Hilda Prado Araújo
Temas culturais.
domingo, 12 de outubro de 2025
HORA DO CAFÉ
terça-feira, 7 de outubro de 2025
GAROA BOA
Ontem, calor de 30 graus. Hoje, 18
graus e garoa. Ah! São Paulo da garoa! São Paulo que terra boa! Música de
Alvarenga e Ranchinho, que o papagaio lá em casa sabia cantarolar... Café com
amiga, muita risada e boas histórias. Final de tarde na Praça da República.
Gente para lá e para cá, agasalhada ou à vontade, de guarda-chuva ou como eu,
mãos abanando, apreciando o momento. Hora de voltar para casa e descansar os
pés.
PRIMAVERA
Neste
país tropical, estações do ano são pouco definidas, mas a sibipiruna aqui da
praça está toda enfeitada. O ipê floriu novamente, talvez para abrigar o sabiá
que o escolheu para fazer o ninho. Aliás, com tantas árvores para se proteger
do sol, da chuva e de predadores, ele escolheu uma quase pelada para construir
o ninho. Pelo menos a ninhada terá uma “casa” com jardim. Flores brancas é o
que não falta. Outro sabiá montou residência na árvore que fica embaixo das
minhas janelas – canta o dia inteiro e, como se não bastasse, lá pelas quatro
da manhã decreta alvorada. Substitui um galo aqui das imediações que por muitos
anos saudou as manhãs chovesse ou fizesse sol. Calou-se, levado pelas famílias
que venderam as casas substituídas pelos condomínios sem graça.
Por
aqui há uma grande variedade de passarinhos – rolinhas-caldo-de-feijão, cambacicas (manhã
dessas uma veio me visitar), bem-te-vis e sabiás; há também um bando de periquitos
instalados numa palmeira da esquina. José, taxista do ponto ao lado do prédio, me
garante que também tem um pica-pau na praça, mas nunca consegui vê-lo. Enfim, boa
companhia o ano inteiro.
sexta-feira, 3 de outubro de 2025
POR ONDE ANDEI
Quantos lugares, quantas
cenas, quantos personagens... Setembro foi um mês de muitas andanças.
Fui conhecer a Casa Piauí, que antiga residência de Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), presidente do Brasil no período de 1902-1906. O casarão em estilo eclético, situado na esquina da Rua Piauí com Itacolomi, foi tombado em 2012, passou por restauro e parte do terreno da propriedade abrigará um prédio de alto padrão.
Na Rua Manoel da Nóbrega, os policiais da Cavalaria da PM costumam fazer
uma pausa para descanso das montarias. Cavalos são animais muito bonitos e elegantes.
Paro para uma prosa rápida com um dos policiais – queria saber se os animais têm
nome ou apenas o número de registro tatuado, se eles são dóceis, se a cavalhada
era composta apenas de machos e se os cavaleiros trabalham sempre com o mesmo animal.
Enquanto o policial vai respondendo as perguntas, o cavalo toca a cabeça de
leve no ombro dele – tem grandes olhos castanhos como a pelagem, numa
demonstração (creio eu) de carinho. Sim, os animais têm nome que é registrado, o
comportamento varia de indivíduo para indivíduo – uns são mais impulsivos; a
cavalaria emprega tanto fêmeas como machos – estes são castrados. As fotos foram tiradas em outra ocasião.
Fiz uma
excursão a Caieiras de trem (Linha 7 Rubi) e ônibus pela serra da Mantiqueira que
permanecerá bastante tempo na memória pelo desapontamento final. Uma igreja
medieval, luxuosa, com toques de Sainte-Chapelle, construída em pleno século XXI
escondida numa região pobre. Caieiras é um município situado na sub-região
norte da grande São Paulo. O desenvolvimento da cidade aconteceu com a produção
de cal e daí veio seu nome – caieira é a denominação do forno de cal.
quarta-feira, 1 de outubro de 2025
DIA DO IDOSO
No que
estou pensando? Hoje é dia do idoso. Já faz pouquinho mais de vinte anos que
estou nesse grupo e muito satisfeita por ser baby boomer e ter vivido
uma época de transformações fantásticas. Embora adore bondes, mantenha meu DVD
player em funcionamento e ache o corte Chanel um luxo (como o Nº 5) não
significa que sofra de saudosismo. Espero bater perna por aí ainda por algum
tempo – sem exageros. Nada de centenário.
JORNAL "A TRIBUNA"
Parabéns a alunos, professores e ao diretor Roger Marques Ribeiro da Escola Estadual Parque dos Sonhos, de Cubatão (SP), que recebeu ontem o prêmio World’s Best School Prize, na categoria Superação de adversidades. A premiação é promovida pela T4 Education, uma plataforma global voltada para a melhoraria da educação, oferecendo ferramentas, programas e eventos para professores e escolas.
(JORNAL A TRIBUNA, SANTOS, SP)
terça-feira, 30 de setembro de 2025
MOMENTO DE TERNURA
Esperava
a luz verde do semáforo na praça Clóvis Bevilacqua, onde o cenário é
invariavelmente deprimente, quando notei a cambacica no chão em plena
atividade. Ela hesitou quando me viu chegar, mas continuou sua atividade, me
observando vez por outra, pronta para voar caso sentisse algum risco. Achei que
ela estava comendo, mas estava coletando umas farpas que alguma árvore ou
arbusto deixara cair ou o vento trouxera. Havia duas e logo três no bico, uma
caiu e ela tratou de pegar novamente, sempre atenta à minha presença. Ora, pensei,
ela está recolhendo material para o ninho. Quando chegou outro pedestre, vi que
a luz verde se acendera e antes de iniciar a travessia percebi que o passarinho
desaparecera. Tão pequena, tão delicada e colorida, abrandando o cenário de
concreto e tragédia da praça...
