quinta-feira, 31 de julho de 2025

BONS DE CONVERSA

 

Eu já disse e repito. Admiro muito pessoas que estão sempre dispostas conversar não importa quem seja o ouvinte (ou ouvintes). Elas sabem como iniciar a prosa e mesmo que você não tenha a mesma habilidade, isso não as intimida. Ao longo desses anos tenho encontrado muitas dessas pessoas que se sentam ao meu lado na condução e logo estão me contando suas vidas. Nem preciso pesquisar para dizer que ônibus e pontos de ônibus são onde as encontro mais; depois esquinas onde aguardo para atravessar ruas e seguem as salas de espera.  

Foi num ponto de ônibus na Avenida Ricardo Jafet, que encontrei Francisca. Eu pretendia esperar o Jardim Saúde - Parque D. Pedro II, que deve fazer a mesma rota do cometa Halley. Estava disposta a esperar uns dez minutos e se ele não aparecesse, minha opção era o metrô. Quando cheguei ao ponto um senhor estava perguntando a uma senhora baixinha, cerca de cinquenta anos, pelo tal ônibus e comentei que ele costumava demorar muito.  Ela disse que ele iria passar em cinco minutos, pois era o horário que costumava sair do emprego. Fiquei mais animada e, como teria que voltar na semana seguinte, memorizei o horário. Dito e feito. Uns dez minutos depois surgiu o difícil.

Quando retornei dias depois, estava pensando na vida quando a senhora apareceu, conversou com a moça que, por falta de um banco, sentara no meio-fio, mas logo foi premiada com a chegada do ônibus. A senhora me reconheceu, se aproximou e iniciou a conversa. Nos cinco ou dez minutos de espera, soube que se chama Fran, trabalha nas imediações, sai sempre naquele horário para pegar a netinha na escola e de quebra ainda me recitou todos os horários do Jardim Saúde. O ônibus apareceu. Ela subiu, foi saudada festivamente pela tripulação, se aboletou no banco da rainha –nome que dei ao banco da frente que fica no topo de dois degraus – e começou uma longa conversa bem humorada com motorista e cobrador. Eu a encontrei outras vezes e ela no meio de uma das histórias comentou que pelo menos o nome ela sabe assinar.  Não resisti e a incentivei a fazer um curso de alfabetização. Toda sorridente me disse que faz parte dos planos dela.

Fran é uma daquelas pessoas que enfrenta as dificuldades da vida sem lamúrias e distribui simpatia por onde passa.   

sábado, 19 de julho de 2025

DIA NACIONAL DO FUTEBOL

Dia Nacional do Futebol: 19 de julho. A data escolhida refere-se à fundação do Sport Club Rio Grande, da cidade de Rio Grande (RS), há 125 anos. O “Vovô”, como é chamado, continua firme e forte em ação.

    Com todo respeito ao “Vovô”, eu prefiro homenagear nesse dia a Seleção Brasileira de Futebol que venceu a Copa do Mundo em 29 de junho de 1958, na Suécia.

    Feola (técnico), Djalma Santos, Zito, Belini, Nilton Santos, Orçando, Gilmar, Garrincha, Didi, PELÉ, Vavá e Zagalo. 

   Fizeram também parte da seleção: Castilho, De Sordi, Oreco, Moacir, Joel, Dida, Mazzola (86 anos), Moacir (89) e Pepe (90 anos) e Dino Sani (93 anos).

    E lá se foram 67 anos ...

segunda-feira, 14 de julho de 2025

JÚLIO CÉSAR

Semana passada circulando na livraria da Unesp vi e comprei “Júlio César”, de Shakespeare (1564-1616). Nos anos de 1980, quando ainda existia o vendedor de livros e enciclopédias, que visitava residências, escritórios, redações e escolas com clássicos da literatura mundial, comprei dois livros com as principais tragédias e comédias de Shakespeare, onde infelizmente faltaram algumas obras como “Henrique V” e “Júlio César”. “Henrique V” comprei logo depois, mas Júlio César lamentavelmente ficou esquecido.  Li a peça no mesmo dia. Atemporal como são os clássicos, a obra provoca reflexões sobre o homem, o poder, a ambição e a inveja, o amor e a morte. 

Procurei mais informações sobre os eventos que levaram ao assassinato de César e notei que ele nasceu no dia 13 do mês que os romanos chamavam de “Quintilis”, quinto mês do calendário romano, que começava em março. Em 44 a. C., ano em que ocorreu o assassinato de César, o Senado Romano o homenageou trocando a denominação de mês de seu nascimento para Júlio, daí Julho em Português. Estava pensando em escrever algo sobre a peça e sobre César, quando abri o site do CINEMA LIVRE e vi que uma das novidades era exatamente o filme “Júlio César” (1953), de Joseph L. Mankiewicz (1909-1993), autor do roteiro que manteve fiel ao texto original.

Que coincidência! E no elenco James Mason (Brutus), John Gielgud (Cássio) e o jovem Marlon Brando (Marco Antônio). O filme, indicado para cinco categorias, ganhou o Oscar de 1954 na categoria de Melhor Direção de Arte em Preto e Branco e Marlon Brando foi indicado na categoria de Melhor Ator. Assisti ontem ao filme. Um espetáculo imperdível. Marlon Branco não fica a dever nada ao desempenho de James Mason, um ator inglês shakespeariano, e a cena de seu discurso diante do corpo de César é impecável.

