terça-feira, 26 de julho de 2022

DELÍCIAS DO JORNALISMO

Nos anos de 1980 trabalhei alguns meses em uma agência publicitária, onde fazia assessoria de imprensa de alguns clientes. Um dia o dono da empresa me chamou para dizer que havia um empresário investindo na popularização de um produto alimentício pouco consumido no país. “E o que seria? – perguntei. “Escargot!” Argh! Não fiquei nem um pouco entusiasmada com a novidade. Afinal, nem tudo que o francês ama, é apreciado por outros povos. Nem precisa ir tão longe: os paulistas comiam (e ainda comem em algumas cidades) saúva e nem por isso eu provaria a iguaria. Enfim, fui ao escritório do empresário, ouvi toda a história e comecei o trabalho. Ao contrário de todos que contratam assessores de imprensa e querem resultados para ontem, aquele não tinha pressa. Nas reuniões no escritório, sempre observava algum caracol passeando pela parede ou se arrastando por um móvel. Sempre preferi fingir que não via. Numa das últimas reuniões, aconteceu o que eu mais temia: “Faço questão que você prove essa delícia!” – disse ele todo sorridente, quando uma assistente entrou na sala levando uma bandeja com torradas e patê. Momentos de agonia.

Tempos atrás assistia a um episódio da série Havaí 5-0 em que os dois protagonistas conversavam na cozinha enquanto um deles preparava o café da manhã. Para minha surpresa, o personagem de Alex O’Loughlin coloca manteiga no café para horror do amigo (Scott Caan), que faz um discurso acalorado sobre a insensatez. A minha surpresa, entretanto, tinha outro motivo. Nos anos de 1970, durante uma entrevista com a vereadora de Santos Graciana Miguel Fernandes, ela me serviu um café com manteiga para meu espanto. Não fiz nada semelhante ao personagem da série que, aliás não se impressionou com os benefícios da mistura que eu nem registrei, mas Graciana me garantiu que aquilo era muito bom (?). Eu? Eu adoro um expresso sem açúcar.

Os gostos diferem de uma pessoa para outra. O que é delicioso para um pode ser execrável para outro. O que é atraente para alguém pode ser repelente para outra pessoa.


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