Terminei de ler “Viagem ao redor do meu quarto”, adquirido recentemente. Gostei muito e sinto-me muito mais experiente no assunto do que Xavier de Maistre porque, depois de mais de um ano andando pelo apartamento, os 42 dias de confinamento disciplinar do militar parecem brincadeira de criança. Creio que eu tenha no meu apartamento mais lugares para visitar do que ele, restrito ao quarto, sem contar que disponho de uma janela muito especial que se abre para o mundo a qualquer hora, graças às tecnologias digitais. Ele, por sua vez, contava com uma amiga muito especial e fantástica: a imaginação. O confinamento permite um olhar mais apurado aos objetos que nos rodeiam, despertando lembranças de momentos especiais e promovendo o reencontro com sentimentos antigos e coisas que pareciam esquecidas em caixas, gavetas ou prateleiras.
Finda a aventura com Maistre, agora me divirto com a releitura de “Viagens com minha tia”, de Graham Greene (1904-1991). Reencontrei o livro enquanto arranjava espaço na estante para guardar novos amigos. Greene, que foi espião de Sua Majestade, é um autor que li nos anos de 1980 ‒ meus preferidos são “O Americano Tranquilo”, “O Cônsul Honorário”, “Nosso Homem em Havana” e “Viagens com Minha tia”. Este é um livro bem humorado sobre um gerente de banco aposentado, homem de hábitos conservadores, que narra a mudança que se opera em sua vida pacata com a morte da mãe e o reencontro com uma tia que não via desde criança.
Tia Augusta está com 75 anos quando irrompe na vida do sobrinho e fica indignada quando ele se refere a ela como idosa. À medida que ele narra os acontecimentos percebe-se que tia Augusta se encaixaria muito bem no século XXI. As viagens não têm roteiro, incluem um passeio por Brighton e uma viagem a Istambul no Expresso Oriente já em decadência. As histórias que ela conta não têm uma sequência, são interrompidas por um acontecimento ou mesmo pelo esquecimento momentâneo e continuam em outros capítulos em outras situações ou a pedido do sobrinho. Depois de tantos anos, a história continua muito divertida. A obra é de 1969.
(Fotos: Istambul, 2019. Estação Ferroviária de Sirkeci, ponto final do famoso trem e o restaurante da estação.)
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