domingo, 21 de dezembro de 2025

MON NOUVEAU CHAPEAU

 


Verão chegando daqui a pouco e já providenciei um novo chapéu para as próximas caminhadas.

 

O PERU DE NATAL

“Comprou-se o peru, fez-se o peru, etc. E depois de uma Missa do Galo bem mal rezada, se deu o nosso mais maravilhoso Natal. Fora engraçado: assim que me lembrara de que finalmente ia fazer mamãe comer peru, não fizera outra coisa aqueles dias que pensar nela, sentir ternura por ela, amar minha velhinha adorada. E meus manos também, estavam no mesmo ritmo violento de amor, todos dominados pela felicidade nova que o peru vinha imprimindo na família. De modo que, ainda disfarçando as coisas, deixei muito sossegado que mamãe cortasse todo o peito do peru.” 

Conto de Mário de Andrade: "O peru de Natal" (1947).


Foto: Frank Schulenburg, Wikipedia.

A sobremesa pode ser o Bolo Divino: ½ quilo de açúcar, 24 ovos (sendo 12 sem claras), 120 g de manteiga. Bate-se como para pão de ló; junta-se um coco ralado e continua-se a bater; engrossa-se com farinha de trigo. Vai ao forno em forma untada com manteiga.”  

“AÇÚCAR: uma sociologia do doce com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil.” Gilberto Freyre.

sábado, 20 de dezembro de 2025

SÁBADO DE SOL

Hoje pela manhã fui fazer hora na Padaria Santa Teresa, na Praça João Mendes, pois pretendia retornar à Avenida Liberdade. Eu já havia passado pela Livraria da UNESP, na Sé, escolhido um livro e batido um longo papo com a senhora que fica no caixa.  Em direção à Liberdade, passei pela Padaria Romana, espiei as delícias na vitrine e não resisti quando vi os quadradinhos. Halawi em um santuário romano? Às vezes minha avó comprava em lata. Entrei e comprei um que fui saboreando até a João Mendes. Sem planejar passei pelas duas mais antigas padarias paulistanas. A Santa Tereza funciona há 153 anos e a Romana já comemorou 113 anos. 

Enquanto tomava um suco, observei o entorno do salão térreo (no piso superior funciona o restaurante). Gostei das prateleiras que reúnem alguns utensílios antigos como balanças e uma máquina de escrever. Do outro lado uma série de reproduções de fotos que nos permitem acompanhar as mudanças que ocorreram na praça e redondezas. Antes de passar pelo caixa, passei em revista um a um os quadros. E me demorei muito no painel de azulejo, que reproduz uma foto do primeiro viaduto Anhangabaú no início do século passado, pois tentei identificar um prédio, que acabei relacionando a um dos palacetes gêmeos demolidos para a construção do prédio Matarazzo. Pena que não deu para ver a data, pois um móvel encobria o ano e a assinatura do artista.

Na saída passei pelo abrigo de bondes, transformado em floricultura e numa extensão do Sebo do Messias. Um bom exemplo de reaproveitar o antigo em vez de destruí-lo. 


O pão italiano da Romana!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

OS BASTIDORES DA MATEMÁTICA

 

Não sei como atualmente as crianças aprendem aritmética e matemática, quando as calculadoras são tão populares. Lembro como era importante aprendermos tabuada – e quando aprendíamos a do nove, nos sentíamos muito importantes. Essas eram conquistas com um significado que nos escapava na época – esses exercícios nos acompanhariam para o resto da vida. As recordações me ocorreram por causa do livro sobre a história do pensamento matemático da Antiguidade aos nossos dias, que descobri na biblioteca.

            Na Antiguidade, as pessoas usavam os dedos para contar, pedrinhas e o ábaco, antigo instrumento de cálculo, provavelmente, com origem na Mesopotâmia há mais 5.500 anos! Gregos e egípcios, o usaram; chineses e romanos o aperfeiçoaram.

Nossa educação restringe-se praticamente ao mundo greco-romano, como se não tivesse existido a cultura mesopotâmica chinesa, egípcia, indiana e árabe entre outras, onde há muito mais tempo se estudavam matemática, geometria e astronomia para descobrir o funcionamento do Universo. Imagino como teria sido gostoso ter uma matéria só sobre a História da Matemática, o que nos ajudaria a confiar mais na inteligência humana e não superestimar hoje a artificial.

Na Antiguidade, se o professor grego pedisse a um aluno que contasse até dez, o menino começaria: dois, três, quatro, cinco... E estava certo porque para os pensadores gregos o um trata de existência, não de quantidade. “A multiplicidade é domínio dos números.” Esse conceito mudou com a inclusão do número Um por Arquitas de Tarento (428 a.C-345 a. C.), filósofo (pitagórico), matemático, astrônomo, estratego (general do exército na Grécia Antiga) e estadista.

