sexta-feira, 1 de março de 2019

ALINHAVOS CARNAVALESCOS


Março este ano chega fantasiado, mais alegre, sem aquele jeito sério de ser, deixando as preocupações com o famigerado leão para mais tarde. Nem se precisa pedir que chova três dias sem parar, pois em março as águas sempre vão rolar. Foliões e celebridades de plantão não se importam. Com que roupa? Isso não é mais problema. Qualquer uma do guarda-roupa moderno. Pelas vitrines da vida percebo que é carnaval o ano todo. Ou se o corpinho estiver nos conformes, basta seguir o exemplo de Chiquita Bacana, lá da Martinica, que se vestia com uma casca de banana. Não sei bem se foi na fantasia da moça que o tal “nego” bebo escorregou e quase caiu. (Por que bebes tanto assim, rapaz?) Yes, nós temos bananas
Nem sei se está na moda comprar um pierrô de cetim, um pandeiro e um violão para alegrar o coração. Só se for um pierrô sentimental, um sonhador desmilinguido por Colombina e que acabou entrando num botequim bebeu, bebeu, saiu assim, assim e ainda foi tomar vermute com amendoim. Ah! Essa Colombina que acha o Pierrô cacete e o despacha para tomar sorvete com Arlequim... Mas no salão, repleto de palhaços, Arlequim chora pelo amor da Colombina.
É tempo de carnaval. Há sensualidade no ar. Languidez, voluptuosidade ou libertinagem. Talvez seja o verão, a lua cheia, a música... O erotismo parece envolver a natureza, pois até “o mar passa saborosamente a língua na areia (...)” e “por trás de uma folha de palmeira/ A lua poderosa, mulher muito fogosa/ Vem nua, vem nua/ Sacudindo e brilhando inteira”.
As musas são Maria, Mimi, Chiquita, Madalena, Filisbina, Pimpinella, Bráulia, Zazá, Aurora, Juraci, Florisbela, Júlia, Dedé, Amélia, Luzia e até Dona Balbina – que sem ser libertina, aprecia a orgia. Anda, Luzia, pega o pandeiro e cai no carnaval.
Os homens correm atrás de sereias nas praias e nos salões, avenidas e morros; choram seus desencantos em bondes e barcos e até acreditam que “mais difícil, muito mais é conjugar o verbo amar”. Loiras, morenas, ruivas não importa, a pergunta é a mesma: “viram meu amor por aí?” Vão atrás da paixão até de lambreta, se for preciso. Por aí desfila seu Cornélio, sempre o último a saber; já o João Pouca Roupa tem dinheiro no banco, meu bem. Hora de gritar me dá um dinheiro aí! Há ainda Edgard, Lourival, Zé Marmita e Gildo. O Rui, que teve a mulher roubada, preferiu calar suas mágoas já que sua desgraça era pública e notória. O problema dele era mesmo dinheiro!
         A tristeza da amada, entretanto, não impede o saçarico do amante: “tu andas tão triste/ somente a chorar/mas por isso eu não vou/me privar de dançar/ tu sabes que eu faço/ o passo na rua/ mas é pensando na imagem tua!”. Uma graça. Enquanto isso o velho saçarica na porta da "Colombo"...
         “E como ‘vaes’ você?" – perguntava Ary Barroso. E com ele respondo que “No mar desta vida/ Vou navegando/ Vou temperando”. Nessa folia, carecas, pernas-de-pau, tagarelas estão unidos mais do que nunca. Politicamente incorreto? “Desculpe-me, não me leve a mal. É carnaval”. Quase.
.
A crônica foi baseada nas seguintes músicas de carnaval:

“Dona Balbina”, 1929. Composição de Josué de Barros. Gravação: Carmen Miranda.
Tempo perdido, 1933. Composição de Ataulfo Alves. Gravação: Carmen Miranda.
“Viram meu amor por aí?”, 1934. Composição de João de Freitas Ferreira (Jonjoca). Gravação: Jonjoca.
“Pierrô apaixonado”, 1935. Composição de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa. Gravação: Joel e Gaúcho.
“Passado, presente e futuro”, 1935. Composição de Herivelto Martins e Francisco Senna. Gravação: Dupla Preto e Branco.
“Comprei uma fantasia de pierrô”, 1936. Composição de Lamartine Babo e Alberto Ribeiro. Gravação: Francisco Alves.
“Como 'vaes você'?”, 1936, composição de Ary Barroso. Gravação: Carmen Miranda.
“Manda embora essa tristeza”, 1936. Composição de Capiba. Gravação: Aracy de Almeida.
“Minha Companhia É a Colombina”, 1941. Composição: Lamartine Babo / Moacyr Araújo. Gravação: Orlando Silva.
“João Pouca Roupa”, 1942. Composição de Cinco Azes do Samba. Gravação: Os Bacharéis do Ritmo.
“Eu não posso viver sem mulher”, 1945. Composição de Roberto Martins e Mário Rossi. Gravação: Nelson Gonçalves.
Seu Cornélio, 1946. Composição de Marino Pinto e Eratóstenes Frazão. Gravação de Linda Batista.
“Chiquita Bacana”, 1949, composição de Braguinha e Alberto Ribeiro. Gravação: Emilinha Borba.
“Tomara que chova”, 1951. Composição de Paquito e Romeu Gentil. Gravação: Emilinha Borba.
“Tem nego bebo aí”, 1959. Composição de Mirabeau e Ayrton Amorim. Gravação: Carmen Costa. Ferreira – Homero, Glauco e Ivan. Gravação: Moacir Franco.
 “Máscara Negra”, 1967. Composição de Zé Kéti e Pereira Matos. Gravação: Zé Kéti.
“Yes, nós temos bananas”, 1967. Composição de João de barro e Alberto Ribeiro. Gravação: Caetano Veloso.
“Minha companhia é a colombina”, Composição: Lamartine Babo. Gravação: Orlando Silva.
 “Folia no matagal”, 1981. Composição de Eduardo Dusek. Gravação: Maria Alcina. 

Nenhum comentário: