quinta-feira, 30 de março de 2017

FUNDO DO BAÚ
De vez em quando é preciso limpar o baú para abrir espaço para novos guardados. Aquelas preciosidades que se acredita que são únicas, não devem ou não podem ser esquecidas e desejamos reler ou rever algum dia... Entretanto, atualmente, quase tudo está disponível na Internet e muita coisa pode ter um destino novo – doação ou descarte. A avaliação tem que ser criteriosa para evitar arrependimentos futuros.
Assim, vou tirando quatro exemplares da revista “Correio da UNESCO” (1975,1982, 1983 e 1988), com artigos sobre o mundo dos ciganos modernos, guerra e paz, e o Egito dos faraós. Elas têm lugar garantido, embora o Correio da UNESCO desde 2006 esteja disponível on line nas seis línguas oficiais da ONU – árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol – e também em português.
Há um solitário exemplar da revista O CRUZEIRO de 13 de janeiro de 1945. Nem pensar em me desfazer dele. Vale para a Manchete de 23 de agosto de 1952 cuja manchete é “A luta secreta pela sucessão”, com foto de Vargas fumando seu charuto. Entretanto, paira dúvida sobre encarte com os 25 CONTOS ERÓTICOS, escritos por 25 mulheres premiadas no concurso nacional promovido pela revista STATUS em 1980. Lembro que são histórias apenas razoáveis.
É a vez de duas edições comemorativas da revista LIFE, criada em 1936: a que marca os 50 anos da publicação e a do 60º aniversário – esta com uma capa belíssima com um mosaico de fotos das capas da revista ao longo do tempo. É um prazer folhear a edição de 1996 que traz um resumo da história do século XX em imagens fortes e inesquecíveis. Uma preciosidade em matéria de jornalismo. Ficam.
Uma revista PHOTO. Destacam-se “Marilyn Monroe: les grandes photos d’une vie” e as primeiras fotos coloridas dos irmãos Lumière, feitas entre 1906 e 1910. Cartier Bresson (1908-2004) também está na edição. Mantida. Há também uma NEWSWEEK comemorando (?) os 50 anos de Bond – James Bond. Apesar de fã da série de Ian Fleming (1908-1964), o motivo da aquisição da revista foi mesmo o artigo que o historiador inglês Simon Schama escreveu sobre a obra do conterrâneo. Há também uma edição da L’ EXPRESS INTERNATIONAL com reportagem sobre Jean Moulin (1899-1943) – o controverso líder da resistência francesa durante a II Guerra. Todas com lugar garantido no baú.
Há dúvida quanto ao destino da edição de lançamento da DISCOvERY MAGAZINE (agosto de 2004), que ao folhear revela várias matérias interessantes, assim como o exemplar da SCIENTIFIC AMERICAN Brasil (2015) – não atino o motivo da compra. Precisa de uma avaliação mais demorada, mas já vislumbrei um tema que me interessou no início deste ano.
Enfim, o que será descartado? Com certeza os pacotes de folha A4 e outros papéis especiais porque não imprimo mais nada por questão de economia; uma coletânea de mapas (Brasil, Estado de São Paulo, RM de São Paulo e Santos) – encartes de QUATRO RODAS, talvez. Ficarão apenas quatro – um de cada lugar. Vai embora também o ATLAS National Geographic – Europa II, da ABRIL, cujo miolo é Brasil. Algum terremoto na gráfica. Como tenho outro melhor ele será doado. Aliás, não sei o motivo da compra, pois não tenho Europa I.

Ah! Enfim, espaço para outros achados... Hora de reorganizar o baú. 


