Final de agosto com a cantora e compositora paulista Dalva de Oliveira (1917-1972), que fez um imenso sucesso na era de ouro da música brasileira. A vida pessoal, entretanto, foi marcada por relacionamentos conturbados que a tornaram vítima de um explícito e brutal preconceito; foi vítima de calúnias que faziam a festa da imprensa sensacionalista irresponsável da época. Entre os seus grandes sucessos destacam-se “Pedro, Antônio e João” (Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago, 1939); “Rancho da Praça Onze” (Chico Anysio e João Roberto Kelly, 1965); “Máscara Negra” (Pereira Matos e Zé Kéti, 1967) e “Bandeira Branca” (Laércio Alves e Max Nunes, 1970).
sábado, 31 de agosto de 2024
quarta-feira, 28 de agosto de 2024
FLOR DE CONCRETO
Apesar do frio, tenho feito meus passeios. Fui a Mirandópolis, um bairro onde as ruas têm nome de flores. Na avenida Jabaquara, perto da estação do metrô, encontro um vendedor de flores, converso rapidamente com ele, sigo até a rua das Rosas e desço em direção à avenida Rubem Berta. E assim passo por Heliotrópios, Azaléas, Crisântemos, Jacintos, Glicínias, Camélias, Narcisos, Jasmins e Violetas... Que triste! Só concreto. Nenhuma flor. Há apenas placas com as denominações. Numa cidade tão poluída, o perfume das flores poderia fazer diferença. Um bairro bonitinho e agradável. A rua das Rosas termina na Praça Santa Rita de Cássia. Na entrada da igreja dedicada à Rita de Cássia, vi os dez mandamentos enquadrados. Ia voltar por outro caminho, mas uma moradora me aconselha a retornar pela rua das Rosas.
sábado, 24 de agosto de 2024
A PODEROSA VERIDIANA
O palacete na esquina da rua Veridiana com Major Sertório.
Veridiana Valéria da Silva Prado (1825-1910)
com certeza não casou por amor e o casamento precoce por decisão paterna parece
que não causou traumas na garota de treze anos. Veridiana era filha do barão de
Iguape, o cafeicultor e político Antônio da Silva Prado, e de Maria Cândida de Moura
Leite. A família morava na rua Direita, onde hoje é a Praça do Patriarca. Após
o casamento com Martinho da Silva Prado, Veridiana e o marido mudaram para Mogi
Mirim*, onde compraram a fazenda Campo Alto e direcionaram os interesses da família
para o café.
O casal teve oito filhos – um não sobreviveu: Antônio da Silva
Prado (1840), Martinho da Silva Prado Júnior (1843) – depois Martinico, Ana
Blandina (1844), Anésia (1850), Antônio Caio da Silva Prado (1853) e Eduardo
Paulo da Silva Prado (1860). Em 1848 a
família voltou para São Paulo e instalou-se numa chácara ao lado da igreja da
Consolação. Aqui nasceram os três últimos filhos.
Após dez anos de casamento, os desentendimentos
entre Veridiana e Martinho aumentaram e em 1878 ela se separou do marido –
decisão tremenda para a época, mas o dinheiro sempre se sobrepõe a costumes. (A
mãe dela também havia se divorciado do primeiro marido.) Quatro anos depois,
ela arruma as malas e embarca para a Europa a fim de realizar seu sonho de
conhecer Paris e visitar a filha Blandina, que casara com um diplomata e vivia
na capital francesa. A estada na “cidade luz” a encantou. Na
volta, trouxe na bagagem a planta para construção de um palacete em estilo
renascentista na chácara que possuía na antiga rua Santa Cecília (atual Dona
Veridiana) cujo terreno seguia um pouco abaixo da rua Marquês de Itu, e do
outro lado estendia-se pela rua Pacaembu, atual av. Higienópolis, até as
proximidades da av. Angélica. Para a obra Veridiana contratou o engenheiro Luiz
Liberal Pinto que importou o material utilizado no.
A obra foi matéria do jornal O ESTADO DE S.
PAULO (25/05/1883), que informava seus leitores que o pintor Almeida Júnior
estava expondo em seu ateliê o trabalho encomendado por dona Veridiana para
ornamentar o teto de uma das câmaras de dormir: um medalhão com alegoria sobre o sono. “É um
trabalho magnífico. Uma belíssima mulher nua Enquanto esperava o final das obras
Veridiana voltou a Paris, de uma carnação esplêndida, sentada em uma cadeira de
estilo grego, que adormeceu ao doce som de uma pequena orquestra de querubins;
dir-se-ia uma serenata nas nuvens” – segundo o jornal.
Veridiana não era uma senhora fútil. Ela presidiu
a Sociedade Redentora para libertação dos escravos; participou de inúmeros
empreendimentos, inclusive, incentivando a agricultura (setor de seu interesse,
claro) e em várias indústrias. Foi a primeira mulher a ter e dirigir um jornal:
primeiro investiu no jornal do filho Eduardo Prado – “O Comércio de S. Paulo”, para
ajudá-lo e, quando ele faleceu, continuou à frente do periódico; em 1902,
Veridiana requereu na Junta Comercial o registro de uma nova marca para o periódico
que, posteriormente, vendeu a Francisco Glicério.
Em março de 1888, os vereadores mudaram o nome
da rua Santa Cecília para Dona Veridiana Prado. Veridiana morreu em 1910, deixando
parte de sua fortuna para a Santa Casa de São Paulo e outras obras
assistenciais. Seu corpo foi enterrado no Cemitério da Consolação.
Curiosidades – O marido de Veridiana era tio
dela, meio irmão do pai, tinha 27anos, fato que não era incomum para a época.
Maria Antônia da Silva Ramos era concunhada de Veridiana.
O palacete foi vendido para o São Paulo Athetic
Clube, que em 2007 foi incorporado pelo Iate Clube de Santos, fundado por Jorge
da Silva Prado, bisneto de Veridiana. O imóvel foi tombado em 2006/7 e o
tombamento inclui a área verde, um mural de Almeida Jr. e uma escultura de
Brecheret.
Ilustração: D. Veridiana, pintura de Carlo de Servi, acervo Museu Paulista da USP.
quinta-feira, 22 de agosto de 2024
MARIA ANTÔNIA
Ali, na confluência dos bairros da Consolação e
Higienópolis, viveram algumas das mulheres mais importantes de São Paulo. Foram
ricas e influentes, algumas à frente do seu tempo, e deixaram um legado
histórico para a cidade.
Maria Antônia e Mariano tiveram dois filhos,
Firmino e Ernesto. Firmino morreu ainda criança e logo depois faleceu Mariano. O
que levou o barão de Antonina a se tornar tutor de Ernesto. Maria Antônia morava
na chácara situada entre as atuais ruas da Consolação, Dona Veridiana, Major
Sertório e Maria Antônia. Em 1874, Maria Antônia vendeu uma parte da
propriedade para o reverendo Chamberlain para a construção da Escola Americana,
atual Mackenzie. Frequentadora da Igreja de Santa Ifigênia, ela acaba se aproximando da Igreja Presbiteriana de São Paulo, dirigida
pelo reverendo George Whitehill Chamberlain, até finalmente a conversão e o batismo em 1878.
Ela
foi uma das maiores pagadoras de impostos sobre propriedade da cidade; em 1855,
tornou-se acionista do Banco Hipotecário de São Paulo, uma sociedade formada na
época por 93 homens e apenas quatro mulheres: Luiza Eufrásia Quartin de Paiva, Maria
Cândida de Moura Leite, a Baronesa de Iguape, Policena Rosa de Jesus e
Maria Antônia. Ela também foi acionista da Companhia Paulista de Estradas de
Ferro.
Em 2 de abril de 1884, de acordo com a Prefeitura,
o logradouro já aparece nas Atas da Câmara Municipal identificado como “Rua de
D. Maria Antonia”, que foi uma das primeiras a formar o bairro que mais tarde se
tornou Vila Buarque, hoje pertencente ao Distrito da Consolação. E em 1886 a
rua aparecia como endereço da Escola Americana. Maria Antônia morreu em 1906 e
seu corpo foi enterrado no Cemitério da Consolação.
Ernesto Mariano da Silva Ramos, filho de Maria
Antônia, foi casado com Maria Amália Rudge, iniciando a família Rudge Ramos;
ele exerceu o cargo de presidente da Câmara Municipal de São Paulo entre 1873 e
1877.
sábado, 17 de agosto de 2024
MOSTRA SOBRE MANDELA
Ainda há tempo para ver a mostra “Nelson Mandela, ícone mundial da reconciliação”, em cartaz até o dia 30 de agosto no Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro,1000). As visitas são gratuitas e podem ser feitas de terça à sexta-feira das 10 às 20 horas e aos domingos das 10h às 18h. A mostra procura mostrar aspectos pouco conhecidos do líder sul-africano Mandela (1918-2013) que dedicou sua vida à luta pela igualdade de direitos humanos e contra o regime de segregação racial da África do Sul, o que o levou à prisão por 27 anos. Mandela foi libertado em 1990 após uma campanha internacional, em 1993 recebeu o Prêmio Nobel da Paz e em 1994 foi eleito presidente. O A Organização das Nações Unidas criou Dia Internacional Nelson Mandela, 18 de julho, para promover a ideia de que cada pessoa tem o poder de transformar o mundo e fazer a diferença, segundo o curador da mostra Christopher Till. Entrada gratuita.
terça-feira, 13 de agosto de 2024
BOM DIA, PINGUIM!
