O palacete na esquina da rua Veridiana com Major Sertório.
Veridiana Valéria da Silva Prado (1825-1910)
com certeza não casou por amor e o casamento precoce por decisão paterna parece
que não causou traumas na garota de treze anos. Veridiana era filha do barão de
Iguape, o cafeicultor e político Antônio da Silva Prado, e de Maria Cândida de Moura
Leite. A família morava na rua Direita, onde hoje é a Praça do Patriarca. Após
o casamento com Martinho da Silva Prado, Veridiana e o marido mudaram para Mogi
Mirim*, onde compraram a fazenda Campo Alto e direcionaram os interesses da família
para o café.
O casal teve oito filhos – um não sobreviveu: Antônio da Silva
Prado (1840), Martinho da Silva Prado Júnior (1843) – depois Martinico, Ana
Blandina (1844), Anésia (1850), Antônio Caio da Silva Prado (1853) e Eduardo
Paulo da Silva Prado (1860). Em 1848 a
família voltou para São Paulo e instalou-se numa chácara ao lado da igreja da
Consolação. Aqui nasceram os três últimos filhos.
Após dez anos de casamento, os desentendimentos
entre Veridiana e Martinho aumentaram e em 1878 ela se separou do marido –
decisão tremenda para a época, mas o dinheiro sempre se sobrepõe a costumes. (A
mãe dela também havia se divorciado do primeiro marido.) Quatro anos depois,
ela arruma as malas e embarca para a Europa a fim de realizar seu sonho de
conhecer Paris e visitar a filha Blandina, que casara com um diplomata e vivia
na capital francesa. A estada na “cidade luz” a encantou. Na
volta, trouxe na bagagem a planta para construção de um palacete em estilo
renascentista na chácara que possuía na antiga rua Santa Cecília (atual Dona
Veridiana) cujo terreno seguia um pouco abaixo da rua Marquês de Itu, e do
outro lado estendia-se pela rua Pacaembu, atual av. Higienópolis, até as
proximidades da av. Angélica. Para a obra Veridiana contratou o engenheiro Luiz
Liberal Pinto que importou o material utilizado no.
A obra foi matéria do jornal O ESTADO DE S.
PAULO (25/05/1883), que informava seus leitores que o pintor Almeida Júnior
estava expondo em seu ateliê o trabalho encomendado por dona Veridiana para
ornamentar o teto de uma das câmaras de dormir: um medalhão com alegoria sobre o sono. “É um
trabalho magnífico. Uma belíssima mulher nua Enquanto esperava o final das obras
Veridiana voltou a Paris, de uma carnação esplêndida, sentada em uma cadeira de
estilo grego, que adormeceu ao doce som de uma pequena orquestra de querubins;
dir-se-ia uma serenata nas nuvens” – segundo o jornal.
Veridiana não era uma senhora fútil. Ela presidiu
a Sociedade Redentora para libertação dos escravos; participou de inúmeros
empreendimentos, inclusive, incentivando a agricultura (setor de seu interesse,
claro) e em várias indústrias. Foi a primeira mulher a ter e dirigir um jornal:
primeiro investiu no jornal do filho Eduardo Prado – “O Comércio de S. Paulo”, para
ajudá-lo e, quando ele faleceu, continuou à frente do periódico; em 1902,
Veridiana requereu na Junta Comercial o registro de uma nova marca para o periódico
que, posteriormente, vendeu a Francisco Glicério.
Em março de 1888, os vereadores mudaram o nome
da rua Santa Cecília para Dona Veridiana Prado. Veridiana morreu em 1910, deixando
parte de sua fortuna para a Santa Casa de São Paulo e outras obras
assistenciais. Seu corpo foi enterrado no Cemitério da Consolação.
Curiosidades – O marido de Veridiana era tio
dela, meio irmão do pai, tinha 27anos, fato que não era incomum para a época.
Maria Antônia da Silva Ramos era concunhada de Veridiana.
O palacete foi vendido para o São Paulo Athetic
Clube, que em 2007 foi incorporado pelo Iate Clube de Santos, fundado por Jorge
da Silva Prado, bisneto de Veridiana. O imóvel foi tombado em 2006/7 e o
tombamento inclui a área verde, um mural de Almeida Jr. e uma escultura de
Brecheret.
Ilustração: D. Veridiana, pintura de Carlo de Servi, acervo Museu Paulista da USP.
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