segunda-feira, 30 de julho de 2018

A FAZENDA QUE VIROU CIDADE
E produz conhecimento.


O município de São Paulo com seus 1 521,11 km² abriga uma cidade de 4.800 km², com prefeito (nada de vereadores), um pequeno número de moradores e uma grande população de passagem. Por suas ruas, avenidas e praças arborizadas circulam diariamente milhares de pessoas. Ônibus lotados e carros nem tanto entram por um dos três portões dessa cidade. Teatro, cinema, orquestra, coral, clube, bibliotecas, livrarias, editora e jornais, museus, hospital, farmácia, correios, bancos. Enfim, quase tudo. Ciclistas se divertem pela manhã, disputando espaço com corredores. Não apenas passarinhos cruzam os céus, helicópteros também adejam sobre a cobertura verde observando o trânsito ao redor. Um lugar para se esquecer do tempo – embora isso seja quase impossível, pois existem duas praças que impedem que se perca a hora: a Praça do Relógio e a Praça do Relógio Solar. Enfim, só visitando a Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira (Campus Butantã da Universidade de São Paulo) para conhecer um dos oito campi da Universidade de São Paulo. O investimento do Estado na USP (Decreto 29.598 de 02/02/1989 e a LDO – Lei nº 16.511, de 27/07/2017*) é de 5,0295% da arrecadação de ICMS Líquido do Estado de São Paulo.
A Universidade de São Paulo foi criada em 25 de janeiro de 1934 pelo governador Armando de Salles Oliveira (1887-1945), que no ano seguinte nomeou uma comissão, presidida pelo Prof. Reynaldo Porchat (1868-1953), para estudar e definir a localização da Cidade Universitária para onde seriam transferidas as diversas faculdades da USP então espalhadas pela cidade. Ela é formada pela área destacada da Fazenda Butantã e uma gleba desapropriada entre a nova e a velha Estrada de Itu, equivalente a 200 alqueires paulistas.  Embora a decisão tenha sido tomada na década de 1940, a Prefeitura do campus foi criada em 197- para planejar e implantar a infraestrutura da cidade universitária. O desafio coube ao professor arquiteto Luciano Bernini, primeiro prefeito do campus da Capital.
Agora o passeio pode começar pela Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira. A maioria das ruas e praças homenageia professores da Universidade. Há algumas unidades que ocupam o campus, mas não pertencem à USP – Academia de Polícia, Casa de Cultura Japonesa, Centro Tecnológico da Marinha. Logo na entrada encontra-se a Praça Prof. Reinaldo Porchat, com uma escultura em sua homenagem. Mais adiante fica o Relógio Solar, criação do professor da FAU/USP, Caetano Fraccaroli (1911-1987). É de Fraccaroli também o Monumento à Liberdade, que adorna a entrada do Hospital Universitário. Escultura de quatro metros de altura em resina e fibra de vidro.
Como não poderia deixar de ser a Torre Universitária ou Torre do Relógio destaca-se nesse ambiente quase bucólico: obra do arquiteto Rino Levi (1901-1965) ela tem painéis criados pela escultora vicentina Olga Elizabeth Magda Henriette Nobiling (1902-1975). No entorno do espelho de água pode-se ler que “No Universo da Cultura o centro está em toda a parte”, frase do professor Miguel Reale, ex-reitor da USP.
Vale a pena conhecer o monumento em homenagem ao arquiteto Ramos de Azevedo, que foi inaugurado em 1934 na Avenida Tiradentes, próximo à Estação da Luz, mas em 1973 foi removido de lá para a Cidade Universitária por causa das obras do metrô. Popularmente conhecido como a “estátua do cavalo”.  (Fotos: Hilda Araújo, 2013)





Relógio Solar.
Torre Universitária e a Reitoria ao fundo.
Fontes: Relatório da CODAGE/USP, abril de 2018. Site consultado em 30/07/2018.
*Nem todas as unidades da USP em São Paulo ficam na Cidade Universitária (Direito, no Largo de São Francisco e Medicina, Cerqueira Cesar).
*Campi da USP: Piracicaba, Pirassununga, Lorena, Ribeirão Preto, São Carlos, Bauru e São Sebastião. 
        





domingo, 29 de julho de 2018


Magricela
(1932)
Greve de fome. Quando a moda ordena
Ilustração J. Carlos, PARA TODOS, 1927,
É preciso cumprir. Moda maldita!
Vejo-te magra que me causa pena,
Porque apesar de magra inda és bonita.