Bom dia, pinguim.
Onde vai assim
Com ar apressado?
Eu não sou malvado.
Não fique assustado
Com medo de mim.
Eu só gostaria
De dar um tapinha
No seu chapéu jaca,
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho
Da sua casaca,
Quando você caminha
Parece o Chacrinha,
Lelé da cachola
E um velho senhor
Que foi meu professor
No meu tempo de escola.
Pinguim, meu amigo,
Não zangue comigo
Nem perca a estribeira,
Não pergunte por quê,
Mas todos põem você
Em cima da geladeira.
sábado, 10 de agosto de 2024
LEMBRANÇAS DE REPÓRTER
O antigo navio oceanográfico da USP “Professor W. Besnard” escapou do desmanche e parece que há um futuro digno para ele, afinal a embarcação tem uma rica e inestimável história.
Fiz
algumas reportagens a bordo do histórico navio oceanográfico da USP “Professor W.
Besnard” e em duas ocasiões houve situações inusitadas nos bastidores dos fatos.
Uma delas aconteceu numa cerimônia que reuniu reitor, professores e pesquisadores
do Instituto Oceanográfico e autoridades de Santos. O Capitão dos Portos do
Estado de São Paulo, entretanto, estava atrasado. O distinto grupo, que incluía
algumas professoras, foi levado para uma saleta. Eu resolvi ficar no convés enquanto
o fotógrafo aproveitou a ocasião para fazer fotos da embarcação. Encostada na
amurada perto da escada, observava o cais quase vazio quando chegou o carro
preto oficial e o Capitão dos Portos desceu acompanhado do ordenança. Numa
falha de protocolo, não havia ninguém aguardando a autoridade – o capitão caminhou
para a escada com a confiança de seu cargo. Continuei no meu posto. É admirável
o uniforme dos oficiais da Marinha – eles vestem branco dos pés à cabeça, um
branco que chega a brilhar e qualquer coisa chama atenção. E no caso dele foi o
zíper das calças aberto. Algo que pode acontecer com qualquer pessoa, mas embaraçoso.
Não me senti nem um pouco animada para avisá-lo e, como o ordenança vinha atrás,
ele entrou na saleta se achando todo garboso. Eu fui procurar o fotógrafo e não
sei quem avisou o capitão do descuido.
quarta-feira, 7 de agosto de 2024
VILA MARIANA
Agosto,
não sei o motivo, despertou minha curiosidade sobre o bairro em que moro: Vila
Mariana, onde se localiza a Aclimação. Assim, resolvi fazer uma pausa nas
visitas à Zona Leste. Talvez tudo tenha começado com a Mariana que deu nome a essa
região da cidade. Descobri que há duas vertentes. Uma delas diz que a
iniciativa foi do vereador CARLOS Eduardo de Paula PETIT, que resolveu
homenagear a esposa Maria e a sogra Anna, juntou os nomes das duas e daí surgiu
a Mariana, ou seja, não homenageou nenhuma delas. A outra conta que Mariana era
a denominação da estação de trem local, nome dado pelo engenheiro alemão Georg
Albrecht Kuhlmann (1845-1905), que trabalhou na implantação da ferrovia. Mariana
era a esposa dele. A denominação estendeu-se ao novo bairro.
Um
pouco injusto da minha parte enaltecer outras regiões, quando aqui perto temos
história e histórias, cultura, gastronomia, divertimento e tantas outras coisas
interessantes e ótimas. O distrito da Vila Mariana faz divisa com os bairros Bela
Vista, Liberdade, Cambuci, Ipiranga, Cursino, Saúde, Moema e Jardim Paulista.
No
final do século XIX, o Centro (o famoso triângulo) era ligado aos bairros mais
distantes por bondes à tração animal, estes posteriormente foram substituídos
por pequenas locomotivas a vapor. Santo Amaro era um município vizinho aonde se
chegava pelos trens da Cia. Carris de Ferro de Santo Amaro. O trajeto era pela
Domingos de Moraes e Avenida Jabaquara, passando pela área do atual aeroporto
de Congonhas e Brooklin Paulista. Os trens foram desativados em 1914, quando a
Light & Power comprou a empresa e construiu a estação na Vila Mariana (na confluência
das ruas Domingos de Moraes e Affonso Celso com a praça Theodoro de Carvalho) e
implantou os bondes com novo trajeto pela “área rural”.
