Não gosto de Carnaval. Não sentirei falta.
BACANAL
MANUEL BANDEIRA
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!
Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada.
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé Momo!
Lacem-na toda, multicores
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vênus!
Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
‒ Vinhos!... o vinho que é meu fracco!...
Evoé Baco!
O alfanje rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!...
Evoé Momo!
A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos.
Evoé Vênus!
“Manuel Bandeira, porque tinha a paixão do Carnaval, interpreta com propriedade a perspectiva pela qual a magia da folia se manifesta e que, paradoxalmente, é a individual. É preciso que o folião penetre, se integre e se entregue a uma massa de estranhos para que ele perca as referências da sua identidade e se incorpore na dimensão maior da multidão enlouquecida. Se alguém que o conhece permanecer perto dele, ele não pode deixar de se reconhecer no olhar que o identifica. Daí a necessidade da fantasia e das máscaras como recurso auxiliar de despersonalização. O efeito do carnaval é dissolver a consciência individual na pulsação sensual dos corpos em comunicação por meio do ritmo. É a apenas estando sozinho, portanto, que se pode viver a emoção do coletivo. Nesse sentido Machado (de Assis) tem toda a razão em falar em anarquismo e Bandeira em vislumbrar a sociedade desfeita em cacos. A loucura de todos só pode nascer da loucura individual de cada um. Isso faz do Carnaval uma hora da verdade, ninguém mais precisa manter a personalidade construída para contemplar as pressões, demandas e convenções sociais. Viver em consonância com esse potencial resguardado, portanto, significa viver ‘se guardando para quando o Carnaval chegar’, como bem intuiu essa alma foliã, Chico Buarque de Holanda.”
A CAPITAL, IRRADIANTE: TÉCNICA, RITMOS E RITOS DO RIO, de Nicolau Sevcenko (1952-2014), in História da Vida Privada no Brasil, volume 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
O filme “Aviso aos navegantes”, de Watson Macedo, é de 1950. Um elenco de ouro: Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte e Eliana Macedo, José Lewgoy e Zezé Macedo. E, naturalmente, Emilinha Borba, Ivon Cury e o pianista Benê Nunes. A produção: Atlântida Empresa Cinematográfica.
Lembrei-me de duas coisas: aviso aos navegantes era um segmento do programa radiofônico nacional oficial “Voz do Brasil”, que ia ao ar todas as noites, porém, o roteiro nada tem a ver com o programa. Assim como "Cantando na chuva", de Stanley Donen, que só seria produzido dois anos depois ‒ acho que foram as capas e galochas😏.
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