Eras há pouco tempo a favorita
Da sociedade e estavas sempre em cena.
Hoje se alguém te encontra, te condena
E fala mal de ti, se não te evita.

Adeus, fama. Adeus, glória. Adeus, carícia.
És a mulher que a gente aponta: - É ela,
Um símbolo da crise alimentícia.

Mas se assim continuas, dia a dia,
Ficarás transformada, ó magricela,
Numa empadinha de confeitaria.




Do poeta pernambucano Olegário Mariano (1889-1958), in "Vida, Caixa de Brinquedos".


sábado, 28 de julho de 2018

SEM ASSUNTO...
"Jamais consigo fazer com que você perceba a importância das mangas... ou das grandes questões que podem depender de um cadarço de bota." Holmes a Watson em "Um caso de identidade", de Conan Doyle. 


Tela do pintor americano John Singer Sargent (1856-1925). 
Coleção 
Armand Hammer. 

segunda-feira, 23 de julho de 2018


QUADRAS AO GOSTO POPULAR

Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
e ter a cara serena." 
(Fernando Pessoa)


Tela de Jean Béraud (1849-1935).


sexta-feira, 20 de julho de 2018

UMA NOVA PERSPECTIVA


Foto: Arquivo NASA.

Poderia ser em 1865 quando Júlio Verne publicou “Viagem à Lua”. Ou em 1902, quando Georges Méliès se inspirou no livro para fazer o seu filme... Em 20 de julho de 1969 esse sonho tornou-se realidade. Foi um dia em que a Terra (quase) parou para assistir à grande aventura do Homo sapiens. Quarenta e nove anos, missão Apollo 11. “Um pequeno passo para o homem um grande salto para a humanidade”.
Nuvem de Magalhães. Foto: Wikipedia.


SEMPRE FERNANDO PESSOA


Carnaval, 1948.
QUANDO ERA jovem, eu a mim dizia:
Como passam os dias, dia a dia,
E nada conseguido ou intentado!
Mais velho, digo, com igual enfado:
Como, dia após dia, os dias vão,
Sem nada feito e nada na intenção!                     
Assim, naturalmente, envelhecido,
Direi, e com igual voz e sentido:
Um dia virá o dia em que já não
Direi mais nada. 
Quem nada foi nem é não dirá nada.

San Diego, California, 2017. 


quinta-feira, 19 de julho de 2018


A CORRESPONDENTE

Cresci lendo a revista O CRUZEIRO (1928-1975), dos Diários Associados, que reuniu grandes jornalistas e repórteres fotográficos brasileiros, além de cronistas e intelectuais excelentes. Um dos nomes importantes na publicação foi Dulce Damasceno de Brito (1926-2008), a primeira brasileira a ser correspondente em Hollywood. Fui leitora da coluna dela na revista, mas naturalmente não me lembro de nada. Afinal, quase nada era relevante como pude avaliar lendo o livro “Hollywood nua e crua. Parte II”. Editora Best Seller, 1992.
       
Leitura agradável. Ideal para férias. A jornalista embarcou para os Estados Unidos aos 26 anos de idade com um contrato de seis meses, que se prolongaram por 16 anos. Quando chegou a Hollywood, havia seis outros jornalistas representando as mais diversas publicações. Dulce assinava uma coluna diária, publicada em 28 jornais associados, mais uma entrevista exclusiva por semana e uma reportagem completa para O CRUZEIRO, como ela conta no livro.
        Tempos diferentes. Não bastava o jornalista aparecer ou marcar hora com o artista que desejava entrevistar. Era preciso ser credenciada pelos estúdios e nada era feito sem se passar pelos agentes dos atores. Dulce era bem comportada e os estúdios gostavam dela, assim como as estrelas que encontrou ao longo da trajetória profissional.
Fez alguns amigos – como Kim Novak e Carmen Miranda; foi a jantares íntimos na casa de Jane Mansfield, Doris Day e Rock Hudson... Sem contar que entrevistou mais de uma vez Marilyn Monroe, Elizabeth Taylor, Montgomery Clift, Marlon Brando, Charlton Heston entre muitos e muitos outros. No livro, Dulce não esconde que era fã das estrelas, dos mitos, de Hollywood. “Admito minha futilidade em preferir conversar com os ídolos da tela, que realmente me emocionavam, ignorando os que ficavam por detrás das câmeras, verdadeiros responsáveis pelo cinema como técnica.”  
Para mim muita coisa que ela conta (ou reconta porque o livro foi uma atualização do primeiro) foi uma surpresa, mas em se tratando desse mundo de fantasia, ora sombrio ora brilhante, vivi muito bem sem descobrir a verdade, seja ela qual for.


