Nunca me
preocupei em saber se um escritor pertencia ou não à Academia de Letras. Nem o
fato de ser enaltecido como acadêmico me motivou a ler algum autor. Além de
saber que Machado de Assis foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de
Letras, não saberia apontar nenhum membro. Com o tempo e o falatório em torno
de certas eleições contemporâneas, fiquei decepcionada com o viés político que
a instituição demonstrava sem pejo. José Sarney, escritor? Deixou um rastro na
história nacional lamentável. Getúlio Vargas que, provavelmente, não escrevia
os próprios discursos, também é acadêmico. Paulo Coelho? Por ser o escritor
brasileiro que mais vendeu livros (210 milhões de exemplares)? Quantidade nunca
foi sinônimo de qualidade.
A Academia despertou meu interesse no ano passado, quando vi na livraria
da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo um livro do premiado professor,
escritor e jornalista Adelto Gonçalves sobre o poeta Tomás Antônio Gonzaga. A
obra faz parte da série ESSENCIAL que “se propõe a oferecer informações básicas
sobre cada um dos ocupantes das 40 cadeiras” da Academia ao longo de seus 122
anos de existência. Os trabalhos incluem ainda uma pequena antologia dos
acadêmicos. Cada livro no formato de bolso tem pouco mais de 60 páginas.
Autores variados, textos leves e agradáveis que convidam a continuar a
leitura. Já li vários livros, começando por escritores que foram esquecidos
como Humberto de Campos e Raimundo Correia e que li na adolescência. Entre os
primeiros selecionados estão naturalmente Vicente de Carvalho e Ruy Barbosa. Foi
uma surpresa encontrar entre os membros da Academia Oswaldo Cruz, Santos Dumont
e Felix Pacheco.
Ou então encontrar histórias saborosas de acadêmicos misturadas. Caso do jovem
jornalista DOMÍCIO DA GAMA (1862-1925), novato da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Ao ser chamado pelo diretor para
cobrir uma exposição, Domício quis saber se era no Centro do Rio, contudo a
tarefa seria mais longe: Paris, onde se realizava a Exposição Internacional de
1889 que coincidia com a comemoração dos 100 anos da Revolução Francesa. Em
Paris, o foca foi entregar a carta de recomendação a ninguém menos que EDUARDO
DA SILVA PRADO (1860-1901), no apartamento na Rua de Rivoli, importante centro
intelectual. A chegada de Domício interrompeu o chá de Eduardo Prado com JOSÉ MARIA DA SILVA PARANHOS JÚNIOR (1845-1912), o Barão do Rio Branco. Aquele
encontro marcou o início de uma grande amizade entre o Barão e Domício da Gama,
que trocou o jornalismo pela diplomacia e chegou a ser Ministro das Relações Exteriores
do Brasil (1918-1919) e embaixador em Londres (1920-1925). A obra literária
restringiu-se ao período do jornalismo. Foi eleito membro da ABL em 1887, ocupando
a cadeira de Raul Pompeia.
DOMÍCIO DA GAMA: cadeira 33, ocupante 1. Ronaldo Costa Fernandes. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2011.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA: cadeira 37, patrono. Adelto Gonçalves. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2012.
EDUARDO DA SILVA PRADO: cadeira 40 ocupante 1 (Fundador). Benício Medeiros. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2016.
DOMÍCIO DA GAMA: cadeira 33, ocupante 1. Ronaldo Costa Fernandes. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2011.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA: cadeira 37, patrono. Adelto Gonçalves. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2012.
EDUARDO DA SILVA PRADO: cadeira 40 ocupante 1 (Fundador). Benício Medeiros. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2016.
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