domingo, 26 de março de 2017

BARRA FUNDA DE ELIAS CHAVES

É estranho caminhar pela Avenida Rio Branco, na Barra Funda, para visitar um palacete, pois os arredores encontram-se em decadência progressiva. Os tempos de fausto se foram, mas ainda há resquícios que, felizmente, a sociedade paulista tenta preservar. Destino Palácio dos Campos Elíseos.
No final do século XIX, o fazendeiro e empresário Elias Antônio Pacheco e Chaves (1842-1903) mandou com construir a residência da família no terreno situado na Alameda dos Bambus (Avenida Rio Branco) com fundos para a Alameda Guaianases, na esquina da Alameda Glete. Não poupou recursos. Nem precisava porque era uma dos homens mais ricos da época. Elias Pacheco e Chaves era proprietário da mais importante exportadora brasileira de café – a Companhia Prado Chaves Exportadora de Café, criada em 1887, com o sogro e os cunhados Antonio Prado e Martinho da Silva Prado Júnior. O grupo tinha catorze fazendas em São Paulo com cerca de dois milhões e quinhentos mil pés de café (1906), e mantinha subsidiárias em Londres, Estocolmo e Hamburgo.
Elias Chaves precisava de uma casa grande. Afinal, ele e Anésia da Silva Prado tinham dez filhos. Assim, ele encomendou o projeto ao arquiteto alemão Matheus Haussler e a obra levou seis anos para ser executada (1893-1899). A finalização foi dirigida pelo cenógrafo italiano Claudio Rossi e pelo arquiteto alemão Hermann Von Puttkamer; a parte da carpintaria coube a outro alemão: João Grundt.
Em 1899 a família mudou para o palacete, que dispunha no térreo de sala de visitas com piano, saleta, salão nobre, sala de jantar, gabinete de trabalho, sala de bilhar e quarto de estudos; uma escada em caracol conduzia ao andar superior onde havia oito quartos de dormir, três quartos de vestir e uma galeria que era usada com área de estar. Havia um único banheiro na casa. No porão, ficavam as dependências de serviço; havia ainda acocheira com uma vitória e dois cavalos argentinos e o bebedouro. Havia seis dormitórios para os empregados. As edículas situam-se no fundo do terreno (Guaianases).
Foi o luxo e o conforto da casa que levaram o governo de São Paulo a requisitá-la em 1906 para hospedar o secretário de Estado norte-americano Elihu Root. A família permaneceu na casa até 1911, quando foi comprada pelo governo paulista para servir de residência aos chefes de Estado. Valor do investimento: 580 contos de réis. Quem estreou a nova moradia foi o Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), que presidiu o Estado de São Paulo de 1912 a 1916; foi sede do Governo do Estado até a mudança para o Morumbi em 1973 e a partir de então o palacete sediou várias secretarias de governo.  
Prédio tombado pelo CONDEPHAAT em 1977. Fechado, no momento. Motivo: obras de restauro.
(Campos Elíseos foi parte da propriedade dos alemães Frederico Glete e Victor Nothmann, conhecida como Chácara dos Bambus. O projeto de urbanização foi de autoria do engenheiro Hermann Von Puttkamer.)
 
Prédio fechado para obras de restauro (Foto: HPPA, 24/03/2017). 

Foto: site da Secretaria de Estado da Cultura. Autor não creditado.
 Fontes: sites do Governo do Estado de São Paulo e do CONDEPHAAT. 
O Palacete paulistano e outras formas paulistanas de morar da elite cafeeira”, de Maria Cecília Naclério Homem São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.


sábado, 25 de março de 2017

UM BRINDE AO BOM GOSTO


James Stewart, Grace Kelley e o Montrachet: Janela Indiscreta (1955).
            Não é preciso gostar de vinho para apreciar este livro. As histórias curtas são repletas de surpresas. Mesmo cenas banais – como a do filme “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock (1954) – se renovam quando espargidas pelo vinho que a dupla romântica degusta na tela tão bem iluminada pelo texto do jornalista e escritor paulista José Guilherme Rodrigues Ferreira. O livro é “Vinhos no Mar Azul. Viagens enogastronômicas” que tive a felicidade de ganhar do autor, colega do Jornal da USP que não encontro pessoalmente há alguns anos.
          Que tal começar com o próprio Dionísio dando uma entrevista à CNN? A viagem começa pelo Chile – mas é perfeitamente possível guiar-se pelos títulos instigantes das crônicas sem se importar em seguir a ordem oferecida pelo autor. Que tal acompanhar Thomas Jefferson, um dos fundadores da nação americana, aos mais famosos vinhedos franceses do mundo em pleno inverno de 1787? Ou se deliciar com o tour de uma girafa africana ao longo de rios e vinhedos franceses. Não se engane com o apelo do rinoceronte. Há formigas também. Mitologia, literatura e música estão presentes nessa viagem que pode ser muito bem acompanhada por seu vinho preferido. Ah! No final, só no final, José Guilherme Rodrigues Ferreira relata a trajetória do saca-rolha.       