quarta-feira, 18 de julho de 2018


AMO TRENS

“Viajantes são considerados pessoas ousadas, mas nosso segredo indecoroso é que viajar é uma das formas mais preguiçosas do mundo de matar o tempo. Viajar não se restringe apenas ao ócio inato, engloba ainda uma esmerada vadiagem escapista que possibilita chamar a atenção para nós mesmos por meio da ausência conspícua, enquanto nos intrometeremos na vida alheia – uma atividade tão ultrajante quanto viver à custa dos outros. O viajante é o tipo mais ávido de voyeur romântico, e se oculta nas profundezas de sua personalidade um nó cego formado por vaidade, presunção e mitomania que beira o patológico. Por isso o pior pesadelo do viajante não é a polícia secreta, o feiticeiro ou a malária, e sim a possibilidade de encontrar outro viajante.” (TREM FANTASMA PARA A ESTRELA DO ORIENTE, Rio de Janeiro, Ojetiva: 2011.)

Embarco mais uma vez no trem conduzido por Paul Theroux, autor de "O Grande Bazar Ferroviário".



terça-feira, 17 de julho de 2018

MOOCA: A TRILHA DO SAGRADO

Um bom paulistano já ouviu falar da Igreja de San Gennaro mesmo que não seja cristão, afinal, suas festas são parte do calendário de eventos de São Paulo. Afinal, Igreja de São Januário ou em italiano San Gennaro é a mais antiga da Mooca. Ela foi fundada em 2 de fevereiro de 1914 pelo arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo e Silva. A primeira festa aconteceu em setembro de 1974 para levantar fundos para obras na igreja e foi um sucesso enorme, repetindo-se nos anos seguintes e atraindo cada vez mais pessoas. O segredo: a tradicional comida italiana – caponata de berinjela, sardella, alichella fogazza, pizza e todos os embutidos e queijos possíveis entre muitas outras iguarias. E não falta música, claro. Um dos grandes incentivadores do evento foi o Maestro Záccaro (1948-2003). No dia 19 de setembro ocorre a procissão luminosa que lembra o martírio de San Gennaro. (Rua da Mooca, 950.)
A Paróquia de São Rafael Arcanjo (Largo São Rafael) foi fundada em 1935 e a igreja começou a funcionar em 1938, antes de estar concluída. Em 1940, foi criada a igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho (Rua da Mooca, 3911). Em 1959 o bairro ganhou mais duas igrejas: São Pedro Apóstolo (Rua Ibitinga, 838) e Nossa Senhora Aparecida dos Ferroviários (Rua Almirante Brasil, 125). A antiga capela do Hipódromo, erguida por uma família do bairro, foi doada à Cúria Metropolitana de São Paulo e em 1960 tornou-se a Igreja São Miguel Arcanjo (Rua Taquari, 1100).
        Naturalmente, há igrejas de outras confissões – evangélica, metodista, batista, mórmon, Seicho-Mo-Yê e testemunhas de Jeová; centros espíritas e templo budista.
        Como ir à Mooca? Para pedestres exploradores de lugares da cidade (como eu), basta tomar o metrô e descer na Estação Bresser e no terminal de ônibus pegar qualquer um que cruze a Rua da Mooca ou desça a Avenida Paes de Barros. Rápido e eficiente. Com calçadas bem cuidadas a Rua da Mooca é bem interessante. O bairro tem vários restaurantes, lanchonetes e cafeterias à escolha do freguês. Há também o Shopping Mooca (Capitão Pacheco e Chaves, 313). Quando chegar à Rua dos Trilhos imagine que ali havia um antigo ramal que ligava a ferrovia Santos/Jundiaí ao Hipódromo - este pode ser visto no mapa da cidade de 1895. A prefeitura manteve a denominação popular.

segunda-feira, 16 de julho de 2018



MUITO TRABALHO E TAMBÉM DIVERSÃO.

As fábricas continuaram a ocupar a Mooca. No final do século XIX já funcionavam no bairro, entre elas “Biscoitos Duchen”, Fiat Lux, a Cervejaria Bavária – que em 1904 foi comprada pela Companhia Antártica Paulista, a Tecelagem Três Irmãos Andraus, Linhas Correntes entre muitas outras.
          O empresário italiano Egidio Pinotti Gamba, que começou seus negócios na Mooca, se uniu em 1934 aos Grandes Moinhos Gamba (empreendimento fechado em 1960). Na empresa havia uma capela dedicada a Santo Antônio, daí ser conhecida também como Moinho Santo Antônio. (Rua Borges de Figueiredo, 300 e 510.) depois de muitos usos o prédio parece abandonado.
         O crescimento continuou no século XX. A fábrica de Calçados Clark (1904) fechou suas portas na década de cinquenta e o prédio foi desapropriado em 1968 e, atualmente, é sede da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Em 1907, em meio a tantos nomes e sobrenomes italianos chegou à Mooca um Fraser. Robert Fraser era empresário escocês e instalou no bairro a Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados. Ele já criara, com um sócio inglês, fábricas similares na Argentina e no Uruguai. Dois anos depois a empresa mudou a denominação para São Paulo Alpargatas Company. Em 1930, a Alpargatas passou para o controle argentino até que em 1982, quando assumiu o Grupo Camargo Correa.
         Em 1910 os irmãos Giuseppe e Nicola Puglisi Carbone conseguiram convencer os pequenos refinadores de açúcar de São Paulo a se unirem e então criaram a Companhia União dos Refinadores, que mais tarde incluiu o café, o que levou à mudança do nome para Companhia União dos Refinadores – Açúcar e Café. O engenheiro italiano Alessandro Lorenzetti conheceu Carlo Toninni e em 1923 fundaram a empresa Tonanni & Lorenzetti para fabricar parafusos de precisão para várias utilidades. Quem hoje não conhece a Lorenzetti? Continua no mesmo endereço.
        Mas havia tempo para diversão também. Os funcionários fábrica de Rodolfo Crespi, que jogavam futebol de várzea formaram dois clubes que acabaram se unindo em 1924 para formar o Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube. No ano seguinte, o conde Crespi cedeu uma área de sua propriedade entre as Ruas Javari e dos Trilhos para a construção do campo de futebol. A entidade nasceu modesta, mas se destacou nas competições e em 1930 mudou o nome para Clube Atlético Juventus – uma homenagem ao clube italiano. Cresceu e continua firme e forte na mesma Rua Javari. Nem é preciso dizer que o clube da Mooca é um dos mais queridos da cidade até hoje.
Em 1922 chegou o primeiro cinema do bairro “Palácio Moderno”, mais tarde Cine Teatro Moderno. Foi o primeiro de uma longa lista: São João, Internacional (ambos de vida curta), Santo Antonio, Icaraí/Ouro Verde, Imperial (resistiu até os anos 1960), Bertioga, Patriarca e Safira! Os amantes de teatro tiveram que esperar mais tempo. O Teatro Arthur de Azevedo (Av. Paes de Barros, 955) foi inaugurado em 1952 e tombado em 1992. A casa passou por obras de modernização e está em pleno funcionamento.
Além de cinema e teatro a Mooca teve o Parque Shangai, que vive na memória dos moradores mais antigos. Começou a funcionar no início da década de 1940 no entroncamento da Rua da Rua da Mooca com Avenida do Estado. Era um grande parque de diversões, com brinquedos e atrações que deixaram boas lembranças na garotada da época – hoje senhores e senhoras saudosos daqueles tempos. O que havia por lá só se sabe por depoimentos – há quem se lembre de uma tartaruga gigante que corria loucamente por trilhos, do trem fantasma, do carrossel, da autopista, da imensa roda-gigante, do jogo do martelo e peso – este para os adultos. Música, pipoca, algodão doce e a presença de circos, que ao chegar à cidade percorriam o bairro num cortejo formado pelos artistas, banda musical e os animais em carroças. Um convite ao público para os espetáculos. O parque foi desativado e demolido em 1968 para dar lugar aos três viadutos do Glicério. Quem quiser matar saudade pode assistir ao filme “O grande momento” (1958), de Roberto Santos (1928-1987), com Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), que teve cenas gravadas no local.

sábado, 14 de julho de 2018

Você sabe onde mora o Lirismo?
  


Bem pertinho da Alta Floresta. Nesses tempos de muita pressa, difícil reconhecer o lirismo ou se perder em altas florestas que resistem como ruas da Mooca, tradicional bairro paulistano rodeado pelo Brás e Belém (Norte), Belém e Água Rasa (Leste), Vila Prudente (Sul) e Ipiranga e Cambuci (Oeste). O nome é quatrocentão. Remonta aos tempos em que os silvícolas viviam pelo planalto e, observando os jesuítas construindo casas, diziam Moo-Ka (Moo-oca)– o que significa “eles estão fazendo casas”, segundo alguns; de acordo com outros, a expressão seria  mũoka, que significa "casa de parente". Enfim, as construções se fizeram primeiro de vagar; no final do século XIX se deu a expansão da cidade graças à ferrovia inaugurada em 1867, à industrialização que se seguiu e a chegada dos imigrantes que se estabeleceram pela região. Em 1958 Adoniran Barbosa revelava o sonho de um trabalhador: “Lá no alto da Mooca, eu comprei um lindo lote, dez de frente dez de fundo, construí minha maloca*.” A verdade é que a Mooca cresceu, modernizou-se e está muito longe de ser abrigo de desocupados. Vivem no bairro de 7,70 km² cerca de setenta e seis mil pessoas (2017) e o comércio mantém-se ativo.
Alguns fatos históricos do bairro podem ser recuperados pela denominação das ruas. A Rua do Oratório, por exemplo, marca o local da antiga Fazenda do Oratório. O nome foi oficializado em 24 de agosto de 1916. Antes da urbanização da Mooca, Rafael Aguiar Paes de Barros (1835-1889), filho de barão de Itu, fundou em sua fazenda um clube de corridas de cavalos nos mesmos moldes dos clubes ingleses. Reuniu 73 sócios e um capital de nove mil e novecentos e noventa réis fundou em 14 de março de 1875 o Hipódromo da Mooca ou Club de Corridas Paulistano com capacidade para 1200 pessoas. A primeira corrida aconteceu em 29 de outubro de 1876 e estavam inscritos apenas dois cavalos: Macaco e Republicano. Vencedor: Macaco. Logo o Hipódromo tornou-se uma atração e as pessoas que visitavam a cidade iam conhecer o “Prado”. A iniciativa incentivou o comércio da Mooca. Foi do Hipódromo da Mooca que Edu Chaves fez o histórico voo para o Rio de Janeiro em 21 de abril de 1912.
Em 25 de janeiro de 1941 foi inaugurada a nova sede do Jockey Club de São Paulo em Cidade Jardim e aos poucos a velho hipódromo foi se adaptando aos novos usos: primeiramente como escola e oficina de preparação de cadetes da Aeronáutica e mais tarde a Prefeitura de São Paulo assumiu a área onde funciona a Subprefeitura Mooca.
Um dos marcos do bairro é o Museu da Imigração do Estado de São Paulo (Rua Visconde de Parnaíba, 1316), que funciona na antiga Hospedaria dos Imigrantes, inaugurada em 1887. Os imigrantes de diversas procedências desembarcavam em Santos e eram transportados de trem para a hospedaria de onde eram encaminhados para as cidades do interior a fim de trabalhar na lavoura, especialmente cafeeira.
Rodolfo Crespi (1874-1939), filho de tradicional família italiana, imigrou para o Brasil em 1893 e estabeleceu-se no ramo de cotonifício na Mooca, já reduto de imigrantes italianos. Cinco anos depois sua fábrica já funcionava em um prédio de três andares na esquina da Rua Taquari com Rua dos Trilhos (atualmente funciona um supermercado). O título de conde foi dado a Crespi pelo governo Italiano em 1928 quando Benito Mussolini já estava no poder. Rodolfo Crespi foi o idealizador do Clube Atlético Juventus e apoiou a fundação do Colégio Dante Alighieri.
Um dos marcos do bairro é o Museu da Imigração do Estado de São Paulo (Rua Visconde de Parnaíba, 1316), que funciona na antiga Hospedaria dos Imigrantes, inaugurada em 1887. A Hospedaria recepcionava, registrava e organizava os imigrantes que chegavam de trem de Santos, onde haviam desembarcado procedentes de diferentes países europeus. Dali eles eram encaminhados para as cidades do interior a fim de trabalhar na lavoura, especialmente cafeeira.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

O RUSSO, O BRITÂNICO E O BRASILEIRO.


Uma tarde de inverno muito agradável. Céu acinzentado. Gente agasalhada, encolhida a caminho de algum lugar. Um ou outro mais ousado passeia de braços de fora imune à temperatura baixa. Boa ocasião para conhecer a obra de três artistas de origem bem diversa – um russo, um britânico e um mineiro, que a Caixa Cultural reuniu em São Paulo. Um ótimo programa.
O trabalho do britânico Mac Adams pode ser visto em duas mostras em São Paulo. O Centro Cultural FIESP apresentou “Mens Rea: a cartografia do mistério” e a Caixa exibe até o final de julho “Sombras e Mistérios”. Quem não viu a primeira, não deve perder a segunda que aprofunda a visão sobre o trabalho do artista. Como diz o catálogo de apresentação da mostra, “a arte de Mac Adams nos alerta para a necessidade de enxergar o que não se vê”. 
fotógrafo russo Serguei Maksimishin (1954) percorreu a Rússia de ponta a ponta, registrando imagens do país após o fim do regime comunista. “O último império” reúne 65 fotografias com cenas do cotidiano e como as pessoas comuns reagiram à chegada do capitalismo e os resquícios do antigo regime.
A casa recoberta de quadros no saguão da Caixa é intrigante. “A casa dos meus sonhos” é o título da obra e uma boa olhada revela a intenção do artista: todos os quadros populares têm como tema vários tipos de casas e paisagens – de castelos a casebres. Esse é o primeiro contato com o trabalho do mineiro Jorge Luiz Fonseca (54 anos). Difícil dizer qual o material que Jorge Luiz Fonseca usa – na verdade, tudo que lhe cai nas mãos. Ele pinta, borda, constrói, faz colagens, esculpe, escreve, enfim, um artesão que materializa sua criatividade de múltiplas formas e todas muito inteligentes, com uma fina ironia. Um prazer enveredar por esse “Labirinto de Amor”. Ah! “She loves you” (esmalte sintético sobre madeira) é um poema em azul e branco. “Quando você passa eu fico assim” (esmalte sintético, fios de eletricidade sobre recorte de madeira), muito expressivo...

Jorge Luiz Fonseca nasceu em Conselheiro Lafaiete (MG) e é maquinista de trem, como o pai, e transportava minério de ferro.

CAIXA CULTURAL – Praça da Sé, 111. Terça-feira a domingo, das 9 às 19 horas. Entrada gratuita. Estação Sé do Metrô.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

QUANDO SÃO PAULO SE TORNOU CIDADE

Foto: mirante do edifício Altino Arantes, 2011. 
Há 307 anos a vila de São Paulo foi elevada à categoria de cidade por carta régia de D. João V. No mesmo dia 11 de julho de 1711, o arraial de Minas de Ouro Preto foi elevado à categoria de vila, recebendo a denominação de Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar. São Paulo foi a sétima povoação a merecer o título. Antes dela apenas Bahia, Rio de Janeiro, Olinda, Paraíba, São Luis e Cabo Frio tinham merecido do reino essa categoria administrativa.
São Vicente, apesar de decadente, ainda era a capital da capitania, que incluía Santos e São Paulo. No final do século XVII, o marquês de Cascais, donatário da capitania, resolveu mudar a capital para  São Paulo e a Câmara de São Vicente não gostou nada da história, como deixou claro aos camaristas de São Paulo, e ainda apelou para a interferência do governador geral na Bahia, Antônio de Sousa Meneses, que acabou com a alegria geral de Cascais e companhia. Meneses informou que o donatário não tinha poderes para mudar a capital da capitania.
Tudo ficou como estava até 1709 quando a capitania passou a se chamar São Paulo e Minas do Ouro e o primeiro governador foi Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho (1655-1725), que tomou posse em Santos e escolheu São Paulo como capital. Com esse status nada mais justo que ele elevar a vila à condição de cidade.

SATURNINO DE BRITO
A cidade de Santos (SP) deve muito ao engenheiro Saturnino de Brito (1864-1929).


terça-feira, 10 de julho de 2018

HOMENAGENS
9 DE JULHO 2018

Início da solenidade promovida pela Associação Capacetes de Aço
de São Vicente, na Praça Heróis de 32.



Praça José Bonifácio, Santos: a coroa de flores em memória dos soldados constitucionalistas.

domingo, 8 de julho de 2018


Dia Nacional da Ciência e Dia Nacional do Pesquisador

O químico francês Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794) morreu na guilhotina durante a Revolução Francesa. É considerado o pai da química moderna. Todos nós sabemos (ou deveríamos saber) o que significa H2O graças a Lavoisier que descobriu que a água é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Ele é responsável por vários outros estudos que permitiram o desenvolvimento da química. O que muita gente desconhece é que sua esposa Marie-Anne Pierrette Paulze (1758-1836) se interessou pelo trabalho dele, estudou química, colaborou ativamente com Lavoisier e tornou-se uma pesquisadora importante. Além de cientista, Marie-Anne foi ilustradora e tradutora. Ela lutou bravamente para salvar Lavoisier e o pai da execução, mas não conseguiu livrá-los da guilhotina. Anos depois ela se casou com um físico americano Benjamin Thompson (1753-1814).

