quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Ó DE CASA! (3)

DONA YAYÁ


Em 1888, Afonso Augusto Roberto Milliet comprou de José Maria Talon um terreno com mais de 30 mil m², com fundos para o córrego do Bexiga, formador do ribeirão Anhangabaú. No local havia um chalé de quatro cômodos, que foi incorporado à bela residência de treze cômodos, rodeada por um alpendre, que Milliet mandou construir.
        No início do século XX, a cidade se expandia e em 1902, Milliet vendeu a propriedade para João Guerra, um rico comerciante de secos e molhados. Nessa época o terreno já estava reduzido a 22 mil m². Novas reformas deram ao prédio um estilo mais sofisticado ou como dizem neoclássico tropical, com afrescos recobrindo as paredes dos diversos aposentos.
Sebastiana de Mello Freire (1887-1961), a Dona Yayá, foi morar na casa da Rua Major Diogo na década de vinte.  Há indícios de que primeiro morou como inquilina, pois a compra do imóvel só foi efetivada em 1925. O terreno já diminuíra para 2.500 m².
Dona Yayá viveu uma história de tragédias. Era filha de Josefina Augusta de Almeida Mello e Manoel de Almeida Mello Freire, senador estadual e deputado constituinte. O casal teve outros três filhos. Uma das irmãs dela morreu aos três anos, asfixiada pela ingestão de um objeto, quando estava no berço. A outra faleceu aos 13 anos, vítima do tétano depois de se ferir com o espinho de uma árvore. Os pais adoeceram e morreram no intervalo de dois dias em locais diferentes, quando Sebastiana tinha 12 anos. Manuel Joaquim de Albuquerque Lins (1852-1926), que mais tarde viria ser presidente do estado de São Paulo, tornou-se tutor de Sebastiana e de Manuel de Almeida Mello Freire Junior, o irmão de 17 anos, herdeiros de uma grande fortuna.




A vida parecia transcorrer normalmente para Dona Yayá, quando a doença mental se manifestou. Ela estava com 32 anos. A riqueza lhe garantiu a assistência médica de que necessitava. Na residência moravam, além de Dona Yayá, numerosa criadagem, o enfermeiro, a amiga Eliza Grant e a prima Eliza de Mello Freire.

A casa foi reformada algumas vezes para que ela tivesse conforto adequado às condições de saúde. O salão central transformou-se no dormitório dela: os papéis de parede foram removidos e os afrescos recobertos com tinta esmaltada de cor neutra e de fácil limpeza. Para evitar que Yayá se machucasse durante os acessos de fúria, muitas adaptações foram feitas: o banheiro não tinha torneiras e as janelas, especialmente projetadas pelo médico Juliano Moreira, só se abriam do lado de fora. Em 1952 foi construído o solário para maior conforto da paciente.
Dona Yayá morreu em 1961, no Hospital São Camilo sem deixar herdeiros. Estava com 74 anos – 40 dos quais viveu mergulhada na loucura e reclusa no casarão da Bela Vista. A história de Dona Yayá gerou lendas e levanta muitas teorias ainda hoje. "Seria dona Yayá louca mesmo ou ela era uma mulher diferenciada para a época?” - questiona o historiador José Sebastião Witter (USP). Ela era milionária, mas quando morreu teve uma sepultura anônima no cemitério da Consolação.
Dona Yayá.
Sem herdeiros (herança vacante), o imóvel passou para o Estado e em 1969 foi incorporado à Universidade de São Paulo. Nos anos de 1960, o jardim da casa perdeu mais 300 m² para as obras da Radial Leste.
Após vários anos sem uso definido, finalmente, o prédio foi escolhido para sediar o Centro de Preservação Cultural da USP – CPC. 

Rua Major Diogo, 353, Bela Vista, São Paulo.
Visitação: das 10h às 16 h. Entrada é gratuita.




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