domingo, 26 de maio de 2024

DOMINGO CHUVOSO

 

Domingo com chuva e frio. Uma tarde para remexer em baús e livros amenos como os de Andrea Camilleri (1925-2019), escritor e diretor de teatro siciliano, que fez um grande sucesso, principalmente, por causa do comissário Salvo Montalbano, personagem de seus romances policiais. Do baú, algumas fotos da Sicília – aquela ilha na ponta da bota italiana – por onde andei no final do século passado. O cenário das histórias de Camilleri é fictício, mas a comida que Montalbano saboreia entre uma investigação e outra é bem típica da região e dá água na boca.

         As fotos da Sicília vão desbotando, mas não as lembranças que incluem as viagens de trem a Messina e Siracusa a partir de Catania. Recuperei duas fotos da Catania: da Fontana dell'Elefante na praça do Domo e a Porta Garibaldi, Em tempo: embora não haja um registro oficial da origem do elefante na cidade, ele é o símbolo da Catania. Quanto à porta (ou arco) ela foi construída em 1768, quando se chamou Ferdinandea, e só bem mais tarde passou a ser denominada Garibaldi.





terça-feira, 21 de maio de 2024

CONTRABANDO


Os alfandegueiros de Santos

Examinaram minhas malas

Minhas roupas

Mas se esqueceram de ver

Que eu trazia no coração

Uma saudade feliz

De Paris


Oswald de Andrade: "Obras Completas", Vol. 7.

Paris, rio Sena. Outubro de 2006.
No original, o título é com letra minúscula.

domingo, 19 de maio de 2024

VIDAS EM COSTURA

 

“Vidas em Costura”, uma exposição muito boa que está na estação Clínicas do Metrô. Ela se compõe de relatos de pessoas que fizeram da costura um projeto de vida por motivos variados – o gosto pela moda, o prazer de costurar, a necessidade de sobreviver e a percepção de uma oportunidade de trabalho. Realização do Museu da Pessoa, com apoio do Instituto C&A. (A informação no site do metrô é de terminaria em fevereiro, mas eu vi no dia 10 de maio, mas há uma versão digital no mesmo site). Ah! Importante é que todos os entrevistados com esforço e empenho conseguiram vencer dificuldades e alcançar seus objetivos.

Abaixo os depoimentos de Luís da Lama e de Jum Nakao.




sexta-feira, 17 de maio de 2024

PASSEIOS EM SERVIÇO

“Atravessou a ponte Scalzi e entrou no labirinto de ruelas que levavam ao apartamento. Mesmo àquela hora, cruzou com poucos transeuntes, pois quase todos iam de barco à estação ou ao terminal de ônibus da Piazzale Roma. Geralmente ficava de olho nas fachadas dos prédios, nas janelas altas, nas vielas, atento a qualquer coisa que porventura ainda não tivesse notado. Tal como boa parte dos seus conterrâneos, não se cansava de estudar a cidade, alegrando-se toda vez que topava com algo em que não havia reparado antes. Com o passar dos anos, criou um sistema que lhe permitia recompensar-se a cada descoberta: uma janela nova valia um café. A nova estátua de um santo, mesmo que pequeno, rendia um copo de vinho; e uma vez, anos antes, achara numa parede, pela qual passava cinco vezes por semana desde a infância, uma inscrição em pedra marcando a sede da editora Aldine, a mais antiga da Itália, fundada no século XIV. Na ocasião, simplesmente virou a esquina, entrou no primeiro bar do Campo San Luca e pediu um Brandy Alexander, embora fossem dez horas da manhã e o garçom o tivesse servido com cara de poucos amigos.”

Este andarilho é o comissário de polícia Guido Brunetti, um personagem criado pela escritora Donna Leon (1942), norte-americana radicada em Veneza – cenário de suas histórias policiais. Com Brunetti o leitor conhece um pouco dessa cidade situada sobre uma lagoa pantanosa, no caminho de casa ou de suas investigações. Gostei do sistema de recompensas... 

Veneza: "A Entrada ao Grande Canal", 1725. Tela de Canaletto (1697-1768).


quarta-feira, 8 de maio de 2024

BRÁS E MOOCA


Estou expandindo minhas andanças para a Zona Leste, que pouco conheço. Pode-se chegar lá por trem ou metrô. Outro dia desci na estação da CPTM do Brás onde descobri que era dia do Ferroviário e a banda dos funcionários preparava-se para um show no saguão, onde viam-se banners referentes à programação que marcará os 30 anos do Legado Ayrton Senna. Na parte externa da estação, mais novidades: o mural de 100 m² em homenagem a Senna de autoria do artista argentino Santiago Panichelli – aliás, não gostei.

Tentei caminhar pela avenida Rangel Pestana, tentei porque as calçadas ficam repletas de vendedores que espalham a mercadoria deixando um pequeno espaço para os pedestres. Há de tudo – meias, tênis, assessórios para celulares roupas entre outras coisas. Compradores? Não muitos. Os vendedores são de várias origens, – principalmente imigrantes de várias procedências – e estão “ligados” nos seus respectivos celulares. Passei pela Rua do Hipódromo, onde foi instalado, no século XIX, o Clube de Corridas Paulistano que mudou para a nova sede em Cidade Jardim em 1941 com o nome de Jockey Club de São Paulo. Ainda há vestígios do hipódromo.

A rua do Hipódromo vai até a rua Visconde de Parnaíba onde fica a estação Bresser-Mooca. O que chama minha atenção são trilhos, vestígios de um bonde que levava passageiros da estação ao Museu da Imigração desde 1998 até 2009, quando parou de circular. O bonde 38, montado pela empresa Hurst, Nelson and Company nos idos de 1912, era de Santos para onde voltou. Ele é propriedade da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária.

Uma placa identifica uma Casa de Véus. Uma casa só de véus? Não. Há várias casas que vendem apenas véus – não de noivas, mas aqueles curtos que as mulheres católicas usavam para confissão. Outra surpresa: na feirinha com algumas barracas, o produto principal é o véu. Vou conversar com uma das vendedoras e ela me informa sobre a igreja Congregação Cristã do Brasil na outra quadra.

A Visconde de Parnaíba, que é o endereço de algumas lojas de instrumentos musicais, exibe ainda bonitos e alegres murais da CPTM, assinados por Eduardo Kobra. O importante Museu da Imigração, no final da rua, fica para outro dia. (Fotos: Hilda Araújo.)