CENDRARS
E O BRASIL
Basta
folhear um livro sobre a produção intelectual do início do século XX para
encontrar o nome de Blaise Cendrars, escritor, poeta, designer e,
principalmente, viajante. Cendrars é o pseudônimo de Frédéric Louis Saucer, nascido
na Suíça em 1887. A primeira viagem foi em 1906 com destino a Moscou e depois
rumou para a China, retornando depois à Suíça para frequentar a universidade.
Em 1911 viajou para Nova York e em 1912 instalou-se em Paris, onde lançou o
livro “Os homens novos” e em seguida “Páscoa em Nova York”, um poema de 30
páginas, em que anuncia o modernismo.
Cendrars
se naturalizou francês em 1916, foi voluntário na Legião Estrangeira, durante a
I Guerra Mundial (1914-1918) e perdeu o braço direito. Na Paris fervilhante dos
anos de 1920, conheceu Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Tornaram-se
amigos e é impossível deixá-lo de fora da história do modernismo brasileiro.
Parece
até conta de mentiroso, mas ele visitou o Brasil sete vezes. Apaixonou-se pelo
país tropical e pelas possibilidades que ele oferecia. O texto abaixo é um
excerto da narrativa da sua viagem ao Brasil em 1924, patrocinada por Paulo
Prado. Cendrars descreve a chegada ao porto de Santos.
A bombordo
O
porto
Nenhum
ruído de máquina nenhum assobio nenhuma sirena
Nada
se mexe nenhum homem à vista
Nenhuma
fumaça sobe nenhum penacho de vapor
Insolação
de um porto inteiro
Nada
mais do que o sol cruel e o calor que cai do céu e que sobe da água um calor
alucinante
Nada
se mexe
No
entanto aqui existe uma cidade atividade uma indústria
Vinte
e cinco cargueiros de dez nações diferentes estão no cais carregando café
Duzentas
gruas trabalham silenciosamente
(De
binóculo se percebem os sacos de café que viajam sobre tapetes rolantes e
elevadores contínuos
A
cidade está escondida atrás de hangares achatados e grandes depósitos
retilíneos de metal ondulado)
Nada
se mexe
Esperamos
horas
Ninguém
vem
Nenhuma
barca deixa a costa
Nosso
navio parece derreter a cada minuto e afundar lentamente no calor espesso e
balançar e ir a pique
“ETC... ETC... (Um livro
100% brasileiro)”, do suíço Blaise Cendrars (nascido Frédéric Louis Saucer,
1887-1961). O texto faz parte da descrição da chegada dele a Santos nos anos
vinte do século passado.
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