sábado, 31 de agosto de 2024

A ESTRELA DALVA


Final de agosto com a cantora e compositora paulista Dalva de Oliveira (1917-1972), que fez um imenso sucesso na era de ouro da música brasileira. A vida pessoal, entretanto, foi marcada por relacionamentos conturbados que a tornaram vítima de um explícito e brutal preconceito; foi vítima de calúnias que faziam a festa da imprensa sensacionalista irresponsável da época. Entre os seus grandes sucessos destacam-se “Pedro, Antônio e João” (Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago, 1939); “Rancho da Praça Onze” (Chico Anysio e João Roberto Kelly, 1965); “Máscara Negra” (Pereira Matos e Zé Kéti, 1967) e “Bandeira Branca” (Laércio Alves e Max Nunes, 1970).


https://www.youtube.com/watch?v=EASLyQKQ10Y




sexta-feira, 30 de agosto de 2024

NEM SONHOS DE PADARIA

O Cine Carlos Gomes é parte muito importante da minha infância em Santos. Assim que tive idade para ir ao cinema, minhas tias me levavam às matinês de domingo com direito a dois filmes. Quando chegávamos ao cinema, minhas tias compravam dropes e algumas vezes chocolate; entrávamos na sala imensa, intensamente iluminada, ao som de músicas de sucessos orquestradas. Elas buscavam um bom lugar, nos acomodávamos e esperávamos as luzes diminuírem até se apagarem. As cortinas abriam-se lentamente para um mundo de fantasia, beleza e paixões. O programa começava com o cinejornal Canal 100, de Carlos Niemeyer, em seguida havia trailers dos próximos lançamentos e, finalmente, os filmes em cartaz. Tudo isso me ocorre porque está sendo demolido o prédio em que funcionou a Cine Cruzeiro na rua Domingos de Morais, 486 (Largo Ana Rosa, São Paulo), com capacidade para 2.196 pessoas! O cinema foi inaugurado em 1943. Deve ter contribuído para a alegria de milhares de pessoas, ou pelo menos bons momentos. Quando mudei para Sampa nos anos 1980, ele já não existia. O prédio era ocupado por uma padaria, depois por uma loja do supermercado Pão-de-Açúcar, fechado recentemente. Em breve, mais um mega condomínio.   

Em tempo  jamais me esqueci da música que abria o noticiário esportivo, mas só a identifiquei muitas décadas depois: “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira (1923-1998). 

"Que bonito é/ As bandeiras tremulando/ A torcida delirando/ Vendo a rede balançar/ Que bonito é/ A mulata requebrando/ Os tambores repicando/ uma escola desfilar..."




https://www.youtube.com/watch?v=xzML0vUoC7c

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

FLOR DE CONCRETO

 


Apesar do frio, tenho feito meus passeios. Fui a Mirandópolis, um bairro onde as ruas têm nome de flores. Na avenida Jabaquara, perto da estação do metrô, encontro um vendedor de flores, converso rapidamente com ele, sigo até a rua das Rosas e desço em direção à avenida Rubem Berta. E assim passo por Heliotrópios, Azaléas, Crisântemos, Jacintos, Glicínias, Camélias, Narcisos, Jasmins e Violetas... Que triste! Só concreto. Nenhuma flor. Há apenas placas com as denominações. Numa cidade tão poluída, o perfume das flores poderia fazer diferença. Um bairro bonitinho e agradável. A rua das Rosas termina na Praça Santa Rita de Cássia. Na entrada da igreja dedicada à Rita de Cássia, vi os dez mandamentos enquadrados. Ia voltar por outro caminho, mas uma moradora me aconselha a retornar pela rua das Rosas.

A única rosa que encontrei no bairro.



domingo, 25 de agosto de 2024

ANGÉLICA

Quem trafega da avenida Angélica para a avenida Paulista provavelmente ignora que isso se tornou possível porque uma senhora, nascida no século XIX, achou que seria uma boa ideia. Ela era dona da área e viu na Paulista, inaugurada em1891, o futuro da cidade.

Maria Angélica Souza Queiroz (1842-1929), filha de Francisco Antônio de Souza Queiroz, barão de Souza Queirós, e de Antônia Eufrosina de Campos Vergueiro, nasceu em Rio Claro. Cresceu na fazenda São Jerônimo em Limeira, recebeu uma educação esmerada e passava temporadas em São Paulo na chácara localizada na atual avenida São Luís. Casou-se aos 20 anos com o primo Francisco de Aguiar Barros, filho do barão de Itu, mudando para a chácara do marido, na rua Alegre (Brigadeiro Tobias), no bairro de Santa Ifigênia. O casal teve dez filhos: o primeiro foi Francisco, que nasceu em Itu em 1863, seguiram-se: Bento, Maria Angélica, Leonarda, Alfredo, Antônia, Guiomar, Paula, Raul e Beatriz.

Com tantos filhos, Francisco adquiriu então a chácara das Palmeiras, uma propriedade formada em 1849; comprada em 1860 pelo médico dinamarquês Germano Frederico Borghoff que cultivou nela cinco mil pés de chá, um pomar de pêssegos e uvas; ele também criava vacas leiteiras e ainda vendia o capim que nascia naturalmente na propriedade. Após enfrentar problemas financeiros, Borghoff pôs a propriedade em leilão em 1874, e quem arrematou foi Domingos Marques da Silva Ayrosa, dono da “Padaria das Famílias” (Rua do Comércio, 15. O novo proprietário também teve muitos problemas para manter a chácara e a colocou à venda, quando foi adquirida por Francisco de Aguiar Barros.

Num mapa atual, a sede da chácara era na esquina da Alameda Barros com a rua Albuquerque Lins, onde se encontra a capela de São Vicente de Paulo, mas o perímetro do terreno era delimitado pelas atuais ruas das Palmeiras, Conselheiro Brotero, avenidas Higienópolis e Angélica. Não achei muitas informações sobre a vida do casal até 1890, quando Francisco morreu vítima de um problema cardíaco. Viúva e muito rica, Angélica seguiu o exemplo de sua “vizinha” Veridiana: resolveu construir um palacete e contratou o arquiteto alemão Matheus Haussler, autor dos projetos da casa de Elias Antônio Pacheco e Chaves (Campos Elíseos) e da Hospedaria dos Imigrantes. Haussler não deixou por menos: inspirou-se no Palácio de Charlottenburg (Alemanha). A construção ficava em posição elevada e era cercada de jardins. Angélica mudou para a nova residência em 1893 e doou a casa da chácara das Palmeiras para a Associação das Damas da Caridade de São Vicente de Paulo que tratou de lá instalar um orfanato para meninas e um externato para ambos os sexos.

Surpreendentemente, esta senhora inicia urbanização da região por suas terras, abrindo as primeiras ruas do que se tornou o bairro de Santa Cecília. A primeira a ser criada (1895) foi a Avenida Viúva Barros (Angélica), apenas o trecho entre a rua das Palmeiras e a esquina da Jaguaribe.  Da mesma época é o primeiro trecho da rua Barão de Tatuí e uma transversal que foi denominada Alameda Barros. Foi um projeto bem sucedido que se estendeu por anos. A Câmara promoveu um acordo entre Angélica e o negociante Martinho Bouchard para que dividissem as despesas de obras de um dos empreendimentos; em 1901 ela pediu, e obteve isenção, total dos impostos por cinco anos para todos os terrenos situados na Alameda Barros, Rua São Vicente de Paulo, Avenida Angélica e nas demais “ruas que abrir desta Avenida em direção à cidade”. E assim Angélica continuou a abrir ruas às quais foi dando o nome de seus familiares: Baronesa de Itu (tia avó), Alameda Barros (marido) e amigos Conselheiro Brotero, Basílio Machado e Gabriel dos Santos entre outros.

            Das três grandes senhoras paulistas, Angélica contribuiu, sem dúvida, de forma decisiva para a configuração do bairro de Santa Cecília e entorno. Em 1898, a avenida Angélica era considerada uma das mais formosas da cidade, como afirmou o vereador Serafim Leite.

Maria Angélica Souza Queiroz faleceu em 1929.


Foto Wikipedia: Maria Angélica com a filha Angélica. 

sábado, 24 de agosto de 2024

A PODEROSA VERIDIANA

 


O palacete na esquina da rua Veridiana com Major Sertório.



Veridiana Valéria da Silva Prado (1825-1910) com certeza não casou por amor e o casamento precoce por decisão paterna parece que não causou traumas na garota de treze anos. Veridiana era filha do barão de Iguape, o cafeicultor e político Antônio da Silva Prado, e de Maria Cândida de Moura Leite. A família morava na rua Direita, onde hoje é a Praça do Patriarca. Após o casamento com Martinho da Silva Prado, Veridiana e o marido mudaram para Mogi Mirim*, onde compraram a fazenda Campo Alto e direcionaram os interesses da família para o café.

