quinta-feira, 28 de março de 2019

E POR FALAR EM SACI


É muito importante a preservação da cultura popular e cabe a cada um de nós essa tarefa que é bem simples e agradável: contar histórias do folclore nacional, regional e local para os filhos e netos. Nas escolas os professores podem valorizar mais as lendas brasileiras. Essas lendas são resultado da mistura de várias culturas e uma influencia a outra, o que gera variações em cima do mesmo tema. No caso do Saci, por exemplo, dependendo da região do Brasil, o nome do garoto sapeca varia: Saci-Cererê, Saci-Trique, Saçurá, Mati-taperê, Matiaperê, Matim Pererê, Matintaperera, Capetinha da Mão Furada etc. Conta-se também que ele costuma se transformar em passarinho como o Mati-taperê ou Sem-fim – conhecido no nordeste como Peitica. 
O fato de se preservar o folclore nacional, entretanto, não significa que se deve condenar a cultura popular de outros países, afinal, vivemos num mundo quase totalmente interligado com diferentes sociedades, mas as preocupações que as lendas revelam são quase sempre comuns aos povos. Os personagens de Perrault e dos irmãos Grimm convivem muito bem com os personagens de Walt Disney; não vi nem li nada de Harry Potter, mas estou certa que as histórias fazem a alegria de crianças e adultos, assim como super-heróis. O Saci, a Cuca, o Boitatá e a Iara podem se unir ao grupo sem nenhum problema. Afinal, são seres mágicos.
Quem é o Saci? Um brasileiro, acima de tudo. Negrinho com nome indígena. Ele é um garoto e tem uma perna só, fuma cachimbo e usa uma carapuça vermelha que lhe dá poderes mágicos, como o de aparecer e desaparecer aonde quiser. Nem é preciso dizer que é travesso como toda criança. Adora assobiar e pregar peças nas pessoas. (O fumo hoje é um problema, mas cabe aos responsáveis o esclarecimento sobre os riscos do tabaco.)
Nas palavras de Monteiro Lobato: “O saci é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta criatura existe. Traz sempre na boca um pitinho aceso, e na cabeça uma carapuça vermelha. A força dele está na carapuça, como a força de Sansão estava nos cabelos”. Ele conta que o Saci faz tantas reinações quanto pode: “azeda o leite, quebra pontas das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça”.
O relato faz parte do livro O Saci, em que o autor envolve Pedrinho, Narizinho e Emilia em aventuras com vários personagens do folclore brasileiro, como a Cuca, o Boitatá e a Iara.
O Saci já frequentou até a página do Ministério da Cultura em 2005, quando se realizou um manifesto de apoio a dois projetos de lei para a criação do Dia Nacional do Saci, em tramitação conjunta na Câmara dos Deputados, com aprovação na Comissão de Educação. Não passou daí. Bom mesmo é que o Estado de São Paulo e a própria cidade de São Paulo, tão cosmopolita, já comemoram em 31 de outubro o Dia do Saci, assim como São José do Rio Preto e Vitória do Espírito Santo.
"Conhecimento", de Maria Graziela de O., de
 Barueri.
São Luis de Paraitinga, no interior de São Paulo, é sede Sociedade dos Observadores de Saci (SOSACI). E imaginem que a Associação Nacional dos Criadores de Saci – ANCS, com sede em Botucatu há mais de 20 anos, mantém uma fazenda de criação de saci, segundo o presidente e fundador José Oswaldo Guimarães. O município de Barueri, ao promover o concurso nacional e a exposição de artes plásticas sobre o “Saci: 100 depois do Inquérito” – inclusive com aquisição de obras –, contribui para a valorização do nosso folclore. 
A exposição está no Centro Cultural dos Correios, Avenida São João, s/nº - Vale do Anhangabaú, Estação São Bento do Metrô. 

Nenhum comentário: