quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

RIO, 2016.
        Escolho o escritor Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882) para me guiar pelo Rio de Janeiro de 2015. Enfrento alguns problemas de nomenclatura das ruas e de identificação dos locais ocupados por prédios desaparecidos por questões políticas e urbanísticas, mas à medida que ele narra os fatos, tento reconstruir essa parte da cidade que desapareceu.
Começo pelo Paço (Praça XV), que só foi construído 118 anos depois da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.  E – conta Manoel de Macedo – até o fim do século XVII os governadores da Capitania viviam onde queriam ou podiam, com exceção do primeiro, Salvador Correa de Sá, que teve de construir seu abrigo no morro do Castelo. Em 1698, o rei de Portugal mandou comprar uma casa da Rua Direita (1º de Março) para residência do governador do Rio. Em 1733, o conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade, solicitou ao rei D. João V licença para a construção de uma casa de governo. O local escolhido foi o Largo do Polé em frente à praia de Nossa Senhora do Ó e a obra começou apenas em 1738. (Hoje é a Praça XV.) Embora o escritor não explique, descubro no dicionário que polé é a roldana usada para um tipo de suplício infligido aos condenados. O projeto é do engenheiro militar português José Fernandes Pinto Alboim.
No princípio, o prédio tinha apenas um andar com a face principal voltada para a praia; a face norte abria-se para o chafariz; os fundos davam para o Convento dos Carmelitas, enquanto a parte sul ficava de frente para a Casa da Câmara e Cadeia, “que é hoje a Câmara dos Deputados”, como explica o cronista. (A Casa da Câmara e Cadeia, onde Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, esteve preso, foi derrubada no início do século XX e, em seu lugar, erguido o Palácio Tiradentes – sede do Parlamento e atual Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.)
O conde de Rezende, almirante José Luís de Castro, quinto vice-rei do Brasil, chegou ao Rio em 1790 e mandou construir o segundo andar do Paço. Com a obra concluída o palácio (um nome enganador) tinha 125 janelas! E ao admirar o belo prédio colonial que domina a Praça XV imagino a luminosidade e o frescor dos salões naqueles tempos; hoje, quase todas as janelas estão cerradas e calor intenso que reverbera na Praça fica banido do casarão pelo forte ar condicionado.
Meu guia explica que a Justiça e a Fazenda dividiam o mesmo teto com governadores e vice-reis. “Os vice-reis ocupavam mais de meio da galeria superior, além do segundo andar, para o lado da praça. Para o mesmo lado, todo resto da casa até ao canto fronteiro ao convento do Carmo servia de assento ao tribunal da relação. No pavimento inferior e sob esses domínios da relação ficava a fábrica moedal (...) e o quarto do canto que olha por um lado para a Casa da Câmara e por outro para o Convento dos Carmelitas, era habitado pelo provedor da Moeda.”
(Continua.)

O Paço Imperial. Foto: Hilda Araújo.

Fonte: ‘Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro”, coletânea de crônicas de Joaquim José de Macedo.


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