O casal teve oito filhos  um não sobreviveu: Antônio da Silva Prado (1840), Martinho da Silva Prado Júnior (1843) – depois Martinico, Ana Blandina (1844), Anésia (1850), Antônio Caio da Silva Prado (1853) e Eduardo Paulo da Silva Prado (1860).  Em 1848 a família voltou para São Paulo e instalou-se numa chácara ao lado da igreja da Consolação. Aqui nasceram os três últimos filhos.

Após dez anos de casamento, os desentendimentos entre Veridiana e Martinho aumentaram e em 1878 ela se separou do marido – decisão tremenda para a época, mas o dinheiro sempre se sobrepõe a costumes. (A mãe dela também havia se divorciado do primeiro marido.) Quatro anos depois, ela arruma as malas e embarca para a Europa a fim de realizar seu sonho de conhecer Paris e visitar a filha Blandina, que casara com um diplomata e vivia na capital francesa. A estada na “cidade luz” a encantou. Na volta, trouxe na bagagem a planta para construção de um palacete em estilo renascentista na chácara que possuía na antiga rua Santa Cecília (atual Dona Veridiana) cujo terreno seguia um pouco abaixo da rua Marquês de Itu, e do outro lado estendia-se pela rua Pacaembu, atual av. Higienópolis, até as proximidades da av. Angélica. Para a obra Veridiana contratou o engenheiro Luiz Liberal Pinto que importou o material utilizado no.

A obra foi matéria do jornal O ESTADO DE S. PAULO (25/05/1883), que informava seus leitores que o pintor Almeida Júnior estava expondo em seu ateliê o trabalho encomendado por dona Veridiana para ornamentar o teto de uma das câmaras de dormir:  um medalhão com alegoria sobre o sono. “É um trabalho magnífico. Uma belíssima mulher nua Enquanto esperava o final das obras Veridiana voltou a Paris, de uma carnação esplêndida, sentada em uma cadeira de estilo grego, que adormeceu ao doce som de uma pequena orquestra de querubins; dir-se-ia uma serenata nas nuvens” – segundo o jornal.

Veridiana não era uma senhora fútil. Ela presidiu a Sociedade Redentora para libertação dos escravos; participou de inúmeros empreendimentos, inclusive, incentivando a agricultura (setor de seu interesse, claro) e em várias indústrias. Foi a primeira mulher a ter e dirigir um jornal: primeiro investiu no jornal do filho Eduardo Prado – “O Comércio de S. Paulo”, para ajudá-lo e, quando ele faleceu, continuou à frente do periódico; em 1902, Veridiana requereu na Junta Comercial o registro de uma nova marca para o periódico que, posteriormente, vendeu a Francisco Glicério.

Em março de 1888, os vereadores mudaram o nome da rua Santa Cecília para Dona Veridiana Prado. Veridiana morreu em 1910, deixando parte de sua fortuna para a Santa Casa de São Paulo e outras obras assistenciais. Seu corpo foi enterrado no Cemitério da Consolação.

Curiosidades – O marido de Veridiana era tio dela, meio irmão do pai, tinha 27anos,  fato que não era incomum para a época. Maria Antônia da Silva Ramos era concunhada de Veridiana.  

O palacete foi vendido para o São Paulo Athetic Clube, que em 2007 foi incorporado pelo Iate Clube de Santos, fundado por Jorge da Silva Prado, bisneto de Veridiana. O imóvel foi tombado em 2006/7 e o tombamento inclui a área verde, um mural de Almeida Jr. e uma escultura de Brecheret.

Ilustração: D. Veridiana, pintura de Carlo de Servi, acervo Museu Paulista da USP.



quinta-feira, 22 de agosto de 2024

MARIA ANTÔNIA

 

Ali, na confluência dos bairros da Consolação e Higienópolis, viveram algumas das mulheres mais importantes de São Paulo. Foram ricas e influentes, algumas à frente do seu tempo, e deixaram um legado histórico para a cidade.


D. Maria Antônia da Silva Ramos, por exemplo, não era paulista. Ela nasceu em Castro, no Paraná, em 5 de julho de 1815. Filha do barão de Antonina, João da Silva Machado, e de Ana Ubaldina Paraíso Guimarães, pais de outras quatro moças, Francisca, Balbina, Ana e Inocência. Três jovens casaram-se em 1835: Maria Antônia casou-se com o tenente-coronel Mariano José da Cunha Ramos, de família tradicional de Atibaia; Balbina com Luís Pereira de Campos Vergueiro, filho do Senador Vergueiro, e Francisca, com o capitão Joaquim da Silva Prado, que era irmão de Martinho da Silva Prado que se casou com D. Veridiana da Silva Prado. Fortunas se reunindo.

Maria Antônia e Mariano tiveram dois filhos, Firmino e Ernesto. Firmino morreu ainda criança e logo depois faleceu Mariano. O que levou o barão de Antonina a se tornar tutor de Ernesto. Maria Antônia morava na chácara situada entre as atuais ruas da Consolação, Dona Veridiana, Major Sertório e Maria Antônia. Em 1874, Maria Antônia vendeu uma parte da propriedade para o reverendo Chamberlain para a construção da Escola Americana, atual Mackenzie. Frequentadora da Igreja de Santa Ifigênia, ela acaba se aproximando da Igreja Presbiteriana de São Paulo, dirigida pelo reverendo George Whitehill Chamberlain, até finalmente a conversão e o batismo em 1878.

Ela foi uma das maiores pagadoras de impostos sobre propriedade da cidade; em 1855, tornou-se acionista do Banco Hipotecário de São Paulo, uma sociedade formada na época por 93 homens e apenas quatro mulheres: Luiza Eufrásia Quartin de Paiva, Maria Cândida de Moura Leite, a  Baronesa de Iguape, Policena Rosa de Jesus e Maria Antônia. Ela também foi acionista da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Em 2 de abril de 1884, de acordo com a Prefeitura, o logradouro já aparece nas Atas da Câmara Municipal identificado como “Rua de D. Maria Antonia”, que foi uma das primeiras a formar o bairro que mais tarde se tornou Vila Buarque, hoje pertencente ao Distrito da Consolação. E em 1886 a rua aparecia como endereço da Escola Americana. Maria Antônia morreu em 1906 e seu corpo foi enterrado no Cemitério da Consolação.

Ernesto Mariano da Silva Ramos, filho de Maria Antônia, foi casado com Maria Amália Rudge, iniciando a família Rudge Ramos; ele exerceu o cargo de presidente da Câmara Municipal de São Paulo entre 1873 e 1877.

sábado, 17 de agosto de 2024

MOSTRA SOBRE MANDELA

Ainda há tempo para ver a mostra “Nelson Mandela, ícone mundial da reconciliação”, em cartaz até o dia 30 de agosto no Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro,1000). As visitas são gratuitas e podem ser feitas de terça à sexta-feira das 10 às 20 horas e aos domingos das 10h às 18h. A mostra procura mostrar aspectos pouco conhecidos do líder sul-africano Mandela (1918-2013) que dedicou sua vida à luta pela igualdade de direitos humanos e contra o regime de segregação racial da África do Sul, o que o levou à prisão por 27 anos. Mandela foi libertado em 1990 após uma campanha internacional, em 1993 recebeu o Prêmio Nobel da Paz e em 1994 foi eleito presidente. O A Organização das Nações Unidas criou Dia Internacional Nelson Mandela, 18 de julho, para promover a ideia de que cada pessoa tem o poder de transformar o mundo e fazer a diferença, segundo o curador da mostra Christopher Till. Entrada gratuita.



terça-feira, 13 de agosto de 2024

BOM DIA, PINGUIM!

Numa tarde fria (14ºC), "O Pinguim", composição de Vinicius de Moraes, interpretada por Toquinho.😊

https://www.youtube.com/watch?v=7-w3Dlm5OUM




Bom dia, pinguim.
Onde vai assim
Com ar apressado?
Eu não sou malvado.
Não fique assustado
Com medo de mim.
Eu só gostaria
De dar um tapinha
No seu chapéu jaca,
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho
Da sua casaca,

Quando você caminha
Parece o Chacrinha,
Lelé da cachola
E um velho senhor
Que foi meu professor
No meu tempo de escola.
Pinguim, meu amigo,
Não zangue comigo
Nem perca a estribeira,
Não pergunte por quê,
Mas todos põem você
Em cima da geladeira.


sábado, 10 de agosto de 2024

LEMBRANÇAS DE REPÓRTER

 O antigo navio oceanográfico da USP “Professor W. Besnard” escapou do desmanche e parece que há um futuro digno para ele, afinal a embarcação tem uma rica e inestimável história.

