Não sou pessoa sociável. Admiro todos aqueles desconhecidos que sentam
ao meu lado em locais públicos e me contam a vida em cinco minutos ou seus
problemas pessoais do momento. Como conseguem? Cresci ouvindo advertências sobre
estranhos e, como era tímida, o conselho caiu como uma luva. Até hoje abordo desconhecidos apenas para pedir informações, mas às vezes as situações fogem do controle.
A primeira empresa em que eu trabalhei em São Paulo editava a revista Panorama
da General Motors do Brasil. Um dia surgiu uma reportagem de última hora em S.
José dos Campos e, como o relações públicas tinha outro compromisso, me
arranjaram carona com um funcionário que estava indo para a fábrica no Vale.
Conversar sobre o quê? Nunca o tinha visto mais gordo e nem o veria de novo! Foi uma longa e entediante viagem.
Anos depois, em outra empresa, fui escalada para cobrir uma visita do secretário estadual
do meio ambiente a Guarujá. Novamente, problema com veículos e desta vez fui de
carona num carro da companhia, mas com uma colega de outro departamento. Na
Baixada, passamos a manhã em reuniões com prefeito e vereadores. Após almoçar, durante
o cafezinho o secretário teve a ideia de visitar o Lixão da Alemoa em Santos,
que há anos empesteava a entrada da cidade – todo o lixo coletado no município era
depositado numa área a céu aberto. E lá fomos nós para o lixão de Santos, vestidos
adequadamente para cobrir reuniões de gabinetes. O secretário não deixou por
menos: entrou no depósito e ao cortejo nada mais restou do que acompanhá-lo. Eu
já conhecia o lugar dos tempos do jornal CS, mas nunca pisara lá onde o quadro
era de horror, sem contar o cheiro insuportável. Para coroar o dia, minha
colega informou que ficaria em Santos. Estava eu a pé, a mais de 70 km de casa e cheirando
a lixo porque os sapatos estavam encharcados com o chorume. Depois de muita
conversa, conseguiram um carro para me trazer de volta e ainda me deixar em
casa, já que nenhum taxista me aceitaria naquelas condições.
Não me lembro qual era a reportagem e mais uma vez fui de carona com um colega e amigo, que dirigia um carro importado. Saímos da empresa e em plena avenida Faria Lima (acho), ele recebeu uma chamada do nosso chefe que exigia a presença dele imediatamente. Como estávamos perto do local do evento, ele me deu a notícia de que ia a pé e que eu levasse o carro. Entrei em desespero porque nunca havia dirigido carro automático. Meu amigo não se comoveu e me deu a mais rápida aula de direção de que se tem notícia e sumiu. Eu me vi no meio do trânsito congestionado em um carro alheio (e caro) que mal sabia conduzir. Conseguimos chegar aos trancos e barrancos – eu e o veículo – inteiros. Ainda bem porque na ocasião nem lembrei que ele não me dera os documentos do carro.
ANOS 1990.
Uma amiga muito querida me deu carona na saída do trabalho. Final de tarde, estávamos na
Faria Lima (outra vez). Na época, não sei se ainda é assim, junto ao canteiro
central havia um estacionamento. Ultrapassamos o cruzamento e o farol fechou.
Quando abriu, o carro não se animou a continuar. Sufoco porque onde estávamos
iria causar irritação e buzinadas dos motoristas apressados. Ela me disse com
naturalidade para eu empurrar o carro enquanto ela tentava fazê-lo
andar. Saí, pensando com meus botões que, sendo incapaz de tirar um estepe do
porta-malas de um fusca, eu duvidava ter força para empurrar o carro grande.
Felizmente, não precisei me esforçar porque o farol da rua transversal abriu e
o primeiro a aparecer na pista em que estávamos foi um jipe do Exército com
três recrutas. A ação foi muito rápida e eficiente (creio que faz parte de
exercícios da tropa): dois desceram, correram para o carro, empurraram para o
acostamento e voltaram acelerados para o jipe. Acenamos e agradecemos quando eles
passaram por nós com todo trânsito atrás deles...