quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

OS BASTIDORES DA MATEMÁTICA

 

Não sei como atualmente as crianças aprendem aritmética e matemática, quando as calculadoras são tão populares. Lembro como era importante aprendermos tabuada – e quando aprendíamos a do nove, nos sentíamos muito importantes. Essas eram conquistas com um significado que nos escapava na época – esses exercícios nos acompanhariam para o resto da vida. As recordações me ocorreram por causa do livro sobre a história do pensamento matemático da Antiguidade aos nossos dias, que descobri na biblioteca.

            Na Antiguidade, as pessoas usavam os dedos para contar, pedrinhas e o ábaco, antigo instrumento de cálculo, provavelmente, com origem na Mesopotâmia há mais 5.500 anos! Gregos e egípcios, o usaram; chineses e romanos o aperfeiçoaram.

Nossa educação restringe-se praticamente ao mundo greco-romano, como se não tivesse existido a cultura mesopotâmica chinesa, egípcia, indiana e árabe entre outras, onde há muito mais tempo se estudavam matemática, geometria e astronomia para descobrir o funcionamento do Universo. Imagino como teria sido gostoso ter uma matéria só sobre a História da Matemática, o que nos ajudaria a confiar mais na inteligência humana e não superestimar hoje a artificial.

Na Antiguidade, se o professor grego pedisse a um aluno que contasse até dez, o menino começaria: dois, três, quatro, cinco... E estava certo porque para os pensadores gregos o um trata de existência, não de quantidade. “A multiplicidade é domínio dos números.” Esse conceito mudou com a inclusão do número Um por Arquitas de Tarento (428 a.C-345 a. C.), filósofo (pitagórico), matemático, astrônomo, estratego (general do exército na Grécia Antiga) e estadista.

Com as facilidades do século XXI, difícil imaginar que no princípio para fazer contas se usassem pedrinhas, que iam se amontoando, conforme o número e por causa disso até hoje fazemos cálculos, pois em Latim pedrinha é calc̬ŭlus, i (pedra = calx, calcis). Na Medicina, a palavra continua em uso – os urologistas que o digam: “o senhor/a tem cálculos nos rins”. (E tome água!)

Metafísico, filósofo, matemático e astrônomo, Pitágoras (560 a.C.– 500 a.C.) foi quem concluiu que “tudo são números”, algo com que os cientistas atuais até concordam, mas a questão é que a afirmação de Pitágoras tinha um lado místico, que a afasta da Ciência.

            Os romanos usavam letras para escrever os números (I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX e X, L, C e M), o que dificultava qualquer operação. Um engano comum (pelo menos na minha geração) é a denominação “arábicos” para os algarismos que usamos correntemente, que na verdade têm origem indiana. Entre os anos 250 a. C. e 500 a. C., os hindus desenvolveram os dez símbolos (0-9) e o sistema decimal. O zero que era um símbolo acabou se tornando um número fundamental. Os árabes foram os grandes divulgadores do sistema hindu que haviam adotado com algumas adaptações. A forma atual consolidou-se no Ocidente no século XV e generalizou-se. Em Português, a origem da palavra zero é o francês – zéro, pelo vêneto zero. Em árabe, zero significa vazio.

E para terminar que tal o =, + e –? X e ÷? Os sinais de mais e menos: Johannes Widmann (1460-1498), um matemático alemão, usou pela primeira vez os dois sinais em seu livro Aritmética Comercial, publicado em 1489, em Leipzig. Coube ao inglês William Oughtred criar o sinal de multiplicação (x) em 1631. Quanto ao símbolo de divisão, há controvérsias: ele foi introduzido pelo suíço Johann Rahn em seu livro sobre álgebra em 1659, mas para outros teria sido o editor inglês John Pell. Oughtred também usou dois pontos (:).

Ábaco romano reconstruído. Foto: Mike Cow, Wilipedia. - esquerda. 

             Ábaco chinês. Foto: Enciclopédia Britânica. 6.302.715.408) - à direita.

                          




AVENIDA PAULISTA

 

Avenida Paulista. Noite fria para a época. Céu encoberto. Nada disso desanimou o pessoal que foi fazer o footing, como se dizia antigamente, para ver a decoração da avenida.