Foto: Instituto Oceanográfico da USP.

Fiz algumas reportagens a bordo do histórico navio oceanográfico da USP “Professor W. Besnard” e em duas ocasiões houve situações inusitadas nos bastidores dos fatos. Uma delas aconteceu numa cerimônia que reuniu reitor, professores e pesquisadores do Instituto Oceanográfico e autoridades de Santos. O Capitão dos Portos do Estado de São Paulo, entretanto, estava atrasado. O distinto grupo, que incluía algumas professoras, foi levado para uma saleta. Eu resolvi ficar no convés enquanto o fotógrafo aproveitou a ocasião para fazer fotos da embarcação. Encostada na amurada perto da escada, observava o cais quase vazio quando chegou o carro preto oficial e o Capitão dos Portos desceu acompanhado do ordenança. Numa falha de protocolo, não havia ninguém aguardando a autoridade – o capitão caminhou para a escada com a confiança de seu cargo. Continuei no meu posto. É admirável o uniforme dos oficiais da Marinha – eles vestem branco dos pés à cabeça, um branco que chega a brilhar e qualquer coisa chama atenção. E no caso dele foi o zíper das calças aberto. Algo que pode acontecer com qualquer pessoa, mas embaraçoso. Não me senti nem um pouco animada para avisá-lo e, como o ordenança vinha atrás, ele entrou na saleta se achando todo garboso. Eu fui procurar o fotógrafo e não sei quem avisou o capitão do descuido.  


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

VILA MARIANA

Agosto, não sei o motivo, despertou minha curiosidade sobre o bairro em que moro: Vila Mariana, onde se localiza a Aclimação. Assim, resolvi fazer uma pausa nas visitas à Zona Leste. Talvez tudo tenha começado com a Mariana que deu nome a essa região da cidade. Descobri que há duas vertentes. Uma delas diz que a iniciativa foi do vereador CARLOS Eduardo de Paula PETIT, que resolveu homenagear a esposa Maria e a sogra Anna, juntou os nomes das duas e daí surgiu a Mariana, ou seja, não homenageou nenhuma delas. A outra conta que Mariana era a denominação da estação de trem local, nome dado pelo engenheiro alemão Georg Albrecht Kuhlmann (1845-1905), que trabalhou na implantação da ferrovia. Mariana era a esposa dele. A denominação estendeu-se ao novo bairro.

Um pouco injusto da minha parte enaltecer outras regiões, quando aqui perto temos história e histórias, cultura, gastronomia, divertimento e tantas outras coisas interessantes e ótimas. O distrito da Vila Mariana faz divisa com os bairros Bela Vista, Liberdade, Cambuci, Ipiranga, Cursino, Saúde, Moema e Jardim Paulista.

No final do século XIX, o Centro (o famoso triângulo) era ligado aos bairros mais distantes por bondes à tração animal, estes posteriormente foram substituídos por pequenas locomotivas a vapor. Santo Amaro era um município vizinho aonde se chegava pelos trens da Cia. Carris de Ferro de Santo Amaro. O trajeto era pela Domingos de Moraes e Avenida Jabaquara, passando pela área do atual aeroporto de Congonhas e Brooklin Paulista. Os trens foram desativados em 1914, quando a Light & Power comprou a empresa e construiu a estação na Vila Mariana (na confluência das ruas Domingos de Moraes e Affonso Celso com a praça Theodoro de Carvalho) e implantou os bondes com novo trajeto pela “área rural”.  

 Hoje é difícil imaginar que um dia a Vila Mariana fosse tão longe da Sé que a administração pública resolveu transferir para lá o Matadouro da rua Humaitá, que estava poluindo o córrego Anhangabaú. Felizmente o matadouro foi reciclado e hoje abriga a Cinemateca Brasileira[1]. O Anhangabaú não teve a mesma sorte: foi soterrado para dar espaço aos veículos.

Até que a história do bairro vem sendo preservada por meio do  tombamento de vários prédios importantes. Um deles é o antigo Reservatório da Sabesp, localizado na esquina das ruas Vergueiro com Carlos Petit. 

