No dia mundial do livro, fui procurar uma obra rara, que não achei, mas
aproveitando o desconto de dez por cento, oferecido pelo sebo, levei outro. Uma
pequena joia de Blaise Cendrars (1887-1961), o suíço maluco que aportou no
Brasil (mais precisamente em Santos) em plena semana de 1922 e se apaixonou
pelo lugar. Cendrars fez de tudo um pouco na vida – poesia, literatura,
jornalismo, mas foi principalmente um grande viajante. Lutou na I Guerra
Mundial e perdeu um braço.
O livrinho que comprei é “Hollywood 1936”, que já devorei. Muito
divertido ler os comentários sobre Hollywood de 82 anos atrás e lembrar o que
vi ano passado ao passar por lá. Em 1936 o cinema falado tinha apenas sete anos,
Marlene Dietrich ainda tinha seus ataques de diva, Wald Disney trabalhava em “Branca
de Neve e os sete anões” e Wally Westmore (1906-1973), o homem que “mais
contribui em todo o mundo para modernizar, renovar o encanto feminino”, segundo
Cendrars, choramingava, desesperançado – “Ah, as estrelas! Não me fale das
estrelas, isso não existe mais!... é a crise, a crise das estrelas”. Um dos
melhores trabalhos de Westmore foi “Dr. Jekyll e M. Hyde” (1931), Frederic
March (1897-1975).
Estrela de Paul Henreid (1908-1992). Casablanca. |
Cendrars narra as dificuldades para visitar os estúdios, das multidões de
fãs ávidas por ver seus ídolos e dos espertalhões de todos os tempos, que
tentam vender de tudo aos incautos. Os souvenirs variavam (e variam) de bonecos
Mickey Mouse, saquinhos com uma luva dentro, uma meia de seda ou uma flor,
usadas por alguma atriz em algum filme. Mais estranho para o suíço foi o final
da noite em que, ao sair de uma festa, descobriu que em Hollywood todo homem que
anda a pé é suspeito. Cendrars decidira caminhar até o hotel que ficava perto,
quando uma viatura da polícia parou e os policiais o abordaram. Depois de dizer
o nome do hotel, quiseram saber o que ele fazia ali e ao saberem que ia a pé, não
hesitaram em empurrá-lo para a viatura e deixá-lo hotel.
Museum of Broken Relationship. |
Enfim, como naqueles tempos, Hollywood é um ponto turístico importante,
mas o visitante pode ficar tranquilo: chega-se lá sem carro, graças ao metrô e
aos ônibus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário