segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Ó DE CASA!


Eu fui chegando e entrando para bisbilhotar estas casas que guardam lembranças de seus moradores que há muito se foram desta para melhor (será mesmo?), deixando-nos muitas histórias e lendas também. A cidade ficou com um belo legado arquitetônico que merece ser conhecido e apreciado.

Nos Campos Elíseos, visitei a casa de Henrique Santos-Dumont (1857-1919), primogênito do rei do café (Henrique Dumont) e irmão de Alberto Santos-Dumont (1873-1932). Fazendeiro e empreendedor, Henrique casou-se em 26 de janeiro de 1888 com Amália Ferreira de Camargo, filha do barão de Ibitinga, Joaquim Ferreira de Camargo Andrade. O casal teve cinco filhos - quatro moças e um rapaz. A família, que morava na capital, em 1894 mudou para o elegante bairro dos Campos Elíseos. Alberto Santos-Dumont morava com eles.

Foto/reprodução: Hélio Bertolucci Jr. (Museu da Energia - 2006).
O palacete tem assinatura do escritório Ramos de Azevedo: são 1.720 metros quadrados de área construída num terreno de três mil quadrados na esquina da Alameda Cleveland com Alameda Nothmann. Em 1891, ao retornar de uma de suas muitas viagens à Europa, Alberto Santos-Dumont trouxe um presente muito especial para o irmão: um carro Peugeot, com motor Daimler de 3,5 cavalos e dois cilindros em V. Henrique tornou-se o primeiro proprietário de um automóvel e recebeu a placa P-1, a primeira do Brasil. O presente gerou um problema político, pois com a placa veio a conta do licenciamento que Henrique se recusou a pagar porque dizia que o estado das ruas da cidade eram incompatíveis com o valor cobrado. A licença foi cassada e anos depois a nº 1 foi parar nas mãos de Matarazzo, mas isso é outra história.  
Em 1919 Henrique morreu e a família vendeu a propriedade em 1926 para Blandina Ratto que ali instalou o núcleo feminino do Colégio Stafford. O palacete foi adaptado internamente para instalação dos dormitórios e área de convivência e foram construídos prédios anexos para as salas de aula, diretoria, laboratórios e auditório e residência da diretora e fundadora da escola, Blandina Ratto. O colégio encerrou as atividades em 1951 e no ano seguinte até 1982 lá funcionou a antiga Sociedade Pestalozzi. 


Com a saída da entidade a área foi invadida e ficou ocupada irregularmente até 2001 quando o estado obteve a reintegração de posse e em seguida começou o longo e cuidadoso processo de restauro da casa, onde funciona o Museu da Energia de São Paulo - “espaço aberto para discussão da história da energia, do desenvolvimento de tecnologias do setor energético e suas relações com a sociedade e o meio ambiente”. 
(Continua.)                                    
Endereço: Alameda Cleveland, 603 - Campos Elíseos. Entrada gratuita. Informações: 11-3224-1489.
Fotos: Hilda Araújo.

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