domingo, 26 de março de 2017

BARRA FUNDA DE ELIAS CHAVES

É estranho caminhar pela Avenida Rio Branco, na Barra Funda, para visitar um palacete, pois os arredores encontram-se em decadência progressiva. Os tempos de fausto se foram, mas ainda há resquícios que, felizmente, a sociedade paulista tenta preservar. Destino Palácio dos Campos Elíseos.
No final do século XIX, o fazendeiro e empresário Elias Antônio Pacheco e Chaves (1842-1903) mandou com construir a residência da família no terreno situado na Alameda dos Bambus (Avenida Rio Branco) com fundos para a Alameda Guaianases, na esquina da Alameda Glete. Não poupou recursos. Nem precisava porque era uma dos homens mais ricos da época. Elias Pacheco e Chaves era proprietário da mais importante exportadora brasileira de café – a Companhia Prado Chaves Exportadora de Café, criada em 1887, com o sogro e os cunhados Antonio Prado e Martinho da Silva Prado Júnior. O grupo tinha catorze fazendas em São Paulo com cerca de dois milhões e quinhentos mil pés de café (1906), e mantinha subsidiárias em Londres, Estocolmo e Hamburgo.
Elias Chaves precisava de uma casa grande. Afinal, ele e Anésia da Silva Prado tinham dez filhos. Assim, ele encomendou o projeto ao arquiteto alemão Matheus Haussler e a obra levou seis anos para ser executada (1893-1899). A finalização foi dirigida pelo cenógrafo italiano Claudio Rossi e pelo arquiteto alemão Hermann Von Puttkamer; a parte da carpintaria coube a outro alemão: João Grundt.
Em 1899 a família mudou para o palacete, que dispunha no térreo de sala de visitas com piano, saleta, salão nobre, sala de jantar, gabinete de trabalho, sala de bilhar e quarto de estudos; uma escada em caracol conduzia ao andar superior onde havia oito quartos de dormir, três quartos de vestir e uma galeria que era usada com área de estar. Havia um único banheiro na casa. No porão, ficavam as dependências de serviço; havia ainda acocheira com uma vitória e dois cavalos argentinos e o bebedouro. Havia seis dormitórios para os empregados. As edículas situam-se no fundo do terreno (Guaianases).
Foi o luxo e o conforto da casa que levaram o governo de São Paulo a requisitá-la em 1906 para hospedar o secretário de Estado norte-americano Elihu Root. A família permaneceu na casa até 1911, quando foi comprada pelo governo paulista para servir de residência aos chefes de Estado. Valor do investimento: 580 contos de réis. Quem estreou a nova moradia foi o Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), que presidiu o Estado de São Paulo de 1912 a 1916; foi sede do Governo do Estado até a mudança para o Morumbi em 1973 e a partir de então o palacete sediou várias secretarias de governo.  
Prédio tombado pelo CONDEPHAAT em 1977. Fechado, no momento. Motivo: obras de restauro.
(Campos Elíseos foi parte da propriedade dos alemães Frederico Glete e Victor Nothmann, conhecida como Chácara dos Bambus. O projeto de urbanização foi de autoria do engenheiro Hermann Von Puttkamer.)
 
Prédio fechado para obras de restauro (Foto: HPPA, 24/03/2017). 

Foto: site da Secretaria de Estado da Cultura. Autor não creditado.
 Fontes: sites do Governo do Estado de São Paulo e do CONDEPHAAT. 
O Palacete paulistano e outras formas paulistanas de morar da elite cafeeira”, de Maria Cecília Naclério Homem São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.


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