Fiquei curiosa e pesquisei para saber como é o
ninho da cambacica. Elas
fazem dois tipos de ninho: um para reprodução e outro para descanso – muito espertas.
O primeiro recebe um acabamento melhor com entrada menor para se proteger dos
predadores. Ela usa palha, folha, capim e teia de aranha na confecção do abrigo.
domingo, 28 de setembro de 2025
FEIRA EM SANTA CECÍLIA
Depois da caminhada pelo Viaduto João Goulart, vulgo Minhocão, decidi que era hora de explorar o entorno dele e nada melhor do que começar pela Rua Sebastião Pereira. Motivo da escolha foi a feira que observei do alto do viaduto. Dizem que é a melhor feira do Centro da cidade, é enorme e costuma ir até as 16 horas.
Aproveitei o domingo de sol e de
temperatura amena para ir até lá via Praça da República. Para variar peguei o ônibus
errado e tive que descer na Praça Júlio de Mesquita, que separa a Avenida São
João da Rua Barão de Limeira. Na Avenida São João, lembrei-me de uma foto de Claude
Levi Strauss, tirada no Carnaval de 1934, de um grupo de foliões. Que diferença!
Dela sobrou apenas o prédio do Banespa/Santander. Entro na Rua Pedro Américo e
saio na Praça da República, de onde sigo pela Rua do Arouche porque a Avenida Vieira
de Carvalho estava fechada para um show.
Gostaria muito que algum estudioso
me informasse qual o polígono que se aplica à configuração do Largo do Arouche.
Enfim, lá estão a Academia Paulista de Letras e o restaurante La Casserole; o
mercado das flores continua uma atração agradável à vista e ao olfato. Há uma
feira de alimentos onde algumas pessoas tomam o café da manhã. Passo pelo restaurante
O Gato Que Ri. Lá o que restou do antigo
Cine Arouche, agora dirigido a público adulto – entenda-se programação pornô. Há
várias famílias, casais e idosos passeando pelos jardins, mas o pessoal da
cracolândia também está presente, dormindo ou alheio à realidade.
Enfim, passo sob o elevado e estou na
Rua Sebastião Pereira e na feira. O público é heterogêneo – vai de donas de
casa fazendo as compras da semana, regateando preços, até pessoas como eu,
curiosas e mais tentada a consumir um pastel com caldo de cana (que eu não gosto)
ou água de coco. Frutas da época em alta – morango e jabuticaba (que eu adoro).
Bananas nanicas bonitas com bom preço. Escolho uma barraca simpática e peço o
pastel de queijo (que estava bom).
Das feiras gosto do colorido, do
alarido e da única coisa fiada disponível – as conversas entreouvidas nas barracas.
Terminei a visita e me dirigi à Alameda Glete, segui até o Terminal Princesa
Isabel para pegar o ônibus para casa. O pé dói e o estômago reclama – hora do
almoço.
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
SÃO PAULO E O TRÓLEBUS HISTÓRICO
O trólebus, aquele veículo enorme, confortável, sem
solavancos, seguro, desliza macio pelas ruas da cidade, silencioso, preso por uma
alça a uma rede elétrica, faz parte da minha história. Em Santos o trólebus da
linha 54 Centro – Orquidário passava em frente à minha casa, na Rua Constituição
e, quando fui para a Faculdade em 1967, era ele que eu tomava todas as noites na
esquina com a Rua Sete de Setembro para descer na Rua Euclides da Cunha, perto
do Orquidário, onde ficava a Faculdade de Filosofia. E, num desses acasos da
vida, quando me instalei em São Paulo na Aclimação, novamente, lá estava o trólebus
passando em frente do prédio em que morava. Dessa vez, era o 408 A – 10, a linha
de trólebus mais antiga do Brasil: 76 anos.
São Paulo foi pioneira no Brasil na implantação de veículos
elétricos. Eles eram importados dos Estados Unidos e Inglaterra e começaram a
rodar em 22 de abril de 1949. Inicialmente, o trajeto se estendia da Praça
General Polidoro e à Praça João Mendes. Foi bem mais tarde que a linha se
estendeu da Aclimação a Perdizes, passando por sete bairros.
Espero
que os trólebus continuem rodando por São Paulo ou pelo menos a linha Cardoso
de Almeida/Machado de Assis. Encostá-los é desperdício de dinheiro público, pois
significa abandonar toda a rede elétrica e a mão de obra especializada... A
Prefeitura ressalta o fato de que os veículos novos movidos à bateria não são
poluentes; ora, os – os trólebus (210) também não são poluentes, rodam com
energia elétrica.
Aqui
fica a proposta de um passeio de uma hora aproximadamente por sete bairros de
São Paulo – Aclimação, Liberdade, Centro, Vila Buarque, Higienópolis, Pacaembu
e Perdizes, repletos de pontos históricos, casas de espetáculos, museus,
igrejas e paisagens pitorescas. Se der sorte pode ser até que haja um trólebus
circulando, o que reforçará o aspecto históricos da viagem.