CURSOS JURÍDICOS: 190 ANOS.
No dia 11 de agosto de 1827, criavam-se os Cursos
Jurídicos no Brasil, nas cidades de São Paulo e em Olinda (Pernambuco). Até
aquela data os advogados brasileiros formavam-se em Portugal, mas com a Independência
era natural que se instalasse aqui, finalmente, um curso jurídico. O deputado
José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo, foi quem levou a
ideia à Assembleia Constituinte em 1823 e, após muitos debates sobre currículo
e corpo docente, levantou-se a questão da localização.
A capital do Império, Rio de Janeiro, era a escolha
lógica, mas os deputados reivindicavam a honra para outras cidades. São Paulo,
por exemplo, enfrentou objeções bizarras, como a levantada pelo deputado Silva Lisboa: "Sempre, em todas as nações, se
falou melhor o idioma nacional nas cortes. Nas províncias há dialetos, com os
seus particulares defeitos. É reconhecido que o dialeto de S. Paulo é o mais
notável. A mocidade do Brasil, fazendo ali os seus estudos, contrairia
pronúncia muito desagradável". No entanto, as ponderações do deputado Luís José de Carvalho e Mello, Visconde de
Cachoeira foram consideradas pelos constituintes: "A cidade de S. Paulo é muito próxima ao porto
de Santos, tem baratos viveres, tem clima saudável e moderado e é muito
abastecida de gêneros de primeira necessidade, e os habitantes das Províncias
do sul, e do interior de Minas, podem ali dirigir os seus jovens filhos com
comodidade. (§) O estabelecimento da outra em Olinda apresenta semelhantes
circunstâncias, e é a situação apropriada para ali virem os estudantes das
Províncias do Norte".
Olinda, por sua vez, tinha a seu favor desde o início o Seminário, criado
pelo Bispo Azeredo Coutinho, em 1789, que se destacava pela excelência do
ensino.
Mas o projeto
de lei sancionado em 1823 teve fim trágico com a dissolução da Assembleia
Constituinte por D. Pedro I, que outorgou em seguida a Constituição em 25 de
março de 1824. Mas os esforços não foram em vão, pois em 1826 o deputado Lúcio Soares Teixeira de Gouveia propôs a revisão
do projeto de lei do Visconde de São Leopoldo, reacendendo as discussões sobre
localização, entretanto, prevaleceu a ideia de Francisco de Paulo Souza e Mello
e, no dia 11 de agosto de 1827, foi assinada a lei criando os cursos jurídicos
em Olinda e São Paulo.
O curso
jurídico foi instalado em São Paulo em 1º de março de 1828 no convento de São
Francisco – havia apenas cinco frades na cidade e estavam no Recolhimento da
Luz. A escolha do diretor recaiu sobre José Arouche de Toledo Rendon
(1756-1836), militar e político, formado em Ciências Jurídicas em Coimbra. A
festa de inauguração foi relatada pelo jornal O Farol Paulistano, propriedade do futuro Regente José da Costa Carvalho, depois
Marquês de Monte Alegre: “A sala
destinada para aula, que mede 90 palmos de cumprimento, estava apinhada de
gente, até muitas das principais senhoras desta cidade, tendo sido convidadas,
assistiram esse ato brilhantíssimo”. O professor português José Maria de Avelar
Brotero (1798-1873), que causou muito dor de cabeça a Arouche, fez um discurso,
depois todos foram à igreja para um Te
Deum e em seguida foram convidados para os comes e bebes “doces e
refrescos, que para isso estavam preparados numa esplêndida mesa”.
A academia mudou a vida da cidade de São Paulo, que
era um vilarejo pacato e sem graça. Foi uma mudança econômica e cultural
conduzida pelos jovens e suas estudantadas. A primeira turma do curso jurídico
tinha 33 alunos matriculados e apenas dez eram paulistanos; os demais eram das
províncias do Rio, Bahia e Minas. Nos primeiros 25 anos, formaram-se na
Academia 138 paulistas, 181 cariocas ou fluminenses, 100 mineiros, 56 baianos,
48 gaúchos, 11 maranhenses e nove mato-grossenses.
Ao longo desses 189 anos
de funcionamento, estudantes e egressos da Faculdade de Direito do Largo de São
Francisco participaram dos principais movimentos políticos da História do
Brasil – como o Abolicionista, o Republicano e pelas Diretas-Já. Nove
presidentes da República saíram do Largo de São Francisco, além de vários
governadores e prefeitos não apenas de São Paulo.
A
instalação do curso em Olinda ocorreu em 15 de maio de 1828 e a primeira turma
formou-se em 1832.
Largo de São Francisco e Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. |
Os amantes salvos dos puritanos pelos estudantes de Direito. |
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