RIO, 2016.
Escolho o escritor Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882) para
me guiar pelo Rio de Janeiro de 2015. Enfrento alguns problemas de nomenclatura
das ruas e de identificação dos locais ocupados por prédios desaparecidos por
questões políticas e urbanísticas, mas à medida que ele narra os fatos, tento
reconstruir essa parte da cidade que desapareceu.
Começo pelo Paço (Praça
XV), que só foi construído 118 anos depois da fundação da cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro. E – conta
Manoel de Macedo – até o fim do século XVII os governadores da Capitania viviam
onde queriam ou podiam, com exceção do primeiro, Salvador Correa de Sá, que
teve de construir seu abrigo no morro do Castelo. Em 1698, o rei de Portugal
mandou comprar uma casa da Rua Direita (1º de Março) para residência do
governador do Rio. Em 1733, o conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade,
solicitou ao rei D. João V licença para a construção de uma casa de governo. O
local escolhido foi o Largo do Polé em frente à praia de Nossa Senhora do Ó e a
obra começou apenas em 1738. (Hoje é a Praça XV.) Embora o escritor não
explique, descubro no dicionário que polé é a roldana usada para um tipo de
suplício infligido aos condenados. O projeto é do engenheiro militar português
José Fernandes Pinto Alboim.
No princípio, o prédio
tinha apenas um andar com a face principal voltada para a praia; a face norte
abria-se para o chafariz; os fundos davam para o Convento dos Carmelitas,
enquanto a parte sul ficava de frente para a Casa da Câmara e Cadeia, “que é
hoje a Câmara dos Deputados”, como explica o cronista. (A Casa da Câmara e
Cadeia, onde Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, esteve preso, foi
derrubada no início do século XX e, em seu lugar, erguido o Palácio Tiradentes
– sede do Parlamento e atual Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.)
O conde de Rezende,
almirante José Luís de Castro, quinto vice-rei do Brasil, chegou ao Rio em
1790 e mandou construir o segundo andar do Paço. Com a obra concluída o palácio
(um nome enganador) tinha 125 janelas! E ao admirar o belo prédio colonial que
domina a Praça XV imagino a luminosidade e o frescor dos salões naqueles
tempos; hoje, quase todas as janelas estão cerradas e calor intenso que
reverbera na Praça fica banido do casarão pelo forte ar condicionado.
Meu guia explica que a
Justiça e a Fazenda dividiam o mesmo teto com governadores e vice-reis. “Os
vice-reis ocupavam mais de meio da galeria superior, além do segundo andar,
para o lado da praça. Para o mesmo lado, todo resto da casa até ao canto fronteiro
ao convento do Carmo servia de assento ao tribunal da relação. No pavimento
inferior e sob esses domínios da relação ficava a fábrica moedal (...) e o
quarto do canto que olha por um lado para a Casa da Câmara e por outro para o
Convento dos Carmelitas, era habitado pelo provedor da Moeda.”
O Paço Imperial. Foto: Hilda Araújo.
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