sábado, 6 de junho de 2020

LIVROS PARA RELER SEMPRE


Desafios inteligentes no Facebook são sempre bem-vindos. Assim, em pleno isolamento social, me pedem uma lista de oito livros que amei. Um desafio e tanto, já que passei boa parte dos quase 75 anos lendo. Lendo sem receios, sem preconceito, sem pressa. Li tanto a Bíblia e o Corão como o Marquês de Sade e Santo Agostinho; leio livros de filosofia e arte, física e arqueologia... Há alguns anos tenho me concentrado em História. Todo livro, por pior que seja sempre tem um ensinamento: os ruins nos incentivam a buscar os bons livros. Assim, foi difícil escolher oito livros que amo.
A MONTANHA MÁGICA
Thomas Mann (1875-1955) é um dos meus escritores favoritos. Difícil escolher entre os seus livros. “A Montanha Mágica” (1924) tem como cenário um sanatório nos Alpes suíços para tratamento de pessoas tuberculosas. Ali, isolado da sociedade e em um ambiente em que morte tem presença contínua, o personagem tem tempo para refletir e adquirir uma nova perspectiva da vida.

E O VENTO LEVOU:
Embora o filme seja ótimo, o livro é muito melhor. Margareth Mitchell (1900-1949) não criou uma simples história de amor em meio da guerra de secessão e a reconstrução do Sul dos Estados Unidos. Através do par cemtral central (Butler e Scarlet) ela retrata a chegada do capitalismo ao sul rural dos Estados Unidos de forma tão sutil, que os leitores se prendem mais ao amor impossível de Scarlet por Ashley, enquanto também põe a nu o moralismo hipócrita da sociedade idealizadora da KKK. Li o livro na adolescência e vi o filme muitos anos depois e, embora raramente goste de adaptações de livros para o cinema, este é um dos poucos de que gostei.

OS MAIS BELOS CONTOS DE FADAS FRANCESES
Creio que esse foi um dos primeiros livros de história da minha infância. O francês Charles Perrault (1628-1703) resolveu escrever as histórias infantis que há séculos eram contadas de geração em geração e acabou popularizando o folclore europeu em todo o mundo. As histórias da Cinderela, do Chapeuzinho Vermelho e da Bela Adormecida entre outras eram narradas com simplicidade, tinham um encanto especial e davam asas à imaginação infantil. Princesas, fadas, bruxas, príncipes povoavam castelos, casebres e florestas misteriosas com animais falantes ou com poderes mágicos... A série de livros de contos de fadas russos, ingleses e alemães tinha capa dura colorida.
OS TRÊS MOSQUETEIROS

Alexandre Dumas (1802-1870) foi um autor importante para a minha formação. Eu devia ter uns doze anos quando ganhei “Os três Mosqueteiros” da minha avó Maria. Até aquela época eu sonhava com a Grécia antiga que Monteiro Lobato me apresentara. Fiquei intrigada com os personagens de Dumas que eram tão próximos de um rei de verdade (Luis XIII) e de um ministro (Richelieu) e fui consultar a enciclopédia da minha tia para saber o que era verdade naquilo tudo. E foi assim que descobri a França. Logo depois ganhei as sequências do livro: “Vinte anos depois” e “O Visconde de Bragelone”. A minha última aventura com Dumas foi bem mais tarde com “O Colar da Rainha”, outra obra muito instigante.

A ILHA DO TESOURO
O escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894) escreveu a história em 1833. Fiquei encantada com as aventuras do menino. Já havia lido “Robinson Crusoé” (Defoe) e “A Ilha de Coral” (Robert Michael Ballantyne), mas foi Stevenson que me conquistou. Um texto dinâmico e uma história cheia de  surpresas. Vez por outra releio.



CRIME E CASTIGO 

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) publicou “Crime e Castigo” em 1866. Um livro extraordinário que narra a história de um jovem que acredita poder cometer um crime perfeito, considerando-se acima do bem e do mal, e conseguir os recursos para realizar boas ações. O assassino só não sabia que tinha uma consciência e o leitor acompanha fascinado as lutas psicológicas, morais e mesmo de fé com que o personagem se defronta. Reli recentemente.Excelente.


D. QUIXOTE
Miguel de Cervantes (1547-1616) “engendrou” sua obra-prima durante um isolamento forçado (presão) em 1597, mas a publicação da primeira parte de “D. Quixote” ocorreu em 1605 e a segunda, só em 1615. A história de Dom Quixote é apaixonante. Ele era um fidalgo solitário e, nos momentos de ócio “que eram os mais do ano”, devorava livros de aventuras heroicas de cavaleiros andantes muito em voga em seu tempo. A paixão por essas obras levou Dom Quixote a relaxar seus deveres e a vender pedaços da propriedade para comprar livros. “Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo.” E foi assim que saiu pelo mundo em busca de aventuras com Sancho Pança e se Rocinante.
SANTA EVITA
Eis um livro extraordinário. O argentino Tomás Eloy Martínez (1934-2010) começou a escrever a biografia de Eva Perón (1919-1952), a poderosa mulher do presidente Juan Domingo Perón (1895-1974) que, no curto período de tempo entre o casamento e a morte precoce, se tornou foi venerada pelo povo argentino. Entretanto, à medida que escrevia Martínez se viu diante de fatos, mitos, lendas que se entremeavam de tal sorte que ele percebeu que tinha material para uma história surrealista da própria Argentina. Em tempo: não tenho nenhuma simpatia por Eva Perón.

2 comentários:

Nilton Tuna disse...

O que achei muito interessante nesse desafio é que os livros não se repetiram. Partindo do princípio que os participantes comungam muitas afinidades, como costuma acontecer com filmes ou músicas, isso me surpreendeu. (Não vi todos os desafios de todo mundo, claro). Tentei fazer a minha lista e, além de não ter nenhuma coincidência, descobri que não tenho mais nenhum dos livros que me impressionaram no primeiro contacto, com exceção de Jorge Amado. E não me pergunte por quê. Beijos literários.

Hilda Araújo disse...

Olá, Nilton. Ao longo da vida muitos livros se perderam (emprestados ou em mudanças), mas guardei bem guardadas a coleção infantil de Monteiro Lobato e duas coleções de romances que ganhei de meu pai na adolescência (uma delas sobre grandes mulheres da história). Dos livros citados, daquela época, só E o vento levou. A Internet ajudou a recuperar capas antigas. Como vou continuar na brincadeira, gostaria que você participasse com sua lista. Curiosa. Abraço forte.