É muito importante a preservação da
cultura popular e cabe a cada um de nós essa tarefa que é bem simples e
agradável: contar histórias do folclore nacional, regional e local para os
filhos e netos. Nas escolas os professores podem valorizar mais as lendas
brasileiras. Essas lendas são resultado da mistura de várias culturas e uma
influencia a outra, o que gera variações em cima do mesmo tema. No caso do
Saci, por exemplo, dependendo
da região do Brasil, o nome do garoto sapeca varia: Saci-Cererê, Saci-Trique,
Saçurá, Mati-taperê, Matiaperê, Matim Pererê, Matintaperera, Capetinha da Mão
Furada etc. Conta-se também que ele
costuma se transformar em passarinho como o Mati-taperê ou Sem-fim – conhecido
no nordeste como Peitica.
O fato de se preservar o folclore
nacional, entretanto, não significa que se deve condenar a cultura popular de
outros países, afinal, vivemos num mundo quase totalmente interligado com
diferentes sociedades, mas as preocupações que as lendas revelam são quase
sempre comuns aos povos. Os personagens de Perrault e dos irmãos Grimm convivem
muito bem com os personagens de Walt Disney; não vi nem li nada de Harry Potter,
mas estou certa que as histórias fazem a alegria de crianças e adultos, assim
como super-heróis. O Saci, a Cuca, o Boitatá e a Iara podem se unir ao grupo sem nenhum
problema. Afinal, são seres mágicos.
Quem
é o Saci? Um brasileiro, acima de tudo. Negrinho com nome indígena. Ele é um garoto e tem uma perna
só, fuma cachimbo e usa uma carapuça vermelha que lhe dá poderes mágicos, como
o de aparecer e desaparecer aonde quiser. Nem é preciso dizer que é travesso
como toda criança. Adora assobiar e pregar peças nas pessoas. (O fumo hoje é um
problema, mas cabe aos responsáveis o esclarecimento sobre os riscos do
tabaco.)
Nas palavras de Monteiro Lobato: “O saci é um diabinho de uma perna só que
anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta
criatura existe. Traz sempre na boca um pitinho aceso, e na cabeça uma carapuça
vermelha. A força dele está na carapuça, como a força de Sansão estava nos
cabelos”. Ele conta que o
Saci faz tantas reinações quanto pode: “azeda o leite, quebra pontas das
agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o
dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão
que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele
de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa
casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também
atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto,
chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade
pequenina que não faça”.
O relato faz parte do livro O Saci, em que o autor envolve
Pedrinho, Narizinho e Emilia em aventuras com vários personagens do folclore
brasileiro, como a Cuca, o Boitatá e a Iara.
O Saci já frequentou até a página do Ministério da Cultura
em 2005, quando se realizou um manifesto de apoio a dois projetos de lei para a
criação do Dia Nacional do Saci, em tramitação conjunta na Câmara dos
Deputados, com aprovação na Comissão de Educação. Não passou daí. Bom mesmo é que o Estado de São Paulo e a própria
cidade de São Paulo, tão cosmopolita, já comemoram em 31 de outubro o Dia do
Saci, assim como São José do Rio Preto e Vitória do Espírito Santo.
"Conhecimento", de Maria Graziela de O., de Barueri. |
São Luis de Paraitinga, no
interior de São Paulo, é sede Sociedade dos Observadores de Saci (SOSACI). E
imaginem que a Associação Nacional dos Criadores de Saci – ANCS, com sede em
Botucatu há mais de 20 anos, mantém uma fazenda de criação de saci, segundo o
presidente e fundador José Oswaldo Guimarães. O município de Barueri, ao
promover o concurso nacional e a exposição de artes plásticas sobre o “Saci:
100 depois do Inquérito” – inclusive com aquisição de obras –, contribui para a
valorização do nosso folclore.
A exposição está no Centro Cultural dos Correios, Avenida São João, s/nº - Vale do Anhangabaú, Estação São Bento do Metrô.
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