 

Papai Noel, vítima de acidente do trabalho na semana passada, já recuperado, 

reassumiu o posto na avenida Paulista. 



Faltou paciência para fotografar as imagens móveis da FIESP.



A Coca-Cola deita e rola com seus painéis ao lado dos pontos de ônibus. As pessoas tocam na tela, fazem uma pose e a imagem é reproduzida na tela. 

 

As Janelinhas do Vinho, tradição italiana do século XVI e XVII que surgiu para manter o comércio do vinho em épocas de pandemias que assolavam a Europa periodicamente. Funcionamento: o cliente batia na janelinha, fazia o pedido e recebia o vinho e fazia o pagamento. Agora, na Avenida Paulista, uma versão moderninha.  

 

Os caminhões com Papai Noel aguardam ordem para uma carreata.


Um dos muitos ônibus enfeitados.





terça-feira, 16 de dezembro de 2025

OMAR KHAYYAM OU CAIAM

 




“Não plantes a árvore da tristeza em teu coração.

Relê toda manhã o livro da alegria,

podes tomar vinho e satisfazer tuas vontades.

De nosso tempo, de nossa vida, o céu nos dá a medida.”


Autor: Omar Caiam (1048-1131), matemático e poeta persa, autor de “Rubayat”, livro de quadras) e de um tratado sobre álgebra.

ILUSTRAÇÃO: “O almoço dos barqueiros”, de Pierre-Auguste Renoir. Acervo: The Phillips Collection, em Washington.

OBSERVAÇÃO: Omar Khayyam é como está grafado na citação da quadra que li num adorável livro de matemática, mas a Wikipedia remete para Caiam.



sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

FUTURAS LEMBRANÇAS

 


Você olha o cometa, acha bonito e, quem sabe, pensa que no próximo mês já estará esquecido por todos. Não é verdade. Cena rápida. Mãe e filha saíram do Shopping Light. A mãe parou, pediu para a filha ir para a frente da “estrela”, afastou-se e orientou a menina para fotografá-la. Examinou o celular, aprovou o resultado e as duas de mãos dadas caminharam pelo Anhangabaú. Daqui há muitos anos uma moça ou uma senhora olhará a foto e lembrará os bons momentos de uma noite que passaram juntas. 1º de dezembro de 2025.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

PIQUERI, HERANÇA DO CONDE

 

Difícil percorrer São Paulo sem esbarrar em algum legado de Francesco Antonio Matarazzo (1854-1937), o empresário e industrial ítalo-brasileiro que foi um dos homens mais ricos do mundo: ao morrer tinha uma fortuna estimada em vinte bilhões de dólares, que correspondem nos dias atuais a mais de 440 bilhões de dólares. Em 1927 Francesco ou Francisco Matarazzo comprou um terreno de 250 mil m² no Tatuapé, então zona rural de São Paulo, para construir uma casa de campo. Nos tempos coloniais, aquela região junto ao rio Tietê, era habitada pelos índios Piqueri, nome que a população manteve ao longo dos séculos. Piqueri em Tupi significa “rio de peixes miúdos”.

            A Chácara do Tatuapé, como Matarazzo a denominou, tinha o estilo do conde (nessa altura ele já recebera o título do rei da Itália): uma bela casa, criação de cavalos argentinos, búfalos americanos e gado bovino. Como na época o Tietê ainda seguia o curso natural, uma de suas curvas adentrava a propriedade, o que proporcionava passeios de barco – dessa época restam apenas os vestígios de um ancoradouro. Em 1934 quando Matarazzo completou oitenta anos o jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968), proprietário dos Diários Associados, visitou a Chácara e publicou uma reportagem na revista CRUZEIRO bem ao seu estilo, ou seja, parecia uma homenagem ao octogenário, mas era mais uma de suas investidas cheias de más intenções. O lado bom é que as fotos registraram a beleza do lugar. Na década de 1950, a família decidiu desfazer-se da propriedade e em 1971 após várias negociações a área foi declarada de utilidade pública e em 1976, desapropriada. Com a justificativa de que o Tatuapé tinha pouca área verde, em 16 de abril de 1978 a prefeitura criou o Parque Municipal do Piqueri.

