MULHERES NA REDAÇÃO
(7 de Abril: Dia do Jornalista.)
PIONEIRA SANTISTA
Até as três primeiras décadas do século XX em Santos,
o jornalismo era território exclusivamente masculino. Às mulheres era reservado
o espaço da cultura, colaborando com contos, poemas, crônicas e até mesmo
folhetins. Não iam para as redações. A pioneira do jornalismo na Baixada
Santista foi Rosinha Matrangelo (1911-1986): quebrou o tabu em 1932, quando foi
trabalhar no jornal A Noite, de Mário Amazonas e Clodomiro
Amazonas Duarte, onde ficou até 1935.
Em uma entrevista publicada no jornal Cidade de Santos, na década de 1970,
ela contou que andou mais de 18 km até Barra do Una do Sul pelo meio do mato
para mostrar as dificuldades de comunicação com aquela área. Em 1939, Rosinha
ingressou na Radio Clube de Santos. Sem deixar o jornalismo, especializou-se em
escrever radionovelas.
Foi sob a direção de Rosinha Mastrangelo, na Rádio
PRB-4, que a jovem Cacilda Becker (1921-1969) começou a fazer radioteatro. Na
entrevista, ela contava do orgulho que sentia pelo desenvolvimento de Cacilda,
que se tornou uma das maiores atrizes brasileiras.
Ao longo da vida Rosinha produziu cerca de 500
radionovelas e achava que a mais popular havia sido “As duas mães”. Ela nunca deixou o jornalismo
– trabalhou ainda na Gazeta Popular e depois no Diário, do Grupo Associados, onde se
aposentou em 1967. Foi também cronista carnavalesca (escrevia sob o pseudônimo
de Pierrô Azul) e lançou o primeiro concurso
de rainha do carnaval santista em 1950. Grande incentivadora do teatro, na
mesma época, Rosinha Mastrangelo realizou o Festival de Teatro Amador, que foi
o primeiro de muitos que se realizaram na cidade, promovendo inovações cênicas
e lançando novos atores.
Ela deixou dois livros de poesia: “Poemas para seus olhos” e “Sentimental”; e dois de crônicas: “Em
Momento de Meditação” e “Fatos sem Fotos”. Rosinha Mastrangelo é patrona da
cadeira nº 36 da Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos. O Teatro de Arena “Rosinha Mastrangelo” é uma homenagem da cidade à pioneira
do jornalismo na Baixada.
Foto: site www.novomilenio.inf.br
A PREMIADA MAJOY
A
paulista Sylvia de Arruda Botelho Bittencourt (1896-1995) foi poeta e cronista,
mas brilhou mesmo no jornalismo. Entre outros veículos, ela trabalhou no Correio da Manhã, jornal de oposição e que foi um dos mais lidos do país. Casada
com Paulo Bittencourt, proprietário do jornal, Sylvia escrevia sob o pseudônimo
de Majoy. Em 1941, ela recebeu o Prêmio Maria Moors Cabot da Columbia Journalism School (USA), tornando-se a primeira mulher a receber a honraria. Durante
a II Guerra Mundial (1939-1945), cobriu o conflito na Europa como correspondente
da United Press.
Ela esteve em duas oportunidades na área de
atuação da Força Expedicionária Brasileira – FEB. O tenente Massaki Udihara
(1913-1981) registrou em seu diário a visita de Majoy ao acampamento de
Nápoles, no dia 25 de julho de 1944: “Não seria diferente, se não fosse uma
visita de surpresa. Jantou conosco Majoy, correspondente de guerra. Meia idade,
desembaraçada, falando como as mulheres falam. Expendeu idéias que indicam um
conhecimento maior que o comum das mulheres e uma melhor compreensão da época”.
(Um médico brasileiro no front, S. Paulo: Imprensa Oficial,
2002.) Majoy é citada também em “O diário de um Pracinha”, de Joaquim Xavier da Silveira – e em “Os correspondentes de
Guerra e a cobertura jornalística da FEB”, de Leonardo Guedes Henn.
A família de Sylvia mudou para o Rio de Janeiro,
quando ela era criança. O cenário de infância foi Largo do Boticário que ela
nunca esqueceu e muitas décadas depois, junto com o marido Paulo, ajudou a
recuperar. Em 1985, Majoy publicou o livro “Ana Carolina”, uma coletânea de poesias infantis dedicada à neta. O Correio da Manhã desapareceu em 1974, vítima da luta da contra a ditadura, mas já
não pertencia a Paulo Bittencourt.
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