SANTOS
O engenho, o porto e o hospital.
Santos
arranca suspiros dos visitantes e continua sendo a referência de todos os que
nasceram ou um dia moraram por lá. Está situada numa ilha disfarçada – a ilha
de São Vicente, tão próxima do continente que muita gente nem percebe a
configuração. Aliás, divide a ilha com o município mais antigo do Brasil, São
Vicente.
Em
1532 Braz Cubas (1507-1592) acompanhou o amigo Martim Afonso de Sousa na expedição para o
Brasil e se instalou na vila de São Vicente, recentemente criada, onde logo
demonstrou sua capacidade de empreendedor. Entre as missões atribuídas pelo rei
a Martim Afonso uma era iniciar o cultivo da cana-de-açúcar no Brasil e, assim,
depois de declarar São Vicente vila, ele tratou de mandar plantar cana e
construir um engenho no sopé de um dos morros da ilha; portanto “(...) foi na
vila de São Vicente onde se fabricou o primeiro açúcar no Brasil”, segundo
escreveu Padre Simão Vasconcelos (1597-1671).
Foram
construídos vários engenhos. O Engenho do Governador era propriedade de Martim
Afonso, Pero Lopes de Sousa, Francisco Lobo e Vicente Gonçalves e mais tarde
juntou-se a eles Johan Van Hielst ou João Vaniste. O prédio é de 1534. A
sociedade se desfez com a partida de Martim Afonso para as Índias, mas Vaniste
prosseguiu com o engenho até vendê-lo para Erasmos Schetz de Antuérpia. Enfim, o
engenho passou a ser chamado de engenho “dos Erasmos”.
Enquanto
isso Brás Cubas percebeu os benefícios do estabelecimento de um porto abrigado
com acesso mais fácil para o planalto e, com um grupo de colonos, junto a um
outeiro, fundou em 1543 uma vila, um hospital nos mesmos moldes das santas
casas de Portugal e uma igreja que dedicaram à Santa Catarina, que acabou
nomeando o outeiro. Como era 1º de novembro o hospital ganhou o nome de Santa
Casa da Misericórdia de Todos os Santos, o primeiro hospital do Brasil, e sua
forma reduzida acabou nomeando a nova vila – Santos.
À
medida que o tempo passava a vila de Santos foi ganhando importância por causa
da qualidade do porto e a existência de um hospital também deve ter
influenciado, pois no século XVI, após as longas viagens transoceânicas, marinheiros,
colonos e viajantes frequentemente precisavam de assistência. Brás Cubas foi
realmente um homem de visão: no século XXI, o porto é um dos maiores da América
do Sul e a Santa Casa sobrevive aos trancos e barrancos cumprindo o seu papel. A
Igreja de Santa Catarina soçobrou faz tempo. No outeiro, o italiano Antonio
Eboli construiu em 1800 um castelinho de gosto duvidoso que, felizmente,
continua enfeitando a Rua Visconde do Rio Branco.
Martim Afonso de Sousa
deixou uma herança inestimável para a cidade. O engenho funcionou até meados do
século XVIII, produzindo cana para exportação, e rapadura e aguardente para o
consumo interno. Ao visitar o local atualmente é difícil imaginar que havia ali
“[...] uma casa muito grande com seis lanços, uma senzala com uma ferraria
provida de baluartes e ainda duas casas cobertas de telhas, muito boas e
fortes”. Havia também uma capela dedicada a São Jorge – daí São dos Erasmos. O
Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos é o testemunho físico mais antigo da
colonização portuguesa no Brasil. Foi tombado em 1955 e integrado à Faculdade de
Ciências e Letras (atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da
Universidade de São Paulo. A doação para a USP concretizou-se em 31 de janeiro
de 1958.
Visitas monitoradas: agendamento pelo telefone (13) 3229-2703 ou e-mail
resjesantos@gmail.com
Rua. Alan Ciber Pinto, 96.
Vila São Jorge, Santos.
Engenho São Jorge dos Erasmos. Foto: H. A., 2009.
Santa Casa de Santos: o quarto prédio do hospital mais antigo do Brasil foi inaugurado em 1945.Foto: H.A., 2017. |
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