Dos tempos de Matarazzo restou apenas a casa do administrador da Chácara, o italiano Saulo Carpinelli, onde foi instalada a administração do parque. O imóvel é tombado. O parque tem muitas atrações. O frequentador dispõe de múltiplas escolhas: pista do cooper, bicicletário, campo de futebol, quadras poliesportivas, playground e até cancha de bocha entre outros equipamentos de lazer.  Para o público mais contemplativo, a flora é bastante diversificada e os destaques são o bosque de sibipirunas, bambuzais, jacarandá-mimoso, paineira, cedro e pau-brasil entre outros. A fauna também é bem variada. Há oitenta espécies – desde pica-pau, sabiá até gavião-carijó. Já viu um ouriço-cacheiro? Uma boa oportunidade para conhecer esse mamífero que vive no parque.

 

Francesco Matarazzo.


PARQUE MUNICIPAL DO PIQUERI: Rua Tuiuti, 515. Foto: site da Prefeitura de São Paulo.

Metrô: Linha 3 – Vermelha, Estação Tatuapé. No Terminal  de Ônibus consultar linha mais adequada.


 


domingo, 7 de dezembro de 2025

CASA DO TATUAPÉ

 

Rua Guabiju, 49. Tatuapé.

Minha incursão pela Zona Leste continuou com uma visita à Casa do Tatuapé, uma herança dos tempos coloniais. O imóvel construído em meados do século XVII, provavelmente entre 1668/1698 em taipa de pilão, é “o testemunho da primeira configuração urbana implementada naquela área da cidade”, de acordo com a Prefeitura de São Paulo.          

O terreno pertenceu ao padre Matheus Nunes de Siqueira, como o religioso contava com Mathias Rodrigues da Silva para administrar seus bens, a construção da casa é creditada a ele. Na primeira metade do século XIX, começou a funcionar no sítio uma olaria que fabricava apenas telhas; em 1880, a proprietária do imóvel Antônia Maria Quartim casou-se com o imigrante italiano Basílio Pacini, que passou a produzir também tijolos. Em 1945 com a morte de Elias Quartim de Albuquerque, a propriedade foi vendida para a Tecelagem Textilia S/A e logo começou o loteamento da área, sobrando apenas a casa seiscentista. No mesmo ano, começou o processo de tombamento da Casa pelo IPHAN. Nos anos 1980, sob a responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico, em conjunto com o Museu do Ipiranga (USP) foram realizadas pesquisas arqueológicas. Posteriormente, foi iniciado o restauro da casa – reconstituição de paredes que ameaçavam desabar, madeiramento e telhado, além de janelas, balaústres e portas almofadadas. O piso de um dos cômodos foi mantido em terra batida para realçar as características originais.

Muito bem conservada, a Casa Museu fica no meio de um jardim, tem seis cômodos, alpendre reentrante e dois sótãos; tem telhado de duas águas. O visitante pode observar a técnica da construção de taipa de pilão em uma parede sem acabamento. O sistema ainda é adotado por causa da adequação térmica, baixo custo e sustentabilidade.

A Casa Museu está localizada na Rua Guabiju, 49 e, para quem não tem carro ou outro veículo, o passeio começa na Estação do metrô Tatuapé. Ali, no Terminal de ônibus procura a linha Jardim Brasil e pede ao motorista para descer entre a Rua Ulisses Cruz e Avenida Celso Garcia e caminhar uma quadra até a Guabiju, primeira travessa da Ulisses Cruz.

Rua Guabiju, 49. Tatuapé.

Parede de taipa de pilão.


Sótão. O telhado e o chão de madeira corrida.


"Morador".



sábado, 6 de dezembro de 2025

NATAL ILUMINADO

   

Foto: divulgação SPTrans.

A Prefeitura paulistana criou uma linha noturna de ônibus para quem desejar ver a decoração das vias públicas para as festas de final de ano. O ônibus também é decorado, o que não só ajuda a identificá-lo como também ajuda a amenizar os congestionamentos que, ultimamente, se generalizam pela cidade. Eu já havia ido por minha conta ao Centro, mas não fiz o roteiro completo – caminhei apenas da Praça da República e Anhangabaú até a Sé (decoração muito bonita). Gostei da ideia do ônibus e ontem no início da noite fui para o Terminal Parque D. Pedro II.

