quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O MAGO
Ele chegou ao hotel às 6h30 a bordo de um yellow cab. Um senhor negro, talvez 50 anos. Dei a direção, ele disse OK e partimos. Acho que a conversa começou quando ele percebeu que eu estava admirando o nascer do sol em Los Angeles. “Belo dia”, comentou e, então, a jornada que prometia ser enfadonha tornou-se inesquecível. Perguntou de onde eu era e, como todos ao saberem da minha procedência, exclamou: “Hum, Brazil!”. Fico curiosa para saber o que querem dizer, mas temo a resposta. Em seguida quis saber da situação econômica do país. Disse que não era muito boa, mas o problema maior eram os políticos e emendei comentando que também não entendia como os Estados Unidos elegeram Donald Trump. O “homem” é louco e foi uma estupidez a eleição dele, uma pessoa despreparada. Elogiou Obama e demonstrou confiança na volta dele à presidência, já que é jovem.
Perguntei se ele era da Califórnia. Não, de uma pequena cidade do Texas. Gosta de Los Angeles, mas pretende voltar para a terra natal quando se aposentar, porque lá todos se conhecem e se cumprimentam nas ruas, vão à mesma igreja, às festas com boa música e ótima comida. Eu observei que em New Orleans as pessoas também se cumprimentam quando passam umas pelas outras. Ele se entusiasmou: “Ah! Conhece New Orleans! Lugar maravilhoso! Ótima música, ótima comida!”
Caímos num congestionamento matinal mesmo numa hight way. Volta a elogiar a vida na cidade pequena e diz que o problema das pessoas resume-se a três coisas – SGU, iniciais em inglês de pressa, ganância e coisas desnecessárias. Ele diz que é preciso repensar o estilo de vida, que deve ser simples para se usufruir melhor da existência. E para se viver melhor são essenciais disciplina, paixão e tolerância. Quando peguei a caneta para anotar, ele se surpreendeu: “Vai escrever o que eu disse?” Ele parecia satisfeito.
Ele morou em muitas cidades e se entusiasma quando descobre que meu destino é San Francisco. Adora a cidade, relembra a canção de Tony Bennet – cantor que ele aprecia e, de repente, me diz que também canta e para provar solta a voz no melhor estilo de Bennet. Vegas? Vai sempre por lá visitar o irmão. “A senhora sabe aproveitar a aposentadoria. Quero fazer o mesmo quando me aposentar.” E ele sonha, imitando os sotaques de cada lugar... Quer ir à Itália (“buon giorno”), França (“bon jour”), à Espanha (“buenos dias”) e então quer saber o que tem de bonito no Brasil. Sinuca de bico – mas cito a Floresta Amazônica e, naturalmente, Rio de Janeiro. Ah! Ele se entusiasma para valer (“mulheres muito bonitas”), mas é nesse momento que ele me surpreende e me conquista definitivamente ao cantar “Garota de Ipanema”.

Nem precisa dizer que foi a melhor viagem de táxi que fiz na vida – e já fiz muitas! Quando chegamos ao meu destino, ele me deu várias dicas de San Francisco e desejou boa viagem. Agradeci e fiz questão de saber o nome dele. Joel, disse modestamente. Espero que Joel tenha uma ótima aposentadoria, volte para a cidade natal, frequente muitas festas e viaje bastante. Aliás, ele foi o único taxista norte-americano que encontrei nas minhas duas estadas naquele país. Não senti o tempo passar nem me preocupei com o valor da corrida. Valeu cada centavo de dólar. 

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