Com as facilidades do século XXI, difícil imaginar que no princípio para fazer contas se usassem pedrinhas, que iam se amontoando, conforme o número e por causa disso até hoje fazemos cálculos, pois em Latim pedrinha é calc̬ŭlus, i (pedra = calx, calcis). Na Medicina, a palavra continua em uso – os urologistas que o digam: “o senhor/a tem cálculos nos rins”. (E tome água!)

Metafísico, filósofo, matemático e astrônomo, Pitágoras (560 a.C.– 500 a.C.) foi quem concluiu que “tudo são números”, algo com que os cientistas atuais até concordam, mas a questão é que a afirmação de Pitágoras tinha um lado místico, que a afasta da Ciência.

            Os romanos usavam letras para escrever os números (I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX e X, L, C e M), o que dificultava qualquer operação. Um engano comum (pelo menos na minha geração) é a denominação “arábicos” para os algarismos que usamos correntemente, que na verdade têm origem indiana. Entre os anos 250 a. C. e 500 a. C., os hindus desenvolveram os dez símbolos (0-9) e o sistema decimal. O zero que era um símbolo acabou se tornando um número fundamental. Os árabes foram os grandes divulgadores do sistema hindu que haviam adotado com algumas adaptações. A forma atual consolidou-se no Ocidente no século XV e generalizou-se. Em Português, a origem da palavra zero é o francês – zéro, pelo vêneto zero. Em árabe, zero significa vazio.

E para terminar que tal o =, + e –? X e ÷? Os sinais de mais e menos: Johannes Widmann (1460-1498), um matemático alemão, usou pela primeira vez os dois sinais em seu livro Aritmética Comercial, publicado em 1489, em Leipzig. Coube ao inglês William Oughtred criar o sinal de multiplicação (x) em 1631. Quanto ao símbolo de divisão, há controvérsias: ele foi introduzido pelo suíço Johann Rahn em seu livro sobre álgebra em 1659, mas para outros teria sido o editor inglês John Pell. Oughtred também usou dois pontos (:).

Ábaco romano reconstruído. Foto: Mike Cow, Wilipedia. - esquerda. 

             Ábaco chinês. Foto: Enciclopédia Britânica. 6.302.715.408) - à direita.

                          




AVENIDA PAULISTA

 

Avenida Paulista. Noite fria para a época. Céu encoberto. Nada disso desanimou o pessoal que foi fazer o footing, como se dizia antigamente, para ver a decoração da avenida.

 

Papai Noel, vítima de acidente do trabalho na semana passada, já recuperado, 

reassumiu o posto na avenida Paulista. 



Faltou paciência para fotografar as imagens móveis da FIESP.



A Coca-Cola deita e rola com seus painéis ao lado dos pontos de ônibus. As pessoas tocam na tela, fazem uma pose e a imagem é reproduzida na tela. 

 

As Janelinhas do Vinho, tradição italiana do século XVI e XVII que surgiu para manter o comércio do vinho em épocas de pandemias que assolavam a Europa periodicamente. Funcionamento: o cliente batia na janelinha, fazia o pedido e recebia o vinho e fazia o pagamento. Agora, na Avenida Paulista, uma versão moderninha.  

 

Os caminhões com Papai Noel aguardam ordem para uma carreata.


Um dos muitos ônibus enfeitados.





terça-feira, 16 de dezembro de 2025

OMAR KHAYYAM OU CAIAM

 




“Não plantes a árvore da tristeza em teu coração.

Relê toda manhã o livro da alegria,

podes tomar vinho e satisfazer tuas vontades.

De nosso tempo, de nossa vida, o céu nos dá a medida.”


Autor: Omar Caiam (1048-1131), matemático e poeta persa, autor de “Rubayat”, livro de quadras) e de um tratado sobre álgebra.

ILUSTRAÇÃO: “O almoço dos barqueiros”, de Pierre-Auguste Renoir. Acervo: The Phillips Collection, em Washington.

OBSERVAÇÃO: Omar Khayyam é como está grafado na citação da quadra que li num adorável livro de matemática, mas a Wikipedia remete para Caiam.



sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

FUTURAS LEMBRANÇAS

 


Você olha o cometa, acha bonito e, quem sabe, pensa que no próximo mês já estará esquecido por todos. Não é verdade. Cena rápida. Mãe e filha saíram do Shopping Light. A mãe parou, pediu para a filha ir para a frente da “estrela”, afastou-se e orientou a menina para fotografá-la. Examinou o celular, aprovou o resultado e as duas de mãos dadas caminharam pelo Anhangabaú. Daqui há muitos anos uma moça ou uma senhora olhará a foto e lembrará os bons momentos de uma noite que passaram juntas. 1º de dezembro de 2025.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

PIQUERI, HERANÇA DO CONDE

 

Difícil percorrer São Paulo sem esbarrar em algum legado de Francesco Antonio Matarazzo (1854-1937), o empresário e industrial ítalo-brasileiro que foi um dos homens mais ricos do mundo: ao morrer tinha uma fortuna estimada em vinte bilhões de dólares, que correspondem nos dias atuais a mais de 440 bilhões de dólares. Em 1927 Francesco ou Francisco Matarazzo comprou um terreno de 250 mil m² no Tatuapé, então zona rural de São Paulo, para construir uma casa de campo. Nos tempos coloniais, aquela região junto ao rio Tietê, era habitada pelos índios Piqueri, nome que a população manteve ao longo dos séculos. Piqueri em Tupi significa “rio de peixes miúdos”.