Vinhos no mar azul, viagens enogastronômicas, de José Guilherme Rodrigues Ferreira. São Paulo, SP: Editora TERCEIRO NOME, 2009.

quarta-feira, 22 de março de 2017

DIA MUNDIAL DA ÁGUA
(22 de março)


A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água. 
[...]

Do poema “Cão sem plumas”, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999).

Giovanni B. Castagneto: Paisagem com rio e barco ao seco em São Paulo 
‘Ponte Grande’, 1895; óleo sobre madeira, acervo do MASP. 

Benedito Calixto. “Inundação da Várzea do Carmo”,
1892, óleo sobre tela de Museu Paulista da USP.





sexta-feira, 17 de março de 2017

O JEITO PAULISTANO DE SER

O Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000) é um edifício feioso, mas com um espaço bem interessante. O projeto é de Eurico Prado Lopes e Luiz Telles. Ali, se encontram a Biblioteca Sérgio Milliet, a Discoteca Oneyda Alvarenga, Coleção de Arte da Cidade (pinacoteca municipal), cinema, teatro e realizam-se cursos e oficinas de vários tipos. Há até uma horta comunitária.
Bem agradável circular pelo Centro. Quem vai de metrô, desce na estação Vergueiro e já sai nos jardins Eurico Prado Lopes que tem uma vista bonita da cidade. No trajeto, há várias mesas ocupadas por pessoas estudando, navegando em seus notebooks, lendo ou simplesmente batendo papo. Logo na entrada coberta, as coisas ficam mais agitadas. 


 Jovens reúnem-se para aprender a dançar – street dance ou um bom forró (sem música) e ensaiar coreografias. Na falta de espelho (afinal, ali é um corredor) usam o reflexo nos vidros. 

Mais adiante fica a turma do xadrez – um pouco mais velha, mas nada impede que os jovens se avizinhem para usar o computador. O corredor leva à biblioteca (sempre cheia) que fica no subsolo e à galeria de exposições acima dela. 
                                                                                                                                            




Uma escadaria leva à cobertura, onde sempre é possível se reunir para um papo, discutir grandes planos, ler ou tomar sol. 






Para quem passa o dia por lá há restaurante (que não abre aos domingos) e lanchonete, que funciona aos domingos. O Centro Cultural não abre às segundas-feiras. (Fotos: Hilda Araújo, 12/03/2017.)

quinta-feira, 16 de março de 2017

EM BUSCA DA FELICIDADE
Por desejo o homem é capaz de cometer as maiores loucuras. Foi por desejo que Eva aceitou a maçã, causadora da expulsão de Adão e Eva do Paraíso, segundo o mito da criação. Zeus, deus dos deuses da mitologia grega idealizados à imagem e semelhança dos homens, não poupava esforços para realizar seus desejos: transformou-se em forasteiro, camponês e nos mais variados animais (cuco, águia, cisne entre muitos outros) e até em chuva de ouro e labaredas. O mais sábio dos homens, Salomão, não resistiu à beleza da rainha de Sabá. Herodes desejava Salomé, que desejava João que amava a Deus sobre todas as coisas, mas nesse jogo de desejos, foi ele quem perdeu a cabeça. Literalmente.
Da antiguidade até os tempos atuais quase nada mudou. A indústria do cinema, consolidada no século XX, tornou-se uma fábrica de desejos. Homens e mulheres ansiando por fama e fortuna na mesma medida em que se tornam objeto do desejo dos simples mortais do planeta. Marilyn Monroe – que os homens queriam – desejava ser uma intelectual; antes de se tornar princesa, Grace Kelly que era objeto do desejo dos homens, sempre fez dos homens o objeto de seus desejos...
Freud, então, não deixou pedra sobre pedra quando proclamou que parte da humanidade desejava a mãe e a outra, o pai. E assim foi todo mundo para o divã tentar curar as taras, que Nelson Rodrigues, com enorme talento, expôs em sua obra.
Mas o que é o desejo? O desejo é a força motriz da civilização.
A Fontana di Trevi (Roma), mais conhecida como Fonte dos Desejos, é prova disso. Não há turista que resista ao impulso de jogar uma moedinha na esperança de ter seus desejos realizados (certamente voltar a Roma é o principal).
 “Sem desejo não há frustração” – já dizia filósofo e político romano Marco Túlio Cícero (106-42 a. C.).  Voilà!
(Fotos: Hilda Araújo, 2011.)

Multidão admira a Fontana de Trevi, na foto ao lado.
      

quarta-feira, 15 de março de 2017

MUSEUS NA CIDADE UNIVERSITÁRIA

Muitas unidades da Universidade de São Paulo (USP) mantêm coleções cientificas e culturais para divulgar conhecimento e preservar a memória da instituição. Na Cidade Universitária (Butantã), há várias. Avenida Afrânio Peixoto, Butantã. Acesso: Metrô Linha Quatro, Estação Butantã. Ônibus circular na saída: linhas 8012-10 e 8022-10.
O Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia foi inaugurado em 1984. O acervo, formado ao longo de muitos anos, é resultado de doações, permutas, intercâmbios e trabalhos de pesquisa de pós-graduandos. São mais de mil peças representativas de animais selvagens e domésticos, evidenciando as mais diversas estruturas anatômicas. A exposição reúne coleções de sete grandes grupos: Aves (coruja, arara, pinguim etc.), Bovídeos (gnu, boi etc.); Carnívoros (tigre, cães etc.); Equídeos (cavalo, jumento etc.); Primatas (homem); Suídeos (cateto, porco etc.) e Diversos (como peixes, répteis) e Mamíferos aquáticos (baleia orca e golfinho). O Museu recomenda a exposição “Dimensões do Corpo: da Anatomia à Microscopia” para todas as faixas etárias, podendo ser visitada individualmente ou em grupos organizados. Avenida Professor Orlando Marques de Paiva. Telefone 11-3091-1309. Funcionamento: de terça à sexta-feira - 9h às 17h, sábados - 9h às 14h. Ingresso individual, R$ 6. Gratuito na primeira terça-feira do mês.
Além de difundir a Oceanografia e as pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, o Museu Oceanográfico dá suporte às atividades de ensino fundamental e médio do Estado de São Paulo. A exposição é dividida em módulos sobre a dinâmica e a biodiversidade dos oceanos. Aberto ao público em 1988 como Museu e Aquário, a partir de 1992 passou para a categoria de Museu Oceanográfico. Praça do Oceanográfico, 191. Telefone: 11-3091-7149. Funcionamento: terça à sexta-feira das 9h às 17h. Sábados e domingos das 10h às 16h. Entrada gratuita.



O Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) mantém um dos maiores acervos arqueológicos e etnográficos do Brasil em formação desde o final do século XIX. Uma visita ao museu constitui uma viagem pela história dos povos mediterrâneos, do Oriente Médio e da América Pré-colombiana. A biblioteca reúne cerca de sessenta mil volumes (livros, catálogos, revistas e obras raras). “Polis: viver na cidade grega antiga” é a exposição que pode ser visitada até dia 30 de junho, de segunda a sexta-feira (exceto às terças-feiras) das 9 às 17 horas. Abre também no segundo sábado de cada mês das 10 às 16 horas. Avenida Prof. Almeida Prado, 1466. Telefone:(11) 3091-4905. Entrada gratuita.

Você já viu um meteorito? No Museu de Geociências, há uma coleção que inclui o Itapuranga, terceiro maior meteorito brasileiro. Ele pesa 628 kg, tem forma irregular e foi encontrado na Fazenda Curral de Pedra a 18 quilômetros da cidade de Itapuranga (GO). O Museu, ligado ao Instituto de Geociências da USP, tem cerca de quinze mil amostras (minerais, gemas, rochas, meteoritos e espeleotemas*) – um terço em exposição. A maior parte do acervo é nacional, mas há amostras de minerais raros provenientes da Rússia, China Groelândia, Tajiquistão (Ásia Central), Índia, Cazaquistão e Kirgízia (Ásia Central). R. do Lago, 562. Telefone:(11) 3091-4670. Aberto de segunda à sexta-feira, das 8h30 às 12 horas e das 13h30 às 17 horas. Entrada gratuita.
*Formações rochosas que ocorrem no interior de cavernas.

