quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

GUARDA-CHUVAS


Eu detesto guarda-chuvas. Claro que são fundamentais em dias chuvosos. Um estorvo naqueles dias (como hoje) em que nuvens ameaçadoras prometem água a qualquer momento e temos que carregá-lo para lá e para cá até esquecê-lo em algum lugar. Felizmente, os chineses tornaram-no um produto tão barato que pode ser adquirido em emergência em qualquer esquina do mundo. Sem qualidade, é verdade. Se tiver sorte pode ser que durem algumas tempestades. Tenho uma coleção, mas prefiro os tradicionais, mais duráveis e elegantes.        
Les Parapluies” (1881-86), de Pierre-Auguste Renoir. Acervo National Galery, Londress.


A sombrinha foi a precursora do guardachuva e surgiu na Mesopotâmia (Iraque) há cerca de 3.500 anos e era feita de plumas (que maravilha!), folhas de palmeira ou papiro. O invento ganhou popularidade e os egípcios a transformaram em objeto religioso, enquanto gregos e romanos consideravam-no um objeto feminino. Até o século XVIII, homens andavam na chuva. O inglês Jonas Hanway (1712-1786) teria sido o primeiro homem a usar um guarda-chuva, lançando a moda para o mundo masculino. No Japão o guarda-chuva (wagasa) surgiu um pouco antes do século X (via China) e era de uso exclusivo da família real. Era feito de papel (washi), barbante e bambu e uma camada de cera para impermeabilizar.

Lá pelos idos dos anos 1970, um dos frequentadores da redação do jornal era um rapaz de uns trinta e poucos anos que usava terno e gravatas impecáveis e portava sempre um indefectível guarda-chuva. Creio que queria parecer mais velho, mas o guarda-chuva... Acho que era leitor de um cronista paulistano, que dizia que o homem elegante devia levar sempre um guarda-chuva ‒ talvez substituindo a bengala que também teve seus momentos de enfeite e arma.  

        Ou ele teria sido um adepto da Filosofia dos guarda-chuvas, que o escritor escocês Robert Stevenson (1850-1894) elaborou com muito bom humor? Diz ele: “Uma insígnia da Legião de Honra ou uma penca de medalhas pode provar a coragem de uma pessoa; um título de nobreza pode provar sua origem; uma cátedra na universidade, seu estudo e seus dotes intelectuais, mas é o porte habitual do guarda-chuva que é a marca da responsabilidade. O guarda-chuva tornou-se referência reconhecida de posição social”.

        Stevenson imaginou dois grupos de pessoas que adotaram primeiros os guarda-chuvas. No grupo 1- o hipocondríaco ou o avarento, este preocupado com as roupas; no grupo 2- o dândi, o tolo e o pavão. Ter um guarda-chuva era também sinal de posses. “Não é qualquer um que pode expor um bem que vale vinte e seis xelins a tantos riscos de perdas e roubos. (...) Quem leva consigo um guarda-chuva ‒ estrutura complicada, feita de osso de baleia, seda e bambu ‒ é necessariamente um homem de paz. Uma bengala, que custa apenas meia coroa pode ser usada na cabeça de um ofensor, no caso duma provocação moderada, mas uma seda de vinte e seis  xelins é um bem precioso demais para ser depredado nos embates da guerra”. 

       O escritor cita um amigo consultado sobre o objeto: “Não há em meteorologia nada mais bem estabelecido ‒ na verdade é o único consenso entre os meteorologistas ‒ do que o fato de que sair à rua com um guarda-chuva produz a dissecação do ar; ao passo que, se for deixado em casa, o vapor aquoso é amplamente produzido e logo cai na forma de chuva”. Concordo plenamente. 

“No boulevard” (1895), de Jean-Ggeorges Beraud.

"Mulher com sombrinha", de Claude Monet (1840-1926).

Wagasa. 


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