Mercado Trajano (113 D.C.), no Monte Quirinal, Roma, 2006.
Hoje
estou me desfazendo das lembranças físicas das viagens que fiz pelo exterior –
ou seja, mapas de cidades e dos sistemas de transportes, folhetos – alguns com
anotações – dos locais que visitei: museus, igrejas, monumentos, galerias,
pinacotecas etc. Há vários que peguei na rua e nunca fui. Guardarei apenas
alguns catálogos que são muito bonitos. A caixa organizadora ainda se mantém
cheia e não me considero acumuladora...
Precisava
de um critério para a “limpeza”. Pensei no assunto e achei que o melhor seria
começar por aqueles lugares a que não voltarei. Logo me lembro da Bélgica e da
Áustria. A primeira, porque Bruxelas não me interessava, mas a velha e boa VASP, já nos
estertores da existência, oferecia a passagem mais barata para a Europa. A
segunda porque, apesar de linda, nela não me senti bem-vinda em Viena e me restou a
impressão de que o vienense carece de polidez.
Difícil
mesmo foi mexer nos guardados da Grã-Bretanha, França e Itália, países de que
gosto muito e tive a oportunidade de visitar várias vezes. Beleza, cultura, acolhimento
excepcionais. A primeira vez que vi Paris foi no outono, tempo encoberto e
frio. Achei a cidade cinza, mas aproveitei cada momento peregrinando por museus
e lugares que a História, a música e a literatura me haviam revelado. Até
estendi a visita por mais três dias. De Paris embarquei num trem noturno para
Roma (isso antes dos trens de alta velocidade). E Roma foi um deslumbramento –
sol, calor, gente maravilhosa e me descobri num museu a céu aberto. Na verdade,
a Itália foi uma paixão à primeira vista. Paris me conquistou mesmo na segunda
visita. Como não sabia se haveria outra chance de voltar à Europa, escolhi
cuidadosamente os lugares que eram essenciais para mim. Na Itália, fui a Pompeia,
Veneza e Florença. Beleza de tirar o fôlego. Próxima parada: Grécia – Atenas e
algumas ilhas. Descobri a Grécia ainda na infância com a turma de Monteiro
Lobato, que vivia no Sítio do Pica-pau Amarelo. Valeu cada minuto!
Como
acumulei tanta papelada? Quando pude, voltei à França, Itália e Grã-Bretanha –
meus roteiros sempre foram baseados principalmente em História e minha
curiosidade por conhecer os principais museus do mundo (faltou o Hermitage). E
a papelada foi aumentando... Sem contar os caderninhos, diários de viagem, com
anotações sobre coisas que não lembro. Idade? Não, as coisas anotadas não
deviam ser relevantes; entretanto, recordo-me de coisas banais, pessoas e
lugares que deixaram impressão forte.
Aprendi
muito observando, mas também com pessoas que ajudaram a achar um endereço,
indicaram um caminho melhor e até me pediram ajuda. Viajar sozinha foi um
desafio que me impus – como eu reagiria em situações difíceis, sem conhecer
idiomas, lugares e sem a proximidade de amigos (à distância tive muito apoio).
Para minha surpresa acho que me saí muito bem. Me perdi, me achei, briguei,
bati boca com um espertalhão que me seguiu em Atenas e, muito antes da invenção
da Internet, quantas vezes cheguei a cidades sem reserva de hotel confiando nos
escritórios municipais de apoio ao viajante que faziam booking na hora,
forneciam mapas e ainda desejavam uma feliz estadia (nem todos).
Passei
o sábado viajando... Viajando no tempo.
Paris moderna, La Défense, 2011.