No filme, entretanto, há um anacronismo.  O ano é 44 antes de Cristo: um personagem tira da toga um códice que folheia e depois o guarda. Naquela época os romanos escreviam em pergaminho que eram enrolados e guardados em tubos. Foi no início da era cristã, século I d. C., que surgiram os códices que consistiam no resumo do conteúdo dos rolos feito em folhas costuradas, o que permitia o manuseio e o transporte mais fácil. Posteriormente, no filme, Marco Antônio tira da túnica o testamento de César escrito em um pergaminho como era usual na época.

            Meu interesse por Caio Julius Caesar (100 a.C-44 a. C.) é antigo, pois como jornalista não poderia ignorá-lo: ele foi o criador das famosas Acta Diurna Populi Romani ou Acta Publica, que publicava diariamente as atas do Senado, éditos, discursos dos tribunos e as ocorrências de interesse público da República – casamentos, óbitos, acontecimentos militares, falências, espetáculos e banquetes (coluna social?). Isso em 69 a.C. As informações eram escritas em tábua branca, denominada álbum e afixadas nos muros das cidades.

A Acta Diurna Populi Romani ou Acta Publica circulou até a queda do Império Romano que ocorreu em 476 d. C.



Marlon Brando na cena do discurso em louvor a César, que jaz a seus pés.


sábado, 12 de julho de 2025

AS COSTUREIRAS


Não sei qual superlativo dar à arte do compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959). E quem desejar conhecer a grandiosidade dele pode visitar o Villa-Lobos Chanel, sem fins comerciais, ele é dedicado exclusivamente para divulgação da obra do compositor.

Foi lá que conheci “As Costureiras”, interpretado por um coral feminino de Trondheim, cidade norueguesa.

AS COSTUREIRAS
Música e letra Heitor Villa-Lobos.

Com alma a chorar!
Alegre a sorrir!
Cantando os seus males!
As costureiras, somos nesta vida!
Até amores unimos à linha,
Nós trabalhamos sempre alegres na lida!
Como alguém que adivinha,
O belo futuro que nos vai a sorrir!

Cose, cose, cose a costureira,
Cose a manga, a blusa, a saia,
Cose com interesse e mostra-te faceira,
Bem faceira a quem provares o ponteado,
O alinhavado, o costurado, o chuleado, o pregueado.


https://www.youtube.com/watch?v=RW6iU2m-2v4 
Trondheim Women Student Choir.



"As costureiras" (1950), Tarsila do Amaral (1886-1973).




sábado, 5 de julho de 2025

VIVA GABRIEL

Ah! O sol está de volta e o dia bem agradável, o que me levou à Vila Prudente para localizar um lugar onde terei de ir segunda-feira cedo. Para evitar problemas, fui “passear” por lá. A estação do metrô já é velha conhecida. Uma funcionária explica o caminho e diz que são apenas cinco minutos de caminhada. Lá fora, as coisas se complicam. Peço informações a três pessoas – nenhuma é do bairro. Já ia para um terminal de ônibus, quando vi o rapaz com uma sacolinha de comida. Resolvi tentar. 

– Bom dia. Você mora por aqui?

– Mais ou menos...

    Mais ou menos? Quem mora mais ou menos? Expliquei onde eu ia e ele logo ajeitou o celular, começou a pesquisar e localizou o endereço.

– Vamos atravessar a rua aqui porque é naquela direção – apontou a transversal.

Agradeci e já ia me despedindo, mas ele fez questão de me acompanhar. Perguntou meu nome e me vi na obrigação de perguntar o dele – Gabriel. Gabriel é uma simpatia. Deve ter uns 22 ou 23 anos. Expliquei que não conhecia a região, morava na Vila Mariana – estação que ele disse conhecer bem pois faz conexão do metrô com o ônibus para ir trabalhar. Ele presta consultoria em segurança (?). A rua vira uma ladeira íngreme que enfrento bravamente (treino todos os dias nas ladeiras da Aclimação, bem mais suaves). Então chegamos, agradeço muito a gentileza e desejamos boa sorte um para o outro.

Na volta, resolvi conhecer uma igreja que vi numa travessa e por isso cheguei à Praça Padre Damião Kleverkamp, pequena e agradável. A Igreja de Santo Emídio foi inaugurada em 1948. Santo Emídio (179 d. C.-309 d. C.) foi um bispo cristão, a quem se atribuem muitos milagres. Ele é o santo protetor dos terremotos, enchentes e chuvas intensas. Fora os terremotos, está no lugar certo. Damião Kleverkamp foi o primeiro pároco da igreja São Emídio. 

Na hora da foto, chegou o fusquinha ... Fazer o quê?

A preguiça fez com que eu descobrisse um suave caminho para retornar à estação do Metrô – quase plano! Detesto esses aplicativos que "indicam" caminho, mas sem Gabriel não teria chegado ao meu destino.