O chefe de
reportagem entregou a pauta um dia antes para que a dupla, repórter (eu) e
repórter fotográfico, se preparasse para fazer uma matéria no Parque Estadual Morro do Diabo, que fica um pouco além de onde o dito cujo perdeu as botas. Mais
precisamente a 687 km da Capital, em Teodoro Sampaio, Pontal do Paranapanema, no
extremo Oeste do Estado de São Paulo. Havia um carro reservado para a dupla
dinâmica.
Parque Estadual Morro do Diabo. |
Quatro dias para ir, fazer a reportagem e voltar. O parque tem 34 mil
hectares, abriga o maior remanescente de Mata Atlântica do Oeste paulista e é o
habitat natural do único primata
nativo de São Paulo, o mico-leão-preto.
No Parque, o que imaginávamos se
confirmou. Difícil encontrar o mico-leão-preto foi avisando o diretor. Quem
sabe? Passamos o primeiro dia ocupados, mas nem por isso alheios à beleza do
lugar. O funcionário tentou nos consolar informando que tínhamos que levantar
bem cedo no dia seguinte para ver um espetáculo único. Qual? ‒ perguntei
animada, pensando no mico-leão-preto.
‒ A revoada de borboletas!
Expliquei que o fotógrafo se encarregaria
de registrar o acontecimento, pois eu ficaria bem longe do local. Dito e feito.
Mais tarde fomos a um pequeno museu que exibe para fins educativos vários
exemplares empalhados da fauna local ‒ animais que foram atropelados e mortos
ou foram vítimas fatais de violência. Entrevistava o responsável pela mostra,
quando vi o fotógrafo acenando.
Entre as vítimas de atropelamento, havia
um mico-leão-preto, que ele não teve dúvida em pedir emprestado por algumas
horas, levar até um local adequado do parque e colocar gentilmente em uma
árvore para fotografar à vontade. Quando o dia terminou, tínhamos cumprido toda
nossa missão.
A foto fez um grande sucesso.
Felizmente, ninguém perguntou como o fotógrafo conseguira um resultado tão bom
com um animal tão inquieto quanto o mico-leão-preto. Tempos depois contamos a verdade.
Em tempo: vale a pena conhecer o Pontal,
Teodoro Sampaio e o Parque.
MEMÓRIA AMBIENTAL
É possível que
muita gente estranhe a presença de Jânio Quadros (1917-1992) na lista pessoas
que contribuíram com algum um legado ambiental para São Paulo. Esse político
polêmico, para dizer o mínimo, foi quem, por assim dizer, salvou as florestas
do Pontal do Paranapanema da devastação total. As florestas da região, na
primeira metade do século passado, vinham sendo derrubadas por posseiros e
grileiros, com a conivência de políticos da região e representantes no
legislativo paulista.
Quando os interessados acreditaram que iam conseguir erradicar todas as
reservas, Jânio Quadros assumiu o governo do Estado (1955-1958) e surpreendeu a
todos determinando as medidas legais e administrativas que pouparam o que
restava da floresta local. Assim, salvaram-se as reservas estaduais Lagoa
São Paulo (Presidente Epitácio) e Pontal do Paranapanema (Rosana,
Presidente Epitácio, Euclides da Cunha, Teodoro Sampaio, Marabá Paulista e
Mirante do Paranapanema) e o Morro do Diabo (Teodoro Sampaio), que em 1988
tornou-se Parque Estadual*.
*O professor José Ferrari Leite escreveu o livro sobre A Ocupação do Pontal do Paranapanema.
Editora HUCITEC ‒ Fundação UNESP, 1998. A obra é um retrato fiel (e triste) de
políticos e lideranças brasileiros.
Foto: IPE - Instituto de Pesquisas Ecológicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário