Andar, caminhar,
deambular, encaminhar, flanar, jornadear, larear, marchar, perambular, palmejar,
palmilhar, percorrer, trilhar. Não há nada melhor do que essa atividade, com
tantos nomes, que faz parte da natureza do Homem. Andar é conhecer. Conhecer o
espaço em que você vive, as pessoas que partilham o lugar, a vida que se
desenrola ao seu redor. Descobrir caminhos, cheiros, cores e sons. Ampliar a
sensibilidade. Surpreender-se com o banal e com o óbvio desapercebido. Vencer
obstáculos é um prazer.
Rua Líbero Badaró, Centro de São Paulo, 2014. |
Caminhar com ou sem objetivo, não
importa. De repente, lá está o caminhador refletindo sobre coisas novas e
velhas, questionando-se – encontrando respostas ou aumentado dúvidas. O andejo,
caminhante, caminhador, caminheiro, andarilho, andador, viandante, viageiro, viajor,
viajante, transeunte, quando se cansa, busca um banco, uma pedra, um degrau ou
simplesmente uma sombra, mas nunca se cansa das descobertas.
Uma pesquisa nacional, feita pelo IBOPE a pedido da Confederação Nacional
da Indústria e divulgada em 2015*, revelou que a caminhada é o segundo meio de
locomoção mais usado diariamente por 22% dos entrevistados. Desses 22%, 37%
escolheram esse meio de locomoção por ser o mais rápido para alcançar seu
destino e 29% porque o consideram mais saudável, enquanto 19% não dispunham de
outro meio de deslocamento; e 16,2 informaram que a distância era curta demais
para usar condução.
Estou sempre disposta para uma caminhada pela cidade ou por trilhas verdejantes. As minhas jornadas podem me levar para lugares já conhecidos, mas que nunca estão iguais à vez anterior. Nessas andadas já me perdi, mas não vejo isso como um problema, porque se perder significa um desafio – encontrar o caminho certo. Não sou medrosa (o que talvez seja um problema) e nos lugares escusos onde me encontrei algumas vezes, na hora de recuar, achei melhor prosseguir, descobrindo o gosto de superação. No final, a experiência foi gratificante, mas o risco gratuito não faz parte dos meus passeios.Praça Mauá, Rio de Janeiro, 2015. |
Uma rua de Glasgow, 2015. |
Caminhantes
egrégios.
O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) conta que
“Na quinta-feira
24 de outubro de 1776, depois do jantar, segui os buevares até a Rue du
Chemin-Vert, pela qual cheguei às alturas de Ménilmontant, e dali, tomando
atalhos pelas vinhas e campinas, atravessei até Charonne a alegre paisagem que
separa essas duas aldeias, depois fiz um desvio para voltar pelas mesmas
campinas usando outro caminho. Eu me divertia percorrendo-as com o prazer e o
interesse que sempre me proporcionaram os cenários agradáveis, parando algumas
vezes para fixar os olhos em plantas e vegetação.”
.
"A rua
se torna moradia para o flâneur,
que, entre as fachadas dos prédios, sente-se em casa tanto quanto o burguês
entre suas quatro paredes", escreveu o filósofo alemão Walter Benjamim
(1892-1940).
“Pelas ruas vai e vem,
encontra-se, esbarra-se, um enxame de gente de todas as classes e de todas as
cores, conduzindo notas de consignação, contas comerciais, cheques bancários, maços
de cédulas do tesouro, latinhas chatas com amostras de mercadorias.”
A Carne, Júlio Ribeiro
(1845-1890).
“A rua é um ponto
singular de atração da cidade, um verdadeiro microcosmo dentro do organismo
maior do aglomerado urbano. Para ela tudo converge, desde o fato corriqueiro do
dia até o simples entra e sai das casas até as grandes comemorações.”
Maria Vicentina de
Paula do Amaral Dick, professora da FFLCH/USP.
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