Embora fechado para reformas vale a pena registrar o Museu de Anatomia Humana “Prof. Alfonso Bovero” do Instituto de Ciências Biomédicas para uma visita futura. Ele tem 1.800 peças anatômicas preparadas e conservadas por diversos métodos, separadas e catalogadas de acordo com os aparelhos que constituem o corpo humano. Ele dispõe ainda de cerca de 300 peças na reserva técnica, destinada a demonstrações em aulas práticas, reposição de eventuais perdas e exposições em escolas. Entre os esqueletos (cerca de 70) existem alguns que representam o Homem de Sambaqui – que viveu no litoral brasileiro em época pré-histórica. Endereço: Av. Prof. Lineu Prestes, 2415. Edifício III do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB). Telefone: 11 3091-7360.


terça-feira, 14 de março de 2017

DIA DOS CALVOS

E não é que se comemora hoje o Dia dos Carecas, que também mereceram um dia mundial, que é 14 de outubro? Careca é o nome popular para denominar pessoas desprovidas de cabelo, ou seja, calvas. Nada como bom-humor para tornar a vida mais suave. Eles reinaram no Carnaval de 1942, quando Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti criaram a marchinha “Nós, os carecas” que o Brasil todo cantou. Sempre caíram de charme. Desde os tempos de Yul Brynner (1920-1985), passando por Telly Savalas (1922-1994), Cecil Thiré (1943), Bruce Willis (1955), James Lesure (1970), Rafael Zulu (1983), eles sempre brilharam em cena (hum!).
Parabéns para eles.

NÓS, OS CARECAS.
Gravação: Anjos do Inferno, Carnaval: 1942.

Nós, nós os carecas
Com as mulheres somos maiorais
Pois na hora do aperto
É dos carecas que elas gostam mais.

Nós, nós os carecas
Com as mulheres somos maiorais
Pois na hora do aperto
É dos carecas que elas gostam mais.

Não precisa ter vergonha
Pode tirar seu chapéu.
Pra que cabelo? Pra que, seu Queiroz?

Agora a coisa está pra nós, nós, nós. 

 
Rafael Zulu.                                       Cecil Thiré


James Lesure                                                                     Telly Savalas
AVISO AOS NAVEGANTES

               O Dia da Poesia é 31 de outubro (Lei nº 13.131, de 2015), data de nascimento de Carlos Drummond de Andrade (1901-1987). 

domingo, 12 de março de 2017

PORQUE HOJE É DOMINGO


Domingo pede cachimbo. 
Obra do suíço Albert Anker (1831-1910).
Domingo ensolarado para aproveitar o final de verão na praia.
Trabalho do ilustrador canadense Clarence Gagnon (1881-1942).

BOAS LEMBRANÇAS

Minha avó Maria Luisa de Araújo (1896-1977) ocupava o tempo livre fazendo crochê na cadeira de balanço da área ajardinada ou da sala, enquanto ouvia rádio. Ela estava sempre procurando pontos diferentes para as suas criações. Um dia resolveu fazer um vestido para mim.
Lembro vagamente que ela pesquisou cores e linhas e que fez algumas amostras antes de se decidir a, finalmente, iniciar o trabalho que não demorou muito para ser concluído. Ela usou uma linha fina cor de rosa; os arremates da barra e do decote foram feitos com um trançado de tecido da mesma cor. Uma costureira fez a montagem.

Usei o vestido poucas vezes e o guardo com muito carinho porque ele é de certa forma a materialização do amor que ela sempre teve por mim. Em 2009 participei da oficina para terceira idade sobre memória, promovida pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e, na exposição final, apresentei o vestido em homenagem a minha avó. 

sexta-feira, 10 de março de 2017

O BANHO, AQUI E ALI.


Conta a lenda que o herói grego Agamenon, que comandou a guerra contra Troia, foi assassinado pela mulher Clitemnestra com duas machadadas enquanto se banhava.



“Eureka!”– gritou Arquimedes de Siracusa (287-212) de sua banheira, no século III a. C. ao descobrir o princípio segundo o qual um corpo imerso em um fluido sofre uma força de empuxo igual ao peso do fluido que ele desloca.












Durante a Revolução Francesa, a simpatizante girondina Charlotte Corday matou o jornalista jacobino Jean-Paul Marat (1743-1792) na banheira, onde costumava ficar imerso em água fria para aliviar seus acessos periódicos de psoríase artrítica que o deixavam em carne viva. O pintor Jacques-Louis David imortalizou a cena em quadro que está no Museu Real de Belas Artes de Bruxelas (Bélgica).





