Quando São Paulo começou a crescer, estendeu-se
para o outro lado do riacho Anhangabaú por meio de um viaduto projetado pelo
francês Jules Martin (1832-1906). Vários edifícios foram
desapropriados para a obra, como o sobrado de Joaquim José dos Santos Silva, situado na atual Rua
Líbero Badaró. Fazendeiro e empresário, Joaquim José dos Santos Silva, primeiro
e único barão de Itapetininga*
(1799-1876), era dono de uma chácara no morro do Chá e não gostou nada quando a
municipalidade em 1862 resolveu abrir uma rua para ligar a Praça da República à
Rua Formosa. Não só protestou como tratou de impedir a obra. A briga acabou em
1875 quando a Câmara Municipal autorizou a desapropriação de terras no morro do
Chá para a abertura da rua que deveria chamar-se Rua do Chá.
Para contemporizar, em 7 de maio de
1875, o vereador José Homem Guedes Portilho propôs que se homenageasse o barão
e assim surgiu a Rua Barão de Itapetininga. Veio a República e em 1904 a
Prefeitura concedeu favores fiscais aos proprietários de terrenos naquela rua
para incentivar a edificação e ocupação do local, afinal, em 1903 havia
começado a construção do Theatro Municipal de São Paulo.
O viaduto do Chá, o
Theatro Municipal e a novíssima Rua Barão de Itapetininga com seus incentivos
fiscais para edificação mudaram o trajeto do paulistano do início do século
passado. O comércio e os serviços de luxo começaram a transpor o Vale do
Anhangabaú, levando a distinta freguesia para novas experiências. Lojas como a Prelude
Modas (roupas femininas), Loja Sútoris (calçados), a Casa Slopper, o
sofisticado Cabeleireiro Antoine, a Casa Los Angeles e a Casa Figueiroa (artigos
esportivos), a joalheria Loeb estabeleceram-se na Barão de Itapetininga, que se tornou o endereço mais elegante
da cidade. A Casa Levy de Pianos dispunha até de pianista para demonstrar
ao público a qualidade dos produtos que oferecia. Empresas e empresários
estabeleceram escritórios nos edifícios modernos do novo centro que surgia a
partir dessa rua que liga a Praça Ramos de Azevedo à Praça da República.
O EDIFÍCIO DA PAZ foi um dos primeiros prédios da Rua Barão de
Itapetininga. Ficou pronto em 1913 e logo se tornou um endereço de prestígio.
No prédio de quatro andares funcionava a Confeitaria Vienense, com decoração em
estilo art déco, famosa pelo chá
das cinco ao som de violinos. A casa atraía a elite paulistana, que costumava
passar por lá após as compras. Era lá também o escritório do poeta, escritor e jornalista
Guilherme de Almeida, onde se reuniam intelectuais, artistas e políticos,
afinal, o príncipe dos poetas brasileiros foi um ativo participante da Semana
de Arte Moderna de 1922 e do Movimento Constitucionalista de 1932. A senhora Louise Frida Reynold (1884-1974), mais conhecida como Madame
Poças Leitão, escolheu o Edifício da Paz para instalar o seu curso de dança e etiqueta, o mais
famoso da cidade. Ela era suíça,
casou-se com o português Luís Poças Leitão em Lausanne e, no início da Guerra
em 1914, o casal veio para o Brasil, estabelecendo-se em São Paulo, onde Madame Poças Leitão teve intensa
atividade social. O único vestígio daqueles tempos é o elevador de portas
pantográficas. Seu Luiz, zelador, tem muitas histórias para contar, algumas
ouvidas de visitantes que viveram aquela fase.
Barão de Itapetininga, 262.
Um dos prédios mais bonitos de São Paulo é o GLÓRIA,
situado na Praça Ramos de Azevedo, com lateral para a Rua Barão de
Itapetininga. Foi construído em 1928 a partir de um projeto do escritório de
arquitetura “Albuquerque e Longo”, executado pelo Escritório Técnico Ramos de
Azevedo, ambos contratados pelo empresário Samuel Ribeiro. Com onze andares,
ele continua em pleno funcionamento e encantando os olhos de quem o descobre em
meio às árvores da Praça, mas sempre é possível observar o seu lado da Barão de
Itapetininga. Difícil fotografar o prédio inteiro. Na foto, lado da Barão de Itapetininga, visto da Galeria Nova Barão.
Quem observa a CASA GUATAPARÁ nem imagina que, anteriormente, ali estavam instalados os estábulos das Indústrias Matarazzo. O edifício, que também é de 1928, tem saída para a Rua Vinte e Quatro de Maio através da galeria onde há um comércio bem variado.
Rua
Barão de Itapetininga, 112.
O projeto do EDIFÍCIO JARAGUÁ é de autoria dos arquitetos Jacques Emile Paul Pilon, (1905-1962), francês radicado no Brasil, e de Francisco Matarazzo Neto (1910-1980). O prédio, concluído em 1939, foi sede por muitos anos da Editora e Livraria Brasiliense, de propriedade de Monteiro Lobato, Caio Prado Júnior, Arthur Neves e Maria José Dupré. Embora mais tarde tenha se tornado modernista, as obras iniciais de Jacques Pilon, como esta, são ecléticas. Na fachada, uma placa informa que em julho de 1948 o escritor Monteiro Lobato teria morrido ali. Entretanto, segundo o médico Antônio Branco Lefèvre, que atendia ao escritor: “Quando cheguei à sua casa, ele já estava morto, com uma estranha expressão de serenidade na face”* (“Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia”, de Carmen Lúcia Azevedo et alt. São Paulo, Editora SENAC, 1997.)
Barão de Itapetininga, 93.
(Para o amador, difícil fotografar os prédios...)
2 comentários:
Belo texto e excelente trabalho de pesquisa!
Obrigada, amigo. Um passatempo agradável. Um grande abraço.
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