Marie-Anne Pierrette Paulze foi quem encomendou o quadro a Jacques-Louis Davi. 
 
Portrait d'Antoine-Laurent Lavoisier et de sa femme (1788)
Óleo sobre tela do pintor francês Jacques-Louis Davi (1748-1825).
Acervo: Metropolitan Museum of Arte, Nova Iorque.





sexta-feira, 6 de julho de 2018

OS DEZOITO DO FORTE

OS DEZOITO DO FORTE

Rio de Janeiro, novembro de 2015.
No dia, 6 de julho de 1924 terminava a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, iniciada na véspera e que não alcançara as proporções almejadas porque os revoltosos não tinham programa nem objetivos políticos. No dizer do general Aristides Leal, eles eram “jovens sonhadores que agiam mais impulsionados pelo entusiasmo da juventude”. O presidente do Brasil era Epitácio Pessoa (1865-1942) e estava em fim de mandato. Uma série de acontecimentos políticos gerou o movimento de insubordinação entre os militares, que em princípio contavam com a adesão dos Fortes de Copacabana e do Vigia além de outras guarnições do Distrito Federal, mas que no momento combinado não ocorreu. Os homens da Escola Militar de Realengo chegaram a sair do quartel, mas foram detidos e desarmados sem resistir; a guarnição de Campo Grande, Mato Grosso,  capitulou diante da superioridade numérica das forças legais e o Forte do Vigia não se manifestou. O capitão Euclides da Fonseca (filho do Marechal Hermes da Fonseca), no comando do Forte de Copacabana, levou o plano avante e ameaçou o palácio do Catete durante dois dias.
Ao tentar negociar com o governo no Catete, Euclides da Fonseca foi preso e telefonou para o tenente Siqueira Campos determinando a rendição. Siqueira Campos convidou os companheiros a marchar sobre o Catete. Apenas 18 aderiram à marcha e tornaram-se uma lenda, pois quando se recusaram a obedecer às ordens de rendição foram atingidos por tiros de fuzil que mataram uns e feriram outros. O número de resistentes varia de 28, segundo o general Abílio de Noronha, 18 de acordo com a imprensa e 12 conforme o Brigadeiro Eduardo Gomes, sobrevivente do episódio. O outro sobrevivente foi Siqueira Campos. Um dos participantes da marcha foi o civil Otávio Correia, morto na ação. 

A revolta marcou o início do movimento tenentista que teve presença marcante no período da ditadura de Getúlio Vargas (1930-1945).

Mural do Forte de Copacabana: homenagem aos 18. 

terça-feira, 3 de julho de 2018

A MAGIA DO CINEMA

Cabaret (1972), o filme dirigido por Bob Fosse e estrelado por Lisa Minelli e Joel Grey é um clássico. Tive o prazer de rever quinta-feira passada, quarenta e seis anos depois, após restauro. O que foi melhor na tela grande de um cinema. O filme continua ótimo. Ah! O maravilhoso Joel Grey, que já completou 86 anos, é inesquecível no papel de mestre de cerimônia do cabaré em que trabalha Sally Bowles, uma aspirante a estrela, interpretada por Liza Minelli, no frescor dos 26 anos.

























Sábado foi a vez de relembrar o melhor do cinema através da música do compositor italiano Nino Rota (1911-1979), autor da trilha sonora dos filmes de Federico Fellini (1920-1993), graças à iniciativa muito boa do Teatro Municipal de São Paulo de reunir música e cinema.  Enquanto a orquestra sinfônica municipal de São Paulo tocava, cenas dos filmes do diretor italiano eram exibidas numa tela no fundo do palco.
E assim a tarde se passou ouvindo boa música e revendo trechos de “Abismo de um sonho” (1952) – um dos meus filmes favoritos de Fellini, “Os boas-vidas” (1953), “A estrada” (1954) “Amarcord” (1973), “8 ½” (1963) e “La Dolce Vita” (1960) – todos maravilhosos. Marcello Mastroianni e Anita Ekberg naquela doce vida são um prazer que se renova sempre.  Lembrei-me de “Entrevista”, que Fellini rodou em 1987 em que Marcello e Anita se reencontram – ele com 63 anos e ela já com 56.
Saí do Teatro querendo muito rever a obra de Fellini, uma vontade que já vinha de algumas semanas quando assisti “As noites de Cabíria” (1957), na USP. Clássicos nunca envelhecem.

segunda-feira, 2 de julho de 2018


CENAS SANTISTAS

"Morro da Penha", Santos, 1944.