Uma das cenas mais famosas do cinema mostra Janet Leigh gritando ao ser esfaqueada quando tomava banho de chuveiro. O filme é “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock. 

quinta-feira, 9 de março de 2017

O PRAZER DO BANHO

Bath: terma instalada no ano 75 pelo imperador Vespasiano.
            Ninguém melhor do que os romanos soube apreciar as delícias de um banho. Egípcios, hindus e gregos tinham o hábito de se banhar. Heródoto conta que os egípcios vestiam roupas limpas e praticavam a circuncisão por higiene, “preferindo a limpeza à aparência mais atraente”; os sacerdotes depilavam o corpo todo para prevenir piolhos. Os gregos limpavam-se por uma questão de conforto e boa aparência. Hipócrates (460 a. C. – 370 a. C.), que é considerado pai da medicina, sempre recomendava banhos. 
Os historiadores acreditam que o banho romano típico surgiu no século II a. C., na Campânia. Cem anos depois já fazia parte do cotidiano das pessoas e à medida que o império se expandia iam introduzindo o costume entre os povos conquistados. Um ótimo exemplo é a cidade de Bath, na Inglaterra. Stabia, em Pompeia, é a casa de banho mais antiga de que se tem notícia: 140 a. C. Um romano despendia cerca de duas horas em sua higiene.
A casa de banho, geralmente, consistia de um vestiário onde o banhista deixava as roupas que eram guardadas pelo escravo pessoal ou por um funcionário da casa. Em seguida, com o corpo nu untado de óleo, saia para um pátio amplo, ajardinado, onde fazia exercícios, jogava bola, lutava ou corria. Suado, ele se dirigia para o caldarium para o banho quente para transpirar e depois um criado ou companheiro de banho raspava o suor, o óleo e a sujeira com uma espátula. O banhista passava para o tepidarium onde havia a piscina de água tépida; em seguida dirigia-se para o frigidarium para o banho frio, e finalizava a higiene com nova raspagem do corpo que era então untado com óleo e perfume (caso dos mais abonados). Havia também um sudatorium – espécie de sauna. Os banhos eram gratuitos ou muito baratos.
No princípio, homens e mulheres banhavam-se no mesmo espaço e só mais tarde criou-se uma área feminina. O horário de mais movimento era à tarde, pois os romanos adotaram o hábito grego de se banhar após o trabalho, que começava às 6 horas estendendo-se até o meio da tarde.
 Os banhos eram um local importante de socialização e muitas casas eram decoradas com obras de arte – esculturas e pinturas. Uma curiosidade – observada também em Pompeia – é a instalação de bordeis nas proximidades das casas de banho. Historiadores dizem que as prostitutas deviam circular pelas termas divulgando suas atividades.

A paixão dos romanos pelo banho pode ser observada em Roma (Termas de Caracalla, Diocleciano, Trajano e Nero); na Inglaterra (Bath), na França (Cluny), Portugal (Braga) entre outros. 
Termas de Caracala, Roma, 2011.

Bath: detalhes, 2015.

terça-feira, 7 de março de 2017

SOB OS CÉUS DE POMPEIA (2)

