Eu não me canso do Centro de São Paulo.
O Largo do Paissandu, por exemplo, parece uma praça do interior, com os postes de ferro antigos. A igreja de
Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (1906) com o seu tom ocre
encontra-se numa das pontas da praça e na lateral está a estátua da Mãe Preta,
do artista Júlio Guerra (1912-2001). Na calçada em frente outro ponto de referência
de Sampa, palco de muitas histórias envolvendo acontecimentos políticos
importantes da cidade e do país e berço do “bauru”, tradicional sanduiche paulista. Durante a
Semana de Arte Moderna em 1922, a cidade ganhou um novo restaurante: o PONTO
CHIC no Largo do Paissandu. A casa atraiu os modernistas que se tornaram
assíduos frequentadores.
Na esteira dos artistas e intelectuais vieram os estudantes do Largo de
São Francisco. Em 1937 um deles, Casimiro Pinto Neto (1914-1983), natural de
Bauru, pediu ao garçom um sanduíche no pão francês, com fatias finas de
rosbife, rodelas de tomate e pepino em conserva e uma mistura de quatro queijos
fundidos (prato, estepe, gouda e suíço) em banho-maria. Foi um enorme sucesso e
popularizou-se com o apelido do criador que, naturalmente, era Bauru. Até hoje
o Ponto Chic tem em seu cardápio a receita original do bauru. Casimiro Pinto
Neto tornou-se jornalista e trabalhou na Rádio e TV Record.
A Chapelaria Paissandu é outra casa tradicional do Largo (88), na esquina
com a Rua Capitão Salomão, que desce em direção ao Vale do Anhangabaú,
desembocando na Praça Pedro Lessa (mais conhecida como Praça do Correio). O
largo é endereço ainda de casas de comida árabe e uma pastelaria.
Na esquina do Largo com a Rua Abelardo Pinto, encontram-se os prédios do
Cine Paissandu e do Piolin Palace Hotel, ambos em bom estado de conservação. O
espaço do antigo cinema mantém-se fechado. Vale a pena caminhar em direção à
Avenida Rio Branco para conhecer a Igreja Evangélica Luterana de São Paulo,
Paróquia Martin Luther, construída em 1908 em estilo neogótico. Ela foi
seriamente atingida pelo incêndio seguido de desabamento do prédio Wilton Paes
de Almeida.
A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no centro e à esquerda, no fundo, a Igreja Luterana de S. Paulo. |
Fotos: Hilda Prado Araújo.
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