domingo, 6 de agosto de 2023

SEMANA COM POESIAS

 

Para começar escolhi Alberto de Oliveira, poeta fluminense que nasceu em 1857 em Palmital de Saquarema e faleceu em Niterói em 1937. Ocupou a cadeira 8 da Academia Brasileira de Letras (fundador). “Nem todos cantam tudo; e o erro talvez da geração nova será querer modelar-se por um só padrão. O verso do Sr. Alberto de Oliveira tem a estatura média, o tom brando, o colorido azul, enfim um ar gracioso e não épico”, opinião de Machado de Assis, num ensaio de 1879.

 

Crescente de Agosto

Alberto de Oliveira

 

Alteia-se no azul aos poucos o crescente,

O ar embalsama, os cirros leva, o escuro afasta;

Vasto, de extremo a extremo, enche a alameda vasta

E emborca a urna de luz nas águas da corrente.

 

Na escumilha da teia, onde a aranha indolente

Dorme, feita de orvalho, uma pérola engasta.

Faz aos lírios mais branca a flor cetínea e casta,

Mais brancos os jasmins e a murta redolente.

 

Faz chorar um violão lá não sei onde... (A ouvi-lo

Na calada da noite, um não sei quê me invade)

Faz que haja em tudo um como estranho espasmo e enlevo;

 

Faz as cousas rezar, ao seu clarão tranquilo,

Faz nascer dentro em mim uma grande saudade,

Faz nascer da saudade estes versos que escrevo.

 

In: Poesias, Quarta série. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1928.

(Observação: ouso esclarecer o significado de duas palavras pouco usadas: cetínea – acetinada, e redolente, aromática.)


                                      "Estrada com cipreste e estrela", de 1890,8 Van Gogh. 

Nenhum comentário: