quinta-feira, 26 de maio de 2022

COISAS DO JORNALISMO

 

LEMBRANÇAS DO JORNAL DA USP – Uma das missões do Jornal da USP é divulgar o trabalho de professores e pesquisadores das unidades, por meio de entrevistas, reportagens artigos encaminhados espontaneamente pelos membros da comunidade acadêmica. Evidentemente, é necessário o uso de uma linguagem clara de forma que todos entendam o que, por exemplo, físicos, filósofos ou engenheiros entre tantos outros especialistas fazem. Tudo isso para eu contar uma experiência bem estranha. Certa ocasião um pesquisador enviou um artigo para publicação absolutamente incompreensível para leigos. Alguns cientistas têm dificuldade de explicar para o leigo os avanços da ciência e da tecnologia sem se apoiar em uma linguagem científica/tecnológica e minha tarefa era fazer uma entrevista sobre o trabalho que ele pretendia divulgar. Não me lembro da área em que ele atuava, apenas que se parecia com o Dr. Silvana (vilão do Capitão Marvel). Fui bem diplomática, porém, ele foi incisivo: “Está tudo no artigo”. Com muito tato, expliquei que as pessoas leigas não entenderiam o conteúdo do artigo, seria muito bom se... Ele me interrompeu com rispidez: “Nada tenho a acrescentar.” Percebi que perdia tempo. Nunca gostei de voltar para a redação de mãos abanando, mas naquele dia não teve jeito. A postura do pesquisador gerou outra pauta, desta vez sobre a importância de traduzir a linguagem científica para o público leigo, incluindo-o no universo do conhecimento. Esse é o papel do jornalismo científico, que difere das publicações científicas (Lancet, Science, Nature). E dar entrevistas era algo que professores como Isaias Raw (Instituto Butantã), Crodowaldo Pavan (geneticista), Ivan Cunha Nascimento (físico), Vicente Amato (médico), Walter Colli (químico), Carolina Bori (psicóloga), Masayoshi Tsuchida (IAG) ou Francisco Landi (Poli) entre tantos outros faziam com muita facilidade, tornando um assunto às vezes árido em algo muito atrativo. Um ótimo exemplo são os cursos de extensão do Instituto de Astronomia (IAG/USP) para a terceira idade cujas vagas são muito concorridas. A matéria do JUSP foi citada pelo boletim da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), que publicou algumas das entrevistas. Felizmente, encontrei poucos pesquisadores como aquele. Espero que o artigo tenha sido publicado por algum periódico científico.

Trabalhei no Jornal da USP entre 1989 e 1994, retornando em 1995/1996. 

Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira.


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