Um dos
prazeres de frequentar uma biblioteca é passear entre as estantes, indiferente
aos assuntos, lendo os títulos dos livros e descobrindo autores e temas
atraentes. Foi assim que encontrei um livro recheado de histórias paulistanas
narradas por antigos moradores da cidade. Todos puxaram do baú da memória
recordações da infância e juventude – a casa e seus objetos, a rua, a família,
a comida, os amigos, as brincadeiras, , a escola, os namoricos, as festas, os
pontos de encontro... Um livro repleto de surpresas para quem já era adulta,
quando chegou à cidade em 1982.
Como os depoimentos são pequenos e
divididos por assunto, não é preciso ler em sequência. As histórias foram
escritas para um site, mas acabaram reunidas em um livro de quase 360
páginas, publicado em 2008. Bom mesmo foi encontrar entre os narradores a amiga
Neuza Guerreiro de Carvalho, professora aposentada, que nos relata os diversos
tipos de fogões usados ao longo da vida na casa da família até os modernos. Lá
estão o fogão a carvão, a lenha, a espiriteira, a gás até o fogão elétrico.
Miguel Chammas, por exemplo, lembra
de um sanduíche do Bar Municipal, na rua Barão de Itapetininga, onde se
deliciava com um sanduíche de pão preto com gorgonzola, aliche e azeitona, um
quitute só encontrado (em 2008) no Ponto Chic. Várias pessoas lembram o tempo
das leiterias, predecessoras dos cafés e lanchonetes. A Ita, na rua do
Boticário, na República, foi famosa, mas não recomendo se aventurar por essa
rua em completa decadência. E por falar em comida, Carlos Alberto Gomes conta
como foi marcante na sua infância (década de 1950) a visão de Silki, o faquir,
na galeria do Vale do Anhangabaú. “Lá estava ele, num canto do corredor,
enjaulado entre cobras, com a expressão de quem parou de viver para vencer seu
desafio” – conta. Gomes diz que nunca mais ouviu falar a respeito de tal evento
nem acreditava que tenha existido. Silki, pseudônimo de Adelino João da Silva
(1922-1998), foi recordista mundial quatro vezes e da última vez ficou 115 dias
sem comer.
“Quem
não dançou Blue Moon na Maison Suisse, Contigo en la Distancia no
Palácio Mauá, Moonlight Serenade na Casa de Portugal, La Mer no
Clube Holms ou Meu último desejo e as marchinhas juninas no
Hispano-brasileiro na Mooca, e ao som das grandes orquestras da época: Sílvio
Mazzuca, Orlando Ferri, Zezinho, Henrique Simonetti, André Penazzi e tantas
outras?” Pergunta de Carlos Trindade, frequentador assíduo de “bailes
inesquecíveis”. Como morava na Mooca, na volta tinha que fazer a maior parte do
percurso a pé para pegar o ônibus 28 – Vila Bertioga, na Praça Clóvis, mas
antes comia uma pizza brotinho, tomava uma vitamina no Gouveia, que ficava no
térreo do edifício Mendes Caldeira, implodido em 1975.
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