB per capita de R$ 123.458,81. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,737, o que coloca Cubatão em 850º lugar entre os 5.570 municípios brasileiros.

domingo, 8 de abril de 2018

DOMINGO COM HAGAR, O HORRÍVEL.



Hagar, o Horrível: criação de Dik Browne (1917-1989). Desde 1988 os divertidos quadrinhos são desenhados pelo filho dele, Chris Browne (1952). 


sexta-feira, 6 de abril de 2018

ABRIL, MÊS DO LEÃO.


Quando março chega, os brasileiros começam resmungar. Aproxima-se a hora de entregar a declaração do Imposto de Renda. Nossos vizinhos, norte-americanos e canadenses também enfrentam o mesmo problema (nos Estados Unidos o prazo é mais curto: 15 de abril). Este ano a Receita Federal espera receber as declarações de 40 milhões de contribuintes.
No Brasil, o Imposto de Renda foi criado em 1922 pelo presidente Artur Bernardes (1875-1955) e a primeira cobrança foi realizada sobre o exercício financeiro de 1924. Ele incide diretamente sobre uma pessoa física ou jurídica e é progressivamente proporcional ao valor do rendimento, o que o faz ser considerado o imposto mais justo.
Seria justo se o contribuinte tivesse certeza do bom uso de sua contribuição para o bem estar da coletividade sob a forma de benefícios de interesse geral: saúde, educação, transporte etc. “A obrigatoriedade dos impostos pode ser entendida em termos de uma relação contratual entre os cidadãos e o Estado que lhes protege os bens e a própria vida”, segundo Paulo Sandroni (Novo Dicionário de Economia).
O leão está solto...Meu leão preferido: jardins de Santos, 2016.
        O leão entra nessa história pela porta da História e pelas mãos do escritor grego Esopo (620 a.C.-564 a.C). a quem são atribuídas as fábulas, que mais tarde inspiraram o francês Jean de La Fontaine (1621-1695).  Na versão francesa da fábula, um leão convida uma bezerra, uma cabra e uma ovelha para caçar, prometendo dividir igualmente com eles o produto da caçada. No final, ele começa a fazer a divisão e à medida que o faz vai justificando. “Esta é minha e a razão é que eu me chamo leão (...). A segunda me cabe ainda por direito: o direito do mais forte. Como o mais valente é que eu reclamo a terceira. A quarta, se algum de vós a tocar, será estrangulado”.
        O Imposto faz parte da vida do Homem desde a Antiguidade e a cobrança era feita por funcionário, o coletor de impostos, cuja visita não era bem-vinda e por isso a criatividade para fugir do fisco também se perde no tempo. No Brasil, o primeiro imposto foi o “quinto do pau-brasil”, cobrado sobre a exploração da madeira que tinha grande valor econômico. Como não havia moeda circulante na colônia, o quinto geralmente era pago em espécie (o próprio produto). Nem é preciso dizer que logo portugueses e estrangeiros estavam contrabandeando a madeira para não pagar o imposto.
        Esse foi apenas o início porque a Coroa portuguesa fez uma festa na colônia americana, criando impostos ao bel prazer. Foi a tributação que motivou a Inconfidência Mineira, mas bem antes da revolta de 1789 os contrabandista já usavam o “santinho do pau oco”* – imagem oca de algum santo recheada de preciosidades. Em Minas, também no século XVIII, um grupo de escravos foi flagrado usando pombos-correios para contrabandear ouro. As aves levavam o contrabando em pequenas bolsas presas aos pés*!

*Revista de História da Biblioteca Nacional. ANO 5, nº 5.

quinta-feira, 5 de abril de 2018


O POETA DO MAR
Quem nasceu em um dia 5 de abril foi o matemático e filósofo inglês Thomas Hobbes (1578-1679). Uma de suas obras mais importantes foi “Leviatã”, publicado em 1651. Nesse dia, a música brasileira ganhou um grande compositor: Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga (1890-1974), autor de “Pelo telefone”, primeiro samba a ser registrado em disco. Os fãs de cinema têm três grandes nomes que aniversariavam no mesmo dia: os atores americanos Spencer Tracy (1900-1967), Betty Davis (1908-1989) e Gregory Peck (1916-2003). A música erudita comparece com o maestro austríaco Herbert Von Karajan (1908-1990). O general da reserva norte-americano Colin Power (1937) serviu na Guerra do Vietnã, participou da invasão do Panamá e da Guerra do Golfo. Quando foi para a reserva, anos depois se tornou secretário de Estado dos Estados Unidos (2001-2005), no Governo de George W. Bush.
        Finalmente, um santista ilustre: o advogado, jornalista e poeta Vicente Augusto de Carvalho (1866-1924) também nasceu no quinto dia de abril e deixou versos que nenhum santista deve desconhecer. Vicente de Carvalho teve várias passagens pela política. Curta porque não era nada condescendente. Aos 25 anos já era deputado e foi membro da comissão de redação da Constituição do Estado de São Paulo. Participou do primeiro governo constitucional do Estado de São Paulo e ocupou a pasta do Interior. Logo depois deixaria a política por causa de um incidente com o secretário de Agricultura que o acusou de ter recebido comissão na compra de terras feita pelo governo. Pediu demissão, que o presidente do Estado não aceitou; entretanto, na primeira oportunidade que encontrou o seu detrator, o esbofeteou em público, o que lhe valeu desta vez a demissão.
        Na área do ensino público, Vicente de Carvalho criou as faculdades de Engenharia e Agricultura e ainda promoveu a reforma do ensino paulista, dividindo-o em três níveis: primário, secundário e superior.
        O “mar, belo mar selvagem” foi a grande paixão do poeta. No início da década de vinte do século passado, o poeta deu voz ao povo santista, que sentia crescer a ameaça de perder a praia porque a “pretexto de que esta praia é terreno de marinha, estão particulares tentando apropriar-se dela a titulo de aforamento”. Vicente de Carvalho aproveitou a visita do presidente Epitácio Pessoa a Santos em 22 de agosto de 1921 para divulgar, no Jornal A TRIBUNA, uma carta aberta ao visitante:
"Entrando assim no domínio do privado, o tradicional logradouro público desapareceria fracionado, mutilado, despedaçado como por mãos de bárbaros, com proveito pecuniário de alguns indivíduos; e sacrilegamente coalhada de construções particulares, a linda praia da Barra deixaria de existir, como dádiva mal empregada feita pela natureza a quem não a soube aproveitar”.  (...) Deus do Céu! Que ideia essa de alguém que é o Governo Brasileiro, e o Governo de um brasileiro que se chama Epitácio Pessoa, vender pelo prato de lentilhas que a bíblia consagrou na execração dos homens, uma linda e preciosa joia de família, da nossa família santista, da nossa família paulista, da nossa família brasileira. (...) É pensar que, por atenção a pequenos interesses de dinheiro, de pouco dinheiro, de uma migalha, de alguns mesquinhos contos de réis que seriam para o Tesouro nacional como gotas de água para o mar, para o imenso e verde mar de nossa terra natal, o Governo Brasileiro, o Governo de Epitácio Pessoa, consentiria, nunca em que o que é, tradicionalmente, um patrimônio comum, fosse partilhado, como res-nulius entre particulares; que o que é de todos nós, santistas, paulistas, brasileiros, passasse a ser de alguns indivíduos. (...)
A praia foi preservada e os jardins florescem maravilhosamente. 

Enfim, como Vicente de Carvalho escreveu em “Palavras ao Mar”:

“Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras;
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro:
E as leves garças, como folhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o voo à tona das espumas...”