É estranho estar no centro de um anfiteatro, sozinha, cercada por arquibancadas vazias. Céu azul. Ao longe o Monte Vesúvio. Belo e aparentemente tranquilo. O que se passa em suas entranhas? Só os geólogos podem nos dizer. Ele se manifestou pela última vez em 1944, sem grandes consequências.  
Ao deixar o anfiteatro o visitante logo reconhece mais uma herança que os romanos nos deixaram: as ruas bem calçadas com os passeios para pedestres mais altos. Há fontes em algumas esquinas. O coração da cidade é o Fórum – onde as pessoas se reuniam para eventos políticos e religiosos. Por ali encontram-se as ruínas dos templos de Vespasiano, Júpiter e de Apolo – onde se sobressai a bela estátua de um jovem em movimento; da casa de controle de pesos e medidas, os prédios de administração pública e a casa do Senado, onde o conselho da cidade se reunia. Nas proximidades encontra-se o Comitium, área usada para eleições. O Arco de Calígula permaneceu de pé. Na Basílica, onde eram realizados julgamentos, mercadores e homens de negócios se encontravam para discutir seus interesses.
Hora de atravessar a Via Degle Augustali em direção à Via Della Fortuna para conhecer Termopolium, lugar com estabelecimentos comerciais onde as pessoas podiam comprar comida quente feita na hora. Enfim, fast food não é nada moderno. Geralmente, era usado por pessoas sem recursos.
Que tal caminhar pelas vielas para conhecer residências e descobrir como as pessoas viviam naquela época? A Vila dos Mistérios mostra a elegância e o bom gosto da família Istacidi que foi a última proprietária. O nome deve-se à bela pintura mural que adorna o triclínio* cujo tema é a iniciação de uma jovem (ou noiva) ao culto de Baco (Dionísio). A vila, que chegou a ser propriedade do estado romano, tem sessenta cômodos. Merece uma visita sem pressa.
A Casa del Fauno também merece uma visita, com chão com mosaicos – um deles reproduz uma batalha entre Alexandre, o Grande, e Dario, rei persa.  No impluvium*, há uma pequena estátua grega do Fauno que deu origem ao nome da casa. Há ainda as Casas di Meleagro, Vettis entre outras. Na Casa do Poeta, o destaque é o lindo mosaico com um aviso para se ter “cuidado com o cão” (Cave canem).
Pompeia dispunha de um conjunto de três termas (Stabiane, Central e Fórum), que são uma demonstração da importância que os romanos davam ao banho. Ah! Que povo maravilhoso. Os estabelecimentos eram públicos e com espaços separados para homens e mulheres e constituíam importante espaço social.
O que talvez mais chame mais atenção do público são as cópias dos corpos encontrados nas escavações, revelando os últimos momentos de moradores da cidade. Como substâncias orgânicas não são preservadas por muito tempo, diluindo-se e deixando um espaço vazio. Durante os trabalhos arqueológicos, quando se notava um espaço vazio, eram feitos moldes de gesso obtendo-se a forma do que se encontrava ali. Desse modo foram feitos moldes de gesso dos corpos das vítimas da erupção, árvores, objetos de madeira, mobília etc. que podem ser vistos pelos visitantes.
(Estive em Pompeia em duas oportunidades e não consegui visitar o Museu por causa de obras. É sempre bom verificar o que está aberto para visita por causa de obras de restauro regulares.)

*Triclínio: uma sala de refeições com mesa e três cadeiras reclináveis para os convivas. Impluvium: tanque situado no vestíbulo para recolher água da chuva.

Anfiteatro e o Vesúvio ao fundo. Fotos: Hilda Araújo, 1993.
Ruas calçadas e à direita os passeios altos. (1997)



segunda-feira, 6 de março de 2017

SOB O CÉU DE POMPEIA
                   
O que se espera encontrar em uma verdadeira cidade fantasma com quase dois mil anos de existência? Pompeia (Itália) desperta sentimentos variados, mas não deixa ninguém indiferente ao destino dos moradores que foram vítimas da erupção do Vesúvio. Para mim a surpresa maior foi descobrir que não somos muito diferentes das pessoas daquela época, que algumas coisas pouco mudaram. Como o anfiteatro, que parece perfeito para um evento contemporâneo.
No ano 79 da nossa era, as cidades de Pompeia e Herculano foram soterradas pela violenta erupção do Vesúvio que até então parecia aos moradores uma montanha tranquila com bosques e vinhedos. O vulcão adormecido já dera sinais de que despertava em 69, quando houve um terremoto que destruiu várias cidades da Campânia e também afetou Pompeia. O Vesúvio entrou em erupção no outono – entre outubro e novembro, surpreendendo a população em seus afazeres cotidianos. As pessoas tentaram simplesmente fugir, outras ainda se preocuparam em levar alguns bens e muitos conseguiram escapar da fúria da natureza.
Caio Plínio Cecílio Segundo, o Jovem, (61-114), participou da operação de resgate do seu tio-avô, Caio Plínio Segundo ou Plínio, o Velho, e escreveu mais tarde sobre o que testemunhou:
          “As cinzas caíam, quentes e espessas, sobre os navios e do Monte Vesúvio surgiam grandes lençóis de chamas e enormes incêndios cada vez em mais lugares, e seu brilho e clarão contrastavam com a escuridão da noite.”
“Atrás de nós pairava uma terrível nuvem negra, rasgada por clarões repentinos de fogo, contorcendo-se como uma serpente e revelando lampejos maiores do que relâmpagos... Se ouviam os gritos estridentes das mulheres, o choro das crianças e os gritos dos homens. A escuridão acabou cedendo, e finalmente surgiram a verdadeira luz do dia e um sol pálido. Diante de nossos olhos aterrorizados, tudo parecia mudado, coberto por uma espessa camada de cinzas como uma grande nevada.”
Assim, Pompeia tornou-se uma cidade de onde a vida se esvaneceu deixando petrificados momentos de agonia dos habitantes que não conseguiram escapar do mar de lava, do fogo, das cinzas e, principalmente, dos gases que se expandiam por todos os cantos da cidade.
Plínio, o Velho era almirante da frota do litoral de Nápoles e deslocou-se até Pompeia para tentar resgatar as vítimas do Vesúvio, e observar, como naturalista, a erupção do vulcão. Entretanto, ele também morreu, como narra o sobrinho-neto: “Acredito que foi sufocado pelos vapores densos. Quando o dia amanheceu, seu corpo foi encontrado intacto, sem um ferimento e vestido como em vida”.
Mas há muito a descobrir nessa cidade que ficou soterrada por 1.600 anos e foi encontrada por acaso em 1768. É considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO.