Meses atrás, por falta de opção, peguei um ônibus que para o Terminal D. Pedro II e de lá fui para a Sé. Nem lembrava se alguma vez havia estado no Terminal, embora o veja sempre à distância. É imenso, com intenso movimento (nem era horário do rush) e tive que perguntar onde era a saída. Lá fora atravessei uma imensa feira – frutas, verduras, laticínios, roupa e que tais – para sair no início da Rua Vinte e Cinco de Março. Limpeza? Deixa para lá!  Decidi subir a Rua Bittencourt Rodrigues em direção à Praça da Sé.

Ontem, muito esperta, após seguir as indicações visuais, fiquei sabendo que teria de tomar um ônibus para o Terminal! Como assim? Pode-se ir a pé, como explicou o funcionário, ou fazer a conexão com o veículo do Expresso Tiradentes, direção Mercado. Chegaram três senhoras. Via-se claramente que viviam a experiência popular pela primeira vez. Eu já escolhera o Expresso Tiradentes, conhecido de um passeio pelo Sacomã, e quando aconselharam as senhoras a ir caminhando, intimamente, desejei-lhes boa sorte, pois o entorno não é agradável.

No Terminal, encontrei logo a plataforma e o local onde Papai Noel iria estacionar o ônibus para o embarque dos passageiros. Havia apenas uma senhora no ponto e esperava as amigas – mais três que chegam em seguida. Vários minutos depois chegaram as senhoras que encontrara no metrô. “Vieram a pé?” – perguntei. Tiveram bom senso e pegaram o Expresso.

O ônibus chegou pontualmente. Detalhe: Papai Noel, que era bem jovem e não tinha barba, dirigia o possante. O cobrador não se fantasiou e dormiu boa parte do percurso; porém, estava acordado quando, na Avenida Paulista, uma equipe de TV (provavelmente da Gazeta) fez uma rápida entrevista com Papai Noel – sim, ele estava apreciando a experiência; sim, o público estava se divertindo bastante etc. e tal. Quando Papai Noel prosseguiu a viagem, o cobrador se queixou por não ter sido entrevistado também. Uma senhora ao entrar dá parabéns ao Papai Noel, que agradece polidamente.

A viagem foi bem agradável. Do que eu gostei? De rever lugares por onde não passava havia anos – como Avenidas Brasil e Nove de Julho. Os lugares que achei mais bonitos: Largo de São Bento, Avenidas Paulista e Vinte e Três de Maio, e Ibirapuera.

PARQUE D. PEDRO: O ônibus
NATAL ILUMINADO sai da plataforma 6, nicho 60, de meia em meia hora a partir das 18 horas até as 23h30. O percurso dura cerca de duas horas. E o ideal é pegar o segundo horário, quando já está mais escuro. Passagem: R$ 5,00. Maiores de sessenta anos não pagam. É possível tomar o ônibus no percurso.

Prefeitura. 1/12/2025.

                                                            Shopping Light1/12/2025.





quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

GRINALDA-DE-NOIVA



Nunca se toma banho no mesmo rio, diz o provérbio. Não importa quantas vezes você passe pelo mesmo lugar porque ele nunca é igual ao dia anterior. Quantas vezes percorri a Rua Vergueiro, entre a Vila Mariana e o Paraíso, sem reparar na árvore que ontem me surpreendeu por sua beleza! Como a árvore fica ao lado de um restaurante onde às vezes almoço, entrei para perguntar aos proprietários, se eles sabiam o nome daquela maravilha. A dona lembrava apenas que era cássia alguma coisa. Prometi pesquisar e agradeci. Trata-se de uma Cassia leptophilla, mas em alguns lugares é conhecida como grinalda-de-noiva, um nome perfeito pois as flores, que exalam um perfume característico, formam pequenas coroas. Aqui no Sul, floresce na época de natal.

É conhecida também como barbatimão.