“Já não
sei e me pergunto, em meio a meus anéis de fumo, se irei esta tarde ao mar, através
das árvores, ou até o monte carregado de rochas, ou então visitar alguns amigos
em suas moradas; ou se deixarei puramente escorrer o bom tempo límpido, toda a
massa do começo da tarde lento e tépido até a sua última luz? Oscilo, pinto-me
o possível e apago. Digo-me sem querê-lo que os animais não o fazem nada mais
que o útil. Até suas brincadeiras são justos dispêndios. Mas nós, o excesso de
espírito turva e difere, com sua duração, todas as contas de nossa vida. Ganhamos,
perdemos tempo, nosso saldo nunca é nulo. Sonho com essa moeda estranha. Ouço uma
água que silva e segue não sei onde; um martelo não sei onde que martela não sei
o quê...”
ALFABETO,
do poeta e filósofo francês Paul Valéry (1871-1945). Tradução: Tomaz Tadeu.
“Je m’interroge
au milieu de ma fumée si j’irai tantôt vers la mer à travers les arbres, ou sur
le mont accablé de roches, ou bien visiter quelques amis dans leurs demeures;
ou si je laisserai couler purement le beau temps limpide, toute la masse de l’après-midi
lente et tiède jusqu’à sa dernière leur? Je varie, je me peins le possible et j’efface.
Je me dis sans le vouloir que les bêtes ne font rien que d’utile. Même leurs
jeux sont de justes dépenses. Mais nous, Le trop d’esprit trouble et differe tous
les comptes de notre vie avec sa durée. Nous gagnons, nous perdons du temps,
notre solde n’est jamais nul. Je rêve a cette monnaie étrange. J’entends une eau
qui chuinte et se suit je ne sais où; un marteau je ne sais où qui martèle je
ne sais quoi...”








