segunda-feira, 18 de novembro de 2019

UMA PRAÇA DE MUITOS ESTILOS: REPÚBLICA.


Edifício São Nicolau.
Um dos meus caminhos usuais passa pela Praça da República. Um espaço verde com espelhos d’água que parece o lugar ideal para exibir variados estilos de arquitetura. O prédio em estilo eclético do antigo Colégio Caetano de Campos (1894) domina a paisagem. Projetado por Ramos de Azevedo e Francisco de Paula Souza, ali atualmente funciona a Secretaria Estadual de Educação. Atrás do colégio encontram-se os meus prédios preferidos na praça: SÃO NICOLAU, na esquina com a Rua Araújo; o INTERCAP no meio e o SÃO LUÍS, na esquina com a Avenida Ipiranga. 





O Edifício SÃO NICOLAU, projetado pelo engenheiro Fortunato Ciampolini em estilo art déco, tem dois apartamentos por andar com 134 m² (dois quartos e uma ampla sala com sacada e vista para a praça). Foi concluído em 1948. Vale a pena parar e erguer o pescoço para admirá-lo. Praça da República, 123.


No meio, está o INTERCAP, um nome que engana, pois dá impressão de que se trata de um prédio comercial, já que INTERCAP era um banco de títulos de capitalização da família Mendes Caldeira, criadora também da Bolsa de Imóveis de São Paulo. Eles encomendaram o projeto do edifício ao polonês Luciano Korngold (1897-1963) e bancaram a obra que foi concluída em 1951. Praça da República, 107. 
Chegamos ao Edifício SÃO LUÍS. O projeto em estilo neoclássico, assinado por Jacques Pilon (como ele trabalhou!), é da década de 1940. São 22 apartamentos com lareira e área variando de 145 a 245 m². Um detalhe: os banheiros são revestidos de mármore italiano. Uma curiosidade: o prédio tinha até abrigo antiaéreo que foi transformado em caixa d’água. Um dos moradores foi o banqueiro e empresário imobiliário Otávio Frias de Oliveira (mais tarde um dos sócios do Grupo Folha). O edifício é tombado. Praça da República,77. 

Entre as ruas Araujo e Marquês de Itu, um monstrengo de 22 andares parece querer abraçar a Praça da República. Trata-se do EDIFÍCIO EIFFEL, inaugurado em 1956; foi o primeiro projeto de moradias de luxo de Oscar Niemeyer para São Paulo, com colaboração de Carlos Lemos. Explicam-me que o prédio tem um formato de livro semiaberto, mas não consigo enxergar essa imagem. O prédio tinha algumas inovações para a época, como apartamentos duplex, com entrada pelo andar superior onde ficam sala e cozinha e no piso inferior, os quartos. Não duvido que seja muito confortável, mas bonito externamente não é. Pelo menos para mim. Dizem que Niemeyer também não gostou do resultado e até quis repudiar a criatura, mas... 
O Edifício SÃO THOMAZ de linhas neoclássicas foi construído na primeira metade da década de 1940 e não segue o alinhamento comum: está voltado para a Praça, com os fundos para a Avenida São Luís. Além da beleza, a posição o faz distinguir-se entre os vizinhos ‒ os edifícios Itália e Esther. O projeto é de Wilson Maia Fina.
E por falar no EDIFÍCIO ESTHER... O prédio foi projetado pelos arquitetos Álvaro Vital Brasil (1909-1997) e Ademar Marinho (1909-?) para ser o novo escritório da Usina de Açúcar Esther (Cosmópolis/SP) do empresário Paulo de Almeida Nogueira, mas dispondo também de unidades comerciais e residenciais. Concluído em 1938, agradou muito a Mário de Andrade e não poderia ser diferente já que o Esther era o primeiro prédio moderno da pauliceia. Enquanto a cobertura mantinha o “Jardim de Rosas”, o subsolo estava mais para mariposas, que adejavam na boate Oásis. A novidade atraiu os de sempre ‒ artistas e intelectuais, mas principalmente pessoas com dinheiro. O Instituto dos Arquitetos tinha escritório no Esther, assim como o arquiteto Rino Levi (1901-1965); o pintor Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) morou lá e o cronista social Marcelino de Carvalho (1905-1978) viveu no apartamento da cobertura. O prédio entrou em decadência a partir da década de 1970. É tombado pelo CONDEPHAAT. Recentemente, despertou interesse de um grupo francês que abriu um restaurante na cobertura, enquanto na loja funciona o “Mundo Pão de Olivier” (Anquier).      .
A partir da direita os edifícios Esther, São Thomaz e o Itália (este é outra história).
Há dois prédios bem interessantes na praça, ambos projetados por Jacques Pilon. Um deles é o EDIFÍCIO CHRYSLER (1948/1949) de treze pavimentos com acabamento em pastilha cerâmica. Ele ocupa toda a Rua Joaquim Gustavo entre a Praça da República e a Rua Aurora. República, 497. O outro é o SANTA MÔNICA (1947/1950), homônimo do edifício do Anhangabaú, é um prédio de escritórios. República, 162.
Moderno é um termo bem genérico, significa atual, contemporâneo. Nada mais contemporâneo que o prédio do Banespa (Santander) na esquina com a Rua Marquês de Itu. Década de 1980, projeto de Carlos Bratke (1942-2017).

A era do vidro. Prédio do Banespa (Santander), anos de 1980. arquiteto Carlos Bratke. Praça da República, 294.

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