“Atravessou a
ponte Scalzi e entrou no labirinto de ruelas que levavam ao apartamento. Mesmo
àquela hora, cruzou com poucos transeuntes, pois quase todos iam de barco à
estação ou ao terminal de ônibus da Piazzale Roma. Geralmente ficava de olho
nas fachadas dos prédios, nas janelas altas, nas vielas, atento a qualquer
coisa que porventura ainda não tivesse notado. Tal como boa parte dos seus
conterrâneos, não se cansava de estudar a cidade, alegrando-se toda vez que
topava com algo em que não havia reparado antes. Com o passar dos anos, criou
um sistema que lhe permitia recompensar-se a cada descoberta: uma janela nova
valia um café. A nova estátua de um santo, mesmo que pequeno, rendia um copo de
vinho; e uma vez, anos antes, achara numa parede, pela qual passava cinco vezes
por semana desde a infância, uma inscrição em pedra marcando a sede da editora
Aldine, a mais antiga da Itália, fundada no século XIV. Na ocasião,
simplesmente virou a esquina, entrou no primeiro bar do Campo San Luca e pediu
um Brandy Alexander, embora fossem dez horas da manhã e o garçom o tivesse
servido com cara de poucos amigos.”
Este andarilho é o comissário de
polícia Guido Brunetti, um personagem criado pela escritora Donna Leon (1942),
norte-americana radicada em Veneza – cenário de suas histórias policiais. Com
Brunetti o leitor conhece um pouco dessa cidade situada sobre uma lagoa
pantanosa, no caminho de casa ou de suas investigações. Gostei do sistema de
recompensas...
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