sexta-feira, 22 de março de 2019

A PAUTA DOS SONHOS

Nunca me preocupei em saber se um escritor pertencia ou não à Academia de Letras. Nem o fato de ser enaltecido como acadêmico me motivou a ler algum autor. Além de saber que Machado de Assis foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, não saberia apontar nenhum membro. Com o tempo e o falatório em torno de certas eleições contemporâneas, fiquei decepcionada com o viés político que a instituição demonstrava sem pejo. José Sarney, escritor? Deixou um rastro na história nacional lamentável. Getúlio Vargas que, provavelmente, não escrevia os próprios discursos, também é acadêmico. Paulo Coelho? Por ser o escritor brasileiro que mais vendeu livros (210 milhões de exemplares)? Quantidade nunca foi sinônimo de qualidade. 
A Academia despertou meu interesse no ano passado, quando vi na livraria da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo um livro do premiado professor, escritor e jornalista Adelto Gonçalves sobre o poeta Tomás Antônio Gonzaga. A obra faz parte da série ESSENCIAL que “se propõe a oferecer informações básicas sobre cada um dos ocupantes das 40 cadeiras” da Academia ao longo de seus 122 anos de existência. Os trabalhos incluem ainda uma pequena antologia dos acadêmicos. Cada livro no formato de bolso tem pouco mais de 60 páginas.
Autores variados, textos leves e agradáveis que convidam a continuar a leitura. Já li vários livros, começando por escritores que foram esquecidos como Humberto de Campos e Raimundo Correia e que li na adolescência. Entre os primeiros selecionados estão naturalmente Vicente de Carvalho e Ruy Barbosa. Foi uma surpresa encontrar entre os membros da Academia Oswaldo Cruz, Santos Dumont e Felix Pacheco.
Ou então encontrar histórias saborosas de acadêmicos misturadas. Caso do jovem jornalista DOMÍCIO DA GAMA (1862-1925), novato da Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Ao ser chamado pelo diretor para cobrir uma exposição, Domício quis saber se era no Centro do Rio, contudo a tarefa seria mais longe: Paris, onde se realizava a Exposição Internacional de 1889 que coincidia com a comemoração dos 100 anos da Revolução Francesa. Em Paris, o foca foi entregar a carta de recomendação a ninguém menos que EDUARDO DA SILVA PRADO (1860-1901), no apartamento na Rua de Rivoli, importante centro intelectual. A chegada de Domício interrompeu o chá de Eduardo Prado com JOSÉ MARIA DA SILVA PARANHOS JÚNIOR (1845-1912), o Barão do Rio Branco. Aquele encontro marcou o início de uma grande amizade entre o Barão e Domício da Gama, que trocou o jornalismo pela diplomacia e chegou a ser Ministro das Relações Exteriores do Brasil (1918-1919) e embaixador em Londres (1920-1925). A obra literária restringiu-se ao período do jornalismo. Foi eleito membro da ABL em 1887, ocupando a cadeira de Raul Pompeia.

DOMÍCIO DA GAMA: cadeira 33, ocupante 1. Ronaldo Costa Fernandes. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2011.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA: cadeira 37, patrono. Adelto Gonçalves. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2012.
EDUARDO DA SILVA PRADO: cadeira 40 ocupante 1 (Fundador). Benício Medeiros. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2016.

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