sexta-feira, 5 de junho de 2020

ERA UMA VEZ UM MICO-LEÃO-PRETO...


O chefe de reportagem entregou a pauta um dia antes para que a dupla, repórter (eu) e repórter fotográfico, se preparasse para fazer uma matéria no Parque Estadual Morro do Diabo, que fica um pouco além de onde o dito cujo perdeu as botas. Mais precisamente a 687 km da Capital, em Teodoro Sampaio, Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste do Estado de São Paulo. Havia um carro reservado para a dupla dinâmica.
Parque Estadual Morro do Diabo.

Quatro dias para ir, fazer a reportagem e voltar. O parque tem 34 mil hectares, abriga o maior remanescente de Mata Atlântica do Oeste paulista e é o habitat natural do único primata nativo de São Paulo, o mico-leão-preto.
No Parque, o que imaginávamos se confirmou. Difícil encontrar o mico-leão-preto foi avisando o diretor. Quem sabe? Passamos o primeiro dia ocupados, mas nem por isso alheios à beleza do lugar. O funcionário tentou nos consolar informando que tínhamos que levantar bem cedo no dia seguinte para ver um espetáculo único. Qual? ‒ perguntei animada, pensando no mico-leão-preto.
‒ A revoada de borboletas!
        Expliquei que o fotógrafo se encarregaria de registrar o acontecimento, pois eu ficaria bem longe do local. Dito e feito. Mais tarde fomos a um pequeno museu que exibe para fins educativos vários exemplares empalhados da fauna local ‒ animais que foram atropelados e mortos ou foram vítimas fatais de violência. Entrevistava o responsável pela mostra, quando vi o fotógrafo acenando.
        Entre as vítimas de atropelamento, havia um mico-leão-preto, que ele não teve dúvida em pedir emprestado por algumas horas, levar até um local adequado do parque e colocar gentilmente em uma árvore para fotografar à vontade. Quando o dia terminou, tínhamos cumprido toda nossa missão.
        A foto fez um grande sucesso. Felizmente, ninguém perguntou como o fotógrafo conseguira um resultado tão bom com um animal tão inquieto quanto o mico-leão-preto. Tempos depois contamos a verdade.
        Em tempo: vale a pena conhecer o Pontal, Teodoro Sampaio e o Parque.

MEMÓRIA AMBIENTAL

É possível que muita gente estranhe a presença de Jânio Quadros (1917-1992) na lista pessoas que contribuíram com algum um legado ambiental para São Paulo. Esse político polêmico, para dizer o mínimo, foi quem, por assim dizer, salvou as florestas do Pontal do Paranapanema da devastação total. As florestas da região, na primeira metade do século passado, vinham sendo derrubadas por posseiros e grileiros, com a conivência de políticos da região e representantes no legislativo paulista.
Quando os interessados acreditaram que iam conseguir erradicar todas as reservas, Jânio Quadros assumiu o governo do Estado (1955-1958) e surpreendeu a todos determinando as medidas legais e administrativas que pouparam o que restava da floresta local. Assim, salvaram-se as reservas estaduais Lagoa São Paulo (Presidente Epitácio) e Pontal do Paranapanema (Rosana, Presidente Epitácio, Euclides da Cunha, Teodoro Sampaio, Marabá Paulista e Mirante do Paranapanema) e o Morro do Diabo (Teodoro Sampaio), que em 1988 tornou-se Parque Estadual*.

*O professor José Ferrari Leite escreveu o livro sobre A Ocupação do Pontal do Paranapanema. Editora HUCITEC ‒ Fundação UNESP, 1998. A obra é um retrato fiel (e triste) de políticos e lideranças brasileiros.

Foto: IPE - Instituto de Pesquisas Ecológicas.

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