            A Chácara do Tatuapé, como Matarazzo a denominou, tinha o estilo do conde (nessa altura ele já recebera o título do rei da Itália): uma bela casa, criação de cavalos argentinos, búfalos americanos e gado bovino. Como na época o Tietê ainda seguia o curso natural, uma de suas curvas adentrava a propriedade, o que proporcionava passeios de barco – dessa época restam apenas os vestígios de um ancoradouro. Em 1934 quando Matarazzo completou oitenta anos o jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968), proprietário dos Diários Associados, visitou a Chácara e publicou uma reportagem na revista CRUZEIRO bem ao seu estilo, ou seja, parecia uma homenagem ao octogenário, mas era mais uma de suas investidas cheias de más intenções. O lado bom é que as fotos registraram a beleza do lugar. Na década de 1950, a família decidiu desfazer-se da propriedade e em 1971 após várias negociações a área foi declarada de utilidade pública e em 1976, desapropriada. Com a justificativa de que o Tatuapé tinha pouca área verde, em 16 de abril de 1978 a prefeitura criou o Parque Municipal do Piqueri.

Dos tempos de Matarazzo restou apenas a casa do administrador da Chácara, o italiano Saulo Carpinelli, onde foi instalada a administração do parque. O imóvel é tombado. O parque tem muitas atrações. O frequentador dispõe de múltiplas escolhas: pista do cooper, bicicletário, campo de futebol, quadras poliesportivas, playground e até cancha de bocha entre outros equipamentos de lazer.  Para o público mais contemplativo, a flora é bastante diversificada e os destaques são o bosque de sibipirunas, bambuzais, jacarandá-mimoso, paineira, cedro e pau-brasil entre outros. A fauna também é bem variada. Há oitenta espécies – desde pica-pau, sabiá até gavião-carijó. Já viu um ouriço-cacheiro? Uma boa oportunidade para conhecer esse mamífero que vive no parque.

 

Francesco Matarazzo.


PARQUE MUNICIPAL DO PIQUERI: Rua Tuiuti, 515. Foto: site da Prefeitura de São Paulo.

Metrô: Linha 3 – Vermelha, Estação Tatuapé. No Terminal  de Ônibus consultar linha mais adequada.


 


domingo, 7 de dezembro de 2025

CASA DO TATUAPÉ

 

Rua Guabiju, 49. Tatuapé.

Minha incursão pela Zona Leste continuou com uma visita à Casa do Tatuapé, uma herança dos tempos coloniais. O imóvel construído em meados do século XVII, provavelmente entre 1668/1698 em taipa de pilão, é “o testemunho da primeira configuração urbana implementada naquela área da cidade”, de acordo com a Prefeitura de São Paulo.          

O terreno pertenceu ao padre Matheus Nunes de Siqueira, como o religioso contava com Mathias Rodrigues da Silva para administrar seus bens, a construção da casa é creditada a ele. Na primeira metade do século XIX, começou a funcionar no sítio uma olaria que fabricava apenas telhas; em 1880, a proprietária do imóvel Antônia Maria Quartim casou-se com o imigrante italiano Basílio Pacini, que passou a produzir também tijolos. Em 1945 com a morte de Elias Quartim de Albuquerque, a propriedade foi vendida para a Tecelagem Textilia S/A e logo começou o loteamento da área, sobrando apenas a casa seiscentista. No mesmo ano, começou o processo de tombamento da Casa pelo IPHAN. Nos anos 1980, sob a responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico, em conjunto com o Museu do Ipiranga (USP) foram realizadas pesquisas arqueológicas. Posteriormente, foi iniciado o restauro da casa – reconstituição de paredes que ameaçavam desabar, madeiramento e telhado, além de janelas, balaústres e portas almofadadas. O piso de um dos cômodos foi mantido em terra batida para realçar as características originais.

Muito bem conservada, a Casa Museu fica no meio de um jardim, tem seis cômodos, alpendre reentrante e dois sótãos; tem telhado de duas águas. O visitante pode observar a técnica da construção de taipa de pilão em uma parede sem acabamento. O sistema ainda é adotado por causa da adequação térmica, baixo custo e sustentabilidade.

A Casa Museu está localizada na Rua Guabiju, 49 e, para quem não tem carro ou outro veículo, o passeio começa na Estação do metrô Tatuapé. Ali, no Terminal de ônibus procura a linha Jardim Brasil e pede ao motorista para descer entre a Rua Ulisses Cruz e Avenida Celso Garcia e caminhar uma quadra até a Guabiju, primeira travessa da Ulisses Cruz.

Rua Guabiju, 49. Tatuapé.

Parede de taipa de pilão.


Sótão. O telhado e o chão de madeira corrida.


"Morador".