Pompeia está situada a 22 km de Nápoles e a viagem de trem é rápida e agradável. O sítio arqueológico fica perto da estação ferroviária. (Cont.)
Retrato do poeta Menander: interior de casa pompeana.


domingo, 5 de março de 2017

HOMENAGEM À VELHA AMIGA

          Hoje ao limpar os arquivos do computador achei este poema de Giuseppe Artidoro Ghiaroni (1819-2008), jornalista e poeta carioca, que acordou ótimas lembranças das aventuras que vivi com a minha querida Lettera 44 (na Internet aparece como raridade), bem guardada na caixa em cima de um armário.


MÁQUINA DE ESCREVER

Mãe, se eu morrer de um repentino mal,
vende meus bens a bem dos meus credores:
a fantasia de festivas cores
que usei no derradeiro Carnaval.

Vende esse rádio que ganhei de prêmio
por um concurso num jornal do povo,
e aquele terno novo, ou quase novo,
com poucas manchas de café boêmio.

Vende também meus óculos antigos
que me davam uns ares inocentes.
Já não precisarei de duas lentes
para enxergar os corações amigos.

Vende, além das gravatas, do chapéu,
meus sapatos rangentes. Sem ruído
é mais provável que eu alcance o Céu
e logre penetrar despercebido.

Vende meu dente de ouro. O Paraíso
requer apenas a expressão do olhar.
Já não precisarei do meu sorriso
para um outro sorriso me enganar.

Vende meus olhos a um brechó qualquer
que os guarde numa loja poeirenta,
reluzindo na sombra pardacenta,
refletindo um semblante de mulher.

Vende tudo, ao findar a minha sorte,
libertando minha alma pensativa
para ninguém chorar a minha morte
sem realmente desejar que eu viva.

Pode vender meu próprio leito e roupa
para pagar àqueles a quem devo.
Sim, vende tudo, minha mãe, mas poupa
esta caduca máquina em que escrevo.

Mas poupa a minha amiga de horas mortas,
de teclas bambas, tique-taque incerto.
De ano em ano, manda-a ao conserto
e unta de azeite as suas peças tortas.

Vende todas as grandes pequenezas
que eram meu humílimo tesouro,
mas não! ainda que ofereçam ouro,
não venda o meu filtro de tristezas!

Quanta vez esta máquina afugenta
meus fantasmas da dúvida e do mal,
ela que é minha rude ferramenta,
o meu doce instrumento musical.

Bate rangendo, numa espécie de asma,
mas cada vez que bate é um grão de trigo.
Quando eu morrer, quem a levar consigo
há de levar consigo o meu fantasma.
Pois será para ela uma tortura
sentir nas bambas teclas solitárias
um bando de dez unhas usurárias
a datilografar uma fatura.

Deixa-a morrer também quando eu morrer;
deixa-a calar numa quietude extrema,
à espera do meu último poema
que as palavras não dão para fazer.


Conserva-a, minha mãe, no velho lar,
conservando os meus íntimos instantes,
e, nas noites de lua, não te espantes
quando as teclas baterem devagar.