PAULA NEY
Será que alguém sabe quem
foi Paula Ney (1858-1897) que empresta o nome a uma rua no bairro da Aclimação?
Paula Ney nem é citado na enciclopédia popular da internet entre os
conterrâneos ilustres da cidade natal. Lembro bem que ao mudar para o bairro
paulistano fiquei intrigada com o salão de beleza que ostentava o nome dele na
placa, quando um colega de trabalho me esclareceu que se referia ao nome da
rua.
Soube da existência de
Paula Ney ainda adolescente, quando achei na estante de minha tia o livro de
Ciro Vieira da Cunha premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1949: “No
tempo de Paula Ney” (Edição Saraiva, São Paulo, 1950). Cunha não escreveu uma
simples biografia, ele faz uma narrativa rica e agradável de uma época em que
fervilhava na corte um punhado de jovens que fariam muita diferença na história
do país – tanto na literatura, no jornalismo como na política. Ney foi
jornalista, poeta e boêmio, ora mais jornalista, ora mais boêmio.
Francisco de Paula Ney
nasceu em Aracati, Ceará, em 1858, onde cresceu e estudou até que o pai o
enviou para um seminário. Grave erro paterno: o jovem fez um discurso contra a
falta de liberdade e as injustiças da instituição. Resultado: a expulsão do
seminário e uma surra tão violenta, que levou Francisco a se queixar do pai
para o Delegado de Polícia. Matriculado no Liceu Cearense, arranjou uma briga
com o professor de inglês e foi reprovado. Mais tarde, como todo jovem, não
sabia que rumo tomar – direito, medicina, engenharia? O pai o despachou para o
Rio de Janeiro, onde Francisco desembarcou em 1877.
As dúvidas o acompanhavam.
Bem que gostaria de atender aos desejos da mãe e estudar medicina, mas tinha
horror a sangue. Enquanto se decidia, foi trabalhar na GAZETA DE NOTÍCIAS, em
que pontificava José Carlos do Patrocínio (1854-1905). Era assíduo frequentador
do Pascoal, uma confeitaria da Rua do Ouvidor com uma distinta clientela.
Enfim, Paula Nei matriculou-se na Escola de Medicina, onde aparecia de vez em
quando “para promover manifestações ou aliciar entusiasmos em favor da campanha
abolicionista”. Foi levando o curso, graças à simpatia que conquistara entre
professores e colegas; porém, foi a Obstetrícia que salvou a Medicina de um mau
profissional. Na verdade, ele só queria o diploma. Quando o professor lhe fez
uma pergunta a que não conseguiu responder com a usual criatividade
humorística, o mestre ironizou:
- Senhor Paula Ney...
Então não sabe isso? É incrível... coisa tão fácil. Olhe, o que lhe estou
perguntando é coisa que sei desde que nasci.
-Se o senhor sabe isso
desde que nasceu, então a senhora sua mãe devia ter uma biblioteca dentro do
ventre.
Paula Ney estava livre
para dedicar-se ao o jornalismo. E à boemia. A carreira foi tumultuada,
cultivando muitos amigos e admiradores e vários desafetos. Foi ele, por
exemplo, quem propôs que se concretizasse a ideia de Visconti Coroaci para
erigir uma estátua ao grande ator João Caetano. Ele levantou a questão durante
uma ceia em homenagem ao empresário Jacinto Heller. O ator Francisco Correa
Vasques ficou encarregado de levantar os fundos e ficou com as glórias desde
que o monumento foi inaugurado em 3 de maio de 1891.
A biografia de Cunha relata
as lutas políticas, especialmente, a abolicionista em que ele se empenhou. Paula
Ney morreu pobre. “Não se sabe de ninguém que tenha guardado dele um
ressentimento ou uma queixa: sabe-se de muita gente que abençoa sua memória” –
escreveu Olavo Bilac sobre o jornalista.
Monumento a João Caetano, Praça Tiradentes, RJ. (Foto: Hilda Araújo, 2015.) |
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