segunda-feira, 16 de abril de 2018

SÓ UM PASSO PARA DESCOBRIR O MUNDO.

Andar, caminhar, deambular, encaminhar, flanar, jornadear, larear, marchar, perambular, palmejar, palmilhar, percorrer, trilhar. Não há nada melhor do que essa atividade, com tantos nomes, que faz parte da natureza do Homem. Andar é conhecer. Conhecer o espaço em que você vive, as pessoas que partilham o lugar, a vida que se desenrola ao seu redor. Descobrir caminhos, cheiros, cores e sons. Ampliar a sensibilidade. Surpreender-se com o banal e com o óbvio desapercebido. Vencer obstáculos é um prazer.
Rua Líbero Badaró, Centro de São Paulo, 2014.
        Caminhar com ou sem objetivo, não importa. De repente, lá está o caminhador refletindo sobre coisas novas e velhas, questionando-se – encontrando respostas ou aumentado dúvidas. O andejo, caminhante, caminhador, caminheiro, andarilho, andador, viandante, viageiro, viajor, viajante, transeunte, quando se cansa, busca um banco, uma pedra, um degrau ou simplesmente uma sombra, mas nunca se cansa das descobertas.
Uma pesquisa nacional, feita pelo IBOPE a pedido da Confederação Nacional da Indústria e divulgada em 2015*, revelou que a caminhada é o segundo meio de locomoção mais usado diariamente por 22% dos entrevistados. Desses 22%, 37% escolheram esse meio de locomoção por ser o mais rápido para alcançar seu destino e 29% porque o consideram mais saudável, enquanto 19% não dispunham de outro meio de deslocamento; e 16,2 informaram que a distância era curta demais para usar condução.  
Praça Mauá, Rio de Janeiro, 2015.
 Estou sempre disposta para uma caminhada pela cidade ou por trilhas verdejantes. As minhas jornadas podem me levar para lugares já conhecidos, mas que nunca estão iguais à vez anterior. Nessas andadas já me perdi, mas não vejo isso como um problema, porque se perder significa um desafio – encontrar o caminho certo. Não sou medrosa (o que talvez seja um problema) e nos lugares escusos onde me encontrei algumas vezes, na hora de recuar, achei melhor prosseguir, descobrindo o gosto de superação. No final, a experiência foi gratificante, mas o risco gratuito não faz parte dos meus passeios.

Uma rua de Glasgow, 2015.
        Caminhantes egrégios.    
O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) conta que
“Na quinta-feira 24 de outubro de 1776, depois do jantar, segui os buevares até a Rue du Chemin-Vert, pela qual cheguei às alturas de Ménilmontant, e dali, tomando atalhos pelas vinhas e campinas, atravessei até Charonne a alegre paisagem que separa essas duas aldeias, depois fiz um desvio para voltar pelas mesmas campinas usando outro caminho. Eu me divertia percorrendo-as com o prazer e o interesse que sempre me proporcionaram os cenários agradáveis, parando algumas vezes para fixar os olhos em plantas e vegetação.”
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"A rua se torna moradia para o flâneur, que, entre as fachadas dos prédios, sente-se em casa tanto quanto o burguês entre suas quatro paredes", escreveu o filósofo alemão Walter Benjamim (1892-1940).

“Pelas ruas vai e vem, encontra-se, esbarra-se, um enxame de gente de todas as classes e de todas as cores, conduzindo notas de consignação, contas comerciais, cheques bancários, maços de cédulas do tesouro, latinhas chatas com amostras de mercadorias.”
A Carne, Júlio Ribeiro (1845-1890).

“A rua é um ponto singular de atração da cidade, um verdadeiro microcosmo dentro do organismo maior do aglomerado urbano. Para ela tudo converge, desde o fato corriqueiro do dia até o simples entra e sai das casas até as grandes comemorações.”
Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, professora da FFLCH/USP.

 *A pesquisa foi realizada entre 5 e 8 de setembro, com 2.002 pessoas de 142 municípios brasileiros.

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