Até que a história do bairro vem sendo preservada por meio do tombamento de vários prédios importantes. Um deles é o antigo Reservatório da Sabesp, localizado na esquina das ruas Vergueiro com Carlos Petit.
Por
falar em Cinemateca, a Vila Mariana já teve a sua Cinelândia. O pioneiro Teatro
Fênix, por exemplo, teve vários endereços, sempre na rua Domingos de Moraes[2]. Começou a funcionar em
1923. Nessa mesma rua, número 486, foi inaugurado em 1943 o Cine Cruzeiro[3] com capacidade para 2.196
pessoas! O Cine Leblon foi inaugurado em 2 de outubro de 1952; ficava na
Liberdade: rua Vergueiro, 934. Tinha 1.200 lugares! No local foi erguido o Centro Cultural São Paulo. Há muito tempo acabaram os cinemas de bairro. Agora
funcionam em pequenas salas em shoppings. Vila Mariana tem os shoppings Santa Cruz (Domingos de Morais) e Paulista (rua
Treze de Maio).
[1] Largo Sen. Raul
Cardoso, 207. Segundo a prefeitura, Vila Mariana.
[2] O cinema funcionou nos
prédios números 74, 129 e 896.
[3] Quando fechou, no local
funcionou uma padaria e depois uma loja Pão de Açúcar, que encerrou as
atividades recentemente, cedendo espaço para um mega empreendimento
imobiliário.
segunda-feira, 5 de agosto de 2024
VIDA INGRATA
Atrás deste painel, que anuncia a volta de Paul McCartney (82) ao Brasil, há alguns dias “mora”, “sobrevive" uma mulher. Idade indefinida. Cercada de suas poucas coisas, sentada no chão, o painel a abriga do vento e a protege um pouco do olhar dos passageiros que aguardam, ônibus. Chamar de triste a situação é muito pouco.
sábado, 3 de agosto de 2024
DESCOBRINDO LUGARES
As caminhadas continuam, embora tenha escrito pouco. Em São Miguel Paulista, zona Leste, por exemplo, comi um croissant delicioso – massa folhada que se desfaz na boca.
😎A informação errada dada pela estagiária do metrô me levou até a rua Piratininga, onde passei pelo Fórum do Brás. O prédio é de 1916, construído pelo governo do Estado especialmente para a Escola Profissional Masculina que teve um papel importante na área educacional da cidade. (A Escola Profissional Feminina ficava na rua Monsenhor de Andrade, no mesmo bairro.) Neste novo endereço, a escola funcionou até 1982, quando foi transferida para o Ipiranga. No prédio funcionou, posteriormente, a Fundação para Bem-Estar do Menor – FEBEM, onde chegou a ter 1.600 internos quando a capacidade era para 600 menores. Com a mudança da instituição de triste memória, o prédio já deteriorado recebeu o Fórum do Brás e logo depois iniciou-se o restauro.😎Na igreja Bom Jesus do Brás (Avenida Rangel Pestana, 1421), que é uma das mais bonitas de São Paulo, se encontrava de visita a imagem boliviana de Nossa Senhora do Carmo.
😎Vale a
pena conhecer o acesso ferroviário da região, cuja história remonta ao século XIX.
A base é a antiga São Paulo Railway inaugurada em 1867. Em 1875 entrou em funcionamento
ao lado a Estrada de Ferro do Norte construída pelos cafeicultores para atender
à exportação de café para o Porto de Santos até 1896 quando foi incorporada à
Ferrovia D. Pedro II, mais tarde a famosa Estrada de Ferro Central do Brasil. Em
plena II Guerra Mundial, foi reformada e ganhou o nome de Estação Roosevelt,
quando o presidente norte-americano faleceu.
Nas minhas excursões à Zona Leste de trem e metrô, tenho passado pela estação Brás, que é imensa. Ela atende à linha Vermelha (3) do Metrô e às linhas Rubi: 7; Turquesa: 10; Coral: 11; 12: Safira e 13 (apenas sentido Aeroporto Guarulhos – Barra Funda) da CPTM.
Como as transferências são internas, nunca tinha visto a fachada das estações e me surpreendi tanto com o prédio da avenida Rangel Pestana quanto com o da rua Domingos de Paiva.