A Pinacoteca do Estado de São Paulo tem um ótimo acervo nacional e é um dos lugares mais agradáveis da cidade. A cada visita descobre-se algo diferente, uma obra que devia estar em repouso na reserva técnica e volta a ser exibida.  Ou que passou desapercebida em visitas anteriores. Quem sabe? Semana passada vi uma paisagem que me pareceu familiar e logo a identifiquei: a Casa do Trem de Santos e ao lado uma tela retratava uma cena santista: um dia de feira no sopé do Morro da Penha. O artista é um campineiro que eu desconhecia. Trata-se de Dario Villares Barbosa (1880 - 1952).
Barbosa estudou em São Paulo com Oscar Pereira da Silva (1867-1939) e em 1901 foi para Paris com o irmão gêmeo Mário Villares Barbosa, onde estudaram na Académie Julian e na École des Beaux-Arts. Dario retornou brevemente ao Brasil em duas ocasiões em 1910 e em 1916, quando participou de exposições no Rio e em São Paulo. Só em 1934 se estabeleceu definitivamente em São Paulo e nesse mesmo ano foi agraciado com a medalha de ouro no salão paulista de Belas Artes e recebeu o Prêmio de Aquisição pela tela Feiticeiro Sudanês.
O artista doou todas as suas obras para a Pinacoteca do Estado de São Paulo e para Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro). (Fonte: Itaú Cultural)
Casa do Trem, Santos (SP), 1940.

domingo, 1 de julho de 2018

EFEMÉRIDES DE JULHO

Julho, o mês homenageia o imperador romano Júlio César. O sétimo mês do ano marca a criação de algumas entidades culturais brasileiras muito importantes.
No dia 2 de julho de 1819, inaugurou-se a Casa da Ópera de Sabará em Minas Gerais, o segundo teatro do Brasil. Felizmente, resistiu e, atualmente, chama-se Teatro Municipal de Sabará e o prédio é tombado.
No final do século XIX ocorreram dois fatos importantes.
Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, 8 de julho de 1896. Uma plateia curiosa reuniu-se para assistir à exibição de uma novidade recém-chegada de Paris e muita gente se assustou, o que não impediu o grande sucesso da iniciativa. Um aparelho chamado “omniographo” mostrava uma série de fotografias de ondas do mar em movimento. Foi a primeira sessão de cinema no Brasil, realizada na Rua do Ouvidor e promovida pelo JORNAL DO COMMERCIO (1827-2016). O jornal O PAIZ publicou uma crítica do filme, assinada por Artur de Azevedo (1855-1908), nosso primeiro crítico de cinema.  

O segundo acontecimento ocorreu no ano seguinte. Desde o Império havia a ideia de se criar uma academia de letras nacional “para conservar, no meio da federação política, a unidade literária”*. Assim, depois de muitas reuniões fundou-se no dia 20 de julho de 1897, numa sala do Museu Pedagogium (Rua do Passeio, Rio de Janeiro), a Academia Brasileira de Letras, que teve como primeiro presidente Machado de Assis (escolha unânime). Ela foi concebida nos moldes da entidade francesa, composta por quarenta membros. Sede atual da Associação: Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio de Janeiro.



Em meados do século XX nasceu outra academia: a Academia Brasileira de Música (Rua da Lapa, 120, Rio de Janeiro), fundada por Heitor Villa-Lobos no dia 14 de julho de 1945. A Academia tem entre seus quarenta patronos os padres José de Anchieta e José Maurício, D. Pedro I, Carlos Gomes, Ernesto de Nazaré, Alberto Nepomuceno, Francisco Braga e Mário de Andrade. 



Três anos depois, no dia 15, o Museu de Arte Moderna de São Paulo abria suas portas em seu primeiro endereço: Rua Sete de Abril, Centro. O industrial Francisco Matarazzo Sobrinho e sua mulher Yolanda Penteado foram os fundadores da prestigiosa instituição cuja sede atual é no Parque do Ibirapuera.  

*Discurso de Machado de Assis ao assumir a presidência da ABL.
Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional.