O sol está de volta. Agora as pessoas em vez de reclamar da chuva se queixam do calor. Uma senhora vem correndo em minha direção resmungando. Fico imaginando o motivo da pressa, mas não por muito tempo porque ao passar por mim sorri e diz que o sol está “pinicando” a pele. Ele está quente como deveria estar na manhã de um quinta-feira de verão. Lembro-me de Henfil que uma vez comentou que vivíamos época triste em que o sol se tornara remédio prescrito por médicos com direito a posologia ‒ adoro esta palavra. A dosagem varia de dez a vinte minutos por dia.
Um rapaz, encostado à porta de um prédio, carrega um cãozinho shih tzu que está fazendo um escândalo. Sem graça ele explica que é dia de o amigo tomar banho, coisa que ele não gosta. Mais adiante há uma barbearia decorada para parecer antiga (fake?). As duas cadeiras estão ocupadas e nelas os dois ou clientes miram-se satisfeitos no espelho que reflete os topetes coloridos que lhes dá um ar de aves-do-paraíso. Ah! A moda... Outro dia uma vendedora desesperada percebeu que eu olhara a vitrine e me convidou para entrar e ver as novidades. Agradeci. “Estou com pressa.” Na verdade, a vitrine só tinha calças jeans rasgadas e desfiadas. A mais velha que tenho parece nova perto dessas aberrações. Se a moda os faz feliz...
“Allons les enfants de la patrie!” Não, os dias de glória ainda não chegaram, mas eu cheguei à Rua Marselhesa. Uma rua pequena com pouco mais de quinhentos metros. Volto pela Rua Dr. Diogo de Faria. Ruas que têm nomes de pessoas deveriam ter na placa alguma informação sobre o homenageado, caso contrário, com o passar do tempo ele vira um anônimo. Diogo de Faria (1867-1927) foi um sanitarista fluminense, que atuou no combate à febre amarela em São Paulo e mais tarde trabalhou na Santa Casa de Misericórdia, onde sucedeu a Arnaldo Vieira de Carvalho; promoveu inúmeros melhoramentos no hospital. Foi também presidente da Academia de Medicina de São Paulo. Não sabia nada disso, fui procurar a informação.
São Paulo tem quase 50 mil ruas e se for falar sobre cada uma por onde passo... Hora de voltar. Então desço a Rua Santa Cruz até o riacho do Ipiranga (coitado), continuo pela Avenida Ricardo Jaffet (tão feiosa) até a estação Santos-Imigrantes. Ao contrário do Hagar, gosto de todos os dias da semana.
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