segunda-feira, 29 de junho de 2020

MARIA ISABEL E SUZETTE

Ao ver a receita do bolo Maria Isabel, pescada de um livro do sociólogo Gilberto Freyre, um amigo disse que costumava consultar Dona Benta e a conversa rendeu a indicação de dois livros que trazem receitas culinárias: “Dona Flor e seus dois maridos” de Jorge Amado e “O cemitério de Praga”, de Umberto Eco. Li os dois, mas se me lembro das histórias, não registrei as receitas.

Não é por acaso que o preparo da comida desenvolveu a Arte Culinária, presente na História, na literatura, na pintura e no cinema com histórias saborosas (desculpem), sem contar que é uma ciência que tem a ver com química e física. Pode ser uma poção mágica para conquistar pessoas ou um veneno amargo que afugenta até os seres amados.

Quando se trata de arte culinária na literatura, me ocorre o escritor americano Rex Stout (1886-1975), criador do detetive Nero Wolf. O personagem surgiu em 1934 em “Serpente” (Companhia das Letras) e continuou em ação com o seu braço direito (e pernas) Archie Goodwin até meados dos anos sessenta. Nero Wolf é um gênio em sua atividade, mas tem duas qualidades que afetam sua disposição para o trabalho ‒ é um gourmet e apreciador de cerveja. Esses atributos levam ao terceiro personagem, Fritz Brenner, o criativo cozinheiro que vive no “velho sobrado de arenito castanho-avermelhado” de Wolf na Rua 35 em Nova York.

Nem se precisa dizer que Wolf é muuuuito gordo. Hora da refeição é sagrada; por uma boa carne é capaz de recorrer até a um gangster; Goodwin entre as muitas tarefas tem que sair em busca de ingredientes especiais para um novo prato; misógino convicto fica encantado quando descobre uma mulher que sabe os segredos de um prato difícil...

Enfim, Stout inclui em todas as histórias vários pratos preparados sob a supervisão de Nero Wolf. Nas edições americanas de seus livros às vezes são publicadas algumas receitas criadas pelo detetive e seu cozinheiro. O crepe Suzette, por exemplo, faz parte do livro “Might as well be dead” (Bantan Books).

Sou fã de Stout. Não só porque ele tem ótimas histórias, mas porque descreve Manhattan de uma forma encantadora, suas ruas, seus prédios e casas. Evidentemente, quase tudo mudou desde meados do século passado, mas o charme daquela época persiste de alguma forma.

    Ah! Nero Wolf tem outra paixão além da comida e cerveja: orquídeas.

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