O Rio de Janeiro
teve o privilégio de ser berço de João do Rio, pseudônimo de João Paulo
Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (1881-1921). Ele foi um
apaixonado pela rua e escreveu deliciosamente sobre esse espaço. Para João do Rio “a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!”. Morreu
em um táxi a caminho de Ipanema, onde morava. São Paulo teve Mário de Andrade, escancaradamente
enfeitiçado por essa Pauliceia Desvairada, como carinhosamente a denominou em uma
das suas obras mais festejadas.
Mário
de Andrade poetou sobre as ruas de São Paulo. Em “Lira Paulistana” lá está a velha
Rua Aurora, que hoje certamente ele não reconheceria. Suja, decadente, perigosa
em alguns trechos, daqueles tempos bem pouco resta. Há algumas casas de shows
para adultos (nada recomendáveis). Em um dos trechos, em ruas transversais, encontram-se
núcleos da “cracolândia” (olho vivo na bolsa, no celular). Chama atenção o
prédio abandonado do velho Cine Áurea. A situação melhora à medida que vão
surgindo as casas de eletrônicos, que ficam próximas da Rua Santa Ifigênia – esta
sim, paraíso dos eletrônicos.
Felizmente,
lá está a centenária Casa Del Vecchio. A bem da verdade 116 anos fazendo
instrumentos musicais e suavizando a vida nesta metrópole agitada. A Rua Aurora também é o endereço do velho e bom Bar do Leo, um dos melhores chopes da cidade, no
mesmo ponto desde 1940. Sempre cheio.
A
manhã vai terminando e na esquina da Avenida Rio Branco, a volta pelo Largo do Paissandu.
Agitado na hora do almoço. Tudo muito diferente da Rua Lopes Chaves, na Barra
Funda, para onde o poeta mudou em 1921 e morou até morrer (exceto por três anos
que passou no Rio de Janeiro). A casa nº 546 é um polo cultural da cidade.
Será
que Mário de Andrade gostaria de saber que Lopes Chaves (1833-?) foi advogado e
político, nascido em Jacareí? Acho que não. Entretanto, em 1865 a Rua Santo Elesbão
tornou-se Rua Aurora e, segundo a Prefeitura, o nome está relacionado à esperança
de tempos novos.
Na aurora de minha vida
E numa aurora cresci.
No largo do
Paissandu
Sonhei, foi luta
renhida,
Fiquei pobre e me
vi nu.
Nesta rua Lopes
Chaves
Envelheço, e
envergonhado
Nem sei quem foi
Lopes Chaves.
Mamãe! me dá essa
lua,
Ser esquecido e
ignorado
Como esses nomes
da rua.
Largo do Paissandu, abril de 2017. |
Casa de Mário de Andrade, na Barra Funda. |
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