O POETA DO MAR
Quem nasceu em um dia 5 de abril foi o matemático e filósofo inglês
Thomas Hobbes (1578-1679). Uma de suas obras mais importantes foi “Leviatã”,
publicado em 1651. Nesse dia, a música brasileira ganhou um grande compositor:
Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga (1890-1974), autor de “Pelo
telefone”, primeiro samba a ser registrado em disco. Os fãs de cinema têm três
grandes nomes que aniversariavam no mesmo dia: os atores americanos Spencer
Tracy (1900-1967), Betty Davis (1908-1989) e Gregory Peck (1916-2003). A música
erudita comparece com o maestro austríaco Herbert Von Karajan (1908-1990). O
general da reserva norte-americano Colin Power (1937) serviu na Guerra do
Vietnã, participou da invasão do Panamá e da Guerra do Golfo. Quando foi para a
reserva, anos depois se tornou secretário de Estado dos Estados Unidos
(2001-2005), no Governo de George W. Bush.
Finalmente, um santista ilustre: o
advogado, jornalista e poeta Vicente Augusto de Carvalho (1866-1924) também
nasceu no quinto dia de abril e deixou versos que nenhum santista deve
desconhecer. Vicente de Carvalho teve várias passagens pela política. Curta
porque não era nada condescendente. Aos 25 anos já era deputado e foi membro da
comissão de redação da Constituição do Estado de São Paulo. Participou do
primeiro governo constitucional do Estado de São Paulo e ocupou a pasta do
Interior. Logo depois deixaria a política por causa de um incidente com o secretário
de Agricultura que o acusou de ter recebido comissão na compra de terras feita
pelo governo. Pediu demissão, que o presidente do Estado não aceitou;
entretanto, na primeira oportunidade que encontrou o seu detrator, o esbofeteou
em público, o que lhe valeu desta vez a demissão.
Na
área do ensino público, Vicente de Carvalho criou as faculdades de Engenharia e
Agricultura e ainda promoveu a reforma do ensino paulista, dividindo-o em três
níveis: primário, secundário e superior.
O “mar, belo mar selvagem” foi a grande
paixão do poeta. No início da década de vinte do século passado, o poeta deu
voz ao povo santista, que sentia crescer a ameaça de perder a praia porque a “pretexto
de que esta praia é terreno de marinha, estão particulares tentando
apropriar-se dela a titulo de aforamento”. Vicente de Carvalho aproveitou a
visita do presidente Epitácio Pessoa a Santos em 22 de agosto de 1921 para
divulgar, no Jornal A TRIBUNA, uma carta aberta ao visitante:
"Entrando assim no
domínio do privado, o tradicional logradouro público desapareceria fracionado,
mutilado, despedaçado como por mãos de bárbaros, com proveito pecuniário de
alguns indivíduos; e sacrilegamente coalhada de construções particulares, a
linda praia da Barra deixaria de existir, como dádiva mal empregada feita pela
natureza a quem não a soube aproveitar”.
(...) Deus do Céu! Que ideia essa de alguém que é o Governo Brasileiro,
e o Governo de um brasileiro que se chama Epitácio Pessoa, vender pelo prato de
lentilhas que a bíblia consagrou na execração dos homens, uma linda e preciosa joia
de família, da nossa família santista, da nossa família paulista, da nossa
família brasileira. (...) É pensar que, por atenção a pequenos
interesses de dinheiro, de pouco dinheiro, de uma migalha, de alguns mesquinhos
contos de réis que seriam para o Tesouro nacional como gotas de água para o mar,
para o imenso e verde mar de nossa terra natal, o Governo Brasileiro, o Governo
de Epitácio Pessoa, consentiria, nunca em que o que é, tradicionalmente, um
patrimônio comum, fosse partilhado, como res-nulius
entre particulares; que o que é de todos nós, santistas, paulistas,
brasileiros, passasse a ser de alguns indivíduos. (...)
A praia foi preservada e os jardins florescem maravilhosamente. |
Enfim, como Vicente de Carvalho escreveu em “Palavras ao Mar”:
“Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras;
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro:
E as leves garças, como folhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o voo à tona das espumas...”
O claro mês das garças forasteiras;
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro:
E as leves garças, como folhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o voo à tona das espumas...”
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