segunda-feira, 17 de novembro de 2025

TRÊS FRANCESES E UMA OLARIA

 
Era uma vez três irmãos franceses que vieram para o Brasil em 1896, estabelecendo-se em São Paulo. Chamavam-se Antoine, Ernest e Henry. Eles não eram imigrantes comuns – procedentes de Marselha, no Sul da França, eram industriais famosos pela produção de cerâmica de grande qualidade exportada para toda Europa. Os três pretendiam instalar uma fábrica no Brasil. Instalaram-se no bairro da Água Branca e, como bons profissionais, começaram a pesquisar a argila mais adequada para o empreendimento para a produção de louça e telha, insatisfeitos com o resultado mudaram para Osasco e o resultado foi insatisfatório. Decidiram então se associar em 1891 a outros três irmãos: os italianos Emidio, Bernardino e Panfílio Falchi. Com eles fundaram uma olaria na Vila Prudente; porém, continuaram as pesquisas e em 1893 alugaram um galpão dos Falchi começaram os testes com a argila do Moinho Velho, próximo à Estrada das Lágrimas, caminho para o Litoral. Satisfeitos com os resultados, em 1895 fundaram o Estabelecimento Cerâmico Saccoman Frères, que foi a primeira grande fábrica de cerâmica do Brasil.

A qualidade de alto padrão das louças e telhas produzidas pela empresa garantiram a popularização das telhas planas conhecidas como telhas francesas ou de Marselha no Brasil. A família construiu um casarão de quatro andares em estilo art nouveau, com um grande jardim, que funcionava também como mostruário dos produtos da empresa. Na parte de trás ficava a vila dos operários. Com a morte de Antoine em 1921, os irmãos venderam a fábrica para Américo Paschoalino Samarone, antigo funcionário da empresa, e retornaram para a França.

            Samarone mudou o nome da empresa para Cerâmica Ypiranga, que funcionou até 1956. Ele fundou um cinema e comprou um prédio na Rua José Bonifácio, 210, onde instalou seu escritório.  A fábrica desapareceu, a cratera de onde a argila era retirada virou uma lagoa, a “lagoa maldita” como era conhecida porque algumas pessoas morreram afogadas, e que foi aterrada em 1960.

            Saccoman aportuguesou-se para Sacomã, nome do bairro. Dizem que os passageiros dos bondes em implantação costumavam usar o nome da Cerâmica para pedir informações ou indicar o destino. Samarone e a esposa Malvina ganharam, respectivamente, nome de avenida e rua.

 





Igreja de Santa Edwiges. 

Figueira das Lágrimas, a árvore mais antiga da cidade.



sexta-feira, 14 de novembro de 2025

NOITE PAULISTANA

 

Ontem, para variar, fui caminhar à noite na Avenida Paulista que, em matéria de decoração natalina, está bem longe de tempos idos e vividos. Calçadas movimentadas e pistas congestionadas, forte policiamento, muitos ambulantes estabelecidos, aquele pessoal que assedia os pedestres tentando interrompê-los para ouvir alguma nova “maravilha” que vai resolver seus problemas existenciais, bicicletas circulando por onde não deviam... Na escadaria da Casper Líbero, jovens se divertiam em um evento musical (depois soube que era a final nacional de um campeonato de Tetris – jogo eletrônico). Bares lotados (como quase sempre). A ornamentação natalina é pouca – gostei do que vi no Conjunto Nacional e no Shopping Paulista (na Rua Treze de Maio). Voltarei em breve.


Uma lembrança de Tomie Ohtake e um símbolo da Paulista.

Conjunto Nacional.

Casper Libero



1313 da Avenida Paulista: FIESP.


