segunda-feira, 14 de junho de 2021

HISTÓRIAS PORTUGUESAS

LISBOA. O bonde estava lotado ‒ muitos turistas entusiasmados e alguns lisboetas entediados. O elétrico, como o chamam por lá, parou em uma curva e o motorneiro tocou a sineta uma, duas, três vezes até que os passageiros ficaram curiosos. O condutor desceu para examinar o problema mais de perto e muitos passageiros o seguiram. Estiquei o pescoço e vi que um folgado estacionara o carro com as rodas traseiras sobre os trilhos.

Várias pessoas, alertadas pela sineta, saíram dos prédios para ver o que acontecia. Os estrangeiros (como se eu não fosse um deles) já haviam descido e estavam fotografando ou filmando a cena. Após vários minutos e muitos palpites, surgiu um funcionário da empresa de bondes chamado pelo motorneiro. Ele deu a volta no veículo, espiou o interior pelas janelas e depois chamou a polícia, que logo apareceu. O policial tirou o quepe do bolso da camisa, colocou-o na cabeça e só então tirou o bloco de multas do outro bolso.

A essa altura já havia uma aglomeração em frente ao para-brisa. Algo dentro do carro provocava boas risadas. Resolvi ver do que se tratava. Um bilhete sobre o painel dizia: “Desculpe-me o transtorno, mas tive que ir ao hospital.” Voltei para o bonde, pois o guincho chegara. Um velhinho, que não se comoveu nem se moveu com o incidente, me perguntou do que se tratava. Suspirou inconformado. “O hospital é logo ali à frente.” Enfim, o carro foi levado, as pessoas voltaram para o bonde e para os seus lugares e lá fomos nós para as Portas do Sol. A confusão toda durou menos de uma hora e não ouvi buzinas, não vi ninguém apoplético ou qualquer coisa parecida. Aaaaaaaah!

O elétrico 28 faz um trajeto por alguns dos principais pontos turísticos de Lisboa. Foto: Hilda Araújo.

Viagem em abril/maio de 2010.

Nenhum comentário: