INÊS DE
CASTRO
D.
Pedro I (1320-1367) ainda era herdeiro da coroa portuguesa, quando se casou de
acordo com os interesses de Estado com D. Constança Manuel; entretanto, o
príncipe se apaixonou pela aia da mulher, Dª. Inês de Castro (1320-1355) que era
filha do mordomo-mor do rei D. Afonso XI de Castela, um dos fidalgos mais
poderosos do reino.
O
romance foi muito mal visto pela família e pela população e, especialmente, pelos
círculos diplomáticos. Em nome dada moralidade, D. Afonso decretou o exílio de
Inês em 1344, enviando-a para o Castelo de Albuquerque, na fronteira
castelhana, onde a jovem tinha sido criada por uma tia. No entanto, a distância
não destruiu o amor entre Pedro e Inês, que mantiveram correspondência.
Em
outubro do ano seguinte Dª. Constança morreu ao dar à luz o futuro rei D.
Fernando I. Agora viúvo, D. Pedro, contra a vontade do pai, mandou Inês
regressar do exílio e os dois passaram a viver juntos, provocando grande
escândalo na corte para enorme desgosto do rei, que tentou casá-lo de novo. O
filho rejeitou a ideia alegando que ainda sentia muito a perda da esposa.
Pedro
e Inês tiveram quatro filhos: Afonso, que morreu logo após o nascimento, João,
Dinis e Beatriz. As intrigas se alastraram e na corte corria o boato de que os
irmãos de Inês planejavam matar o herdeiro legítimo do trono para garantir a
coroa ao filho mais velho do dos amantes.
Pedro
e Inês haviam mudado do norte de Portugal para Coimbra e moravam no Paço de
Santa Clara, construído pela Rainha Santa Isabel para uso exclusivo de reis e
príncipes com suas legitimas esposas. Um novo boato referia-se ao possível
casamento secreto de Inês e Pedro.
Pressionado
pela corte, o rei D. Afonso IV decidiu que a melhor solução seria matar a dama
galega. Na tentativa de saber a verdade, o Rei ordenou a dois conselheiros que
dissessem a D. Pedro que ele podia se casar livremente com D. Inês, se assim o
pretendesse. D. Pedro percebeu que se tratava de uma cilada e respondeu que não
pensava casar-se nunca com Inês.
A
7 de janeiro de 1355 o rei cedeu às pressões dos seus conselheiros e
aproveitando a ausência de D. Pedro, numa excursão de caça, providenciou a
execução de Inês de Castro em Santa Clara, conforme fora decidido em conselho.
Segundo
a lenda, as lágrimas derramadas no rio Mondego pela
morte de Inês teriam criado a Fonte das Lágrimas da Quinta das Lágrimas e
algumas algas avermelhadas que ali crescem seriam o seu sangue derramado. O
assassinato provocou uma crise entre pai e filho.
Com
a morte de D. Afonso D. Pedro tornou-se o oitavo rei de Portugal, recebendo o
título de D. Pedro I em 1357. Em 1360 legitimou os filhos ao afirmar que havia
se casado secretamente com Inês em 1354 em Bragança “em dia que não se
lembrava”. A palavra do rei, do seu capelão e
de um seu criado foram as provas necessárias para legalizar esse casamento. Em
seguida perseguiu os assassinos de D. Inês, que tinham fugido para o Reino de
Castela.
Dois
foram apanhados e executados em Santarém (segundo a
lenda o rei mandou arrancar o coração de
um pelo peito e o do outro pelas costas, assistindo à execução enquanto se
banqueteava, o que é confirmado por Fernão Lopes, com a ressalva de que o
carrasco o teria dissuadido da ideia pela dificuldade encontrada nesta forma de
execução). O terceiro conseguiu escapar para a França e,
posteriormente, seria perdoado pelo Rei no seu leito de morte.
A tétrica cerimônia da coroação e do
beija-mão à Rainha D. Inês, já morta, que D. Pedro pretensamente teria imposto
à sua corte e que se tornaria numa das cenas mais vívidas no imaginário
popular, teria sido inserida pela primeira vez nas narrativas espanholas do
final do XVI.
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Túmulo de Inês. Imagem Wikipedia. |
D.
Pedro I mandou construir dois esplêndidos túmulos no mosteiro
de Alcobaça: um para a amada Inês cujo corpo trasladou para lá em
1361 e outro para ele, que se juntou a ela em 1367. Ao
longo dos séculos mudaram algumas vezes os túmulos de lugar. Na década de oitenta
do século XVIII, os túmulos foram levados para o recém-construído panteão real,
onde foram colocados frente a frente, surgindo a lenda de que assim “possam
olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do juízo final”.
Episódio de Dona Inês de Castro
(Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135)
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.