quinta-feira, 5 de abril de 2018


O POETA DO MAR
Quem nasceu em um dia 5 de abril foi o matemático e filósofo inglês Thomas Hobbes (1578-1679). Uma de suas obras mais importantes foi “Leviatã”, publicado em 1651. Nesse dia, a música brasileira ganhou um grande compositor: Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga (1890-1974), autor de “Pelo telefone”, primeiro samba a ser registrado em disco. Os fãs de cinema têm três grandes nomes que aniversariavam no mesmo dia: os atores americanos Spencer Tracy (1900-1967), Betty Davis (1908-1989) e Gregory Peck (1916-2003). A música erudita comparece com o maestro austríaco Herbert Von Karajan (1908-1990). O general da reserva norte-americano Colin Power (1937) serviu na Guerra do Vietnã, participou da invasão do Panamá e da Guerra do Golfo. Quando foi para a reserva, anos depois se tornou secretário de Estado dos Estados Unidos (2001-2005), no Governo de George W. Bush.
        Finalmente, um santista ilustre: o advogado, jornalista e poeta Vicente Augusto de Carvalho (1866-1924) também nasceu no quinto dia de abril e deixou versos que nenhum santista deve desconhecer. Vicente de Carvalho teve várias passagens pela política. Curta porque não era nada condescendente. Aos 25 anos já era deputado e foi membro da comissão de redação da Constituição do Estado de São Paulo. Participou do primeiro governo constitucional do Estado de São Paulo e ocupou a pasta do Interior. Logo depois deixaria a política por causa de um incidente com o secretário de Agricultura que o acusou de ter recebido comissão na compra de terras feita pelo governo. Pediu demissão, que o presidente do Estado não aceitou; entretanto, na primeira oportunidade que encontrou o seu detrator, o esbofeteou em público, o que lhe valeu desta vez a demissão.
        Na área do ensino público, Vicente de Carvalho criou as faculdades de Engenharia e Agricultura e ainda promoveu a reforma do ensino paulista, dividindo-o em três níveis: primário, secundário e superior.
        O “mar, belo mar selvagem” foi a grande paixão do poeta. No início da década de vinte do século passado, o poeta deu voz ao povo santista, que sentia crescer a ameaça de perder a praia porque a “pretexto de que esta praia é terreno de marinha, estão particulares tentando apropriar-se dela a titulo de aforamento”. Vicente de Carvalho aproveitou a visita do presidente Epitácio Pessoa a Santos em 22 de agosto de 1921 para divulgar, no Jornal A TRIBUNA, uma carta aberta ao visitante:
"Entrando assim no domínio do privado, o tradicional logradouro público desapareceria fracionado, mutilado, despedaçado como por mãos de bárbaros, com proveito pecuniário de alguns indivíduos; e sacrilegamente coalhada de construções particulares, a linda praia da Barra deixaria de existir, como dádiva mal empregada feita pela natureza a quem não a soube aproveitar”.  (...) Deus do Céu! Que ideia essa de alguém que é o Governo Brasileiro, e o Governo de um brasileiro que se chama Epitácio Pessoa, vender pelo prato de lentilhas que a bíblia consagrou na execração dos homens, uma linda e preciosa joia de família, da nossa família santista, da nossa família paulista, da nossa família brasileira. (...) É pensar que, por atenção a pequenos interesses de dinheiro, de pouco dinheiro, de uma migalha, de alguns mesquinhos contos de réis que seriam para o Tesouro nacional como gotas de água para o mar, para o imenso e verde mar de nossa terra natal, o Governo Brasileiro, o Governo de Epitácio Pessoa, consentiria, nunca em que o que é, tradicionalmente, um patrimônio comum, fosse partilhado, como res-nulius entre particulares; que o que é de todos nós, santistas, paulistas, brasileiros, passasse a ser de alguns indivíduos. (...)
A praia foi preservada e os jardins florescem maravilhosamente. 

Enfim, como Vicente de Carvalho escreveu em “Palavras ao Mar”:

“Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras;
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro:
E as leves garças, como folhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o voo à tona das espumas...”

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