O marechal Montgomery (Bernard Law Montgomery, 1º visconde Montgomery de Alamein, 1887-1976) conta
em suas memórias que, em 1916, durante a batalha do Somme (I Guerra), o
comandante de uma divisão precisava receber informações atualizadas da brigada
que ia liderar o ataque. Concluiu-se que a forma mais eficiente e segura seria
empregar um pombo-correio. Um soldado foi encarregado de transportar a ave e
soltá-la assim que um oficial colocasse a mensagem na perna dela. O ataque
ocorreu. O comandante aguardava notícias ansiosamente; todos procuravam
localizar no céu o pombo-correio. Nada. Por fim o pombo apareceu. O comandante
abriu o comunicado e pôde ler: “Estou completamente saturado de carregar esta
maldita ave através da França”.
Ave elegante,
de plumagem discreta, o pombo tem uma participação ativa na história da
humanidade e não apenas sujando monumentos. Faz parte do mito do dilúvio e da
Arca de Noé. O patriarca bíblico teve certeza de que as águas haviam baixado
depois que o pombo que ele havia soltado voltou com uma folha de oliveira. Era
o sinal de que a cólera divina havia cessado e a tranquilidade retornara à
natureza.
Há milhares
de anos descobriu-se a sua principal característica: voltar sempre para o lugar
em que vive. A partir de então os pombos começaram a ser criados e treinados
para servir como correio. É importante saber que o pombo-correio nunca leva, só
traz mensagens.
Atualmente,
um pombo-correio (resultado de cruzamentos de espécies belgas e inglesas no
século XIX) pode percorrer até 1.000 km em um dia e atingir velocidade superior
a 90 km por hora. Para conseguir esses resultados as aves são alimentadas,
criadas e treinadas cuidadosamente; todas são identificadas assim como seus
proprietários, membros de clubes de columbofilia. O pombo torna-se um
verdadeiro atleta. A atividade é bastante praticada em Portugal, Bélgica,
Holanda, Alemanha e Brasil.
O símbolo da
paz acabou envolvido em muitas guerras ao longo dos séculos. Nos tempos
modernos trinta receberam medalhas por terem ajudado a salvar vidas de civis e
militares durante conflitos. O pombo britânico Cher Ami foi
agraciado com a Croix de Guerre na I Guerra Mundial.
Em 1943 foi
instituída a PDSA Dickin Medal, medalha em reconhecimento aos serviços
relevantes prestados por um animal durante o conflito mundial. Maria Dickin foi
fundadora da PDSA, instituição veterinária beneficente. A medalha de bronze tem
duas inscrições: “Por Bravura” e “Nós também servimos”. O pombo-correio
britânico Winkie foi o primeiro animal a receber a honraria, sendo condecorado
em 2 de dezembro de 1943. Ele destacou-se por “entregar uma mensagem em
circunstâncias de dificuldades excepcionais e contribuir com o resgate de uma
tripulação enquanto servia a RAF (Real Força Aérea) em fevereiro de 1942”.
Em 18 de
outubro de 1943, os americanos preparavam o bombardeio de uma vila italiana
para impedir que fosse tomada por alemães; estes, entretanto, já haviam
abandonado o local, que estava ocupado por ingleses. Quando tentaram se
comunicar com os americanos para cancelar o bombardeio, nenhum equipamento
funcionou e então os ingleses mandaram GI Joe (USA43SC6390,) com uma mensagem.
O pombo-correio voou 30 quilômetros em apenas 20 minutos, chegando a tempo para
evitar o ataque à vila, salvando da morte por fogo amigo mil soldados ingleses.
Ele recebeu a medalha Dickin PDSA. Quando se aposentou, GI Joe foi viver no
Zoológico de Detroit (EUA), onde morreu com 18 anos.
Carro de transporte dos pombos-correios. |
O
exército americano durante a II Guerra levou uma unidade de pombos-correios
para o Desembarque na Normandia. O herói, entretanto, foi o britânico Paddy: ele
conseguiu levar em menos tempo para a Inglaterra mensagens codificadas sobre os
avanços das tropas Aliadas após o Desembarque. Paddy partiu por último no dia
12 de junho de 1944, voou 515 quilômetros em 4h50 e chegou primeiro. Mereceu a
medalha Dickin. Quando terminou o serviço militar, ele foi devolvido ao
proprietário, capitão Andrew Hughes. Paddy morreu em 1954 com a idade de onze
anos.
Nem
todos conseguiram. Em 2012 na cidade de Blethingley (Inglaterra), durante a
limpeza da lareira um casal descobriu uma pequena capsula vermelha com uma
mensagem codificada junto com os ossos de um pombo-correio. O texto destinado
ao posto XO2 contém 27 códigos, cada um composto por cinco letras ou números.
Os
especialistas acreditam que a ave foi enviada pelas Forças Aliadas, após o
Desembarque na França em junho de 1944. A mensagem, provavelmente, refere-se a
informações sobre o progresso das operações. De acordo com a notícia publicada
pela BBC em 2012, a mensagem secreta levada pelo pombo-correio há mais de meio
século foi encaminhada a uma base de comunicação em Cheltenham para estudo dos
analistas.
Foto: Hilda Araújo. Museu da II Guerra, New Orleans (EUA), 2013.
(Memórias do
Marechal Montgomery.
São Paulo: IBRASA, 1960).
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