segunda-feira, 16 de julho de 2018



MUITO TRABALHO E TAMBÉM DIVERSÃO.

As fábricas continuaram a ocupar a Mooca. No final do século XIX já funcionavam no bairro, entre elas “Biscoitos Duchen”, Fiat Lux, a Cervejaria Bavária – que em 1904 foi comprada pela Companhia Antártica Paulista, a Tecelagem Três Irmãos Andraus, Linhas Correntes entre muitas outras.
          O empresário italiano Egidio Pinotti Gamba, que começou seus negócios na Mooca, se uniu em 1934 aos Grandes Moinhos Gamba (empreendimento fechado em 1960). Na empresa havia uma capela dedicada a Santo Antônio, daí ser conhecida também como Moinho Santo Antônio. (Rua Borges de Figueiredo, 300 e 510.) depois de muitos usos o prédio parece abandonado.
         O crescimento continuou no século XX. A fábrica de Calçados Clark (1904) fechou suas portas na década de cinquenta e o prédio foi desapropriado em 1968 e, atualmente, é sede da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Em 1907, em meio a tantos nomes e sobrenomes italianos chegou à Mooca um Fraser. Robert Fraser era empresário escocês e instalou no bairro a Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados. Ele já criara, com um sócio inglês, fábricas similares na Argentina e no Uruguai. Dois anos depois a empresa mudou a denominação para São Paulo Alpargatas Company. Em 1930, a Alpargatas passou para o controle argentino até que em 1982, quando assumiu o Grupo Camargo Correa.
         Em 1910 os irmãos Giuseppe e Nicola Puglisi Carbone conseguiram convencer os pequenos refinadores de açúcar de São Paulo a se unirem e então criaram a Companhia União dos Refinadores, que mais tarde incluiu o café, o que levou à mudança do nome para Companhia União dos Refinadores – Açúcar e Café. O engenheiro italiano Alessandro Lorenzetti conheceu Carlo Toninni e em 1923 fundaram a empresa Tonanni & Lorenzetti para fabricar parafusos de precisão para várias utilidades. Quem hoje não conhece a Lorenzetti? Continua no mesmo endereço.
        Mas havia tempo para diversão também. Os funcionários fábrica de Rodolfo Crespi, que jogavam futebol de várzea formaram dois clubes que acabaram se unindo em 1924 para formar o Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube. No ano seguinte, o conde Crespi cedeu uma área de sua propriedade entre as Ruas Javari e dos Trilhos para a construção do campo de futebol. A entidade nasceu modesta, mas se destacou nas competições e em 1930 mudou o nome para Clube Atlético Juventus – uma homenagem ao clube italiano. Cresceu e continua firme e forte na mesma Rua Javari. Nem é preciso dizer que o clube da Mooca é um dos mais queridos da cidade até hoje.
Em 1922 chegou o primeiro cinema do bairro “Palácio Moderno”, mais tarde Cine Teatro Moderno. Foi o primeiro de uma longa lista: São João, Internacional (ambos de vida curta), Santo Antonio, Icaraí/Ouro Verde, Imperial (resistiu até os anos 1960), Bertioga, Patriarca e Safira! Os amantes de teatro tiveram que esperar mais tempo. O Teatro Arthur de Azevedo (Av. Paes de Barros, 955) foi inaugurado em 1952 e tombado em 1992. A casa passou por obras de modernização e está em pleno funcionamento.
Além de cinema e teatro a Mooca teve o Parque Shangai, que vive na memória dos moradores mais antigos. Começou a funcionar no início da década de 1940 no entroncamento da Rua da Rua da Mooca com Avenida do Estado. Era um grande parque de diversões, com brinquedos e atrações que deixaram boas lembranças na garotada da época – hoje senhores e senhoras saudosos daqueles tempos. O que havia por lá só se sabe por depoimentos – há quem se lembre de uma tartaruga gigante que corria loucamente por trilhos, do trem fantasma, do carrossel, da autopista, da imensa roda-gigante, do jogo do martelo e peso – este para os adultos. Música, pipoca, algodão doce e a presença de circos, que ao chegar à cidade percorriam o bairro num cortejo formado pelos artistas, banda musical e os animais em carroças. Um convite ao público para os espetáculos. O parque foi desativado e demolido em 1968 para dar lugar aos três viadutos do Glicério. Quem quiser matar saudade pode assistir ao filme “O grande momento” (1958), de Roberto Santos (1928-1987), com Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), que teve cenas gravadas no local.

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