LEMBRANÇAS
DO JORNAL DA USP – Uma das missões do Jornal da USP é
divulgar o trabalho de professores e pesquisadores das unidades, por meio de
entrevistas, reportagens artigos encaminhados espontaneamente pelos membros da
comunidade acadêmica. Evidentemente, é necessário o uso de uma linguagem clara
de forma que todos entendam o que, por exemplo, físicos, filósofos ou
engenheiros entre tantos outros especialistas fazem. Tudo isso para eu contar
uma experiência bem estranha. Certa ocasião um pesquisador enviou um artigo
para publicação absolutamente incompreensível para leigos. Alguns cientistas
têm dificuldade de explicar para o leigo os avanços da ciência e da tecnologia sem
se apoiar em uma linguagem científica/tecnológica e minha tarefa era fazer uma
entrevista sobre o trabalho que ele pretendia divulgar. Não me lembro da área
em que ele atuava, apenas que se parecia com o Dr. Silvana (vilão do Capitão
Marvel). Fui bem diplomática, porém, ele foi incisivo: “Está tudo no artigo”.
Com muito tato, expliquei que as pessoas leigas não entenderiam o conteúdo do
artigo, seria muito bom se... Ele me interrompeu com rispidez: “Nada tenho a
acrescentar.” Percebi que perdia tempo. Nunca gostei de voltar para a redação
de mãos abanando, mas naquele dia não teve jeito. A postura do pesquisador gerou
outra pauta, desta vez sobre a importância de traduzir a linguagem científica
para o público leigo, incluindo-o no universo do conhecimento. Esse é o papel
do jornalismo científico, que difere das publicações científicas (Lancet,
Science, Nature). E dar entrevistas era algo que professores como Isaias Raw (Instituto
Butantã), Crodowaldo Pavan (geneticista), Ivan Cunha Nascimento (físico),
Vicente Amato (médico), Walter Colli (químico), Carolina Bori (psicóloga),
Masayoshi Tsuchida (IAG) ou Francisco Landi (Poli) entre tantos outros faziam
com muita facilidade, tornando um assunto às vezes árido em algo muito
atrativo. Um ótimo exemplo são os cursos de extensão do Instituto de Astronomia
(IAG/USP) para a terceira idade cujas vagas são muito concorridas. A matéria do
JUSP foi citada pelo boletim da Associação Brasileira de Jornalismo Científico
(ABJC), que publicou algumas das entrevistas. Felizmente, encontrei poucos pesquisadores
como aquele. Espero que o artigo tenha sido publicado por algum periódico
científico.
Trabalhei no Jornal da USP entre 1989 e 1994, retornando em 1995/1996.
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