terça-feira, 24 de abril de 2018

A MAGIA DO CINEMA



No dia mundial do livro, fui procurar uma obra rara, que não achei, mas aproveitando o desconto de dez por cento, oferecido pelo sebo, levei outro. Uma pequena joia de Blaise Cendrars (1887-1961), o suíço maluco que aportou no Brasil (mais precisamente em Santos) em plena semana de 1922 e se apaixonou pelo lugar. Cendrars fez de tudo um pouco na vida – poesia, literatura, jornalismo, mas foi principalmente um grande viajante. Lutou na I Guerra Mundial e perdeu um braço.
O livrinho que comprei é “Hollywood 1936”, que já devorei. Muito divertido ler os comentários sobre Hollywood de 82 anos atrás e lembrar o que vi ano passado ao passar por lá. Em 1936 o cinema falado tinha apenas sete anos, Marlene Dietrich ainda tinha seus ataques de diva, Wald Disney trabalhava em “Branca de Neve e os sete anões” e Wally Westmore (1906-1973), o homem que “mais contribui em todo o mundo para modernizar, renovar o encanto feminino”, segundo Cendrars, choramingava, desesperançado – “Ah, as estrelas! Não me fale das estrelas, isso não existe mais!... é a crise, a crise das estrelas”. Um dos melhores trabalhos de Westmore foi “Dr. Jekyll e M. Hyde” (1931), Frederic March (1897-1975).
Estrela de Paul Henreid (1908-1992). Casablanca.
Cendrars narra as dificuldades para visitar os estúdios, das multidões de fãs ávidas por ver seus ídolos e dos espertalhões de todos os tempos, que tentam vender de tudo aos incautos. Os souvenirs variavam (e variam) de bonecos Mickey Mouse, saquinhos com uma luva dentro, uma meia de seda ou uma flor, usadas por alguma atriz em algum filme. Mais estranho para o suíço foi o final da noite em que, ao sair de uma festa, descobriu que em Hollywood todo homem que anda a pé é suspeito. Cendrars decidira caminhar até o hotel que ficava perto, quando uma viatura da polícia parou e os policiais o abordaram. Depois de dizer o nome do hotel, quiseram saber o que ele fazia ali e ao saberem que ia a pé, não hesitaram em empurrá-lo para a viatura e deixá-lo hotel.
Museum of Broken Relationship.
Nessa terra de sonhos, o escritor viajante descobriu que todos se mostravam insatisfeitos. Ele transcreveu um documento da Prefeitura de Los Angeles de 1930 com estatísticas bem preocupantes: proporcionalmente, ela encabeçava a lista da cidade com maior número de suicídios – 443 naquele ano.
Enfim, como naqueles tempos, Hollywood é um ponto turístico importante, mas o visitante pode ficar tranquilo: chega-se lá sem carro, graças ao metrô e aos ônibus.

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