quarta-feira, 12 de novembro de 2025

RETIRO DA SAUDADE

Há 116 anos nascia em São Cristóvão, Rio de Janeiro, o garotinho Antonio Nássara – Antonio sem o circunflexo e sem o Gabriel que ele acrescentou décadas depois. Nássara era filho de imigrantes libaneses e um dos sete filhos do casal. Demonstrou desde cedo talento para o desenho, a caricatura e a música; em 1927, ele ingressou na Escola de Belas Artes, mas deixou o curso no último ano. O talento garantiu-lhe trabalho nos principais jornais e revistas cariocas – entre os quais A NOITE, O GLOBO, DIRETRIZES, FLAN, ULTIMA HORA, CARETA, CRUZEIRO e O PASQUIM – como paginador, diagramador e caricaturista. Foi um compositor profícuo – compôs sozinho e também em parceria com grandes nomes da música popular da primeira metade do século XX – como Noel Rosa, Ary Barroso, Wilson Batista e João de Barro. Seu maior sucesso foi “Allah-la-ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô”, em parceria com Haroldo Lobo, mas escolhi “Retiro da Saudade”, que compôs com Noel Rosa e foi gravada por Carmen Miranda e Francisco Alves em 1934.


https://www.youtube.com/watch?v=dnn8aCsdiY0

Quando por amor suspiro,
A saudade vem, então,
Encontrar o seu retiro,
Encontrar o seu retiro,
Dentro do meu coração.

Dentro do teu coração,
Não me diga que não,
Só existe falsidade,
Eis a pura verdade,
Eu já fiz um trocadilho,
Pra cantar feito estribilho,
Teu retiro da saudade.

Dentro do teu coração,
Não me diga que não,
Só existe falsidade,
Eis a pura verdade,
Eu já fiz um trocadilho,
Pra cantar feito estribilho,
Teu retiro da saudade....

 

sábado, 8 de novembro de 2025

BASTIDORES

Ontem, aproveitei o sol para refazer as fotos das esculturas das Praças Clóvis e Sé. Fazer fotos por lá é bem complicado. Sem querer flagrei um homem tomando banho. Os espelhos d’água se tornaram local de banho, lavagem de roupas e descarte de lixo
Na Sé, o monumento do Anchieta é um dos lugares preferidos para descanso (?) e observação do movimento do entorno - que não é pouco; ou dormir sossegado.



CONDOR – peça de Bruno Giorgi (1905-1993).

 
Atrás da escultura de Vlavianos há uma pessoa dormindo.


Obra de Heitor Usai (1889-1989), artista ítalo-brasileiro. Material: bronze.


A vida continua...





quinta-feira, 6 de novembro de 2025

ARTE NA SÉ E NA CLÓVIS

Se você quer conhecer obras de alguns dos mais importantes artistas brasileiros contemporâneos, alguns de renome internacional, precisa ir à Praça Clóvis Beviláqua, no Centro Histórico. Ali, espalhadas pelo jardim, há dezesseis esculturas realizadas em aço, bronze e concreto – a “Garatuja”, de Marcello Nistche (1942-2017), pode ser vista na estação do metrô.

Emblema de São Paulo: Rubem Valentim. Material: concreto armado.


Sem título, de Sérgio Camargo Material: mármore.

Nuvem sobre a cidade, de Nicolas Vlavianos (1929-2022). Material: aço inoxidável.



Obra de Joaquim Pinto de Oliveira (1711-1821), o Tebas, escravo alforriado.

AS OUTRAS ESCULTURAS

ABERTURA – obra de Amilcar de Castro (1920-2002). Material: ferro. Antes de se voltar para a arte, Amilcar de Castro foi quem introduziu a reforma gráfica do Jornal do Brasil nos anos de 1950 e em seguida reformulou a diagramação dos jornais Correio da Manhã, Última Hora, Estado de Minas e Jornal da Tarde.

CONDOR – peça de Bruno Giorgi (1905-1993). Ele nasceu em Mococa, filho de italianos, estudou em Roma e retornou ao Brasil em 1939 e integrou-se ao Modernismo. Material: bronze.

DIÁLOGO – escultura de Franz Weissmann (1911-2005). Nasceu na Áustria e chegou ao Brasil com onze anos. Formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Material: aço.

EMBLEMA DE SÃO PAULO – Rubem Valentim (1922-1991), baiano, autodidata, referência no construtivismo brasileiro. Material: betão e concreto armado.

ESPAÇO CÓSMICO – Yutaka Toyota (1931). Japonês naturalizado brasileiro em 1971. Material: aço inoxidável, granito e aço.

IMPACTO – Mário Cravo Junior 1923-2018, baiano de Salvador. Material: aço inoxidável e granito.

NUVEM SOBRE A CIDADE – Nicolas Vlavianos (1929-2022). Grego naturalizado brasileiro, estabeleceu-se em São Paulo em 1960 e lecionou na FAAP.

OS PÁSSAROS – Felícia Leirner (1904-1996), artista plástica polonesa, naturalizada brasileira. Iniciou seus estudos com Brecheret aos 44 anos de idade. Em 1957 o MASP já havia incorporado obra de Leirner no acervo. Material: bronze e granito.

QUADRO NEGRO – José Resende (1945). Paulistano é um dos fundadores do Centro de Experimentação Artística Escola Brasil, foi professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e participou de várias bienais e da Documenta Kassel 1992. Material: betão e ferro.

SATÉLITE – Francisco Stockinger (1919-2009). Artista plástico austríaco naturalizado brasileiro e que manteve intensa atividade. Material: granito e betão.

TOTEM DA SÉ – Doménico Calabrone (1928-2000) nasceu na Itália e veio para o Brasil em 1954. Material: granito, betão e mármore.

Voo – de Caciporé Torres (1935). Paulista de Araçatuba. Peça em aço inoxidável, betão e aço.


Na Praça da Sé, os destaques são o Marco Zero de São Paulo (1934), criação de Jean G Villin. Material: mármore, bronze e granito. As estátuas de São Paulo, autor desconhecido, e de José de Anchieta (1954), de Heitor Usai (1899-1989).

Marco Zero da Cidade (1934), Autor Jean G. Villin (1906-1979). Material: mármore, bronze e granito 

Apóstolo São Paulo, autor desconhecido.


1.                             Um homem dormia aos pés do monumento de José de Anchieta, então o jeito foi fotografar este lado da obra do artista Heitor Usai (1899-1989), japonês naturalizado brasileiro.


 



terça-feira, 4 de novembro de 2025

CAMINHOS FLORIDOS

Dizem que São Paulo é uma cidade cinza, entretanto, as árvores dão vida e um colorido especial às ruas e praças da metrópole - às vezes cobrem as calçadas e caminhos com tapetes floridos.

Praça da Sé.

Rua Nicolau de Sousa Queirós.

Avenida Ricardo Jafet.

Eu a encontrei em um dos meus muitos caminhos.


Aclimação: Praça Manuk Koumerian.

A Aclimação é privilegiada.


A sibipiruna que enfeita minhas janelas.

Mesmo à noite, as árvores dão um toque especial à paisagem urbana.
Praça da República.



domingo, 2 de novembro de 2025

"SÃO PAULO, SINFONIA DA METRÓPOLE"


Este é um documentário precioso e que deve ser preservado cuidadosamente para as futuras gerações, pois a geração baby-boom a qual pertenço tem muita dificuldade para se localizar nesse filme, porque em menos de cem anos a cidade se desfez de um belo patrimônio para crescer. Crescer alucinadamente. Dirigido pelos húngaros radicados no Brasil Adalberto Kemeny (1901-1969) e Rudolf Rex Lustig (1901-1970), o filme foi inspirado em “Berlim, Sinfonia da Metrópole” (1927), obra do alemão Walter Ruttmann.

Como era São Paulo no final da década de 1920?

Lá estão o Pátio do Colégio, identificável apenas  pela obra de Ramos de Azevedo e pelo monumento “Glória imortal dos fundadores de São Paulo”; o antigo Viaduto do Chá, os palacetes trigêmeos do Anhangabaú (demolidos anos depois), o prédio do Banco do Brasil (CCBB), a Rua Boa Vista, o prédio dos Correios e Telégrafos, o Palácio das Indústrias; na Rua XV, endereço da famosa Casa Garraux e do Estadão; o Colégio Caetano de Campos. Fora do centro Histórico, uma visão do Instituto Butantã, do Horto Florestal e do Hipódromo da Mooca. Bem interessante é a reportagem sobre a Penitenciária do Estado, inaugurada em 1920 e tinha como lema “os mais avançados conceitos de regeneração dos condenados”. Quase impossível reconhecer a praça da Sé, sem a catedral neogótica. Mais importante do que prédios e ruas são as pessoas – anônimos que davam animo à metrópole que se forjava. A despeito das legendas ufanistas as imagens já mostram as diferenças sociais.

 https://www.youtube.com/watch?v=3XR0YQMkPX8&t=864s


Pátio do Colégio, versão 1974.