Destino: Santo Amaro. Não, não fui visitar a difamada estátua do Borba
Gato, que vi apenas uma ou duas vezes em todos esses anos que moro em São Paulo. Ela é
realmente feiosa, mas já vi uma bem pior em Roma, do papa João Paulo II. Do que
pouca gente lembra é que Santo Amaro já foi uma cidade importante, com uma
história que remonta aos tempos da fundação da São Paulo – ali viveu Caiubi,
irmão do cacique Tibiriçá; o padre Anchieta foi quem teve a ideia de criar uma
vila na região. Tudo começou com a construção de uma capela nas terras do
português João Paes, que doou também a imagem de Santo Amaro. O Largo Treze de
Maio é o local em que a história do vilarejo começou. E aqui vale parêntese:
dizem que o santo Amaro não existiu; ele seria fruto de uma lenda portuguesa.
Seja como for, a vila foi elevada à freguesia em 1686. (Freguesia é uma igreja
com vários povoados no entorno e quando a população cresce ganha o status de paróquia.)
A
freguesia tornou-se importante ponto de abastecimento de São Paulo; em 1827 chegaram
os primeiros alemães ao Brasil e lá se instalou um núcleo da colônia alemã.
Em abril de 1832 Santo Amaro foi emancipado de São
Paulo e em 1886 ganhou uma estrada de ferro inaugurada com a presença do
Imperador D. Pedro II. O trajeto da maria-fumaça começava pelas atuais avenida
Liberdade, ruas Vergueiro e Domingos de Moraes e avenida Jabaquara – o mesmo
percurso da linha Azul do metrô – até Santo Amaro.
Faltava, entretanto, um hospital para o atendimento
da população, pois Santo Amaro era bem distante do Centro Histórico, onde
ficava a Santa Casa. Um grupo de pioneiros fundou a Sociedade Beneficente N. S. da Conceição, cujo primeiro presidente foi o
tenente-coronel Carlos da Silva Araújo. Dona Benta Bernardina de Morais não fez
por menos: contribuiu com o terreno. A inauguração da Santa Casa da
Misericórdia de Santo Amaro aconteceu em 8 de dezembro de 1899.
Em 1907 a Light iniciou a construção da represa de Guarapiranga, dando um
impulso turístico para a região. A linha ferroviária foi substituída pelo bonde
com um novo itinerário. Houve dois motivos para a incorporação de Santo Amaro à
cidade de São Paulo novamente: o forte endividamento do município e a
inauguração do aeroporto de Congonhas, que ficava no caminho para Santo Amaro.
Assim, em 22 de fevereiro de 1935 Santo Amaro foi reintegrado ao município de
São Paulo. O bairro desenvolveu-se e já foi um importante polo industrial de São
Paulo.
Atualmente, Santo Amaro tem uma população de 272 332 habitantes (Censo
2022) e tem um alto Índice de Desenvolvimento Humano (0,939). Os
principais bairros são Alto da Boa Vista,
Chácara Flora, Chácara Monte Alegre, Chácara Santo Antônio, Chácara São Luís,
Granja Julieta, Jardim Cordeiro, Jardim Dom Bosco, Jardim Petrópolis, Jardim
Promissão, Jardim Santo Amaro, Várzea de Baixo, Vila Cruzeiro, Vila Elvira,
Vila União. O acesso a Santo Amaro pode ser por metrô (Linha 5 Lilás), trem
(linha 9 Esmeralda), além de ônibus: só no Terminal de Ônibus
encontram-se 62 linhas!
A matriz fica no Largo Treze de Maio e o entorno, por onde perambulei,
me lembrou muito o Brás: um comércio de rua forte. Parece até uma imensa
feira livre. Mal sobra calçada para os pedestres que não são poucos.