Por falar em Cinemateca, a Vila Mariana já teve a sua Cinelândia. O pioneiro Teatro Fênix, por exemplo, teve vários endereços, sempre na rua Domingos de Moraes[2]. Começou a funcionar em 1923. Nessa mesma rua, número 486, foi inaugurado em 1943 o Cine Cruzeiro[3] com capacidade para 2.196 pessoas! O Cine Leblon foi inaugurado em 2 de outubro de 1952; ficava na Liberdade: rua Vergueiro, 934. Tinha 1.200 lugares! No local foi erguido o Centro Cultural São Paulo. Há muito tempo acabaram os cinemas de bairro. Agora funcionam em pequenas salas em shoppings. Vila Mariana tem os shoppings Santa Cruz (Domingos de Morais) e Paulista (rua Treze de Maio). 

O antigo endereço do Cine Cruzeiro vai se perder para sempre com a demolição do prédio.



[1] Largo Sen. Raul Cardoso, 207. Segundo a prefeitura, Vila Mariana.

[2] O cinema funcionou nos prédios números 74, 129 e 896.

[3] Quando fechou, no local funcionou uma padaria e depois uma loja Pão de Açúcar, que encerrou as atividades recentemente, cedendo espaço para um mega empreendimento imobiliário.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

VIDA INGRATA

Atrás deste painel, que anuncia a volta de Paul McCartney (82) ao Brasil, há alguns dias “mora”, “sobrevive" uma mulher. Idade indefinida. Cercada de suas poucas coisas, sentada no chão, o painel a abriga do vento e a protege um pouco do olhar dos passageiros que aguardam, ônibus. Chamar de triste a situação é muito pouco.




OBSERVAÇÃO: No dia 7 de agosto de 2024, quarta-feira, a mulher não estava mais no local. Espero que tenha sido levada para um abrigo.

sábado, 3 de agosto de 2024

DESCOBRINDO LUGARES

 

As caminhadas continuam, embora tenha escrito pouco. Em São Miguel Paulista, zona Leste, por exemplo, comi um croissant delicioso – massa folhada que se desfaz na boca. 

😎A informação errada dada pela estagiária do metrô me levou até a rua Piratininga, onde passei pelo Fórum do Brás. O prédio é de 1916, construído pelo governo do Estado especialmente para a Escola Profissional Masculina que teve um papel importante na área educacional da cidade. (A Escola Profissional Feminina ficava na rua Monsenhor de Andrade, no mesmo bairro.) Neste novo endereço, a escola funcionou até 1982, quando foi transferida para o Ipiranga. No prédio funcionou, posteriormente, a Fundação para Bem-Estar do Menor – FEBEM, onde chegou a ter 1.600 internos quando a capacidade era para 600 menores. Com a mudança da instituição de triste memória, o prédio já deteriorado recebeu o Fórum do Brás e logo depois iniciou-se o restauro.

😎Na igreja Bom Jesus do Brás (Avenida Rangel Pestana, 1421), que é uma das mais bonitas de São Paulo, se encontrava de visita a imagem boliviana de Nossa Senhora do Carmo.

😎Vale a pena conhecer o acesso ferroviário da região, cuja história remonta ao século XIX. A base é a antiga São Paulo Railway inaugurada em 1867. Em 1875 entrou em funcionamento ao lado a Estrada de Ferro do Norte construída pelos cafeicultores para atender à exportação de café para o Porto de Santos até 1896 quando foi incorporada à Ferrovia D. Pedro II, mais tarde a famosa Estrada de Ferro Central do Brasil. Em plena II Guerra Mundial, foi reformada e ganhou o nome de Estação Roosevelt, quando o presidente norte-americano faleceu.

Nas minhas excursões à Zona Leste de trem e metrô, tenho passado pela estação Brás, que é imensa. Ela atende à linha Vermelha (3) do Metrô e às linhas Rubi: 7; Turquesa: 10; Coral: 11; 12: Safira e 13 (apenas sentido Aeroporto Guarulhos – Barra Funda) da CPTM.

Como as transferências são internas, nunca tinha visto a fachada das estações e me surpreendi tanto com o prédio da avenida Rangel Pestana quanto com o da rua Domingos de Paiva.



Ao passar por mim ele perguntou "Saí na foto?" e ficou feliz, quando eu disse que sim.