terça-feira, 12 de abril de 2016

A GUERRA DOS LIVROS
         O poeta alemão Christian Johann Heinrich Heine (1797-1856) de origem judaica escreveu que “onde se queimam livros ainda se queimarão pessoas.” Mal sabia ele que seu país promoveria 77 anos após a sua morte a queima de 44 mil livros, precedendo o holocausto do povo judeu na Europa ocupada. Cerca de dez mil autores judeus e não judeus alemães, e estrangeiros não alinhados com as ideias nazistas foram proibidos pelo regime, que organizou grandes fogueiras pelo país, incentivando a destruição de livros que, na opinião dos nacionais socialistas, denegriam a língua alemã e os ideais nacionalistas. O mais assustador foi a participação de universidades na ação que durou vários dias a partir de 10 de maio de 1933.
Escritores do mundo todo repudiaram a ação nazista. A escritora americana Hellen Keller (1880-1968) se manifestou de forma perfeita: “Vocês podem queimar meus livros e os livros das maiores mentes da Europa, mas as ideias neles já se infiltraram através de milhões de canais e continuarão a estimular outras mentes”. Em Londres H. G. Wells afirmou que “os livros, depois de impressos, possuem uma vitalidade que supera qualquer ser humano e continuam falando como se nada tivesse acontecido”.
O resultado da ação criminosa dos nazistas foi a criação em Paris, por iniciativa de Wells com apoio de outros escritores, da Biblioteca dos Livros Queimados, onde foram reunidos os exemplares de todos as obras proibidas ou queimadas pelo bando de Hitler. Aberta ao público na primavera de 1934, ela foi mantida durante a ocupação alemã e, embora fechada para o público francês, era frequentada pelos alemães.
Em 1938, os nazistas já haviam proibido dezoito categorias de livros, 4.175 títulos e as obras completas de 565 autores entre os quais Thomas Mann, Heinrich Mann, Jack London, Hellen Keller, Albert Einstein, Hemingway, Stephen Zweig, Freud e Jung, Romain Rolland, Jean Jacques Rousseau, Vick Baum, Bertolt Brecht, Walter Benjamin, Robert Musil, Arthur Koestler e Winston Churchill.
Antes mesmo de se envolver no conflito mundial, os Estados Unidos iniciaram uma guerra contra os alemães no campo das ideias. Quando começou o serviço militar obrigatório em dezembro de 1940, o Exército planejava construir bibliotecas em todos os campos de treinamento, mas os recursos eram insuficientes e a solução foi a realização de uma série de campanhas públicas para atingir a meta de 10 milhões de livros para os soldados. O trabalho, que envolveu bibliotecários de todo país, editores e a população em geral teve uma resposta rápida: um milhão de livros doados só nos primeiros meses, mas naturalmente enfrentou várias dificuldades para atingir a meta almejada. Na verdade, a ideia das bibliotecas para soldados fora implantada em escala mais modesta na I Guerra.
Os detalhes da história dessa batalha no campo das ideias encontram-se na obra de MollyGuptill Manning “Quando os livros foram à guerra”, publicado pela Casa da Palavra. 

 Os soldados britânicos também eram ávidos leitores e 
muitos escreveram poemas sobre a guerra. 
Esta antologia reúne 80 poemas de combatentes
 das duas grandes guerras.

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